Este álbum não é um álbum qualquer. É, em primeiro lugar, a mais surpreendente e deliciosa obra de BD portuguesa em muitos anos. Pela criatividade da estrutura narrativa, AS INCRÍVEIS AVENTURAS DE DOG MENDONÇA E PIZZABOY não tem paralelo em Portugal nos últimos anos.
Dito isto, revelo que a mais recente e improvável das equipas que tem de salvar o mundo é formada por… um distribuidor de pizzas, um investigador do oculto, um demónio que se apresenta sob a forma de uma miúda e uma cabeça de gárgula falante. As forças do mal estão activas e está em curso uma terrível ameaça à Humanidade. O centro da acção é o submundo de… Lisboa.
A escolha da cidade de Lisboa como local de acção deve-se à premissa da capital portuguesa ter servido de local de passagem aqueles que fugiam da Segunda Guerra Mundial. Isto aliado ao facto de ter servido de palco para a actividade de espiões alemães também durante esse período, é o mote para uma história fantástica com criaturas sobrenaturais. Claro que também há o túnel que liga Portugal à Alemanha que foi sendo escavado nos últimos 50 anos.
Em linhas gerais é este o resumo de uma fantástica e delirante aventura delineada pelo português Filipe Melo, e o que começou por ser um projecto cinematográfico acabou por se transformar, felizmente, numa banda desenhada. São notórias as influências de Hellboy de Mike Mignola. Filipe Melo revela-se muito a vontade até porque a história beneficia muito da linguagem próxima que se consegue estabelecer entre o cinema e a BD, cumprindo a estrutura narrativa com todos os passos que uma boa aventura deve seguir: com inicio, desenvolvimento e fim.
Graficamente, o desenho do argentino Juan Cavia é um traço que tenho de aprender a gostar, até porque encontro algumas semelhanças com a arte de Humberto Ramos, de quem não sou manifestamente apreciador. O trabalho de colorização de Santiago Villa revela-se excelente pela criação das atmosferas nos respectivos ambientes onde se situa a acção.
A edição peca só, sem dúvida, pela capa que se encontra desprovida de qualquer imagem, apresentando apenas o título da obra sobre um fundo negro, o que é manifestamente pouco apelativo e não está à altura do conteúdo. Mais que se justificava um qualquer desenho, até porque é de um livro de banda desenhada que se trata.
Não obstante, “Dog Mendonça e Pizzaboy” é uma das mais refrescantes surpresas deste ano no que à BD portuguesa diz respeito, que merece toda a atenção de qualquer leitor bedéfilo.
O final desta história já indicia uma merecida continuação e o 2º volume de aventuras até já tem título: “Dog Mendonça e PizzaBoy – Apocalipse”.
O final desta história já indicia uma merecida continuação e o 2º volume de aventuras até já tem título: “Dog Mendonça e PizzaBoy – Apocalipse”.
As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy
Autores: Filipe Melo (argumento), Juan Cavia (desenho)
1º volume, cores, capa mole
Editora: Tinta da China, Fevereiro de 2010
Subscrevo quase totalmente. A arte de Cavia, embora parecida com a de Humberto Ramos, está num registo que fica bem com a estória. Até Humberto Ramos desenha bem, se a estória for feita a pensar no estilo dele!
ResponderEliminarDe resto é um livro muito fixe e divertido!
Abraço
Eu também não sou um grande fã do desenho do Humberto em certos registos, noutros, pelo contrário.
ResponderEliminarO desenho do Cavia está, na minha opinião, maravilhosamente bem enquadrado neste registo. As cores estão sublimes (sou um absoluto fã do Isanove, e creio que o Villa, aqui, não lhe fica atrás).
A capa também não me puxou muito, especialmente pelo preto que prejudica em encontrar um livro que não esteja "riscado" nos escaparates das livrarias. Mas, o registo cinematográfico da mesma, há semelhança com uns "Back to the future"/"Raiders of the lost ark" trouxe-me um sorriso. Talvez até seja mais apelativa a um público que vá além da BD (quem não reconhece os dois grandes títulos do cinema?). Sendo um livro com imensas referências, a capa é indubitavelmente mais uma.
Estou em pulgas para ler mais aventuras deste improvável team-up.
Felizmente para nós (não sei se os autores pensarão o mesmo!) o filme não foi para a frente. Tenho muito pouca fé nos nossos realizadores e actores, não são raras as vezes que conseguem transformar um excelente guião numa deplorável amostra de filme!
Enviem o guião para o Carpenter, acho que ele ia adorar. O Tarantino, ou mais o Rodriguez, que são grandes fãs de comics, vibrariam com a ideia (o Tarantino provavelmente ficaria todo lixado por não ter sido ele o primeiro a ter esta ideia!). Tentem, não perdem nada com isso.
Caríssimos, passa mesmo por uma questão de gostos. Em termos de traço, acho o desenho do Ramos e tambem o desenho do Cava algo estáticos(!) que não conseguem captar uma atenção que eu poderia dispensar. No entanto, em termos de planificação e arrumação do desenho na página, acho que os objectivos foram claramente alcançados e a prova é a opinião generalizada que o desenho se encaixa na história. Gostei foi da soltura do argumento. Acho que o Filipe Melo foi para além do que aquilo que esperava de um argumentista português. E só por isto já vale o livro!
ResponderEliminarAbraço