Como habitualmente, proponho passar aqui em revista os principais acontecimentos que marcaram o ano bedéfilo que agora termina.
Em Portugal, 2008 fica como o "ano da reedição". Fica também marcado por desilusões, confirmações, surpresas e mas também pela crise.
Uma crise que se fez sentir em termos de edição. Não disponho de números oficiais, mas na qualidade consumidor de BD, fiquei com a sensação que não se publicou muito e quando se publicou a aposta não passou pelo lançamento de material inédito, ou seja, uma grande percentagem da edição de 2008 foi absorvida com reedições de histórias já anteriormente publicadas.
Para esta realidade, contribuiu sem dúvida, a parceria existente entre o jornal Público e a editora ASA, que teve em 2008, o seu ano mais produtivo. Três colecção lançadas - a saber “Grandes Autores de BD”, “Blueberry” e “Blake e Mortimer" - o que perfaz um total de 40 álbuns editados (seis álbuns da colecção B&M tem datas de lançamento para 2009). Este facto, pasme-se, coloca o Público – para quem estas colecções são apenas uma promoção para aumentar as vendas do jornal – como o maior editor de BD do ano em Portugal! Como não há bela sem senão, dos 40 álbuns editados, apenas UM apresentava uma história inédita.
A Asa é sem dúvida a desilusão do ano! Na qualidade de maior (tendo em conta o seu catalogo) mas não necessariamente a melhor, refugiou-se na parceria de reedições com o Público e abdicou do lançamento de novidades. Os dedos de uma mão devem servir para contar tudo o que lançou durante um ano inteiro. Verdadeiramente decepcionante. Um ano para esquecer!
As confirmações surgem pela VitaminaBD e pela BDMania. Continuam a respeitar os respectivos planos de edição, e se com a primeira podemos a acompanhar séries como “Jeremiah” ou “Universal War”, sem prejuízo do lançamento de outros álbuns, donde destaco, muito naturalmente, o 1º tomo de “A Casta dos Metabarões” (que agrega os três primeiros álbuns da colecção que esta editora se propõe completar), pela BDMania, a aposta tem sido segura e bastante diversificada, tanto ao nível das histórias, como de personagens, com destaque para o catálogo da Marvel.
Das restantes editoras portuguesas, a Devir desapareceu e a Gradiva deixou o “Largo Winch“ pendurado, e para não "fugir à regra" apostou nas reedições, desta vez de dois clássicos da BD portuguesa: “Wanya - Escala em Orongo” e “Eternus 9 - Um Filho do Cosmos”.
Para finalizar na área da edição, destaco ainda as apostas de novas editoras na edição de BD, como é o caso da Tinta da China no álbum “A Metrópole Feérica” ou da Qual Albatroz que publicou “O Menino Triste: A Essência”.
Como nota muito negativa de 2008, fica o afastamento de Manuel Caldas do excelente projecto “Príncipe Valente”, que se propunha editar integramente as aventuras deste personagem em 22 volumes, com uma qualidade nunca antes vista e que se pode comprovar nos seis primeiros volumes da colecção. Uma história mal contada, mas que inevitavelmente, atendendo ao meticuloso trabalho de restauração desenvolvido por este editor, “matou” aquela que quando completa, seria talvez uma das melhores colecções alguma vez publicada em Portugal!
Em termos de festivais nacionais, o 19º FIBDA revelou-se como uma das melhores surpresas. Talvez a melhor edição que visitei nos últimos anos. Tendo por base uma escolha feliz do tema do festival – Tecnologia e Ficção Cientifica – apresentou excelentes exposições, com especial destaque para as originais de “Flash Gordon” de Alex Raymond nunca antes exibidos, e pela presença de um variado conjunto de autores que primava pela qualidade, nomes como por exemplo Dave Mckean (que já tinha sido autor convidado no IV Festival de BD de Beja), Esteban Maroto, Zoran Janjetov, Fábio Civitelli entre muitos outros foram autores que passaram pelo FIBDA. Não disponho de números oficiais, mas de acordo com o site da CNBDI, o sucesso traduziu-se numa afluência de público superior a 28.000 visitantes (acréscimo de 5% quando comparado com a edição de 2007), que revela bem como o festival “FIBDA” tem vindo lentamente a evoluir e a afirmar-se. Ficaram criadas expectativas “altas” para o festival do próximo ano!
Na blogosfera nacional, nada de relevante a assinalar, mantendo-se estável o número de blogues bedéfilos existentes que são objecto de actualizações regulares.
Uma palavra só para o plano internacional, onde sob o signo do Morcego, assistiu-se a uma situação paradoxal: enquanto no cinema, o novo filme do Batman, “O Cavaleiro das Trevas” de Christopher Nolan, revelava uma força e uma vitalidade nunca vista anteriormente, assumindo-se como provavelmente um dos melhores filmes de super-heróis de sempre, traduzido em recordes de bilheteira, sendo mesmo o mais rentável de sempre, nos comics a editora americana DC decidiu matar a personagem, numa explosão na narrativa “R.I.P.” no n.º 681 da revista “Batman”. Irónico não?
Para finalizar, até porque o texto já vai longo, deixo aqui a minha ”short-list” das edições que considero terem sido as melhores publicadas em Portugal durante o ano de 2008:
- A Casta dos Metabarões (VitaminaBD)
- Apache (Público/Asa)
- Wanted (BDMania)
- A Fábula de Bagdad (BDMania)
- Silver Surfer: Requiem (BDMania)