De regresso depois de um fim-de-semana preenchido no AMADORA BD. A minha primeira impressão é que edição deste ano não desilude, ainda que também não deslumbre. Registou uma boa afluência de publico, cumpriu com um bom cartaz de autores estrangeiros – não tenho memória da presença de alguma vez de alguém do outro lado do mundo, e a coreana Keum Suk Gendry-Kim foi uma das estrelas; percebeu-se que temos pronta uma nova geração de bons artistas nacionais; houve muitos lançamentos, que se por um lado é sinal de uma enorme vitalidade do nosso mercado, tem o reverso de não haver carteira que acompanhe, ainda que tenha visto as editoras (finalmente) a praticarem descontos de 20% sobre preço nas novidades. Relevo isto, porque não me recordo de tal acontecer nas últimas edições.
Em termos de exposições patentes no núcleo central, não será um daqueles anos que ficará na memória, mas ainda assim destaco três muito bem conseguidas, nomeadamente as dedicadas ao Mundo do Elviro, ao 60º aniversário da Mafalda, e as magnificas aguarelas de Christian Lax (A Universidade das Cabras), que valem a visita. Gostei igualmente das pranchas da adaptação de Os Lusíadas. Outras pecaram pela negativa: a dedicada aos cartoons n’A Bola mostrou-se desenquadrada do âmbito do festival; e a mostra de impressões do Naruto, sem qualquer enquadramento, é um completo desperdício de espaço de exposição!
Agora uma nota muito positiva para o novo modelo das sessões de apresentações/lançamentos, que seguem o que já é praticado no festival de Beja, isto é, as conversas sucedem-se em modo continuo, desde a abertura do festival até ao final da tarde. Ainda que só tenha conseguido assistir a algumas, gera-se uma boa dinâmica dentro do festival ver que está sempre qualquer coisa a acontecer naquele palco.
Nas sempre concorridas sessões de autógrafos, o sistema de senhas veio para ficar. E bem. Desde que não se invente muito, funciona. E funcionou. O primeiro a chegar foi o primeiro a servir-se. Falta limar algumas arestas, como a distribuição das senhas logo desde a abertura do festival… é mesmo necessário esperar até às 10:30? E a colocação um painel com a chamada junto ao palco das apresentações, que se encontra precisamente colocado no lado oposto do espaço de autógrafos. Quanto aos desenhos autografados, entre nacionais e estrangeiros, para quem esteve presente foi uma boa colheita. Os livros ficam com outro encanto. Grato pela enorme disponibilidade e simpatia por parte dos autores. Cinco estrelas.
E ficaram conhecidos os vencedores do Prémios de BD da Amadora (PBDA). O resultado é uma distribuição por quase todas as aldeias (leia-se editoras). São sempre escolhas muito subjectivas, e pessoalmente, em algumas categorias, teria optado diferente.
Para a história fica:
- MELHOR FANZINE OU PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE - A Armação, de Daniel Silvestre, editado por Bedeteca de Beja (Município de Beja)
- PRÉMIO REVELAÇÃO - Amor, de Filipa Beleza, editado pela Iguana
- MELHOR OBRA ESTRANGEIRA DE BD EDITADA EM PORTUGAL - Tananarive, de Sylvain Vallee e Mark Eacersall, editado pela Asa
- MELHOR OBRA DE BANDA DESENHADA DE AUTOR PORTUGUÊS - O Grande Gatsby, de Jorge Coelho e Ted Adams, editado pela Comic Heart
- MELHOR EDIÇÃO PORTUGUESA DE BD - A Passagem Impossível, de José Ruy, editado pela Ala dos Livros
- TROFÉU DE HONRA – atribuído ao autor Luís Louro
Permito-me aqui a duas notas de opinião sobre a premiação deste ano. Começo pelo Daniel Silvestre, autor vencedor do melhor fanzine. Aplaudo. Conheci o trabalho do Daniel na edição deste ano do festival de Beja, e justamente com a sua história A Armação, agora premiada. Chamou-me logo a atenção o seu desenho meticuloso de traço fino e elegante. Na altura escrevi para fixarem o nome. Está aqui. É um dos nomes da nova geração. O Daniel é um dos autores que assina a adaptação da obra Os Lusíadas, na colecção Clássico das Literatura Portuguesa da Levoir que está em exposição no Amadora BD. Deliciem-se com as pranchas!
A segunda nota vai para o Luís Louro. Estava nomeado na categoria de Melhor Obra de Autor Português. Acabou por ganhar o Troféu de Honra. É um bonito e devido reconhecimento para quem tem quase 40 anos como autor de BD e largas dezenas de álbuns publicados. É obra, que merece ser reconhecida e aplaudida. Um prémio carreira para alguém que curiosamente está a atravessar uma das suas melhores fases artísticas, como o seu último Corvo VII veio a demonstrar, e de quem esperamos que ainda só tenha feito metade do seu caminho. Perdoem-me a franqueza, mas gostaria mais que tivesse saído vencedor do prémio de Melhor Autor. Não porque sim, não pelo Corvo festejar 30 anos de aventuras, mas por mérito próprio de um autor completo cujo seu O Despertar dos Esquecidos é inegavelmente reconhecido como um dos seus melhores álbuns. Tal proporcionaria que fosse o Luís Louro o autor em destaque na próxima edição do Amadora BD, ano em que celebra oficialmente os seus 40 anos de carreira. E talvez aí o Troféu de Honra fosse a cereja no topo do bolo. Seria muito bonita a festa! Sei que soa a um romantismo em desuso nos dias de hoje, mas lamento a oportunidade perdida! Mas há que acreditar que o melhor ainda está para vir, e quem já viu algumas pranchas do seu próximo álbum, actualmente em curso, diz que sim.
Ficam alguns registos fotográficos e no próximo fim de semana vemo-nos por lá!
Viva Nuno. Estive igualmente presente no último Sábado sem grandes expectativas - o espaço contínua assustadoramente pobre e sem condições e sem dignificar a 9ª Arte - com o intuito de conseguir autógrafo da Aimée de Jongh, situação na qual não tive sorte. E digo sorte porque, embora compreendendo que terá de haver um número limite de senhas para cada autor, especialmente os mais concorridos, discordo em forma do processo de atribuição das mesmas. Faria mais sentido divulgar com antecedência no Nº disponível de senhas e disponibilizar, através de de um pré-registo online, a entrada das inscrições. Isto evitaria o duplo ou a tripla de atribuição de senhas e a deslocação desnecessária ao local para esse efeito (como foi o meu caso). Soube de pessoas que se deslocaram ás 9h30 só para esse efeito - ou porque moram nas proximidades ou porque tiveram conhecimento antecipado da hora de atribuição de senhas o que, obviamente, distorce e desvirtua o processo.
ResponderEliminarOlá António. O espaço deverá ser a casa do festival nos próximos anos. Quanto a isso pouco ou nada a fazer. Desconheço se o espaço tem outra ocupação/utilidade nos restantes 350 dias do ano, mas a confirmar-se como a “casa” seria muito interessante que a CMA fizesse algumas obras de melhoramento de forma a assumir um compromisso definitivo. A presidência da camara mudou agora, vamos ver como sopram os ventos pela cultura para os lados da Amadora. Quanto às senhas, o início da sua distribuição está afixado no site do festival (10:30). Não concordo que desvirtue o processo. Até defendo que deviam ser distribuídas logo com a abertura de portas do festival, porque o que acontece é que o pessoal chega cedo e depois fica meia-hora à espera de uma senha. Isto para mim não tem lógica e foi o que me sucedeu precisamente no Sábado. Cheguei às 10h e tive de ficar numa fila perdendo a conversa com a Aimée de Jongh que decorria precisamente aquela hora. Desde que não inventem, a vantagem das senha são imensas.
ResponderEliminarConcordamos em discordar. Sou da opinião que senhas virtuais fariam mais sentido e seriam mais práticas para todos os interessados - quase uma marcação se consulta, mas de BD - ou então um sorteio virtual (estive no Salão de Barcelona há uns anos e o sistema era este - pelo menos para o Daniel Clowes… ) O que não podemos ter é um sistema de recolha de senhas em papel pouco prático, demorado e, muitas vezes assistido, por pessoas que não estão dentro do assunto. Isto apenas favorece os “caçadores de autógrafos e desenhos” que por lá abundam, acredite-me…
ResponderEliminarCaro anónimo, não tenho qualquer problema com a discordância. Aceito bem que existam visões diferentes. A verdade é que não há um modelo perfeito e todos terão os seus pós e contras. Por experiência própria, considero que o actual sistema de senhas, com todos os seus defeitos, funciona. A máquina imprime as senhas dos autores solicitados. Simples e eficaz. O primeiro a chegar, sejam eles caçadores de autógrafos ou simples visitantes, é o primeiro a servir-se (é assim no festival, no supermercado, na loja do cidadão, etc..). Agora é inegável que a senha liberta o visitante de estar preso horas numa fila a aguardar a sua chamada para um único autor, como acontecia no passado. Agora é preciso perceber que o festival articula as senhas com a sua programação. Interessa chamar o público. A oferta de apresentações e conversas inicia-se logo com a abertura de portas, e para quem está desde logo presente tem a prioridade nas senhas. O que acho bem feito.
ResponderEliminar