23 julho, 2009

Leitura: Lance



É indiscutível que o presente ano tem ficado marcado pelo lançamento de banda desenhada em português de grande qualidade. E é neste campo, que a obra de que a seguir vou falar merece um destaque especial.

A “obra” é a colecção integral, em formato grande, de “Lance”, um clássico das tiras de quadradinhos publicadas nos jornais americanos em meados da década de 50, da autoria de Warren Tufts (1925-1982) argumentista e desenhador da série. A edição em português é o fruto do trabalho do editor Manuel Caldas, que depois do seu afastamento do projecto Príncipe Valente (ler aqui e aqui) se propôs editar integralmente todas as pranchas dominicais, publicadas entre 1955 e 1960, devidamente restauradas. E é todo o trabalho de restauração das pranchas originais que dá um brilho especial a esta colecção. O segundo de quatro tomos previstos, da editora Libri Impress, acaba de chegar agora às bancas.

É verdade que esta personagem Lance, ou melhor, Lance Saint Lorne, tenente do 1º Regimento de Dragões da cavalaria do exército americano é praticamente um perfeito desconhecido entre nós, não obstante algumas das suas aventuras sido publicadas nas saudosas revistas “Cavaleiro Andante” e “Mundo de Aventuras” (eu próprio, apesar de eventualmente ter lido algumas das suas histórias, sobretudo no MA, a verdade é só aquando da publicação do primeiro álbum desta colecção, em 2007, é que retive o nome).

A série é um puro western clássico, que recria com mestria uma época histórica, a do inicio da conquista do Oeste americano em meados do século XIX. Num universo rico de referências, acompanhamos as aventuras de Lance, um corajoso e temerário tenente, na sua conduta como militar nas difíceis relações com os índios, nas suas relações de amizades e nos seus amores.

No primeiro álbum, que abrange as aventuras publicadas entre Junho de 1955 e Setembro de 1956, a narrativa decorre sempre debaixo de muita acção, sucedendo-se as situações de confronto. As histórias são contadas sob a forma de ilustração com o texto narrativo no rodapé da vinheta. Em termos de desenho, reflecte os melhores anos da colecção. ”Os primeiros dois anos de Lance revelam realmente um labor apaixonado” – prefácio do editor. O desenho beneficia bastante da história ter sido concebida para ocupar a totalidade de uma página inteira de jornal, inspirada no modelo do Príncipe Valente. É verdade que para o leitor, a acção parece algo estática, mas em compensação o desenho é um regalo para a vista. Com espaço e tempo (a periodicidade de publicação era semanal) Warren Tufts criou magníficas pranchas que deslumbram não só pelo traço elegante e extremamente realista de personagens e paisagens mas também pelas espantosas cores aplicadas.

No segundo álbum, que inclui o período Outubro de 1956 a Outubro de 1957, assistimos a desenvolvimentos na vida pessoal de Lance. Nesta edição, verifica-se a inclusão de tiras diárias (por opção do editor). Isto acontece porque Tufts, por pressão dos jornais, no inicio de 1957, viu-se obrigado a criar uma tira diária, a preto e branco, para além da habitual prancha dominical a cores. Ainda que as tiras permitam um maior desenvolvimento da narrativa, para além do facto do autor ter acrescentado balões para as falas das personagens, o que dita uma nova dinâmica na leitura, a verdade é que esta pressão ditou uma perda de qualidade nas pranchas dominicais. “O excesso de trabalho matara para sempre a paixão que animara Tufts até ao inicio de tira diária” – prefácio do editor.

Em resumo, manifesto aqui a minha admiração por esta magnífica colecção, que beneficia do selo de qualidade que o empenho e a paixão do editor Manuel Caldas imprime aos seus projectos. IMPERDÍVEL!

Lance
Autor: Warren Tufts
Volume 1 (de 4), cores, formato grande, capa mole
Editora: Livros de Papel, 1ª edição de Dezembro de 2007
Volume 2 (de 4), cores, formato grande, capa mole
Editora: Libri Impress, 1ª edição de Março de 2009

A minha nota:

20 julho, 2009

Chegada à LUA!

Rumo à Lua

Faz hoje 40 anos que chegamos à Lua!Um pequeno passo para o Homem…” nas imortais palavras de Neil Armstrong, comandante da missão Apollo 11, cuja tripulação era ainda constituída ainda pelos astronautas Edwin 'Buzz' Aldrin e Michael Collins, que aos comandos do módulo lunar Eagle se tornou no primeiro homem a pisar solo lunar. A conquista deste objectivo mais que o simbolismo associado, representou o coroar de uma década de grandes avanços tecnológicos e de enormes progressos científicos.

Contudo, quinze anos antes da conquista humana, através da banda desenhada, no álbum “Explorando a Lua” (1954), já Tintin tinha pisado a Lua. Hergé, um homem visionário e com uma enorme paixão pela ciência, tinha dotado o “seu” prof. Girasol com os conhecimentos e os meios necessários, ainda que com bastante humor à mistura e soluções com bases cientificas como por exemplo o facto do foguetão ser movido a energia nuclear, para tornar possível esta extraordinária aventura, sendo notável a antecipação bastante realista de um feito que só seria alcançado bastantes anos depois.

Fica então aqui a sugestão de leitura do álbum “Rumo à Lua” (publicado em Portugal) para celebrar o “... salto gigantesco para a Humanidade”.

15 julho, 2009

O Diabo dos Sete Mares - parte 2

Com a publicação do segundo álbum do díptico "O Diabo dos Setes Mares", conclui-se a inédita incursão do multifacetado autor belga Hermann no género "piratas das caraíbas". Não teve sorte. O argumento escrito pelo seu filho Yves H., padece de pontos altos que toda uma história de piratas podia proporcionar. Faltam por exemplo belas batalhas navais ou grandes combates de que eram férteis estes tempos, para os quais a arte de Hermann estaria certamente à altura do que seria exigível.

Esta segunda e conclusiva parte deste "Diabo" manteve as características da primeira parte. Não se assiste a grandes desenvolvimentos, mas apenas o desenrolar dos vários caminhos tomados pelas numerosas personagens centrais, em direcção ao ambicionado tesouro do pirata Robert Murdoch. Mas nem assim a leitura se tornou menos confusa. A morte de mais de metade dos intervenientes não foi suficiente para se assistir a uma diminuição da “multidão”, uma vez que todos eles logo regressaram à vida, desta vez sob a forma de “mortos-vivos”. Considero mesmo que a introdução de zombies e as referências ao Diabo tornaram esta segunda metade inverosímil. Depois temos um desfecho sem muito sentido, numa ilha com um vulcão à beira da erupção. Bastante inconclusivo. Já não há finais felizes. Resta-nos então o desenho de Hermann, que é mesmo a grande mais-valia do álbum (e desta colecção). Suave na construção dos cenários e na captação da atmosfera, que através de uma escolha fantástica de cores, proporciona ao leitor excelentes imagens.

Temos assim, numa boa edição em capa dura, uma história pouco conseguida (ponto fraco) suportada por um magnifico desenho (ponte forte), pelo que a avaliação individual que faço do álbum é igual à avaliação global que faço da aventura completa, ou seja, fico-me pela nota média.

O Diabo dos Sete Mares - Parte 2
Autores: Hermann (desenho) e Yves H. (argumento)
2º Volume, cores, capa dura
Edição: VitaminaBD, 1ª edição de Março de 2009

A minha nota:

12 julho, 2009

Aviso à navegação...

Photobucket

É um ritual que sucede todos os anos. Este que vos escreve parte estrada fora para um destino de praia. Com data-valor a partir de hoje e até ao fim do mês. Vou mas deixo o blogue activo. Preparei uma série de pequenos textos bedéfilos sobre as minhas ultimas leituras, que agendei para irem sendo “libertadas” (se o Blogger não falhar!) ao longo destas três semanas. Obviamente que a divulgação de novidades ou respostas aos comentários ficam para depois. Fiquem sintonizados e até já. Boas leituras!

PS Já agora aceitam-se palpites sobre o nome do autor do magnífico desenho reproduzido em cima que ilustra este texto.

Aviso à navegação...

Photobucket

É um ritual que sucede todos os anos. Este que vos escreve parte estrada fora para um destino de praia. Com data-valor a partir de hoje e até ao fim do mês. Vou mas deixo o blogue activo. Preparei uma série de pequenos textos bedéfilos sobre as minhas ultimas leituras, que agendei para irem sendo “libertadas” (se o Blogger não falhar!) ao longo destas três semanas. Obviamente que a divulgação de novidades ou respostas aos comentários ficam para depois. Fiquem sintonizados e até já. Boas leituras!

PS Já agora aceitam-se palpites sobre o nome do autor do magnífico desenho reproduzido em cima que ilustra este texto.

06 julho, 2009

Leituras: A Teoria do Grão de Areia – Tomo 1

Neste primeiro tomo, não há respostas. Fica apenas montado o cenário: a cidade de Brusel. Na narrativa, personagens e histórias sem ligação aparente são introduzidas num enredo surrealista requintado. O sr. Abeels vê aparecer misteriosamente dentro de sua casa pedras de peso igual; a D. Kristin Antipova, mãe de dois filhos, de forma inexplicável vê a sua casa inundada diariamente por areia; o Sr. Maurice, chefe de cozinha, vai perdendo peso todos os dias sem emagrecer. Tudo num lento começo, de soma de pequenas coisas, que vai evoluindo, transformando um mundo aparentemente tranquilo, numa situação deliciosamente caótica.

Graficamente, as imagens de grandes esplendores arquitetónicos tão características de álbuns anteriores, dão aqui lugar a pequenos espaços urbanos – o apartamento, o restaurante, etc. A arte de Schuitten é excelente, transformando os desenhos em quase gravuras. Um jogo de cores é uma das particularidades deste álbum. Ainda que trabalhado essencialmente a duas cores – preto e branco sujo – a utilização de uma terceira cor, um branco puro que caracteriza os fenómenos sobrenaturais, que embora não seja distinguido pelas personagens da história, não deixa indiferente o leitor, pela atmosfera que cria, fazendo com que o desenho ultrapasse a sua natureza meramente ilustrativa.

Achei todo o álbum de leitura viciante. Chegado ao fim e fico na expectativa de saber mais. Ainda que não ponha em causa a qualidade do álbum, não posso deixar de fazer os seguintes reparos à edição:
- o dialogo entre Senhora Von Rathen e o Comissário na página 66, saiu trocado;
- a “tradução” do nome da personagem na página 91 parece-me completamente descabida: Tónio?!

A Teoria do Grão de Areia – Tomo 1
De Schuiten (desenho) e Peeters (argumento)
Editora ASA, Edição de Maio de 2009


Nota de leitura:
 EXCELENTE (5 em 5)


02 julho, 2009

#6 BERNARD PRINCE: A Fortaleza das Brumas / Objectivo Cormoran

O sexto volume da colecção “Clássicos da Revista Tintin” dedicado a Bernard Prince, distribuído no passado dia 24 de Junho com jornal Público, foi muito bem-vindo. Afinal Hermann é um dos meus autores preferidos.

Com histórias publicadas originalmente entre 1977 e 1978, este álbum recorda-nos uma das mais interessantes séries de aventuras criadas na banda desenhada franco-belga, até os seus autores, primeiro Hermann e depois Greg, também responsáveis pela excelente série “Comanche”, decidirem seguirem outros caminhos.

Terminada a leitura, deixo aqui as minhas impressões sobre estas duas aventuras:

Na primeira história “A Fortaleza das Brumas” (é dela a excelente imagem que ilustra a capa do álbum) tudo se desenrola sob um jogo de enganos. Começa quando um misterioso Sr. Smith “contrata” Bernard Prince para intermediar a libertação da sua filha. O pagamento do resgate de um milhão de dólares em diamantes é o mote para uma aventura passada nas montanhas, onde o aparecimento de uma curiosa personagem de nome Koubhak influenciará decisivamente o desfecho da história. O argumento de Greg revela-se aqui bastante habilidoso, manipulando todas as personagens, que com excepção dos nossos heróis, assumem papeis que não os seus. A arte de Hermann mostra-se bastante apurada, sendo expressiva nas personagens e autêntica no desenho da paisagem seca onde decorre praticamente toda a acção.

A segunda história “Objectivo Cormoran”, passada no sul de França, na costa dos milionários, Bernard Prince e os seus companheiros são envolvidos num estranho plano que tem como objectivo assassinar um rico empresário com ligações á máfia. Numa narrativa com personagens bem estruturados, diálogos bem construídos, e como convêm cheia de acção, sucedem-se os volte-faces no desenrolar da história, cujo desfecho termina com um sacrifico final inesperado. Mais uma vez, Hermann domina, não só em termos gerais, com as suas paisagens em vários planos a revelarem-se grandes imagens, mas também ao nível do detalhe, não se inibindo no desenho de cenas de violência.

Em resumo, excelente leitura de duas grandes histórias de aventuras, ainda que pessoalmente tenha gostado mais da segunda. Aproveito para deixar aqui a sugestão de publicação em álbum do inédito “A Fornalha dos Condenados” correspondente ao n.º 7 da colecção original que cairia muito bem, numa eventual segunda série destes “Clássicos da Revista Tintin”.

Aguardo agora com expectativa Buddy Longway (álbum nº 11 da colecção).

Bernard Prince A Fortaleza das Brumas / Objectivo Cormoran
Autores: Greg e Hermann
Álbum nº 6 Colecção “Clássicos da Revista Tintin”, Cores, Capa mole
Editora: ASA/Público, 1ª edição de Junho de 2009

A minha nota: