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04 julho, 2020

Leitura: O CASTELO DOS ANIMAIS

É sempre bom sermos surpreendidos enquanto leitores. E é essa uma das artes da editora Arte de Autor, com propostas de leitura que se encaixam perfeitamente na definição de bela surpresa. Foi o que aconteceu com este primeiro volume de «O Castelo dos Animais» recentemente editado.

A premissa “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”, a conhecida máxima do regime do Animalismo que vingou no romance «O Triunfo dos Porcos» de George Orwell, encontra em «O Castelo dos Animais» a sua expressão gráfica. Libertados do jugo dos humanos, num castelo abandonado os animais de quinta governam-se a si próprios. Se o explorador era o Homem, agora sem a sua presença, estão reunidas as condições para todos os animais viverem em perfeita harmonia. Só que não.

Xavier Dorison, o mesmo que assina a série «Undertaker», apresenta-nos sem contemplações, e com sangue, o fim da utopia. O sonho de uma república animal esconde um regime opressivo, onde os que governam fazem-no pela força, e os que são governados submetem-se pelo medo. Logo no inicio da história, despistam-se quaisquer dúvidas, ao testemunhar-nos a execução da galinha Adelaide, cujo crime capital foi roubar um ovo. Centramo-nos na história de Miss Bengalore, uma gata viúva mãe de duas crias, que se vê obrigada a trabalhar para sobreviver. Vale-lhe as suas relações de amizade e o sentido de entreajuda entre presente entre aqueles mais desfavorecidos, mas é seu “despertar” face ao desenrolar dos acontecimentos que nos aprisiona na narrativa.

Félix Delep é o artista que nos cativa pela parte gráfica da história. Dono de um expressivo traço de linha clara que se mostra bastante competente em todos os cenários e que faz funcionar de forma eficiente a utilização do antropomorfismo como caracterização da dicotomia forte/fraco subjacente à história. Pois se, do lado dos mais fortes, é fácil associarmos a força ao touro ou a agressividade aos cães; do lado dos mais fracos, era fundamental a expressividade animal para reconhecermos a coragem na pata Margarida, a audácia no coelho César ou a determinação da gata Bengalore.

Aprisionados e cativados pelo talento deste dois autores, assistimos em puro deleite, página a página, ao lento nascimento de uma esperança, numa luta desigual, num movimento de libertação iniciado justamente por daqueles que sempre pensaram (e pensávamos nós) que não podiam fazer a diferença.

«O Castelo dos Animais» apresenta-se numa excelência da edição, que apela aos sentidos não só da visão mas também do tacto dos leitores (descubram por vocês), naquela que é sem dúvida um das mais belas surpresas deste ano. Nota máxima! A contar os dias para ler o volume dois…

O Castelo dos Animais - 1. Miss Bengalore
Argumento de Xavier Dorison e desenho de Félix Delep
Editora ARTE DE AUTOR




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