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20 março, 2010

As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy

Este álbum não é um álbum qualquer. É, em primeiro lugar, a  mais surpreendente e deliciosa obra de BD portuguesa em muitos anos. Pela criatividade da estrutura narrativa, AS INCRÍVEIS AVENTURAS DE DOG MENDONÇA E PIZZABOY não tem paralelo em Portugal nos últimos anos.

Dito isto, revelo que a mais recente e improvável das equipas que tem de salvar o mundo é formada por… um distribuidor de pizzas, um investigador do oculto, um demónio que se apresenta sob a forma de uma miúda e uma cabeça de gárgula falante. As forças do mal estão activas e está em curso uma terrível ameaça à Humanidade. O centro da acção é o submundo de… Lisboa.

A escolha da cidade de Lisboa como local de acção deve-se à premissa da capital portuguesa ter servido de local de passagem aqueles que fugiam da Segunda Guerra Mundial. Isto aliado ao facto de ter servido de palco para a actividade de espiões alemães também durante esse período, é o mote para uma história fantástica com criaturas sobrenaturais. Claro que também há o túnel que liga Portugal à Alemanha que foi sendo escavado nos últimos 50 anos.
 
Em linhas gerais é este o resumo de uma fantástica e delirante aventura delineada pelo português Filipe Melo, e o que começou por ser um projecto cinematográfico acabou por se transformar, felizmente, numa banda desenhada. São notórias as influências de Hellboy de Mike Mignola. Filipe Melo revela-se muito a vontade até porque a história beneficia muito da linguagem próxima que se consegue estabelecer entre o cinema e a BD, cumprindo a estrutura narrativa com todos os passos que uma boa aventura deve seguir: com inicio, desenvolvimento e fim.

Graficamente, o desenho do argentino Juan Cavia é um traço que tenho de aprender a gostar, até porque encontro algumas semelhanças com a arte de Humberto Ramos, de quem não sou manifestamente apreciador. O trabalho de colorização de Santiago Villa revela-se excelente pela criação das atmosferas nos respectivos ambientes onde se situa a acção.

A edição peca só, sem dúvida, pela capa que se encontra desprovida de qualquer imagem, apresentando apenas o título da obra sobre um fundo negro, o que é manifestamente pouco apelativo e não está à altura do conteúdo. Mais que se justificava um qualquer desenho, até porque é de um livro de banda desenhada que se trata.

Não obstante, “Dog Mendonça e Pizzaboy” é uma das mais refrescantes surpresas deste ano no que à BD portuguesa diz respeito, que merece toda a atenção de qualquer leitor bedéfilo.

O final desta história já indicia uma merecida continuação e o 2º volume de aventuras até já tem título: “Dog Mendonça e PizzaBoy – Apocalipse”.

As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy
Autores: Filipe Melo (argumento), Juan Cavia (desenho)
1º volume, cores, capa mole
Editora: Tinta da China, Fevereiro de 2010




3 comentários:

  1. Subscrevo quase totalmente. A arte de Cavia, embora parecida com a de Humberto Ramos, está num registo que fica bem com a estória. Até Humberto Ramos desenha bem, se a estória for feita a pensar no estilo dele!
    De resto é um livro muito fixe e divertido!

    Abraço

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  2. Eu também não sou um grande fã do desenho do Humberto em certos registos, noutros, pelo contrário.

    O desenho do Cavia está, na minha opinião, maravilhosamente bem enquadrado neste registo. As cores estão sublimes (sou um absoluto fã do Isanove, e creio que o Villa, aqui, não lhe fica atrás).

    A capa também não me puxou muito, especialmente pelo preto que prejudica em encontrar um livro que não esteja "riscado" nos escaparates das livrarias. Mas, o registo cinematográfico da mesma, há semelhança com uns "Back to the future"/"Raiders of the lost ark" trouxe-me um sorriso. Talvez até seja mais apelativa a um público que vá além da BD (quem não reconhece os dois grandes títulos do cinema?). Sendo um livro com imensas referências, a capa é indubitavelmente mais uma.

    Estou em pulgas para ler mais aventuras deste improvável team-up.

    Felizmente para nós (não sei se os autores pensarão o mesmo!) o filme não foi para a frente. Tenho muito pouca fé nos nossos realizadores e actores, não são raras as vezes que conseguem transformar um excelente guião numa deplorável amostra de filme!

    Enviem o guião para o Carpenter, acho que ele ia adorar. O Tarantino, ou mais o Rodriguez, que são grandes fãs de comics, vibrariam com a ideia (o Tarantino provavelmente ficaria todo lixado por não ter sido ele o primeiro a ter esta ideia!). Tentem, não perdem nada com isso.

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  3. Caríssimos, passa mesmo por uma questão de gostos. Em termos de traço, acho o desenho do Ramos e tambem o desenho do Cava algo estáticos(!) que não conseguem captar uma atenção que eu poderia dispensar. No entanto, em termos de planificação e arrumação do desenho na página, acho que os objectivos foram claramente alcançados e a prova é a opinião generalizada que o desenho se encaixa na história. Gostei foi da soltura do argumento. Acho que o Filipe Melo foi para além do que aquilo que esperava de um argumentista português. E só por isto já vale o livro!

    Abraço

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