A minha segunda escolha como leitura do ano de 2013, recai sobre o Livro IVA da colecção AS ÁGUIAS DE ROMA. Uma escolha quase natural, direi eu, uma vez que os primeiros três álbuns desta colecção figuraram com as minhas «leituras de 2011». Entre toda a banda desenhada de matriz fraco-belga publicada actualmente e com regularidade em Portugal, considero esta série aquela que mais se destaca. E são várias as razões.
A principal, para mim, é que se trata do melhor trabalho do seu autor Enrico Marini. Conhecemos a sua arte em Gypsy (ed. Meribérica), Rapaces (Meribérica e ASA), Estrela do Deserto (ASA), O Escorpião (ASA), mas é aqui em Águias de Roma, onde assegura tudo, desde do argumento até as cores, passando pelo desenho, que Marini se revela um autor total.
AS ÁGUIAS DE ROMA é uma série pensada para cinco volumes. Bem estruturada e com um argumento desenvolvido de forma irrepreensível, onde se misturam personagens figuras e factos reais com ficção, versa sobre a expansão do Império Romano para um vasto território, povoado por tribos bárbaras, localizado nas margens do rio Reno, conhecido como Germânia, A acção começa no ano 1 a.C. com Augusto soberano. Roma ocupa partes da Germânia, e vai estabelecendo alianças com as tribos derrotadas. É neste contexto que o príncipe bárbaro querusco Sigmar entrega o seu filho Ermanamer como refém como garantia da aliança com Roma. Entregue aos cuidados de Tito Valério Falco, ao jovem é-lhe atribuída a cidadania romana e o nome de Caio Júlio Arminio, sendo criado e educado nas artes militares conjuntamente com Marco, o filho de Tito.
Fazendo uma síntese dos álbuns anteriores, assistimos ao crescimento e desenvolvimento destes dois personagens e ao evoluir da sua relação de amizade até ao ponto dos caminhos dos dois divergirem.
Arminio é enviado para a Germânia no comando de uma unidade militar afim de terminar com focos de rebelião e restabelecer a ordem com as tribos; Marco apaixona-se por Priscilla, uma mulher comprometida, e na impossiblidade de ficar com ela, dedica-se de corpo e alma à sua condição de oficial militar, sendo o seu esforço e bravura em batalha reconhecido pelo Imperador. É-lhe então atribuída a missão secreta de apurar se a condição de Armínio é de fidelidade a Roma, ou mata-lo caso verifique que é um traidor.
Entretanto em terras germanicas, Arminio começa um perigoso jogo duplo. Age implacavelmente para conter pequenas revoltas, não hesitando em sacrificar os seus, com o intuito de ganhar cada vez mais a confiança do Governador e Comandante das legiões do Reno, Públio Quintílio Varo; em segredo reune-se com os chefes das tribos bárbaras no sentido de se tornar seu lider, dando corpo a uma antiga profecia que falava na chegada de um lider que iria unir todas as tribos da Germânia. Por seu lado, Marco chegado à Germânia, reencontra Priscilla, que acompanha o seu marido Quinto Lépido, comandante da máxima confiança do Governador Varo. O clima é pouco hospitaleiro para Marco, num jogo onde os interesses e os ciúmes imperam, sendo enviado para comandar um posto avançado situado em território hostil. É aqui que se começa a aperceber das movimentações de Armínio e confronto entre «irmãos» torna-se inevitável.
E chegamos ao quarto álbum. A magnifica capa deste já deixa adivinhar que o centro da atenção vira-se agora para Armínio. Este, à vista de Varo, não hesita em castigar implacavelmente todos aqueles que violam as leis romanas, mas na sombra assume-se finalmente como aquele que vai liderar as tribos contra o invasor romano.
Marini gere com mestria toda a sucessão de acontecimentos que irão conduzir as legiões de Varo para o massacre na batalha da Floresta de Teutoburgo (facto verídico). Armínio reúne a confiança máxima do governador. Marco é desacreditado nas denúncias que faz e é acusado de ter morto o lacaio de Varo. Lépido é assassinado durante o sono. E todas as testemunhas incómodas para Armínio são silenciadas. Fica montando o cenário para o quinto e último volume desta colecção.
E é a abordagem de todos estes desenvolvimentos, nas sequências, nos detalhes, complementados com um desenho, e que desenho, forte e expressivo, que não poupa nos pormenores, sobretudo nas cenas de combate, que conduzem o leitor para um ritmo de leitura que não admite paragens. Do melhor da banda desenhada franco-belga.
As Águias de Roma IV
De Marini
Editora ASA, 1º edição de Dezembro de 2013