O quinto volume, saído hoje, da colecção Novela Gráfica, traz-nos Miguel Rocha, um autor português, que curiosamente recupera um nome algo desaparecido do panorama bedefilo nacional. A explicação para tal é dada na nota de imprensa e fala da boa relação do autor com o jornal Público.
Colecção Novela Gráfica #5 - BETERRABA: A VIDA NUMA COLHER - Miguel Rocha
(Formato 17 x 24cm, 120 pgs a cores, capa dura)
Beterraba poderia ser a história de mais uma família pobre, num
Alentejo atrasado durante o Salazarismo, não fosse o cunho algo
alucinado e surrealista que Migue Rocha introduz na sua narrativa,
enchendo-a de estranhas personagens e eventos, que tornam este livro em
muito mais do que um simples romance do mundo rural. São sinal disso a
bizarra tempestade quase diluvial que assola a propriedade de Olegário,
os motivos semi-africanos da escrita que as muitas filhas dele inventam,
depois de crescerem numa espécie de isolamento selvagem, e as
construções fantásticas e grandiosas que o obcecado patriarca da família
vai construindo naquela planície árida e batida pelo Sol, enquanto
sonha com as suas plantações de beterrabas...
Uma história simultâneamente épica e intimista, a meio caminho entre o neo-realismo e o realismo mágico sul-americano, marcada pelas cores quentes do Alentejo, e que no Festival de BD da Amadora de 2004 arrebatou os prémios para Melhor Livro e Melhor Desenho.
Nascido em 1968, Miguel Rocha é um dos mais talentosos ilustradores portugueses, senhor de uma importante obra, construída sobretudo entre finais dos anos 90 e meados da década de 2000, marcada pela versatilidade e pelo grande talento pictórico. Possui também uma vasta obra no campo da ilustração - infantil e não só - e do design, salientado-se o facto de ter sido seu o cartaz escolhido para o Euro 2004, organizado no nosso país.
Foi só por volta dos 30 anos que Miguel Rocha se sentiu impelido a fazer BD, e só no fim dos anos 90 publicou livros que o revelaram como um dos mais inovadores autores de banda desenhada portuguesa (como por exemplo, As Pombinhas do Sr. Leitão, ed. Baleia Azul). Ao longo dos anos, a solo e em colaboração, desenhou alguns dos livros de BD mais marcantes da actualidade, entre os quais devemos citar Salazar: Agora e na Hora da sua Morte (com argumento de João Paulo Cotrim), Hans: o Cavalo Inteligente e este Beterraba, o seu primeiro longo "romance" gráfico. Desenvolvido ao abrigo de uma Bolsa de Criação Literária do Ministério da Cultura, foi publicado originalmente em 2003, tendo arrebatado os prémios para Melhor Livro e Melhor Desenho no Festival de BD da Amadora de 2004 e sido publicado em Espanha e França. Mais de uma década depois, é finalmente reeditado, com uma nova capa, na colecção Novela Gráfica, em associação com o Público. É de salientar também que Miguel Rocha sempre manteve uma grande ligação a este jornal, onde foram publicadas algumas das suas mais marcantes histórias curtas, de entre as quais destacamos Borda d’água, um dos seus primeiros trabalhos, publicado a cores no Público. Foi também um dos autores convidados a participar no projecto Vinte e Cinco, com que o Público assinalou os 25 anos do 25 de Abril, com a história O Museu. Também por esta ligação a um dos mais relevantes jornais de Portugal torna-se lógica a sua presença nesta colecção, em que o Público e a Levoir dão a descobrir aos leitores portugueses o melhor da Novela Gráfica.