Barra Acesso Rápido

11 outubro, 2023

Leituras: Uma estrela de algodão negro

Não tenho conseguido ler muita banda desenhada nos últimos tempos, mas que tenho lido, felizmente, têm-me enchido as medidas. E hoje trago uma dessas leituras. Trata-se de álbum que confronta o leitor com uma dura realidade histórica, a questão da segregação racial que sempre dividiu a sociedade americana, e que aqui é representada sob um pano de fundo histórico bem conseguido.
 
UMA ESTRELA DE ALGODÃO PRETO, uma recente edição da editora  ALA DOS LIVROS, é um álbum poderoso. Quando qualquer história mexe com o leitor, então o objectivo do livro realiza-se. Foi este o caso.
 
O nosso já conhecido Yves Sente (ainda no ano passado tivemos deste autor o magnifico A Vingança do Conde Skarbek) tem aqui mais uma narrativa bem construida, combinando elementos reais com ficcionais, e com um tratamento bastante interessante de questões históricas, sociais e culturais. Apresenta ao leitor uma história de guerra, onde sentimentos de injustiça, orgulho e coragem são impulsionados por personagens cativantes.
 
Transporta-nos para o cenário europeu da Segunda Guerra Mundial, onde acompanhamos a difícil missão de três soldados afro-americanos na recuperação da primeira bandeira da União, cujo simbolismo associado se revelava de elevada importância na História do Estados Unidos. Estabelece-se aqui um paralelismo com os chamados Monument Men, uma secção das forças aliadas que teve um papel vital na recuperação e preservação de obras de arte e tesouros culturais durante a Segunda Guerra Mundial, crucial para preservar a herança cultural e histórica da Europa. Sente não se esquiva em dar o papel principal a estas três personagens, em especial o soldado Lincoln por quem sentimos uma natural empatia, para abordar uma dura realidade: a segregação racial vigorava em 1944 no exército dos EUA. 
 
E depois temos a arte de Steve Cuzor. Para quem o conhece já sabe ao que vai; para quem como eu não conhecia (teve uma pequena participação a meias no álbum Go West Young Man, que não deu para avaliar bem) acreditem que é uma bela surpresa. Dono de um traço limpo, elegante extremamente  realista, trabalha muito bem todos os diferentes cenários (brutal o desembarque na Normandia) e intervenientes da narrativa, é aqui muito muito bem secundado pela colorista Meephe Versaevel que com as suas cores monocromáticas particularmente cuidadas e contratantes definem ambientes, proporcionando um deleite visual ao longo de todo o álbum.

Em resumo, uma história densa e emotiva, que tem tanto de enriquecedora como de envolvente. E há toda uma atmosfera visual que dá um verdadeiro sabor à narrativa. O desfecho trágico é inesperado e acabo a leitura com um murro no estômago. Sem dúvidas, temos aqui um dos álbuns do ano!
 
A edição da Ala dos Livros é primorosa como aliás é apanágio desta editora. Álbum duplo que reúne os dois volumes que compõem a história, que é servida no formato de capa dura e nas generosas dimensões de 31x23 que dificilmente não deixam de agradar ao leitor de bd franco-belga.
 
Avaliação:
 

Sem comentários:

Enviar um comentário