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29 outubro, 2021

Notas sobre o Amadora BD de 2021

À porta do segundo fim-de-semana do festival, posso afirmar que a (minha) primeira impressão sobre a edição do Amadora BD deste ano é muito positiva. Ainda que pairem algumas nuvens escuras, é um bom começo para uma nova equipa. Assistimos ao regresso de grandes autores estrangeiros publicados em Portugal, a uma excelente presença de autores nacionais, ao lançamento de um grande número de novidades editoriais, e as exposições, em geral, mantém a mesma qualidade de sempre. O festival é isto. Uma celebração da banda desenhada em todas as suas vertentes e em comunhão com todos os seus intervenientes.
 
O Ski Skate Amadora Park, a nova casa do festival, e ao que parece a definitiva (seja lá o que isto signifique para os lados da Amadora) não é dos sítios mais centrais. Aliás, diria mesmo que estamos a falar de arredores da cidade. O parque de estacionamento cheio explica-se porque o carro é a solução mais pratica e mais rápida para chegar ao recinto. Confesso que não tive a noção da adesão do público. Tanto no Sábado como no Domingo, a zona comercial (ver mais abaixo) esteve sempre cheia mas não serve de indicador. No edifício principal encontramos um bom espaço para exposições. Espaçoso e sobretudo bem iluminado, e é neste último ponto que verificamos um absoluto contraste relativamente ao piso negativo do Fórum Luís de Camões. Ao invés de um lugar frio, temos agora um espaço aprazível que acolhe pequenas galerias de arte. No silencio das salas quase que conseguimos ouvir as falas. Não posso deixar de dar, mais uma vez, os parabéns à equipa de cenógrafos que prepara cada área de exposição. Nos cenários sentimos o ambiente de cada história. Nota extremamente positiva.
 
Ficaram ainda por ver as exposições fora do núcleo central do festival. Mas é uma questão antiga esta da descentralização. Pessoalmente acho um erro. Sobretudo porque os restantes espaços de exposição são colocados noutra ponta da cidade. Para um visitante do festival, não é viável, nem se proporciona, sair de um espaço onde tudo acontece para se deslocar para outro apenas para ir ver uma ou duas exposições. O Amadora BD dura 10 dias por ano. Se a Câmara Municipal da Amadora faz mesmo questão na realização das mostras noutros espaços culturais da cidade, recordo que restam ainda 240 dias para o efeito. Nota negativa para a descentralização.
 
No Ski Skate Amadora (sou só eu que acho piada à ideia de escrever as palavras “Ski” e “Amadora” na mesma frase? ), a zona comercial encontramos num segundo edifício. Uma estrutura (tenda) com ar de provisória, mas que vai ficando como definitiva. Aqui gostei da ideia de se concentrar as lojas e os balcões de autógrafos em redor do palco onde decorrem as apresentações e entrevistas. O chamado “três em um” mas com sentido. Apresentação, venda e autografo. É a Santa Trindade de um livro. É certo que não impera o silencio, mas a envolvência dá uma dinâmica de feira onde só se respira banda desenhada. O único senão, a meu ver, é o próprio espaço, que é manifestamente reduzido para as necessidades actuais, e eventualmente futuras.
 
E foi justamente a questão do (pouco) espaço que ganhou maior importância logo no primeiro fim-de-semana do festival. A presença de “pesos-pesados” na categoria de autores, trouxe ao de cima a inexperiência do staff de apoio na gestão do próprio espaço. Acresceu a dificuldade de comunicação. E depois foi correr atrás do prejuízo. Se a implementação de um sistema de senhas é positivo, porque evita a aglomeração de pessoas, não se compreende a obrigação da criação de uma fila no exterior da tenda justamente para os autógrafos. É a subversão de toda a lógica das senhas. Eu, portador de uma senha, circulo a meu belo-prazer, e à medida que se aproxima o meu número, dirijo-me ao local. Agora ficar duas horas à espera numa fila é um absurdo. Ainda há muito a trabalhar e melhorar pela organização neste ponto.
 
No primeiro fim-de-semana, aconteceu também a entrega dos prémios nacionais de banda desenhada do festival. Talvez a única nota positiva dos prémios. Aconteceu no Domingo (4º dia), mas melhor ainda seria se acontecesse na Quinta (1º dia). Tem toda a lógica os vencedores serem conhecidos desde do inicio do evento de forma que todos os intervenientes, sejam autores ou editores, possam durante o festival, beneficiar desse reconhecimento. Até porque sabemos que este é efémero. Porque no pós-festival, não há, infelizmente, conhecimento de qualquer promoção e divulgação, tirando uma ou outra nota que surja na comunicação social, mas que rapidamente é engolida no vórtice de notícias diárias. Diz quem assistiu que a entrega deste ano, que foi uma cerimónia constrangedora, despida de público. Não me surpreende, porque no fundo é o reflexo perfeito de uns próprios prémios sem credibilidade, uma sombra do que já representaram. Há por aí alguém que ainda valoriza os actuais PBDA? Muito a fazer pela organização. A começar pela revisão do regulamento de forma a tornar os prémios representativos, abrangentes e que valorizem os principais actores: autores e editores. Ponderar o dia e local da entrega dos prémios para o início e no sítio onde acontece a festa da BD. Para quem lê este blogue sabe que isto já não é novo por aqui. A alternativa, que existe, é não fazer nada, deixar tudo como está, e apresentá-los como os prémios mais risíveis da banda desenhada portuguesa! E na falta de categoria de humor, não se perde tudo. Fica a sugestão! 
 
Para terminar este olhar inicial sobre o Amadora BD, até porque ainda há mais festival para acontecer, mais uma nota ou duas sobre (alguns) autores. Gostei muito do regresso do Jorge Miguel. Um autor que aprecio bastante, e cujo reconhecimento por cá lhe faltava. É também para isto que se faz um festival de banda desenhada. E falando em regressos, na conversa que tive com o Osvaldo Medina (outro da minha preferência), disse-me que o facto de não ter publicado nada nos últimos anos, não significa que tenha estado afastado. O resultado está à vista com «Macho-Alfa» o primeiro de quatro volumes. O seguinte já está pronto e o terceiro em produção. Mas o melhor é mesmo o regresso de Kong The King. Sim, o segundo volume vai acontecer! Quanto ao incansável Luís Louro, já se sabe que está a produzir um novo trabalho. Aponto para a magnum opus do autor. No próximo fim-de-semana vai estar à conversa. Vamos ver se temos mais novidades! 

Encontramo-nos no festival!

4 comentários:

  1. Olá Nuno. Como sabe, as minhas apreciações anteriores tenho sido geralmente críticas de tudo o que se relaciona com este evento, especialmente nos últimos anos. Infelizmente este ano, poucas ou nenhumas razões tenho para dar uma opinião no sentido contrário. Vejamos: ao fim de 32 anos o Amadora BD continua sem um local próprio condigno para a realização do evento - vão-se arranjando uns locais, improvisando uns espaços e pouco mais. Não se tem trabalhado nem a marca nem o evento, reduzindo a data a um simples "acontecimento" no calendário autárquico. Aquilo que defendo desde à muito é uma organização profissional, em conjunto com editoras, distribuidores e parceiros (as famosas parcerias) que o Amadora BD nunca soube congregar. A pobreza (e não falo apenas de orçamento...) e falta de ambição de toda a organização é confrangedora. Segundo me constou caíram peças da estrutura montada com uma tenda (?) onde estavam lojas, editores, autores e local de lançamentos e debate. O frio e chuva entravam pelas zonas limite do mesmo - houve obras expostas que se estragaram... Um espaço reduzido e claramente insuficiente para as funções, "amontoadas" sem critério. Mais grave ainda quando atravessamos uma pandemia e os espaços deveriam ser, necessariamente, amplos. De igual modo as "exposições" foram sem brilho, pouco trabalhadas e de interesse reduzido. De resto o espaço pouco mais permitia. Gostaria francamente o Amadora BD dé-se o "salto" que à muito se exige mas, mantendo esta fórmula, não auguro nada de bom.

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  2. Viva António, concordo que o festival sofre pela falta de um compromisso sério por parte da Câmara da Amadora, que o reduz a um simples evento de calendário; por outro lado não impede que se publicite a cidade como a capital da BD em Portugal. É um paradoxo difícil de compreender. A falta de uma “casa” é sem dúvida a cereja no topo. Este novo espaço, do ski skate park, foi apontado como definitivo. Tem potencial para crescer, mas necessitará de investimento (leia-se obras), e será que a Câmara estará disposta a isso? Dou como exemplo o mono que é pista de ski, e que muito naturalmente devia ir abaixo para libertar espaço.

    Quanto à edição deste ano, e conforme já o referi aqui no blogue, dou nota positiva no global. A nova equipa é uma lufada de ar fresco, e notou-se trabalho feito com as editoras, não só ao nível das exposições como dos autores convidados. Este é o caminho! Por agora dou o benefício da dúvida à organização.

    Relativamente à tenda do espaço comercial, é um espaço insuficiente e sem muitas condições, sobretudo se o tempo não ajudar, como foi o que aconteceu num dos fins-de-semana. Pingou dentro da tenda e o nível de humidade foi brutal. O que não é um bom ambiente para livros. Mas a verdade é que sem obras não haverá alternativa ao aluguer, que segundo me constou custou vários milhares, na casa das duas dezenas.

    Quanto às exposições não partilho da sua opinião, com excepção à dedicada ao mangá, que considerei muito fraca. Percebo a ideia de atrair um público mais jovem, mas estava muito mal trabalhada. O edifico das exposições estava bem organizado, e convidava à circulação num circuito, tal como nos museus. Finalmente acabaram-se aqueles labirintos estúpidos muito em voga nos últimos anos do Fórum. As mostras estavam muito boas, e dou como exemplo os originais do George Bess, absolutamente fantásticos. Tenho pena que não exista um catalogo das exposições, à semelhança do que a Gulbenkian fez com o a exposição do Hergé.

    Desconheço os números de visitantes, mas fiquei com a sensação de uma boa adesão. Passei pelo festival no último dia, no feriado de manhã, e tive a agradável surpresa de ver o festival com bastante gente, muitas famílias. É um bom sinal!

    Para o futuro, digo para esperar para ver o grau de compromisso da Câmara, nesta equipa e neste espaço. Disto depende o tão desejado “salto”. Abraço

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  3. Boas Nuno, gostaria de partilhar o seu optimismo mas, por experiência própria e por amplos exemplos que nos vêm de anos anteriores, julgo que apenas por alguma circunstância excepcional, veremos alterações substanciais. Em relação aos espaços expositivos, a minha "bitola" é bem alta, não só por envolvimento pessoal na área do design e concepção de espaços similares como, por já ter observado in loco suficientes bons exemplos do que deve e pode ser feito (e o oposto também, é claro...). Não quero entrar em pormenores mas o "trabalho" colocado nestes espaços é tudo menos bem conseguido. Mas é apenas a minha opinião... A confirmar-se o valor que aflora no seu comentário em relação ao custo da tenda julgo que a organização foi enganada ou deixou-se enganar - nada ali justifica esse valor... Mais uma vez aqui, profissionalismo (ou falta dele...). Abraço

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  4. Sou um optimista por natureza, e desejo, tal como todos os amantes de banda desenhada, que o festival consiga sobreviver a estas mudanças. Relativamente às exposições do festival, e aqui o plural diz respeito a todos os anos, salvo algumas excepções, sempre gostei bastante. Já fomos felizes contempladores de belíssimas mostras no Amadora BD, e assim de memória recordo-me a do Schuitten/Peeters, aquando do lançamento do álbum A Teoria do Grão de Areia, ou os originais de Flash Gordon assinados por Alex Raymond. A verdade é que não há assim uma grande oferta expositiva de BD em Portugal. Temos a Amadora e Beja, pelo que reconheço o esforço da organização nas exposições. Obviamente que há sempre margem para melhorar. Quanto aos "negócios" do festival, ainda me lembro do tempo em que metade do orçamento era gasto... em mdf!!!! Penso que os contratos são negociados e assinados a um nível superior, que ultrapassa a própria equipa que organiza o evento. Pelo menos é a sensação que tenho. Abraço

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