17 dezembro, 2022

CCPT'2022: Uma edição à medida das espectativas!

Terminou no passado fim-de-semana mais uma edição da Comic Con Portugal (CCPT). É tempo de fazer aqui um pequeno balanço, até porque já se sabe que é um evento que tem esta característica de suscitar sempre um mar de criticas. A verdade é que umas justificam-se, outras nem por isso, e algumas então não fazem mesmo qualquer sentido. Mas vamos à edição deste ano!
 
Infelizmente não tive tanta disponibilidade como aquela que gostaria de tido, mas dou o tempo em que estive presente como muito bem aproveitado. O espaço no Parque das Nações já se conhece, repete o ano passado. A melhor casa entre todas as que já conheceu. Ganha pela centralidade, pelas condições e pela área fluida que permite organizar espaços interiores e exteriores. Mas a verdade é que com a calendarização da CCPT para Dezembro, não vejo grandes vantagens no espaço dito outdoor, até porque a sua utilização (ou não) está sempre dependente dos humores de S. Pedro. Além demais, como tudo o que acontece lá fora se realiza dentro de tendas, como foi o caso este ano do Mercado Geek, isto traduz-se na prática numa quase experiência indoor. Neste contexto, os pavilhões do Centro de Exposições da FIL, mesmo ali ao lado, parecem-me ser uma opção muito mais interessante que o Pavilhão Atlântico e área circundante. Mas siga, que isso é matéria para a organização, porque para a mim era a programação da BD que despertava as melhores espectativas.
 
 
Dizer-se que a CCPT tem muito pouco ou quase nada de BD só mesmo por pura ignorância sobre a cultura do evento. A programação da banda desenhada na Comic Con não oferece menos que as restantes áreas (seja cinema, televisão ou literatura) que compõem o festival. Falo da presença de excelentes artistas, que proporcionam boas conversas, magníficos desenhos e belas fotografias. E posso afirmar que o cartaz de autores deste ano, bem representativo dos principais mercados de produção de banda desenhada, mais uma vez, não ficou nada atrás do que encontramos nos festivais nacionais de BD da Amadora ou de Beja.
 
A arrumação dentro do Pavilhão Atlântico sofreu nesta edição algumas alterações, e a zona de autógrafos gozava, finalmente, de um espaço próprio, longe da azafama dos restantes universos. Sem senhas, nas filas funcionava o sistema de primeiro a chegar, primeiro a servir-se. Simples e eficaz. E na verdade a área só pecava pela fraca afluência de um público habitualmente leitor de bd, mas já se sabe em eventos destes, só perde quem fica em casa!

Mike Deodato foi o artista. É uma referência. Um extraordinário desenhador, infelizmente com alguns problemas de visão, mas que não o impediram de assinar desde a revistas a pop's do Homem-Aranha (tudo menos cheques, conforme avisou) e chegou mesmo a aceder a alguns pedidos para uns desenhos. Mas, para mim, foi a presença do espanhol Joseph Homs, a bela surpresa desta edição. É o desenhador de SHI, uma série que conta com a assinatura de Zidrou no argumento, e que nos traz uma história de crime e vingança numa Inglaterra imperial durante a Feira Mundial de 1851. Bastante conversador, o autor revelou que há várias editoras nacionais interessadas em publicar, uma decisão quase tomada, e a excelente noticia é que em 2023, muito provavelmente, haverá SHI em português.
 
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Paco Roca e Miguelanxo Prado dispensam apresentações, e qual destes o melhor representante da escola espanhola? No entanto, não posso deixar de dar uma nota negativa à LEVOIR. Aproveitou, e bem, a presença do Paco Roca para o lançamento da sua mais recente obra, Regresso ao Éden, mas, no entanto, nem se dignou a marcar presença nem a garantir que alguns exemplares estivessem disponíveis para venda durante o evento. O próprio autor foi surpreendido com a edição portuguesa quando esta lhe foi apresentada por um leitor. Enfim, longe vão os tempos onde esta editora fazia gala dos seus lançamentos!  

 
Os restantes nomes presentes foram agradáveis descobertas. A CCPT também é isto. Não fui para ver exposições e muito menos comprar livros em promoção. São os autores que me movem. E definitivamente, nesta edição fui, mais uma vez, bem servido! Gostei bastante do Gene Ha. Enorme talento e disponibilidade. Desenhou-me um Joker e uma Mulher-Maravilha, que faz jus ao nome! Com os simpáticos autores de Ideafix e os Irredutiveis, Jean Bastide e Philippe Fenech, falamos sobre a fraca edição portuguesa (por sinal igual à francesa) num formato infeliz (na minha opinião). Senti ali um alinhamento de ideias, mas os próximos volumes que estão previstos sairão no mesmo formato. 
 
 
Visitando outros espaços relacionados com a BD, passei pelo chamado Artist's Alley. Lá encontrei o Luís Louro, que para quem acompanhou as suas publicações nas redes sociais viu que ocupou muito bem o seu tempo com belíssimos desenhos nas edições do seu Dante. Mas tenho que deixar aqui uma nota sobre este espaço. Não há forma da CCPT acertar com um lugar digno para os "artistas emergentes" (terminologia da organização). Este ano havia uma quinzena de bancas(?) dispersas ao longo da curva no piso superior de acesso ao interior do pavilhão Atlântico. Tão espaçadas entre elas que até desvirtua o propósito de um "beco" concentrado de artistas e de artes. Depois aquele sitio estava tão longe dos pontos de interesse e tão fora do circuito de circulação do visitantes dentro da CCPT, que estes artistas pareciam abandonados à sua sorte. Sempre que lá passei vi o local despido de público, pelo que acredito que muita gente nem deve ter dado com o sitio. Até a tenda da FNAC cá fora, de tão pobre que era, dava mais nas vistas que o Artist's Alley deste ano.
 
Em resumo, bloco de desenhos autografados bem preenchido, comics e livros assinados, óptimas conversas e fotos com os autores, e está feita mais uma edição da CCPT. Se correu bem? Enquanto visitante, foi excelente!
 
Que mais BD é que se pode pedir num evento de cultura pop? Pessoalmente, e para a próxima edição, peço o Enrico Marini, o Luc Jacamon e o Mikaël!
  
Ficam mais algumas fotos!
 

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