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18 novembro, 2013

Leitura: Asterix entre os Pictos


Retomo aqui a rúbrica das leituras com o mais recente álbum de Asterix. O 35º álbum de aventuras foi talvez um dos álbuns de banda desenhada mais esperados do ano. Diz o incrível número de cinco milhões de exemplares de tiragem global. A mudança de autores verificada numa das séries mais populares no universo da banda desenhada fez crescer grandes espectativas. E não era uma herança fácil a responsabilidade assumida por Jean-Yves Ferri, no argumento e Didier Conrad, no desenho, em substituir Goscinny e Uderzo.

A verdade é que a leitura deste Asterix entre os Pictos não desilude mas também não entusiasma. Fico-me pelo meio termo. A premissa de uma viagem à terra dos pictos, leia-se Escócia, prometia uma boa aventura, a julgar pela história e cultura deste país. Um «picto» congelado dá à costa na Gália e os nosso heróis ficam encarregados de o levar de regresso ao seu país, acabando por interferir na eleição do novo rei dos Pictos. O argumento sem grandes rasgos de inspiração mostra-se competente q.b. Começa por revisitar os lugares-comuns na aldeia gaulesa. Não falta um piscar de olho à actualidade politica francesa com a questão do «direito de asilo» nas palavras do chefe Abraracourcix Matasétix com a resposta de imediato da esposa Bonemine Boapinta. Chegada a hora da verdadeira aventura começar, numa viagem de barco até à Caledónia, não falta o habitual encontro com os piratas, com o desfecho sobejamente conhecido.


E aqui chegados, enquanto leitores facilmente identificamos algumas das referências que a Escócia pode oferecer. Os clãs, a "lontra" de Loch Ness, a água de malte (leia-se whisky). Os trocadilhos com a linguagem pictograma mostram-se bem conseguidos. Mas os pictos revelam-se umas personagens mal caracterizadas, desenxabidas, o que não ajuda na história. Falta talvez uma alusão a Mel Gibson com o «seu» Braveheart, e faria depois todo o sentido que em vez de uma sugestão de aliança dos Pictos com os romanos para uma invasão da Gália(!), tivesse existido uma ameaça de invasão à Bretanha conhecendo-se a animosidade histórica entre escoceses e ingleses. As referência às musicas dos Beatles feita pela personagem principal do pictos, o Mac Brasa, também me parecem desenquadradas. No final, desmascarado o vilão, Mac Abro, salva-se as lutas contra os romanos e fecha-se com tradicional banquete.


No desenho, Conrad cumpre com o exigido. Mantem um registo gráfico fiel e nisso substitui Uderzo sem grandes problemas. Boa dinâmica do desenho e isso traduz-se num resultado final globalmente muito bom.

Asterix entre os Pictos mostra-se assim um álbum sem grandes ambições, onde claramente os autores podiam ter sido mais audazes. Jogaram pelo seguro e garantem uma leitura divertida. Com isto tem o mérito de fazer esquecer os álbuns anteriores, pelo menos os dois últimos, e trazer os irredutíveis gauleses de volta aos leitores. E isso faz deste álbum uma boa excelente noticia.

Asterix entre os Pictos
Autores: Jean-Yves Ferri e Didier Conrad
Volume 35, cores, capa dura
Editora ASA, 1ª edição de Outubro de 2013



4 comentários:

  1. A tua análise vai de encontro aos meus sentimentos sobre o livro. As referências, como os Beatles, são por vezes desajustadas. A caracterização dos Pictos é atabalhoada, e a "lontra"...a "lontra"!!! Se foi para agradar ao público mais infantil, tudo bem...ou antes, tudo mal. Esse querer agradar a todos os públicos não funcionou muito bem nos livros anteriores, e neste livro quase que estragava tudo outra vez. Uma alusão ao mistério não ficaria desajustado, penso. Mas tornar a "lontra" num personagem com tanto destaque foi um erro, na minha opinião. Este livro gozou de um estado de graça proporcionado pela desgraça dos dois anteriores, pelo que terão que se ajustar e arrumar bem as ideias para os próximos que vierem, senão arriscam-se a banalizar a marca Astérix e Obélix e, pior, por descrédito desgraçarem-nos completamente.

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  2. Caro,

    Venho aqui estender-lhe um convite.

    Pelo que vejo é bom entendedor de Franco Belga e nós estamos a necessitar de alguém que escreva uma crónica na Sketchbook sobre essa área.

    Estaria interessado em colaborar connosco?

    A secção teria o nome do seu blog e de 3 em 3 meses abordaria um lançamento que lhe parecesse interessante abordar.

    A Sketchbook # 5 vai atrasar um pouco até dia 18 de Dezembro devido ao entrevistado / homanegeado surpresa por isso podemos tê-lo abordo ainda na edição de Natal.

    Como na ordem do dia parece estar este Astérix e os Pictos, se andar com pouco tempo e se quiser podemos utilizar este seu texto que fez no blog que está bem interessante.

    Se for do seu interesse juntar-se à nossa pequena equipa, diga-me algo para: portfoliobd@gmail.com

    Saudações.

    Diogo Semedo

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  3. Olá Pedro, não fiquei com a sensação que o álbum tivesse como propósito o de agradar a um público mais infantil. Pareceu-me mais que para 1º álbum dos autores no universo Asterix convinha jogar pelo seguro. Neste houve claramente desperdícios, mas afinal Uderzo ainda comanda nos bastidores. Mas concordo contigo, daqui para a frente só pode melhorar, pelo risco que existe de afectar a marca Asterix. Abraço

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  4. Olá Diogo, agradeço o convite e respondi por email. Abraço

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