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21 dezembro, 2022

Uma Selecção para o Natal!

Na semana do Natal, o exercício é deixar aqui 12 sugestões de livros de Banda Desenhada para oferecer! A escolha é entre as mais de 280 obras que foram lançadas este ano em Portugal. Como em qualquer escolha sou movido por um gosto pessoal, mas a ideia é mesmo escolher the crème de la crème, tendo em atenção o destinatário da oferta, a qualidade da obra, na história, no desenho, na edição.
 
Existe na linguagem económica, uma feliz expressão se traduz num importante indicador, que sintetiza toda uma ideia: Value for Money (VfM). Ora, estabelecendo aqui uma relação custo-benefício na compra de um livro, sendo o custo o preço que pagamos pela obra, e o benefício a qualidade da obra e prazer que se retira da sua leitura, são estas minhas escolhas VfM para este Natal (a ordem de apresentação é arbitrária):
 
  • Flora e Bambu (Lilliput)

Já aqui tenho falado do bom trabalho que o grupo do Pinguim tem feito na edição de banda desenhada destinada aos mais novos (+6 anos), e como estes também merecem as suas novelas gráficas, parece-me importante incluir nas sugestões a colecção Flora e Bambu. As histórias de amizade, aventura e descobertas destas duas personagens pareceram-me as mais bem conseguidas, pelo seu registo bastante engraçado, de desenho cativante e linguagem simples. O ideal para as primeiras leituras e uma bonita porta de entrada para o mundo da BD.

  • One Piece, vol. 1 - A Alvorada da Aventura (Devir)

O mangá tomou de assalto as prateleiras de banda desenhada das livrarias nacionais, e quem melhor para liderar esse assalto senão aquele que aspira ser o Rei dos Piratas. A fama do mangá mais vendido em todo o mundo diz praticamente tudo sobre esta colecção. Este é o primeiro livro em português e apresenta-se num inédito volume triplo. Pela sua popularidade é, sem dúvida, a edição do ano da editora, e uma boa opção de compra.

  • Spirou - Diário de um Ingénuo (ASA)
E que tal um Spirou servido em moldes completamente diferentes? O autor Emile Brávo surpreende-nos aqui totalmente com um equilibro bem conseguido entre o respeito pelo espírito original da personagem e sua atualização para os nossos tempos, num cenário pré-Segunda Grande Guerra, e com um registo gráfico que presta uma bela homenagem ao clássico franco-belga. Obrigatório. Um dos álbuns do ano.
 
 


  • A Adopção (Ala dos Livros)

O argumentista Zidrou abre-nos de novo as páginas para mais uma dose de compaixão. No bonito registo gráfico de Arno Monin, não ficamos indiferentes ao crescimento de um amor que vai sendo construído pela companhia e cumplicidade à medida que se desenrola a história de uma adopção, mas que não resiste à crueldade de uma realidade. Preparem-se para uma explosão de sentimentos numa edição integral e cuidada. Magnifico. 

  • Undertaker - vol. 3: O Monstro de Sutter Camp (Ala dos Livros)

Se a saga de um cangalheiro itinerante pelas terras de oeste pós-guerra civil americana já é de leitura recomendada, as histórias de vingança trazida nesta primeira parte do díptico elevam a fasquia da série. Uma nova personagem que emerge do passado dá um outra dimensão à palavra vilão. Os desenvolvimentos são rápidos e a leitura é ávida, e ao leitor vai sendo servida pausadamente, e em doses generosas aspectos da terrível e hipnotizante personalidade desta personagem que dá o título a este terceiro álbum. Trata-se do melhor western que foi por cá publicado este ano. E quem lê este primeiro álbum vai rapidamente querer ler o segundo.

  • A Vingança do Conde Skarbek (Arte de Autor)
Uma clássica história de crime e castigo com a acção a decorrer nos meios artísticos parisienses, em meados do século XIX, ilustrada num registo gráfico sumptuoso quase impressionista pelo fabuloso Grzegorz Rosinski. Só por esta combinação já vale a compra. O argumento assinado por Yves Sente é cativante e manipulador. Brinca com leitor com as sucessivas reviravoltas na história, onde ninguém é quem parecer ser. Já vos falei do desenho? O álbum apresenta-se numa belíssima edição integral. Outra das minhas escolhas para os álbuns do ano! 
 
  
  • Monstros (G.Floy)

Literalmente e em todos os sentidos é um livro monstruoso estas mais de 350 páginas de Barry Windsor-Smith, onde o preto e branco do seu traço intenso confere uma atmosfera ainda mais dramática a toda a história já por si complexa e angustiante. O plural do título não é inocente, porque nos traz a loucura da guerra dos Homens e as suas vítimas, e os culpados nos seus diferentes contextos e relações. A carga emocional é violenta, onde ninguém sai ileso, incluído o próprio leitor. Uma bela edição que enriquece qualquer bedeteca.

  • Dante (Ala dos Livros)

Mais um ano mais um álbum, bem pode ser o mote de Luís Louro, que se confirma cada vez mais como o autor português de banda desenhada mais prolífico do panorama actual. Neste álbum, sai da sua zona de conforto de Lisboa, e aventura-se numa amalgama de temas que lhe são queridos, como os Messerschmidt’s e o seu chamado Louroverso, um universo povoado por fadas e goblins e salpicado pelas inúmeras referências. Passada durante a Segunda Grande Guerra, temos uma história de fantasia cheia de simbolismo, da luta do bem contra o mal, de leitura complexa onde o autor cria camadas de leituras deixando o leitor ir estabelecendo os seus paralelismos. Tudo isto é servido numa irrepreensível numa belíssima composição gráfica cheia de dinâmica e cor à qual o Louro já nos habituou. Mais uma bela edição feita com amor da editora.

  • Noir Burlesque (A Seita/Arte de Autor)
Nesta recomendação impõe-se uma declaração de interesses: Enrico Marini, é para mim, dos melhores desenhadores da actualidade. Autor completo, multifacetado, o seu traço elegante e realista enche qualquer página, captando na perfeição qualquer ambiente. Só pelo desenho já valia a pena a compra deste álbum. Mas Marini, faz mais, acrescenta uma história, e transporta-nos para os anos 50 numa homenagem ao cinema americano, assumindo, sem complexos, os clichés clássicos do policial noir, como a figura do gangster, da mulher fatal, o triângulo amoroso. História servida num preto e branco, onde o vermelho realça a sensualidade e a fatalidade. Obrigatório.

 

 

  • Rugas (Levoir)
Este livro não é uma novidade porque se trata de uma reedição, mas daquelas que se justifica plenamente ou não estivesse a obra esgotada. Em Rugas, do autor espanhol Paco Roca, conhecemos Emílio, bancário reformado, portador da doença de doença de Alzheimer e esquecido pelo filho num lar de idosos. Está dado o mote para uma história com uma dimensão humana como poucas histórias em banda desenhada conseguem alcançar. Ainda que o tema principal da história seja a doença de Alzheimer, Paco Roca estabelece um fio condutor que toca a doença, a velhice e a amizade, numa abordagem realista com uma linguagem simples. Rugas é assim uma obra que olha com respeito para o principio do fim, traduzindo-se num bonito e critico ensaio sobre a velhice, o qual dá gosto ler e emocionar. Não há como não gostar. Das melhores obras de Paco Roca.
 
  • Blacksad - Algures entre as sombras
E porque estamos numa de reedições, não posso deixar de sugerir mais esta que saiu este ano. Para quem ainda não conhece Blacksad da fantástica dupla Díaz Canales e Juanjo Guarnido, tem aqui, neste primeiro volume da série, mais uma excelente oportunidade para entrar neste universo noir povoado por personagens antropomórficos, cujas características e comportamentos servem na perfeição a personalidade que representam. John Blacksad, é um gato, um detective privado implacável e incorruptível. As histórias narram as aventuras de um herói solitário numa América de poderosos nos anos 50, navegando entre temáticas como o homicídio, o racismo, a corrupção.  A qualidade gráfica é irrepreensível.  Este primeiro volume apresenta-se numa edição requintada enriquecida com um maravilhoso caderno de extras apresentado pelo desenhador Guarnido. Obrigatório.
 
  • Little Tulip (Ala dos Livros)
Neste álbum regressamos ao mundo de Charyn e Boucq. Histórias onde a qualidade do argumento rivaliza com a qualidade do desenho. Começamos por acompanhar Paul, um tatuador que colabora com a polícia de Nova Iorque na identificação de assassino em série, e em flash-backs do seu passado vamos conhecendo a história da sua difícil infância como Pavel, e como o dom para o desenho lhe permitiu sobreviver no inferno do um gulag. Charyn traz-nos aqui duas histórias paralelas, de um submundo de NY misterioso cheio de lugares escuros e perigosos, e do violento mundo dos gulags soviéticos, com uma auréola de fascínio pela subcultura das tatuagens como condição de afirmação, às quais o traço graficamente realista de Boucq transforma em narrativas intensas. A edição é magnifica. Little Tulip é uma das leituras do ano!
 


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