Tempo de Balanços! Como correu o ano bedéfilo de 2023 em Portugal?
O MERCADO
Quando em inícios de Setembro do ano passado fiz aqui uma análise intermédia para saber como estava a correr o ano editorial bedéfilo em Portugal, os números já se revelavam bastante animadores. De tal forma que arrisquei uma estimativa que 2023 fechava com um total de novos lançamentos a rondar entre as 320 a 325 edições. Este número já representava um crescimento de 5% relativamente a 2022, ano que por si só já se tinha revelado bastante surpreendente. A verdade é que errei por defeito.
Para falar do nosso mercado, e na falta de dados concretos sobre tiragens e vendas, temos de caracteriza-lo através da informação que se encontra disponível, e para o efeito defini o numero de lançamentos de obras com ISBN atribuído. Se o pudermos caracterizar pelo número de novas edições, então o resultado de 2023, que se traduziu na edição de três centenas e meia de novidades, o que revela que a edição em Portugal de banda desenhada se encontra numa das suas melhores fases, em crescimento, representando este número uma subida de 13% relativamente a 2022 (a listagem completa dos títulos pode ser consultada no ANUÁRIO de 2023).
Torna-se legitimo afirmar que nunca se editou tanto por cá, e o que foi alcançado no último ano não encontra paralelo nos últimos dez (e porque não tenho números anteriores a 2013). Não restam portanto muitas dúvidas que o sector editorial de banda desenhada em Portugal encontra-se, ano após ano, mais pujante e dinâmico. E a pergunta que fica para 2024, é qual o nosso limite?
Por origem, o peso da banda desenhada estrangeira continua dominante no mercado português. Mantêm-se a influência do mercado francófono, acompanhado pelo americano e agora com a forte concorrência asiática (principalmente mangá) que já representa 22% dos lançamentos. A BD portuguesa tem tido alguma dificuldade em afirmar-se de forma sustentada, tendo apresentado em 2023 um decréscimo na oferta, representando agora apenas 11% das novidades.
Por períodos de oferta, os meses de Junho e Outubro continuam como os mais fortes do ano, o que não será indiferente o facto de coincidir com as datas de realização dos festivais de banda desenhada de Beja e da Amadora. Aliás, os festivais de BD continuam a ser por excelência uma verdadeira montra para as editoras, que começa a ser uma tendência surgirem associadas ou na qualidade de co-organizadoras dos eventos em conjunto com câmaras municipais, como acontece já nos novos festivais que começam a proliferar pelo pais, como é o caso do Maia BD, Coimbra BD e Louri BD (Lourinhã).
AS EDITORAS
Em 2023 tivemos cerca de 50 editoras activas (considero aqui todas com pelo menos um livro editado). Continua-se a observar a entrada de novos editores, o que revela que a banda desenhada está a ser vista com um nicho de mercado muito interessante. Cerca de 53% da oferta concentrou-se em cinco editoras sendo o restante distribuído por um grande número de pequenas e médias editoras e editoras com um catalogo reduzido de BD. No entanto, alguns grupos editoriais começam a aproveitar as sinergias entre as suas chancelas para capitalizarem a edição. O melhor exemplo é sem dúvida dado pelo Grupo Penguin House. Teve um total de 26 livros editados (o que lhe valeria um 4º lugar no top), mas apenas 11 são com a chancela da Iguana, o seu principal selo na edição de BD.
Entre as mais activas, ou aquelas com a maior oferta, não houve grandes surpresas. Nas duas primeiras posições repetiu-se o pódio do ano passado com a Devir e a Atlântico Press. Editar meia centena de obras de banda desenhada por ano, por razões de vária ordem, não está ao alcance de muitas editoras em Portugal. Nos últimos anos recordo que só a extinta Goody, com a sua combinação de edições Disney e Marvel é que alcançou tais números. Mas em 2023, tanto a Devir como a Atlântico Press alcançaram (e ultrapassaram) pela primeira vez essa marca.
A DEVIR domina. Consolida a liderança que alcançou no ano passado com um crescimento de 20%, sendo responsável por 53 novidades (é como se lançasse um novo mangá todas as semanas) a que corresponde a uma quota de mercado de 15,2%. A gestão do seu já extenso catálogo com 3 a 4 lançamento de novos volumes de cada colecção e a aposta em títulos populares garantem-lhe a posição. A própria editora fez questão de revelar quais foram os seus títulos mais vendidos (por ordem de popularidade): One Piece, Demon Slayer, Jujutsu Kaisen, Chainsaw Man e Naruto. E para 2024, a oferta da DEVIR não dá sinais de abrandar: a editora acaba de anunciar já para Janeiro o lançamento de nada mensos do que... sete(!) novidades.
Na segunda posição encontramos a ATLÂNTICO PRESS, responsável por 51 lançamentos e uma quota de mercado de 14,7%. A editora da colecção Clássica Marvel, que garantiu semanalmente (durante mais de dois anos) o regresso às bancas nacionais das aventuras em português de super-heróis, beneficiou da extensão de mais 30 volumes. Mas terá sido o ano de despedida, uma vez que a colecção terminou agora no início de 2024.
A fechar o pódio encontramos a ASA. Teve o seu melhor ano de sempre com 41 lançamentos. Face a 2022 é um crescimento de 60% que lhe garante uma quota de mercado de 11,5%. Contribuiu para este resultado as duas colecções em parceria com o jornal Público, com um total de onze álbuns (contra as duas de 2022 com sete álbuns) e sua aposta na edição de mangás/manfras. A editora sofreu uma reestruturação no seu departamento de BD, e espera-se que seja no seu bom catálogo de títulos franco-belgas que possam surgir novidades capazes de dar seguimento aos resultados conseguidos.
Relativamente às restantes editoras, pela positiva de realçar o forte crescimento da LEVOIR, que fez regressar a sua colecção de Novelas Gráficas com o jornal Público e com isso teve um crescimento de 83% face a 2022, e pela negativa a GRADIVA, com a sua oferta editorial de BD a ter uma queda de 44%. Possíveis causas aqui, a saída em 2022 do autor José Rodrigues dos Santos que foi classificada com um “rombo financeiro” e que obrigaria a editora a “repensar os seus recursos”, e as mudanças verificadas em 2023, com a passagem de testemunho do editor e fundador da editora Guilherme Valente. Veremos o que sairá da “nova” Gradiva em 2024.
Deixo aqui o top 10 de 2023:
NAS REDES SOCIAIS
Está tudo ligado. Ao bom momento que o mercado da BD atravessa não se poderá desassociar uma melhor informação disponível e consequentemente um aumento da procura dessa informação. Logo por aqui também se sentiram esses bons ventos. Se em 2022, o blogue registou com uma média de 15.000 visitantes por mês, número este que me surpreendeu, então o que dizer de 2023, onde recebeu um total de mais de 220.000 visitas? Um crescimento de 16% relativamente ao ano anterior, e o melhor em 12 anos de existência. Grato por saber que não estou aqui sozinho e que estão bastantes desse lado.
Mas o “topo da cereja” foi nos últimos dias de 2023 foi o grupo BANDA DESENHADA PORTUGAL (do qual sou o administrador) a ultrapassar de forma espontânea (não faço qualquer promoção ou angariação para o mesmo) a marca dos 6.000 membros (neste momento caminha para os 6.200). Confirma o seu estatuto de verdadeiro ponto de encontro e de informação exclusivamente dedicado aos amantes da 9ª arte. Registou durante o ano mais de 9.200 publicações, quase 9.500 comentários e praticamente 63.000 reacções. Fico satisfeito por ver que é uma referência na partilha de informação sobre BD em português.
Em suma, a avaliar por 2023, podemos afirmar que o Estado da Arte em Portugal está bem, provavelmente nunca esteve melhor, e portanto recomenda-se. Muitos lançamentos, muito mangá, muitas obras de grande qualidade, e sobretudo muito interesse.
Nos próximos dias divulgarei aqui quais foram as minhas Melhores Leituras de 2023.
E expectativas para 2024?
Logo à partida em termos de n.º de lançamentos penso que a fasquia dos 350 lançamentos não é possível de se repetir, não obstante a DEVIR não dar mostras de abrandar o seu ritmo e ter alguma expectativa com o que a ASA vai fazer com o seu catalogo e nas colecções com o Público. Mas com o fim da Clássica Marvel, serão à partida menos 50 edições nas bancas. De difícil compensação. Se tivermos menos quantidade mas mantivermos o mesmo nível de qualidade por mim está óptimo.
Das muitas coisas que para aí vêm, uma das colecções que aguardo com mais expectativa é SHI com a chancela da ALA DOS LIVROS. Desde 2022 quando o um dos autores, Joseph Homs esteve presente na Comic Con e confirmou a sua edição em Portugal. O argumentista é um tal de Zidrou.
Pessoalmente, aqui estarei a dar nota de novos lançamentos, análises, divulgações, esperando continuar a cativar o vosso interesse.
Os votos de boas leituras para todos!
Mais 1 ano sem DC, Disney e o 1 ano que a sra não editou nenhum volume de Monstress apesar anunciado na BAng para Março de 2023 ..A CCM devia ser substituído por algo parecido com as datas.
ResponderEliminarSagas da Panini
ResponderEliminar