04 janeiro, 2013

Revista do Ano de 2012

Como já o tenho feito em anos anteriores, abro o ano novo aqui no blogue para falar do ano velho. E começo por resumir. Numa escala de mau a excelente, classifico 2012 como um ano muito bom para a banda desenhada em Portugal. A análise é feita dentro de um cenário de crise económica real que a todos afecta e que veio para ficar. E no entanto, em 2012 houve arte e engenho para se realizar quatro festivais de banda desenhada em Portugal, houve coragem para fazer surgir no mercado uma nova editora especializada, houve ambição noutras editoras em abrirem o seu catalogo à banda desenhada, houve trabalho de qualidade na edição de obras de referência, houve reconhecimento do talento de autores portugueses por parte de editoras estrangeiras e houve o regresso das revistas Disney aos quiosques nacionais. Convenhamos que para um mercado periférico como o nosso, onde escasseiam novos leitores, onde a banda desenhada tem tão pouca visibilidade, com culpas repartidas entre editores e lojistas, mais a crise instalada, tudo o que aconteceu e que se fez em 2012 foi de facto muito bom.

É verdade que não se editou muito. Uma consulta às entradas aqui no blogue, e ressalvo que não regista todas as novidades, e contabilizo cerca de 80 novos lançamentos, incluindo as colecções Thorgal (16 volumes) e Heróis Marvel I e II (25 volumes no total). Admito que no total a edição de livros e álbuns de banda desenhada ultrapasse a centena e se aproxime dos números de 2011 (cerca de 140 obras). Não é muito quantitativamente. Mas o que faltou em quantidade sobejou em qualidade. E exemplos não faltam.

Começo pela parceria ASA+Público, finalmente uma colecção como deve ser. Nada de reedições, de misturas de histórias e personagens. Thorgal foi exclusivo numa colecção com álbuns inéditos e de excelente apresentação. A ASA voltou ainda a brilhar com 12 de Schuiten, Portugal de Cyril Pedrosa ou Bouncer (vol. 6 e 7) de Boucq. Mas de Pedrosa, tivemos ainda a edição de Três Sombras, da Polvo. Trata-se de uma obra extraordinária, que para mim merece destaque nas melhores do ano. Outro destaque vai para o regresso dos super-herois da Marvel em português às bancas de jornais. A Levoir, uma empresa especializada na produção de conteúdos, em parceria com o jornal Público (que outro mais?) apresentou Herois Marvel, uma colectânea de histórias de vários super-heróis, cujo sucesso garantiu uma continuação. A coleçcão Herois Marvel II surpreendeu pelas excelentes escolhas, e finalmente vimos publicado em Portugal clássicos como Surfista Prateado: Parábola, Wolverine: Arma X ou Demolidor: Renascido. Espera-se agora que este sucesso se estenda aos super-heróis da DC Comics.

Depois entramos nas surpresas do ano. Editoras de géneros de literatura tão variados, como o romance ou o fantástico, começaram a editar banda desenhada. E foi ver a Saída de Emergência, a Contraponto ou a Planeta a acrescentar bd ao seu catalogo. E um género pouco divulgado em banda desenhada entre nós, as autobiografias, de repente ganham um importante peso pela edição de obras premiadas internacionalmente: Persepolis, de Marjane Satrapi, FunHome, de Alison Bechdel ou Comprimidos Azuis, de Frederik Peeters (sobre este último escreverei aqui amanha). A Autobiografia foi mesmo tema escolhido para a 23ª edição do Amadora BD. Apesar dos cortes orçamentais, tanto Beja como a Amadora, conseguiram montar os respectivos festivais, e na verdade, é que com pouco fez-se muito, e a qualidade das exposições e dos autores convidados foi mantida.
Continuando com as surpresas, surge a Netcom2, uma editora espanhola, especializada em banda desenhada franco-belga. Anuncia o lançamento de três novas séries, duas delas já disponíveis. Peca por uma distribuição limitada o que lhe retira alguma visibilidade. Pessoalmente ainda não consegui comprar qualquer dos álbum desta editora. E falar em (boa) distribuição é falar na Disney. Quiosques, hipermercados, livrarias, é só escolher. Após longa ausência (e aqui podemos "agradecer" à Edimpresa) os "patinhas" estão por todo lado, ocupando um espaço que precisava urgentemente de ser ocupado. A futura geração de leitores de banda desenhada começa aqui a sua escola.

E tivemos também autores portugueses a publicar em Portugal. Não foram muitos. E cito aqui só a Joana Afonso com o seu O Baile e o Marco Mendes e o seu Diário Rasgado. Porque foram os primeiros livros destes autores e exemplificam bem o muito talento que há na nossa arte. Mas continua a faltar qualquer coisa para haver uma explosão de edições. Entretanto, lá fora há reconhecimento e o André Araujo é o mais recente reforço da Marvel.

E termino falando da Devir. Esta editora merece toda a minha simpatia. Pequenos passos de cada vez. E só publica livros que gosto de ler. Entre outros, obras como The Walking Dead, uma série que explora, de forma viciante para o leitor, os limites da natureza humana como nenhuma outra. Ou os quatro volumes de Death Note, que me deixam ansioso pelo quinto. E eu que nunca me tinha interessado pela leitura de manga. E pelo Hobbit, pois então!

Mais havia para dizer, mas este testamento já vai longo. A ideia era fazer um apanhado geral do mais relevante. Para finalizar, deixo a minha escolha pessoal das cinco melhores de 2012. Como sempre só edições portuguesas. Move-me um gosto pessoal na selecção, e não existe qualquer critério na ordem apresentada. São estes os escolhidos:


Que o ano de 2013 nos traga muita e boas leituras bedéfilas!

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