14 junho, 2024

Beja tem sempre outro encanto!

Detalhe do desenho de Miguelanxo Prado
À beira de celebrar 20 anos de existência, já não devem sobrar muitas mais formas para descrever ou elogiar o Festival de BD de Beja. A grandeza deste evento vale muito mais que o somatório das partes. Mais que o cardápio habitual que nos é servido em festivais de banda desenhada, a trilogia de autores, exposições e programação, temos em Beja, uma atmosfera informal que proporciona outro tipo de vivências. Autores, editores, leitores, curiosos, amigos e conhecidos cruzam-se em encontros e deliciosas conversas, muitas delas à mesa de restaurantes! A 19ª edição teve o condão de servir tudo isto num único fim-de-semana. Senti que tive tempo para tudo e que só faltou tempo para mais. É um caso sério este festival!
 
Conversa com Luís Louro e os 30 anos do Corvo nas arcadas da Casa da Cultura
 
A abrir tivemos Jacques Tardi e a sua esposa Dominique Grange. Ela foi uma das vozes das canções de protesto do Maio de ’68. Independentemente do lado da barricada em que me posiciono, muito interessante perceber as causas e o activismo do casal, e a forma como tal se manifesta e influencia o trabalho do autor. Um bom exemplo disso é o recente álbum Elise e os Novos Partisans (edição Ala dos Livros). Seguiu-se Miguelanxo Prado. Com novo livro, Abutres, (edição Ala dos Livros) marcou finalmente presença em Beja. Faltava-lhe este festival no currículo. Óptimo conversador e magnifico autor não espanta as suas concorridas sessões. Depois vieram as surpresas. O casal italiano, Luca Conca e Gloria Ciapponi, autores responsáveis por Urlo - Um grito no escuro (edição Escorpião Azul), um lançamento que na altura não me chamou particular atenção, mas que depois ter visto a exposição dos magníficos originais, entrou no meu radar. O livro está ali para leitura. A belga Alix Garin, autora de Não me esqueças (edição ASA) brilhou pela simpatia e disponibilidade. Se este seu primeiro álbum já chamou a atenção, então o que dizer do segundo, Impenetrável, onde a autora aborda um problema pessoal num forte registo auto-biográfico, e que o editor português já manifestou vontade de publicar. Cá esperamos! E já agora, fica a indicação que o editor confirmou o lançamento, este ano, da adaptação de O Senhor das Moscas assinada pela holandesa Aimée De Jongh. Também esperamos com bastante espectativa.
 
 
Agora uma palavra para a presença do francês Antoine Cossé. Autor inédito em Portugal, e talvez por causa disso tenha passado meio despercebido no meio das sessões. Há sempre este risco, mas também não deve ter dado o tempo como perdido, porque o vi a conviver nas arcadas. Em Beja nada se perde! 
 
Ao nível das exposições, estas têm sempre o condão de nos abrir novas perspetivas sobre a arte dos autores, e o festival tem sempre esta particularidade de apadrinhar novos talentos. Este ano despertou-me a atenção o traço da Daniela Viçoso, em A Casa dos Lilases e vencedora do prémio "Geraldes Lino", e magnifico desenho de Daniel Silvestre, em A Armação e vencedor da primeira residência artística de BD Portugal-Bélgica. São dois novos autores portugueses cujas exposições foram uma agradável surpresa descobrir. Fixem os nomes! E do Daniel ainda vamos ouvir falar dele muito brevemente, porque é o desenhador da adaptação para banda desenhada de Os Lusíadas, integrada na colecção Clássicos da Literatura Portuguesa da editora Levoir. 
 
 
(cima para baixo, da esquerda para a direita, originais de Miguelanxo Prado, Javier Rodrigues, André Diniz, Luca Conca, autógrafo de Alix e Daniel Silvestre)
 
Fica este como um resumo sintético de um óptimo fim-de-semana, onde como alguém me disse, parece que lemos mais menus de restaurante do que livros de banda desenhada, mas a verdade é que a descoberta do restaurante Pinguinhas (passe a publicidade) com sua magnifica carta de petiscos foi uma adição de valor. E consta que parte da tribo bedefila vibrou com uma festa num misterioso palácio amarelo. São dicas que ficam para a edição do próximo ano. 
 
Publicações do Festival
Para finalizar, um grande obrigado ao Paulo e à sua incansável equipa que levanta todos os este festival. Como já escrevi noutro espaço, podia até nem ser o melhor festival de BD em Portugal, mas Beja é um lugar no coração. 
 
O 19º Festival de BD de Beja prossegue até ao próximo dia 23 deste mês, com as exposições na Casa da Cultura e várias atividades. Amanhã Sábado 15, o dia será inteiramente dedicado ao Brasil. 
 

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