14 janeiro, 2011

Leitura: The Walking Dead Vol. 1 - Dias Passados

 
Em 2010, um dos títulos que mais me entusiasmou em termos de leituras de banda desenhada foi sem dúvida The Walking Dead (TWD). E descobrir este universo desenvolvido por Robert Kirkman, vencedor de um Eisner Award, tem sido viciante.

Em TWD acompanhamos a história de Rick Grimes, um ajudante de xerife de uma localidade nos arredores de Atlanta (EUA) que depois de acordar de um estado de coma, na cama de um hospital, é confrontado com uma nova realidade: o mundo lá fora encontra-se dominado pelos mortos, melhor, por mortos-vivos. Tudo o que conhecia desapareceu em consequência de uma brutal epidemia, cuja origem não nos é relatada, mas que afectou grande parte da população humana transformando-a em zombies, que vagueiam agora sem destino um pouco por todo o lado, movidos por um instinto animal na procura de carne humana. Restam apenas pequenas bolsas de sobreviventes que lutam agora pela vida num mundo sem lei nem ordem. Rick luta para proteger a família (mulher e filho) ao mesmo tempo que conduz um grupo de sobreviventes na busca por um lugar seguro para viver. Em síntese, TWD apresenta-nos a visão de um mundo dominado pelos mortos, onde os vivos que ainda subsistem são obrigados a começar a viver, numa luta constante pela sobrevivência. Retrata a natureza humana e aborda a complexidade de que se revestem as relações humanas de uma forma exemplar numa análise critica de como o próprio ser humano se relaciona com os seus, com uma constante necessidade de criar e quebrar regras, num tempo onde os conceitos morais de certo ou errado ou de vida e de morte mudam conforme as circunstâncias.

A Devir lançou em finais do ano passado o primeiro volume de TWD – “Dias Passados”, no formato trade paperback (TPB) similar à edição publicada lá fora, que reúne os seis primeiros comics originalmente publicados em 2003 nos EUA pela Image Comic. Devo dizer que aplaudo a opção da editora portuguesa em manter o título original da série The Walking Dead, e não se aventurar numa qualquer tradução que certamente desvirtuaria um duplo significado que título original em inglês encerra em si. Porque à medida que nos embrenhamos na leitura desta aventura – devo dizer que a ideia que se segue não deriva deste primeiro volume mas de uma leitura mais avançada em que eu me encontro (volume 5) – apercebemo-nos que a designação de “walking deads” talvez não se aplique exclusivamente aos mortos-vivos como inicialmente se poderia supor, mas também aos sobreviventes, até porque à medida que avançamos na leitura tomamos consciência que nenhuma personagem está a salvo e que todos os vivos encontram-se irremediavelmente condenados, à excepção (ou talvez não) de Rick Grimes.

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Neste primeiro volume, começamos por estabelecer uma ligação à história. Assistimos ao acordar de Rick para a nova e perigosa realidade. Há sua busca e reencontro com a família. À apresentação do grupo e ao surgimento das primeiras tensões. Rick divide-se entre o seu papel de pai e marido e a obrigação que sente em garantir a protecção do grupo. Enquanto para Lori, a sua mulher, o reencontro é acompanhado por um sentimento de culpa. Todo o ambiente que rodeia o grupo afecta-o e isso traz consequências.

A fluidez na leitura de TWD resulta porque estamos perante um argumento genial que desenvolve uma linha narrativa com grande intensidade, liberta de “amarras e que segue caminhos lógicos. Mas é na exploração eficaz das reacções humanas que a narrativa explode. Quer seja originada pelas situações de tensão latente e de conflito existentes no grupo que se vai formando, derivadas das diferentes personalidades de cada elemento, que evoluem naturalmente para estados de confronto ou pela exposição do pior da natureza humana que nem sempre deriva da exposição a situações extremas. Certo é o suspense dado pela incerteza dos acontecimentos que cada nova página nos reserva.

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A arte sempre num registo a preto-e-branco tem, no seu primeiro volume, a assinatura de Tonny Moore. Autor de traço simples que se torna bastante eficiente pela dinâmica que imprime nas sequências de acção, destacando-se também pela boa caracterização no desenho dos mortos-vivos. Só assina os seis primeiros números que compõem este volume sendo posteriormente substituído por Charlie Adlard.

TWD é uma excelente aposta da Devir, que eu já tinha incluído como uma das minhas melhores leituras do ano de 2010. Agora o sucesso desta colecção em Portugal passa pela publicação não muito espaçada dos restantes volumes. Até porque não havendo cá, o leitor certamente procurará lá fora.

The Walking Dead - Dias Passados
Autores: Robert Kirkman e Tony Moore
Volume 1, preto e branco, TPB
Editora: Edições Devir, 1ª edição de Novembro de 2010



5 comentários:

João Amaral disse...

Pois eu infelizmente fiquei-me pela leitura deste primeiro volume e a aguardar ansiosamente que a Devir publique mais, porque é de facto uma obra notável que li quase de um fôlego. Um abraço.

. disse...

Boas,

A tradução efetuada pela Devir foi para português nacional ou português do Brasil?Obrigado

Nuno Neves disse...

Viva anónimo, a tradução da Devir está em português de Portugal. Aliás todas estas edições da Devir Portugal tem sido no "nosso" português. Abraço

Anónimo disse...

Obrigado verbal.

Eu pretendo adquirir os volumes do TWD.As traduções para português serão para continuar, ou passando o entusiasmo em redor da saga as traduções terminam?Há alguma situação semelhante em outras publicações?O meu receio é iniciar a compra pelos volumes em português e depois ter de optar pelos em inglês!Pretendia que todos os volumes fossem no mesmo idioma, talvez a opção mais segura para que isso aconteça seja optar desde já pelo inglês, mas por outro lado estas iniciativas(tradução de obras de "nichos" para português)são para apoiar e aderir!estou num impasse.
Obrigado
Ricardo

Nuno Neves disse...

@Ricardo, eu gostava de te poder garantir a publicação integral de TWD em português. Acredito que a Devir vá publicando mas a um ritmo muito lento muitas vezes não compatível com as nossas expectativas como leitores. Pessoalmente adiro sempre às edições em português (comprei os dois primeiros volumes) mas no caso desta série não resisti e comecei a comprar em inglês. Abraço