Antes do Balanço Bedéfilo de 2022, começo por deixar aqui uma pequena Antevisão de 2023 do que os leitores portugueses podem esperar neste ano novo. Claro que muitas das novidades ainda estarão a ser negociadas e confirmadas, mas já é possível ir levantando o véu sobre algumas coisas que estão para chegar. Mas primeiro é preciso que se diga que o ano passado foi um ano excepcional, com uma quantidade de lançamentos que não se via há alguns anos. Para se ter uma ideia, as três centenas de novidades a equivalem a um livro novo por cada dia útil do ano, com os fins-de-semana a ficarem reservados para a leitura.
Em 2023, não se espera tanta quantidade mas haverá certamente bastante qualidade, a julgar pelo que já se sabe e pelo que é previsível vir a acontecer. Fica um pequeno vislumbre do que nos espera, a partir das nossas principais editoras.
Por ordem alfabética (as imagens apresentadas são da edição original):
Da parte de A SEITA, a primeira novidade já para o início deste ano, deve ser o álbum de homenagem de Blueberry, Amargura Apache, assinado por Joann Sfar e Christophe Blain. Esteve anunciado para o início de 2022, deve acontecer agora. Blain tem aqui com uma excelente oportunidade de redimir depois do…. Gus!
Ainda desta editora, outro álbum que se aguarda com expectativa para este ano é o Frankenstein de George Bess. Relativamente a autores nacionais, o segundo volume de Umbigo do Mundo, de Carlos Silva e Penim Loureiro já está na gráfica.
Segue-se a ALA DOS LIVROS, que terá este em 2023 o ano do Corvo. O Luís Louro já tem o sexto álbum deste anti-herói finalizado, com o título ainda no segredo dos deuses, e prepara a reedição de Laços de Família, o raríssimo Corvo III.
Quanto a autores estrangeiros, recordo que o volume final da série Matteo acabou de ser editado em França, pelo que podemos esperar o mesmo por cá. E se isto já não fosse suficientemente bom, deposito grande esperança na edição do primeiro volume de Shi, uma história de crime e vingança, com o argumento de Zidrou e o desenho do talentoso Joseph Homs, que tivemos o privilégio de receber na Comic Con deste ano.
Na ARTE DE AUTOR, a grande novidade já confirmada pela editora é a reedição de Sambre de Bernard Yslaire. Parcialmente editada por cá, conhecerá agora uma nova e definitiva edição. Depois de concluídas as séries de Armazém Central, Corto Maltese e os Filhos de El Topo, é previsível que a próxima a fechar este ano seja Spaghetti Bros, com a edição do 4º e último tomo.
Na ASA, temos o ano Astérix. Foi anunciado um novo álbum de aventuras, com uma nova dupla de autores, a entrada do argumentista Fabrice Caro para o lugar de Jean-Yves Ferri. O 40º álbum tem o seu lançamento previsto para 26 de Outubro. Continuando no universo Astérix, a ASA tem ainda prevista a edição de mais dois novos volumes da série Ideiafix e os Irredutíveis, que chegarão às livrarias portuguesas em Março (volume 2 ) e em Julho (volume 3). E a isto junta-se ainda a publicação do álbum ilustrado O Império do Meio, que acompanha a estreia de uma nova adaptação das aventuras dos gauleses ao cinema. Mudando de universos, temos novidades sobre a dupla Blake e Mortimer, pois está previsto para este ano um novo álbum. Com duas equipas a trabalhar, os álbuns sucedem-se. Depois de Oito Horas em Berlim, segue-se uma nova aventura assinada agora pela dupla André Juillard e Yves Sente. Muito naturalmente conta-se com a edição portuguesa (+ habitual variante FNAC). E ainda relativamente a esta dupla de heróis, encontra-se igualmente previsto para este ano, um chamado “hors-série”, que sai fora da cronologia oficial, com a assinatura de Jean-Luc Fromental, José-Louis Bocquet e Floc'h. Tendo a ASA editado o álbum B&M de Schuitten é provável que aqui aconteça o mesmo.
Na DEVIR, que fechou muito bem 2022, com mais de quatro dezenas de novidades, não se espera que repita, até porque o ano passado foi de celebração dos seus 10 anos de mangá. Mas uma das grandes novidades será, finalmente, o início da edição de Monster, de Naoki Urasawa. Depois espera-se o fim de algumas colecções, como Platinum End e Death Note Black Edition. E como tem cerca de uma dezena de séries a correrem, é de prever um forte impulso nestas, e em títulos como Naruto e One Piece (os mais longos).
Na GRADIVA, igualmente uma das mais activas no ano passado, começa já este mês com o início de uma bela coleçcão dedicada a Grandes Batalhas Navais, com a edição do álbum Jutlândia, de Jean-Yves Delitte. Outra bela novidade é a edição de Go West Young Man, um álbum que reúne 14 histórias sobre a conquista do Oeste americano, em narrativas gráficas de um sabor amargo sobre a conquista do sonho americano. Podemos igualmente contar com o segundo volume do mangá Crueler than Dead, a continuação da série Nestor Bruma e mais um volume na colecção Conquistadores dedicado agora ao conquistador espanhol Cortés.
Da parte da G.FLOY já foi anunciada a edição por cá de As Muitas Mortes de Laila Starr, que conta com o desenho do nosso Filipe Andrade sobre o argumento de Ram V.
Da PENGUIN RANDOM HOUSE, editora que reúne inúmera chancelas, uma das principais novidades do ano será da dupla Filipe Melo/Juan Cavia, com a edição d'As Aventuras Completas de Dog Mendonça & Pizzaboy, num livro único que inclui os volumes 1, 2 e 3, mais os contos inéditos publicados pela Dark Horse Comics e uma nova e inédita história, As Fabulosas Aventuras de Madame Chen. Grande expectativa, portanto!
Entretanto e com a chancela da Iguana, chega em Fevereiro Lore Olympus, de Rachel Smythe, uma história sobre boatos escandalosos, festas selvagens e amor proibido, ou o que os deuses fazem depois de escurecer está nesta reinvenção elegante e contemporânea de uma das histórias mais conhecidas da mitologia grega. Para Março, segue-se Let’s play, de Leeane M. Krecicsp, uma história divertida, sexy e muito realista sobre videojogos, memes e ansiedade social.
Há coisas que ainda não podem ser anunciadas, há editoras que ainda não abriram o livro, e haverá ainda mais belas surpresas durante este ano. Boas leituras!
11 comentários:
um só reparo... se há aqui alguém a ter de se redimir, não será o Blain pelo Gus, mas sim os leitores por não terem aderido à série. flagelação pública, talvez?... :D
Esgar, o mundo da bd dividiu-se de forma irreversível depois da publicação do Gus, entre os que adoraram e os que detestaram.... não há meio termo... como a sua publicação/continuação foi entretanto cancelada pela editora, sabemos qual foi a fracção que ganhou essa batalha :D
Entretanto, a Devir trazer o Lazarus 5, que foi publicado em Dezembro no Brasil, também era de valor...
Tó, eu relativamente ao Lazarus não digo nada porque é sempre uma incógnita a sua publicação.... espero que no meio de tanto mangá haja espaço para um novo volume :)
Lamento repetir-me mas pela amostra apenas se confirma o quanto os editores nacionais estão cada vez mais (e perdôem-me o anglicismo) "mainstream". Aqui arrisca-se pouco e o único título que chama a atenção é o "As Muitas Mortes de Laila Starr" que já li em digital. O caso do Gus mais do que as preferências do público reflectiu uma inexistente promoção por parte da editora e a falta de comprometimento em relação á sua conclusão da série. Já agora, onde estão a Levoir, a Kingpin e a Polvo? A Tinta da China, a Saída de Emergência e a Toerema deixaram de editar BD?...
António, é uma interessante discussão saber quais são os novos caminhos da edição de BD em Portugal! Eu diria que as nossas principais editoras, leia-se as mais activas, estão em modo mainstream. Como em qualquer negócio económico, o importante é gerar lucro, até para garantir a continuidade da editora, e neste sentido, com o aumento das matérias-primas e da energia, vejo pouca (ou nenhuma) margem para experimentalismos e ou grandes cortes com uma matriz franco-belga da linha clara que está fortemente implementada na bd editada em Portugal. Com os tempos que correm, não prevejo alterações na actual linha editorial. Poderá haver espaços nos catálogos daquelas chancelas abrigadas sob um guarda-chuva de um grupo editor generalista, e aqui vejo apenas uma Penguin Random House.
Até para o mercado do universo dos comics americanos parece existir pouco espaço. Veja-se o caso da Levoir, que mesmo com o catálogo da DC, muito pouco edita actualmente. Os super-heróis, por incrível que pareça, pouco vingam em Portugal. A concorrência da Panini brasileira talvez ajude a explicar. A excepção que confirma a regra será a G.Floy, que tem aproveitado de forma inteligente a produção das editoras independentes americanas, e a edição de «As Muitas Mortes de Laila Starr» é mais um belo exemplo. E aplaudo a aposta, que considero corajosa, na edição de Monstros. Mas a produção editorial desta estabilizou nos 15 lançamentos/ano.
A única novidade (ou abanão) na edição em Portugal foi a explosão que o mangá teve em 2022. Mas razões para isso são fáceis de encontrar: uma comunidade dedicada, canais de anime a circular na internet, preços de capa baixos,….
Quanto às editoras que cita, tem actualmente uma produção marginal de banda desenhada, não aquecem nem arrefecem.
Quanto ao Gus, penso que a editora até fez alguma promoção, mas o conteúdo não convenceu, e o compromisso da Gradiva foi mesmo o de cancelar a sua continuação. As vendas muito fracas explicam, e voltamos ao inicio, o importante para a editora é que cada livro se pague a si mesmo.
Boas Nuno. Concordamos em discordar. Sou da opinião que os editores têm um papel fundamental na formação do gosto e istp passa, necessariamente, por arriscar novos nomes, novas narrativas gráficas, novos formatos. O que se tem testemunhado é que, salvo raríssimas excepções, as editoras mais activas seguem linhas demasiadamente conservadoras (isto com ou sem inflação a afectar vendas..) ou seja apostam no que é "certinho". Pelo género de edições percebe-se que há uma cristalização dos gostos circa anos 60-70 linha revista Tintim. Repare que nada tenho contra as linhas ditas "clássicas", mas este afunilamento de linhas, necessariamente, afasta o leitor de nacional de obras e nomes importantes ainda que comercialmente, menos atractivos. Pela parte que toca, e lamento dizê-lo, terei que continuar a fazer as minhas aquisições fora do mercado nacional.
Mais western,manga que dispenso todos e a nível de comics esta fraquinho.
Alguma novidade sobre o Mercenário? estou apreensivo quanto à continuação dos Tomos seguintes, principalmente os inéditos em Portugal
Viva Rute! A colecção do Mercenário é uma aposta forte do editor. Em 2023 estão previstos ser editados os volumes 4 e o inédito 11.
O Monster é uma aposta no caminho certo, algo que nunca vi no mercado português (pode ter-me passado ao lado), manga para adulto! Além de ser para adulto é uma obra prima e uma das histórias mais bem construídas que li em Bd. Melhor só mesmo se alguém editasse o homunculus! Fico também feliz de finalmente poder acabar a série Sambre que isto de ter sempre de acabar de ler as séries em francês é imensamente chato!
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