04 novembro, 2012

23º Amadora BD - Vencedores dos PNBD 2012

Foram ontem atribuídos os Prémios Nacionais de Banda Desenhada (PNBD) do 23º Amadora BD. Não me canso de aqui escrever que a leitura que se faz destes prémios, é obrigatoriamente um exercício condicionado. Os prémios dizem-se nacionais, mas na verdade não se premeia aqui os melhores autores e edições nacionais, mas apenas os melhores entre aqueles que cumpriram com o regulamento do PNBD que obriga que a candidatura aos prémios se faça acompanhar da entrega de seis exemplares de cada edição para análise do júri. Percebe-se perfeitamente que este requisito exclui a concurso parte da produção nacional de banda desenhada.
Assim, entre daqueles que se candidataram e dentro destes os que se encontravam nomeados, considero não ter existido grandes surpresas nos vencedores. Realçava talvez a vitória David Soares em O Pequeno Deus Cego (Kingpin Books) na categoria de Melhor Argumento sobre Filipe Melo com As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy II - Apocalipse (Tinta-da-China), e na categoria de Melhor Desenho, Ricardo Cabral com Pontas Soltas - Cidades (ASA) ter levado a melhor a Rui Lacas e o seu Hän Solo (Polvo). Em ambas as categorias, a minha preferência iria para os que indiquei como vencidos. Quanto às restantes categoria, uma palavra só para a categoria de fanzines, onde me dividia entre o Efeméride n.º 5 Corto Maltese no Século XXI (ed. Geraldes Lino) e o Franco Caprioli, no centenário do desenhador poeta (Câmara Municipal de Moura), que considero edições de grande qualidade. Não venceu nenhum destes.

Os Melhores dos PNBD de 2012

BD PORTUGUESA - MELHOR ÁLBUM
Filipe Melo e Juan Cavia



BD PORTUGUESA - MELHOR ARGUMENTO
David Soares, “o pEQUENO dEUS cEGO” (Kingpin Books)



BD PORTUGUESA - MELHOR DESENHO
Ricardo Cabral, “Pontas Soltas - Cidades” (ASA)



MELHOR ÁLBUM ESTRANGEIRO
“Blankets” (Devir), Craig Thompson



MELHOR ÁLBUM DE TIRAS HUMORÍSTICAS
“Os nossos Mutts - vol. 5” (Devir), Patrick MacDonnel



MELHOR ILUSTRAÇÃO PARA LIVRO INFANTIL
Madalena Matoso, "Todos Fazemos Tudo" (Planeta Tangerina)



CLÁSSICOS DA 9ª ARTE
“Sangue Violeta e outros contos” (El Pep), Fernando Relvas



FANZINE
“Fábrica, baldios, fé e pedras atiradas à lama” (Oficina do Cego)
Coordenação de Tiago Baptista

7 comentários:

Luis Sanches disse...

Sinceramente nestes prémios o que me deixa triste (não estou a exagerar) é sem dúvida o livro 'Pontas Soltas - Cidades' vencer o prémio melhor desenho.
Não percebo o que se passa. O próprio Ricardo Cabral já explicou o método que usa para fazer os livros. Se não me engano o ano passado semelhante coisa aconteceu. Deixa-me triste também NINGUÉM falar do assunto. Este país pelos vistos é mesmo pequenino e todos nos conhecemos uns aos outros, é melhor não ferirmos susceptibilidades.
Não tenho nada contra este livro e acho bem que haja alguém que exprimente com métodos digitais, fotografias, materiais, etc... Mas que vençam o prémio por isso.
Tenho a certeza absoluta que se o juri fosse composto por desenhadores (portugueses não por favor, como disse, o país é pequeno e toda a gente se conhece) este album nem seria levado em consideração para 'melhor desenho'. Talvez outras categorias, esta não.

Optimus Primal disse...

Mais uma tentativa de "desencalharem" das livrarias o "Blankets" com a 2a premiação no mesmo ano!

Nuno Neves disse...

Caro Luís Sanches, não me parece que o prémio tenha sido mal atribuído. Considero até que faz mais sentido premiar o desenho do Ricardo neste livro, porque se trata de um livro de bd , ainda que de "curtas", do que no anterior livro Newborn, que se enquadrava mais na categoria de ilustração, ainda que conforme referi se tivesse direito de voto neste ano teria atribuído o meu ao Rui Lacas.
Agora o Ricardo Cabral é uns dos grandes desenhadores do actual panorama bedéfilo nacional, e disso penso que não há dúvidas, independentemente do seu recurso a fotografia como ponto de partida e de referência. Esta técnica não é nova e grandes desenhadores há e houve que a utilizaram. A título de exemplo, lembro-me de ter lido um grande nome como Hergé que se socorria bastante da fotografia para o seu desenho nas aventuras de Tintim. Só para concluir que o método não retira qualquer qualidade a nenhum desenhador. Agora ou se gosta do traço ou não se gosta, mas isso já é outra questão. Abraço

Nuno Neves disse...

Viva Optimus, entre os nomeados esta vitória era mais que certa. E já agora o Blankets está encalhado? Então espero que os PNBD ajudem mesmo a desencalhar de forma a abrir espaço para o Habibi. Abraço

Luis Sanches disse...

Olá Nuno,

Sem duvida que os desenhadores usam referencias constantemente. Hergé, Uderzo, Cassaday, Alex Ross ,Takehiko Inoue, Masashi Tanaka, e podiamos continuar uma lista de literalmente centenas e centenas de óptimos profissionais. A questão que se coloca é; quantos desses milhares fazem livros INTEIROS a partir de referências? Não só de referências de desenho mas também de côr?
Nenhum. (até o Alex Ross percebe que isso é demais).
Mas vamos pôr a hipótese de que haverá um numero (decerto infimo) de autores que façam as suas Bds INTEIRAMENTE a partir de fotos. Quantos destes é que ganham prémios artisticos?
Apenas um.
Em Portugal, no Bd Amadora (e por dois anos consecutivos).

Há uma razão para este tipo de 'técnica' ser normalmente desconsiderada. É que desenhar à vista é relativamente fácil comparativamente com desenhar a partir da imaginação (qualquer pessoa que já pegou num lápis para desenhar, sabe do que falo). Mais, o mesmo repete-se com a pintura e o correcto exercicio da percepção das cores e transposição para a tela das mesmas. Com uma foto, é algo acessivel a um iniciado, sem fotografia é uma das coisas mais complicadas de se conseguir. Juntemos a isto ainda a recente pintura digital (que eu também pratico) e que facilita todo este processo de uma forma exponencial. Com que é que ficamos? 'Melhor desenho'? Sem duvida que não.

Só para terminar, ao contrário do que possa parecer, aprecio bastante o traço do Ricardo Cabral, e fossem os albuns a preto e branco e apenas se focassem no seu estudo de desenho, sem duvida que os compraria. Mas não é esse o caso, e independentemente do Ricardo Cabral ser ou não um dos grandes desenhadores do actual panorama bedéfilo nacional, penso que o seu livro deveria ser julgado pelo seu mérito artistico ou de argumento, e não foi isso que aconteceu.

Peço desculpa pelo texto algo longo e agradeço a resposta que foi dada ao meu comentário anterior.

Abraço e continuação de um óptimo trabalho aqui no blog.

Nuno Neves disse...

Olá Luís S., não tens nada de agradecer pela troca de impressões, antes pelo contrário, eu é que agradeço as tuas palavras.

Sobre o trabalho do Ricardo Cabral, eu percebo onde queres chegar, e partilho do teu sentimento, mas a verdade é que a técnica digital no desenho e pintura em banda desenhada é quase uma inevitabilidade no futuro, para desgosto meu que muito aprecio o traço a carvão, se assim se posso chamar. Não tenho agora o álbum Pontas Soltas aqui comigo, mas penso que não estará totalmente desenhado com base em fotografias, mas seja como for, começa a faltar ao Ricardo Cabral desenhar uma história completa de banda desenhada em 48 páginas. Dar o salto de promessa a autor completo. É verdade que lançou o Evereste mas já lá vão alguns anos e pedia-se mais. Vamos espera para ver os seus próximos projectos. Abraço

Luis Sanches disse...

Olá Nuno,

Concordo contigo em relação à técnica digital ser uma inevitabilidade do (já presente?) futuro :) Mas não vejo qualquer mal nisso, a sério, é preciso (para mim) é que continue a ser o sonho (ou a imaginação) a comandar a vida (das Bds).
Quanto ao album Everest (e páro por aqui porque até parece que quero mal ao autor e não é de todo esse o caso), mesmo o album Everest tem inumeros exemplos (muitos mais do que menos) da 'tendência' que se tornaria 'técnica' no Newborn e no Pontas Soltas.
No entanto, concordo, anseio por um album do Ricardo Cabral que me encha as medidas, e sei que há-de chegar, pois penso que ele é sem duvida um dos autores portugueses que mais e melhor Bd nos pode dar.

Abraço