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27 outubro, 2023

Notas sobre o Amadora BD de 2023

Já aconteceu o primeiro fim-de-semana do 34º AMADORA BD. Estive pelo Ski Skate Park (ainda continuo a pensar como é que um dia alguém se lembrou de construir uma pista de ski na Amadora e pensar que isso seria uma ideia vencedora) e são estas as minhas primeiras notas sobre o evento! Revelo que começo a ficar já acostumado à localização e ao espaço da nova casa, ainda que considere as infraestruturas de apoio tal como estão representem um problema: as suas limitações limitam o crescimento do festival!

Logo à entrada, a primeira surpresa (a chuva não conta). Temos novos preços: o bilhete diário para o público em geral passou a custar 5 euros (são +66% que em anos anteriores). Entendo que a entrada num evento cultural feitos com dinheiros públicos deva ser tendencialmente gratuita (garantir o acesso à cultura a todos), mas o Amadora BD (único festival público de bd com entrada paga) aposta em sentido contrário e vêm agora com um brutal aumento (o antigo ministro das finanças Vitor Gaspar havia de aplaudir) que não encontra justificação nos tempos que correm. Até porque não será pela receita da bilheteira no final do festival que este evento se financia! Nota negativa, sem necessidade!

Começo aqui a visita pelas exposições. Logo pela aquela que poderíamos ver como a principal mostra, não só porque se destinava a celebrar o 60º aniversário da popular Mônica bem como porque foi inaugurada por um dos principais convidados do festival, o próprio autor (o quase nonagenário) Maurício de Sousa. Mas a realidade é cruel. Composta por uns painéis, e meia-duzia de tiras e... o resultado final traduz-se numa mostra completamente desinspirada. Uma placa com o dizer "siga que aqui não há nada para ver" talvez fosse mais interessante tinha-se aproveitado o espaço para uma outra exposição.

 
Da dezena de mostras que ganharam o direito de exposição no núcleo central do festival, destaco particularmente aqui duas, curiosamente ambas de autores nacionais. A primeira, e a ordem aqui é completamente aleatória, a Derradélândia, dedicada ao universo de humor de Dário Duarte aka Derradé. Apresentada num belo cenário, repleto de originais, e com justo destaque dado à Loja, obra que considero ser dos melhores livros deste autor. Muito bom. A segunda, é a dedicada à adaptação para banda desenhada do romance O Grande Gatsby pelo traço de Jorge Coelho. É puro deleite visual observar todo o detalhe das suas linhas e pormenores em magnificas pranchas a preto-e-branco, exibidas num cenário de festa e extravagância que caracteriza o ambiente da história. Mais uma cenografia bem conseguida. Notas muitos positivas para estas exposições.
 
 

Relativamente às restantes, mostram-se interessantes sem no entanto deslumbrar. Nas dedicadas aos aniversários do Super-Homem e da Agatha Christie, senti justamente o mesmo, um mero depositar de originais, sem um cuidado na contextualização e enquadramento das histórias/personagens. A do Garfield vale pelos originais e pelo espaço expositivo engraçado (falta ali um adereço com o retrato do gato laranja que gosta de comer à semelhança do que foi feito para a Mônica). A retrospetiva do Miguelaxno Prado soube a pouco. Na dedicada ao trabalho do Filipe Andrade, esqueceram-se das iluminações? O autor confirmou que era esta a sua ideia, mas o resultado é deprimente, com uma sala despida onde os originais expostos são servidos num cenário escuro que os absorve completamente (o cineasta César Monteiro iria adorar). Em resumo, e comparativamente a 2022, a grande maioria das exposições está a um nível muito abaixo do que vimos no ano passado!

E sigo para a já famosa tenda! É o outro espaço do festival (há um terceiro espaço mas é dedicado ao gaming e não conta num festival que se quer exclusivamente de banda desenhada). As simpáticas moças, que no ano passado distribuíam as desejadas senhas para as sessões de autógrafos, este ano foram trocadas por uma maquina automática (são sinais dos tempos). A grande vantagem do sistema de senhas é desobrigar o titular dessa senha em ter que aguardar em filas pela sua vez. E dentro do festival, esse tempo pode ser aproveitado, por exemplo, para circular entre os vários stands comerciais ou aproveitar a programação do festival de conversas e apresentações. Mas no Amadora BD tudo se complica. São 34 anos disto e ainda não chegamos lá! Há sempre uma ideia peregrina a vingar logo no primeiro dia. Não sei se recordam, mas no ano passado foi a obrigação da "fila única". Este ano, para ficarem com uma imagem, no sábado, para conseguir senhas para meia-duzia de autores tive que estar, de hora em hora, em quatro filas diferentes... para senhas!!!  Como devem compreender toda programação paralela, de apresentações e lançamentos, foi literalmente paralela, passou-me ao lado!

Ai se chovesse um pouco de bom-senso na Amadora!

Mas na verdade choveu, ou então a noite foi boa conselheira. Seja como for, os reparos e as sugestões foram ouvidas por quem de direito, e no dia seguinte a coisa simplificou-se. O problema ficou quase resolvido. Foram disponibilizadas senhas desde logo para todos os autores. Primeiro a chegar, primeiro a servir-se! Não posso deixar de destacar aqui o papel positivo de uma das responsáveis(?), de seu nome Vanessa, que foi dialogante, que soube ouvir, e que procurou a solução possível que veio a acontecer no domingo. Mais houvesse. Agora permanece o problema do painel (ou da falta deles) onde possamos acompanhar o evoluir da chamadas dos números, mas isso fica para o ano!

Em termos de nomes de autores convidados, também não se pode dizer que seja dos melhores anos, mas os presentes valem a visita. Começo pelo brasileiro Maurício de Sousa. Salvo erro, a sua quinta presença em festivais por cá. Sempre com a mesma generosidade, disponibilidade e simpatia. Não obstante a sua idade avançada não desiludiu quem o aguardava nas sessões de autógrafos.  Cinco estrelas. Do universo franco-belga, tivemos um digno representante: Émile Bravo, autor da lufada fresca no universo do Spirou que foi o álbum Diário de um Ingénuo (ASA) (uma das minhas melhores leituras de 2022), e pelo qual recebeu um dos prémios do festival destinado à “Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal”. Feliz coincidência! Brilhou nas sessões de autógrafos pela velocidade com que desenhava. Foi generoso e paciente com o público português. Outro cinco estrelas. Destaco igualmente aqui, Chloé Cruchaudet, autora de Mau Género (IGUANA) e talvez das melhores obras lançadas por esta editora nos últimos tempos. A Chlóe brindou-nos com belíssimas aguarelas! Agora um destaque pela oportunidade única de encontrar dois "monstros" da bd nacional quase lado a lado (o Dário meteu-se no meio): Filipe Andrade e Jorge Coelho. Vão escasseando oportunidades como estas, à medida que o mundo vai descobrindo o enorme talento destes rapazes. Repetem a presença no próximo Domingo.

Em suma, temos este ano (mais) um Amadora BD simpático, que proporciona sempre uma excelente montra para as editoras nacionais, mas que deixa a sensação que poderia oferecer mais. Um terço das exposições são dedicadas a personagens, que nos últimos anos não tiveram qualquer publicação por cá. Apenas três dos autores convidados são oriundos do mercado franco-belga. Tudo é manifestamente pouco para um festival que face à sua dimensão e importância se espera que seja impactante. Infelizmente não tem sido.

Ficam algumas imagens das sessões de autógrafos. De cima para baixo, da esquerda para a direita, temos:

(1ª foto) Émile Bravo, Marco Ghion e Maurício de Sousa

(2º foto) Filipe Andrade, Derradé e Jorge Coelho

(3ª foto) Maurício de Sousa

(4ª foto) Dário Duarte

(5ª foto) Chloé Cruchaudet

(6º foto) Rita Alfaiate

(7º foto) Luís Louro

(8º foto) João Amaral





7 comentários:

  1. Viva Nuno reproduzo aqui um meu comentário colocado noutro fórum a propósito do Amadora BD.
    Tive a oportunidade de visitar, sem grandes expectativas, a Amadora BD. Como já aqui afirmei anteriormente o Amadora BD (tal como qualquer evento com alguma dimensão e organização) necessita urgentemente de um local próprio com condições. Apesar da meteorologia ter colaborado, as condições de admissão não - mais de 30 minutos para aceder ao local de aquisição de ingressos (e, sim, sei que poderia ter adquirido online - aspecto não divulgado...) é completamente inaceitável. Inaceitáveis são também os espaços de sanitários, poucos e mal assinalados, as zonas de alimentação e a (ainda) deficiente sinalética no local, escassa e de má visibilidade. Também escassas são as zonas de estacionamento no exterior. Os acessos interiores continuam a ser pequenos corredores que, em caso de emergência, duvido que facilitassem a movimentação. Não notei qualquer controlo na zona de entrada, apesar da enorme fila no exterior. Não existem quaisquer referências visuais para o evento - telas de grande dimensão, expositores, decoração no exterior, NADA… A “organização” insiste em usar aquelas “antenas” no exterior que nada indicam - será uma fábrica de painéis solares?… Enfim… O único espaço onde notei significativas melhorias foi o das exposições. A tenda da BD (sim, 1 tenda…) é pequena, exígua e mal dimensionada - colocar editores, lojas, espaço de assinaturas e zona de conferências/apresentações num só espaço é, no mínimo infeliz. Há que criar espaços para que zonas comerciais e zonas de divulgação não colidam. Porquê uma tenda para videojogos? Não poderíamos ter ali pequenos editores, edições de autor, editoras estrangeiras convidadas, parceiros, indústrias paralelas e outros?… Termino com uma nota de esperança no sentido que os responsáveis invertam o percurso de decadência que este evento tem tido nos últimos anos. A BD os amantes de BD em Portugal merecem mais e melhor. Abraço.

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  2. Olá António,

    Basta verificar a necessidade da existência de tendas para sabermos que o espaço, tal como esta, não é o ideal para ser a casa do festival. Mas o facto da autarquia “obrigar” o evento a andar com a casa às costas (esta já é o 5º espaço que conheço) dá para se perceber que a ideia é fazerem a festa com o mínimo do investimento possível. Esta falta de compromisso sério por parte do único financiador do Amadora BD é sem dúvida um obstáculo enorme ao crescimento do mesmo. E sinceramente não acredito que que haja alguma vez um investimento por parte da câmara para além do orçamento do festival. É o que temos e é que iremos ter. Portanto cabe à organização fazer o melhor possível com o que existe.

    Agora concordo que devia melhorar muito na parte logística. Também lido mal com má sinalética. Até no acesso do IC 19 (sentido Libosa-Sintra) o cartaz alusivo está colocado na saída errada. A falta de oferta de zonas de alimentação (as carrinhas de fast-food desapareceram) é um problema, ainda que possa ser compensado pela vizinhança com o clube desportivo Damaiense. O estacionamento em dias de jogos torna-se difícil. Mas já no Fórum a oferta de estacionamento também não era muito melhor.

    No que concerne ao espaço das exposições, pessoalmente gosto. Lembra-me um pequeno museu onde vamos circulando pelas diferentes alas, e onde em cada uma observamos diferentes cenários e diferentes ambientes. Agora já chega de ocupar espaço a celebrar aniversários de “supers” que já nem são editados actualmente no nosso mercado. Tem de existir melhor critério na definição das exposições porque o espaço é escasso.

    Relativamente à tenda do gaming, considero um absoluto disparate num festival de bd. Quem vai para jogar fica lá a tempo inteiro. Não atrai novos públicos para o festival. Era dar-lhe diferente uso.

    Quanto ao espaço comercial, enquanto não for construído um espaço de raiz (que não deve acontecer), vamos ter que levar com a tenda (e esperar que não chova muito). A gestão do espaço tem de ser feita no sentido de compatibilizar as sessões de autógrafos (ponto alto) com a restante programação do festival. O sistema de senhas permite isso, agora haja bom-senso na definição de regras, que é o que tem faltado.

    Penso que o período de decadência em que o festival tinha entrado estancou nos últimos 3, 4 anos. É verdade que também ainda disparou para níveis óptimos, porque lhe falta arrojo e o sair da zona de conforto. tenho esperança que os novos responsáveis estejam a delinear caminhos nesse sentido, até porque já começam a surgir noutros locais ofertas de festivais muito interessantes!

    Um Abraço

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  3. Boas Nuno, sem me querer alongar demasiado sobre o tema julgo que é óbvio que o modelo deste evento terá que ser reavaliado no futuro próximo se verdadeiramente querem que isto tenha alguma relevância no panorama da BD nacional ou, se fica reduzido a um mero festivalzeco com carácter provinciano (tipo festival do caracol e imperiais mas com livros…). Mais uma vez insisto, parte da solução passará pela criação de uma equipa profissional com integrantes da CMA e privados e a dotação de um orçamento a sério e em estabelecer parcerias e financiadores. Sem isso a Amadora BD nunca passará da “cepa torta”.

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  4. Que culpa tem o Superman e outros heróis de fazerem anos e serem ignorados pela levoir!!!Anos e anos tex em situação igual ou pior,mas ai nem uma queixá???

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  5. Culpa nenhuma Optimus, e que durem anos e anos. O que eu digo é já chega do Amadora BD celebrar aniversários de personagens que não por cá publicados. O espaço de exposição é curto, que aproveitem para diferentes temáticas!

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  6. Fico muito contente que tenhas gostado da minha exposição!... E quanto aos monstros eles é que me cercaram!... Abraço

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  7. Derradé gostei sim senhora. Belo espaço expositivo, apelativo e bem recheado e representativo do teu universo. E aprecio bastante figuras em cartão em exposições. Cativam. Abraço

    PS ficou esclarecida a questão dos monstros :)

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