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31 janeiro, 2009

O Fantasma Sempre aos Domingos

Proponho um regresso aos ”clássicos”, para falar aqui do último álbum que li, uma luxuosa edição de 2006, da brasileira Opera Graphica Editora (ver nota no final deste post), que serviu para comemorar o 70º aniversário do Fantasma, a imortal personagem criada por Lee Falk, em 1936.

Com o título de “O Fantasma sempre aos Domingos", este grande álbum, no seu duplo sentido, até porque se apresenta num tamanho nada convencional, ou seja, num formato 27 x 36 cm, reúne pela primeira vez, num registo a preto-e-branco, todas as histórias – num total de sete – escritas por Lee Falk e desenhadas por Ray Moore, que foram publicadas originalmente em tiras de jornais americanos nas suas edições de Domingo, no período compreendido entre Maio de 1939 e Outubro de 1942 e que se encontram ainda inéditas em Portugal.

Logo nas primeiras páginas, no prefácio que antecede as aventuras, podemos ler uma interessante e breve história sobre o nascimento das tiras de jornais nos Estados Unidos, que na década de 30 deu origem à designada Época de Ouro das comics strips americanas, e perceber como uma situação de concorrência entre jornais americanos deu origem a uma grande paixão e também a um grande negócio que é a banda desenhada.

Depois seguem-se cerca de 90 páginas de tiras, com histórias recheadas de acção que se encontram suportadas numa boa construção narrativa, não obstante a sua simplicidade e previsibilidade. Lee Falk aproveita bem todo o ambiente da selva e incorpora bastante bem os elementos nativos de terror e sobrenatural nas aventuras do Fantasma, que se fundem na sua misteriosa personagem, consolidando desta forma a lenda de “O espírito-que-anda” ou do “Homem que nunca morre”, conforme observamos nas histórias “A Liga dos Homens Perdidos” ou “A Deusa do Fogo”. O desenho de Ray Moore, simples e clássico, com recurso sistemático a sombras, e por vezes bastante sugestivo quando se trata de personagens femininas, sempre dotadas de uma enorme sensualidade (ver exemplo na história “O Retorno dos Piratas do Céu”), contribuiu bastante para a definição da atmosfera aventureira que caracteriza as histórias do Fantasma.

Por ordem cronológica refiro aqui os títulos (ressalvo que a tradução destes é brasileira) das aventuras publicadas:

  • “A Liga dos Homens Perdidos” (publicada originalmente entre 28/05/1939 e 15/10/1939)
  • “O Segredo do Coronel Winn” (entre 22/10/1939 e 10/03/1940)
  • “A Deusa do Fogo” (entre 17/03/1940 e 21/07/1940)
  • “O Vagabundo da Praia” (entre 28/07/1940 e 29/12/1940)
  • “Os Sabotadores” (entre 05/01/1941 e 23/02/1941)
  • “O Retorno dos Piratas do Céu” (entre 02/03/1941 e 22/02/1942)
  • e “O Impostor” (entre 01/03/1942 e 11/10/1942)

O único apontamento negativo que deixo sobre esta magnifica edição refere-se à capa do álbum, que exibe uma ilustração menos conseguida do Fantasma acompanhado pelo seu fiel Diabo (ou Capeto, em brasileiro), assinado de um tal de Daniel Ching (ver imagem acima). Claramente que este tosco desenho de capa não se encontra à altura do seu conteúdo do álbum, nem se percebe a opção dos editores por esta solução quando certamente dispunham de centenas de desenhos do Fantasma assinados pelo próprio Ray Moore. Mas trata-se apenas de um pequeno pormenor que em nada afecta a grande qualidade que esta edição se reveste, que constitui um título obrigatório na bedeteca dos admiradores desta notável personagem .

O Fantasma Sempre aos Domingos
Autor(es): Lee Falk (argumento) e Ray Moore (desenho)
Volume único, Preto e Branco, Capa Dura
Editora: Opera Graphica Editora (Brasil), 2006




Sobre a Opera Graphica Editora:
No final do ano passado, esta editora brasileira anunciou o seu fecho, após 10 anos de actividade e mais de 400 títulos publicados, ficando para a posterioridade edições de grandes personagens da BD, para além do Fantasma, como o Príncipe Valente, Batman, Recruta Zero, entre muitos outros.


5 comentários:

  1. Adoro o Fantasma, adoraria ter uma boa colectânea do Fantasma, mas em português.... era um herói que lia ávidamente há muito tempo atrás e que de repente desapareceu! Enfim, quando desapareceu o Mundo de Aventuras desapareceu muita coisa...
    Quando me voltei a interessar por BD outra vez reparei que havia um BD Jornal, mas foi uma desilusão porque descobri não é uma revista de BD, mas sim um jornal de noticias sobre o tema, e que ainda por cima eram noticias que nem por isso me inressavam muito! Talvez por isso a sua falta de vendas... muita gente gostaria de uma revista que apresentasse periodicamente estórias recentes e clássicos da BD!

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  2. Muito bom post, fez-me lembrar quando era mais pequeno e andava nas caixas do alfarrabista à beira de minha casa à procura de revistas do Fantasma (que o meu pai disse que era muito bom).
    Os revistas A5 do fantasma (não sei de que editora mas calculo que seja da Abril) foram das primeiras BD's que eu li.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Sim senhor...grande post! The Phantom, Leon "Lee" Falk Davis (dos quais são seus os desenhos das primeiras semanas das aventuras), Phil Davis (que é co-autor) e depois outros grandes nomes, como Dave Gibbons, Joe Orlando e principalmente Ray Moore(pupilo do Phil Davis) na página que exibes à direita; que por sinal é originalmente colorida - a primeira Sunday Page, em 1939),etc.

    Adoro este personagem. Desde os tempos de "O Mundo de Aventuras" passando pela RGE e pelas APN.

    Kit Walker...sim senhor gostei imenso de ler este teu post.

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  5. @bongop
    sem dúvida que faz falta actualmente um projecto bedefilo semelhante ao "Mundo de Aventuras", que publicasse todo um género de aventuras, desde dos clássicos americanos à bd portuguesa, desde franco-belga ao mangá japonês. Eu gostava muito!...

    @radjack
    O Fantasma ficará sempre como uma das minhas personagens preferidas! Eu ainda sou do tempo que cortava as tiras publicadas no Correio da Manhã! Belos tempos!

    @refém
    a página à direita saiu publicada na história "A Liga dos Homens Perdidos" e de facto originalmente saiu colorida porque as edições dominicais dos jornais americanos naquela altura apostavam na cor. Tenho em arquivo a imagem colorida, e o Fantasma surge encarnado. Só não se é a versão original!

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