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29 setembro, 2024

Leituras: O combate de Henry Fleming, de Steve Cuzor

Posso parecer ser suspeito para falar desta obra, pois envolve Steve Cuzor, mas a verdade é que este O combate de Henry Fleming é mais um tratado em termos de argumento e desenho. O autor adapta para banda desenhada o romance The Red Badge of Courage, de Stephen Crane, cuja narrativa decorre durante a brutal Batalha de Chancellorsville no decurso da Guerra Civil Americana.

Depois da leitura do magnifico Uma estrela de algodão preto (Ala dos Livros, 2023), mudamos de cenário, mas continuamos num teatro de guerra. Nas margens do rio Rappahannock, Henry Fleming é o jovem protagonista que nos conduz até a linha da frente do seu primeiro combate. Enquanto leitores somos colocados no campo visual de um simples soldado de infantaria. E a partir daqui tudo se desenrola. As conversas e as angústias antes e durante a batalha. A loucura do compromisso de quem marcha para a morte. É esta a força da narrativa. 

Mas mais que o horror da guerra, a obra aborda a irracionalidade da mesma. O regimento de Henry é tratado como “carne para canhão”. Meros campónios, labregos ao dispor de ordens estúpidas. Mas Henry questiona-se. Vagueia entre sentimentos e arrependimentos. A vontade de fugir e a vergonha de ter fugido.  Cuzor alcança o equilíbrio entre a complexa luta interna de Henry e a brutalidade e intensidade das cenas de batalha retratadas de forma realista. A ilustração perfeita do desejo de combater e o medo de morrer. Sentimos o tormento e compreendemos as acções, porque se trata aqui de (mais) uma reflexão sobre o absurdo da guerra, e neste sentido o desfecho da história não desilude.

O autor desenha ambientes, cenários, momentos, cenas, como quem tira belas fotografias, e o resultado é sumptuoso ao longo de 150 páginas. Os tons monocromáticos que acompanham toda a narrativa gráfica conferem-lhe um forte impacto visual. Tudo junto e repito que toda a arte de Cuzor é sublime.

Ao nível da edição, o álbum todo é mais um excelente trabalho da Ala dos Livros.
Tudo muito bom nesta obra!
 
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