Quando Fernando Bento desenhou o cabeçalho de um prospecto do Coliseu dos Recreios, em 1931, não adivinhava certamente que viria a ser um dos artistas mais significativos no contexto da banda desenhada portuguesa dos anos 40 e 50. Bento nasceu em Lisboa, em 1910. Desde muito pequeno que começou a contactar de perto com a magia contagiante do espectáculo, quer se tratasse do circo, da ópera, do musical ou do teatro. O pai trabalhava com o artista Ricardo Covões, o que permitiu ao jovem Fernando Bento o acesso aos bastidores do Coliseu e aos seus segredos. Aos poucos, naturalmente, Bento foi desenhando cenários, figurinos e cartazes, chegando a atingir grande sucesso em meados da década de 30. A crítica, através do Diário de Lisboa, do Diário de Notícias e d’O Século, entre outros periódicos, teceu enormes elogios ao seu trabalho de cenógrafo e figurinista. Parecia natural que Bento seguisse este percurso… Tinha então 25 anos e o mundo à espera. E na verdade foi o mundo que encontrou, mas o mundo das histórias aos quadradinhos, como então se chamava à banda desenhada…
Fernando Bento começou então a fazer banda desenhada para o jornal República, em 1938. A princípio as suas histórias não excediam algumas vinhetas, mas à medida que a linguagem dos quadradinhos se lhe tornava mais próxima foi enveredando por narrativas mais longas, dando-lhes maior consistência. Desenhou depois no Pim Pam Pum, no Diabrete, no Cavaleiro Andante e noutras publicações, deslumbrando centenas de jovens com as suas esguias figuras.
O traço de Bento é estilizado, a fazer lembrar, por vezes, o desenho de figurinista. Não é de estranhar por isso que os seus desenhos atinjam uma elegância que o torna, talvez, o desenhador mais original da sua geração… Algumas das sequências que desenhou lembram verdadeiros bailados de papel.
Bento, à semelhança da enorme maioria dos autores portugueses de banda desenhada, nunca criou uma personagem central para as suas histórias, como é costume entre muitos artistas do resto da Europa ou dos Estados Unidos. Preferiu perder-se pelos caminhos aventurosos do mundo seguindo a pena de Verne, Melville, Stevenson, Walter Scott ou, claro, Adolfo Simões Muller…
A exposição que agora se mostra, organizada pela Câmara Municipal de Moura, pelo Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, e pelo Grupo Bedéfilo Sobredense, assinala o centenário do nascimento de Fernando Bento, deixando descobrir o percurso ímpar de um artista incontornável para a história da banda desenhada portuguesa. Sem querer deixar de contribuir para a exposição, a Bedeteca de Beja juntou-lhe várias publicações (algumas de grande raridade) onde se pode apreciar o traço do Mestre…
Organização:
Câmara Municipal de Moura
Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu
Grupo Bedéfilo Sobredense
Apoio:
Câmara Municipal de Beja - Bedeteca de Beja
(sequência tempestuosa de Fernando Bento em Beau Geste, de Percival C. Wren, história publicada em 1952 no Cavaleiro Andante, e em 1982 na colecção Antologia da Banda Desenhada Portuguesa, da Editorial Futura)
Pelo menos fico satisfeito com a quantidade de iniciativas que houve durante este ano, em virtude da comemoração do centenário. Seria muito injusto deixar cair no esquecimento aquele que foi um dos mais importantes desenhadores portugueses de sempre, cuja obra, eu ainda estou longe de conhecer a fundo, mas admiro muito. Basta aliás ver essa bela sequência de Beau Geste que colocaste e não seria preciso dizer mais nada. Um abraço,
ResponderEliminarEspero o teu alerta para quando esta exposição vier à Sobreda,pois não a quero perder.
ResponderEliminarEu só descobri Fernando bento através do n.º especial dos Cadernos Moura BD (edição da Câmara Municipal de Moura), que aliás ganhou um dos prémios atribuídos este ano pelo Amadora BD e depois houve a magnifica exposição também no Amadora BD. Estou como tu João, longe de conhecer tudo mas do que conheço sou um grande admirador.
ResponderEliminarLamento que esta exposição em Beja não dure até ao FIBDB de 2011, mas Labas se tiver a informação que a mostra estará pela Sobreda é certo que aqui a divulgarei
Abraço
A mostra já esteve na Sobreda e em Viseu. Foi logo uns meses depois de um ou dois meses depois de Moura na Sobreda e em Viseu foi durante o decorrer do Festival da Amadora.
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