14 novembro, 2010

Notas sobre 21º Amadora BD (3)

expo_Teoria Grão Areia

E com relativo atraso, aqui fica a minha última nota sobre o 21º Amadora BD
…onde tudo acabou como começou. Um festival despido de público. Sobre o último fim-de-semana, pouco há a dizer. Mais parecia o final de festa de… um velório. Passaram por lá os amigos do festival apenas para se despedirem da edição deste ano. As exposições já tinham sido todas vistas, não havia grandes nomes da BD internacional como chamariz, o cosplay esteve longe do entusiasmo de outros anos, muitos autores portugueses repetiam a presença e os autores lusófonos suscitaram mais curiosidade que interesse.
Quanto tudo corre mal, corre mesmo mal. A programação do festival foi apresentada uma semana antes do inicio do festival, a publicidade ao festival passou despercebida, o tema do festival pouco tinha de bedéfilo, o cartaz do festival era visualmente pouco apelativo, o programa do festival só esteve disponível no último fim-de-semana, houve uma presença mínima de grandes nomes da BD, o que tudo junto culminou num óbvio desinteresse do público visitante.
Não sei se alguém se importa realmente com o que correu mal, mas este 21º Amadora BD dava certamente um “case-study”. No entanto, é curioso que aquele que em termos de público, foi talvez o pior festival que tenho memória e já lá vão mais de 10 anos de frequência assídua foi talvez um dos melhores festivais que já vi em termos de exposições, com uma oferta qualitativamente vasta e variada.
Já em notas anteriores destaquei a excepcional exposição dedicada à Teoria do Grão de Areia de Schuitten e Peeters. Mas poderia igualmente aqui citar outros exemplos, tais como a dedicada a Fernando Bento ou das ilustrações de Korky Paul. Ou ainda das caricaturas de Republica ou das pranchas dos vencedores do concurso de banda desenhada, que reuniram grande consenso entre o júri. Mas a avaliar pela pouca afluência do público, de pouco serviu a qualidade. A verdade é que ninguém visita aquilo que não sabe que existe para visitar!
Uns dos pratos-fortes da edição deste ano foram os lançamentos, que em anos anteriores tem primado pela ausência no Amadora BD. Houve espaço para novos álbuns e livros como nunca se tinha visto. É sempre um bom sinal, de vitalidade para o mercado de banda desenhada em português, para os leitores de banda desenhada portugueses e também de reconhecimento do Amadora BD como um palco privilegiado para estes acontecimentos. E de memória aqui ficam algumas das novidades:

- Off-Road, da Kingpin Books
- Bernard Prince, A Ameaça sobre o Rio, da Vitamina BD
- Jeremiah, o Gatinho Morreu, da Vitamina BD
- O Escorpião – Tomo 6, da ASA
- New Born, 10 Dias no Kosovo, da ASA
- The Walking Dead - vol. 1 Dias Passados, da Devir
- Eternus 9 - vol. 2, da Gradiva
- O Amor Infinito que te Tenho e Outras Histórias, da Polvo
- Scott Pilgrim, vol. 1 e 2, da Booksmile
- BDJornal 26, da PedranoCharco
- Dicionário Universal da Banda Desenhada, da PedranoCharco
- Sete Histórias em Busca de uma Alternativa, da Gral

Mas também tivemos os “não-lançamentos”. Álbuns ou livros que estavam anunciados/previstos mas que não chegaram a acontecer, pelo menos durante o festival. E houve “tiros completamente falhados”. A edição deste ano do Amadora BD fica marcada pela associação às Comemorações do Centenário da Implantação da Republica. Nesse âmbito, talvez um dos pontos altos do programa, contemplava o lançamento de dois álbuns de banda desenhada patrocinados pela Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR). O primeiro seria É de Noite que Faço as Perguntas, com o argumento de David Soares e desenhos de André Coelho, Daniel Silvestre, João Maio Pinto, Jorge Coelho e Richard Câmara. Um projecto que mereceu inclusive destaque no próprio festival, com uma exposição das pranchas originais. A verdade é que o lançamento não aconteceu, Por razões que se desconhecem ficou adiado para calendas, o que equivale dizer que provavelmente nunca acontecerá, até porque passou o “momento” e a “visibilidade” garantidas pelo 21º Amadora BD. Há projectos que só tem sentido se se concretizarem num determinado momento. O segundo projecto era a reedição integral da obra de Stuart Carvalhais - Quim e Manecas - parte integrante de O Século Cómico entre os anos de 1915 a 1918, da autoria do investigador João Paulo de Paiva Boléo. Também não aconteceu. Adiado para calendas, blá, blá, blá, perdeu-se o “momento”. Ficam para a história como dois exemplos perfeitos de má organização. Pessoalmente penso que esta associação do Amadora BD ao Centenário não trouxe qualquer mais-valia. As comemorações do centenário não precisavam do festival; o festival passava bem sem as comemorações do centenário.
Depois temos outros dois exemplos de “não-lançamentos” mas para os quais se conhecem as razões são: no livro Zona Negra 2 a culpa é exclusiva da gráfica e no álbum Punk Redux o lançamento foi adiado para sair proximamente em associação com a revista Blitz.
Falando agora sobre os autores, e começando pelos estrangeiros, digo que souberam a pouco. De nomes sonantes, tivemos a dupla Schuitten/Peeters no 1º fim-de-semana e Sean Murphy no 2º fim-de-semana e foi tudo. Convenhamos que é muito pouco para um festival como o Amadora BD. Continuo convencido que são os bons autores que fazem um bom festival. E exemplos não faltam. Nada se perdeu, na ausência de grandes nomes, brilharam os artistas portugueses. A janela de visibilidade abriu-se para um grande número de jovens autores cujos nomes começam a ser familiares no meio bedéfilo.
Em resumo, pouco publico, boas exposições, ausentes grandes nomes internacionais, presentes bons autores portugueses, ou seja, um Amadora BD agridoce.
Para terminar, e como habitualmente, deixo aqui as minhas notas finais sobre o 21º Amadora BD:

Notas positivas:
+ Exposição “A Teoria do Grão de Areia”
+ Qualidade da maioria das exposições apresentadas
+ Bom número de novidades
+ Forte presença de autores portugueses

Notas negativas:
- Fraca adesão do público
- Insuficiente publicidade ao festival
- Os “não-lançamentos” associados ao Centenário da República
- A quase ausência de grandes nomes da BD internacional

Até para o ano, onde o Amadora BD regressa com "Humor".

Ver também:
- Notas sobre o 21º Amadora BD (1)
- Notas sobre o 21º Amadora BD (2)

3 comentários:

RuiR disse...

Uma pequena ajuda a essa memória LOL
- Sete histórias em busca de uma alternativa.
- Walking death
- Dicionário Universal da Banda Desenhada.

Fizeste um bom resumo da edição deste ano.
Deixa-me só juntar mais umas "achas"
+ Bons momentos de convívio
+ Venda de originais

- Os "não-lançamentos" associados ao Centenário da Republica. Esta é tão caricata que merece a duplicação :-(
- Falta de máquina de Multibanco.

E pronto, para o ano há mais, espero eu.
Abraço.

João Amaral disse...

Pois, depois do teu texto, não há mais nada a dizer. Lamento é que realmente a fraca adesão não tenha estado ao nível das exposições. Pois aí, houve de facto um investimento e isso viu-se. Agora, quanto a mim, um dos grandes problemas deste ano, acho que foi sobretudo a promoção e isso acabou por se reflectir a todos os níveis. E, é por isso que não deixo de lamentar, porque a qualidade do que vi até era muito boa. Mas como diz o RuiR para o ano há mais, e espero que, entretanto, algumas conclusões sejam retiradas por quem de direito. Um abraço.

Nuno Neves disse...

Olá Rui, obrigado pelo lembrete porque esqueci-me completamente do "Walking Dead" (justamente agora que sou fã da série na tv). Os outros lançamentos merecem igualmente destaque, mas a verdade é que mal dei por eles. E quando falaste dos originais, lembrei-me do "Eternus 2".
Fica já a listagem actualizada! :)
Abraço

Olá João, vamos a ver se o festival aprende com os erros! Agora que nunca falte é Amadora BD!
Abraço