sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Mais dois Mercenários!

A magnífica colecção de fantasia medieval O MERCENÁRIO de Vicente Segrelles, que a ALA DOS LIVROS tem vindo paulatinamente a editar na sua versão revista, aumentada, luxuosa e definitiva, onde cada volume inclui uma excelente caderno de extras, recebeu agora mais dois tomos, os números 7 e 8, já disponíveis nas livrarias e no sitio da editora. É a Ala a fechar o seu ano editorial da melhor maneira. Recordo que para esta colecção ficar fechada estão a faltar apenas os volumes 9 e 14, que certamente a editora dará à estampa no decurso do próximo ano.

VOL. 7 – A VIAGEM
Numa viagem de rotina, o Mercenário está perdido. Atravessou o Oceano Índico no seu dragão voador e depara-se com uma ilha desconhecida, um acontecimento estranho, considerando os conhecimentos avançados de navegação dos monges da Cratera. O Mercenário encontrará um mundo fascinante e desconhecido, repleto de criaturas fantásticas, aparentemente um paraíso que, como ele em breve descobrirá, esconde um veneno mortal. Mas o mais perturbador ainda está por ser descoberto... 
 
Ficha técnica:
O MERCENÁRIO vol. 7 – A Viagem
Argumento e desenho de Vicente Segrelles
Cartonado, 235 x 310 mm, cores, 64 páginas. 
ISBN: 978-989-9108-64-6
PVP: € 21,90
Edição ALA DOS LIVROS
 
 
 
VOL. 8 – ANO MIL. O FIM DO MUNDO
Dizia-se na tradição cristã que o fim do mundo seria no ano mil da nossa era. A data aproxima-se e os monges da Ordem da Cratera sabem que é certo: vai acontecer e é irreversível. De forma involuntária, o Mercenário vai conhecer em primeira mão o que irá causar esse cataclismo quando viaja para um mundo muito semelhantes à Terra, anteriormente muito avançado, agora inóspito e desabitado. Mas ali existem mais alguém, uns seres estranhos que noutros tempos dominavam a Terra até que foram expulsos/proibidos. Uma aventura em que o Mercenário entra totalmente na ficção-científica.
 
Ficha técnica:
O MERCENÁRIO vol. 8 – Ano mil. O fim do mundo 
Argumento e desenho de Vicente Segrelles
Cartonado, 235 x 310 mm, cores, 64 páginas. 
ISBN: 978-989-9108-73-8
PVP: € 21,90 
Edição ALA DOS LIVROS
 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A leitura de ISLANDER - O EXÍLIO

Sei que não se deve julgar o todo pela parte, mas quando a primeira parte se apresenta com um ritmo narrativo intenso e desenho magnifico, o risco torna-se mais que aceitável. É o que sucede com este primeiro volume (de uma trilogia) de ISLANDER, edição de Outubro da Arte de Autor, que se revelou, desde já, uma excelente leitura. Começamos logo por ficar cativados pela magnifica capa, com um belíssimo desenho e cores com a assinatura de Corentin Rouge. Esta primeira parte, intitulada O Exilioantecipa-nos um futuro distópico, numa Europa palco de crises sociais e climáticas, de fronteiras fechadas e à beira do colapso civilizacional. A Islândia, com as suas paisagens geladas, surge aqui como o cenário frio e hostil para o desenrolar da acção. Um país dividido, consequência de um fluxo imigratório descontrolado e de políticas secessionistas levadas ao limite. O autor Caryl Ferey prende-nos a atenção com um argumento inteligente e envolvente. A narrativa corre com uma frieza e realismo marcante. Entramos na história em plena crise, no porto de La Havre, em França, onde uma multidão desesperada aglomera-se na esperança da chegada de um barco que as transporte para a Escócia, vista como o último refúgio seguro. Nada é explicado à partida, mas as condições mínimas deste centro de embarque dizem tudo e remete-nos para o pior dos cenários: os controlos de documentos, os guardas armados e prontos a disparar e muito arame farpado. É aqui que conhecemos o pequeno grupo de protagonistas, entre os quais se encontra um importante cientista que aparentemente é uma peça importante nesta crise. Por força da confusão instalada na partida, junta-se Liam, um perfeito desconhecido de poucas palavras, sem rumo e sem nada a perder. É na violenta mudança de rumo do barco em pleno mar-alto, que a leitura se torna vertiginosa e compulsiva, quer pela jornada de sobrevivência onde cada personagem evolui e se vai revelando ao longo das páginas, como pela forma como a história cresce reflectindo as tensões sociais e políticas de segurança que já observamos em muita na nossa realidade actual. Agora tudo isto é amplificado pelo traço realista e dinâmico, na melhor tradição da linha clara franco-belga, de Corentin Rouge, que dá a todo o enredo uma atmosfera cinematográfica. É a cada página, onde tanto alterna grandes planos com situações de tensão e acção, que o seu desenho vivo o define como um dos melhores da actualidade.

Em suma, ISLANDER – O EXÍLIO é um álbum de leitura cativante e visualmente impactante, servido numa edição cuidada e de formato generoso, pelo que não tenho dúvidas em afirmar que  se destaca como um dos melhores do ano! 

A minha nota:


 

 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

El Diablo é a nova aventura do nosso conhecido Marsupilami!

Continuando a desfilar por aqui as últimas novidades do ano, trago hoje o mais recente lançamento da editora A SEITA, que regressa ao universo do nosso Marsupilami. Depois da Fera de Zidrou e Frank Pé, temos agora a interpretação de Lewis Trondheim (argumento) e Alexis Nesme (desenho e cores) neste novo álbum EL DIABLO, que relata a mais antiga aventura conhecida do famoso animal imaginado por André Franquin. 

EL DIABLO
Recuamos até ao século XVI e seguimos as aventuras de um grupo de conquistadores espanhóis comandados pelo cruel Capitão Santoro em busca do famoso El Dorado. Quando os mantimentos se esgotam, um jovem grumete é escolhido para servir de prato principal. O pobre José consegue escapar à morte culinária fugindo para terra, e nesta fuga desenfreada pela liberdade, numa terra desconhecida, cruza-se com um misterioso animal, de cor amarela com manchas negras e uma longa cauda. Acolhido pelos índios Chahuta, o grumete descobre que se tornou uma espécie de parente espiritual do Marsupilami, o “espírito da floresta”, ao qual está de agora em diante ligado por um elo mágico. É o início de uma relação especial que rapidamente se complicará por causa da desbragada sede de ouro do Capitão Santoro. 

Álbum já disponível nas livrarias. 

Ficha técnica:
El Diablo
De Lewis Trondheim e Alexis Nesme
Capa dura, formato 252x329, cores, 64 páginas.
ISBN: 9789899202597
PVP: € 18,95
Editor A SEITA 
 
 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

O Peter Pan de Munuera

Entramos na recta final de um ano que,  em termos de lançamentos, revela números quase tão bons como os do ano anterior. Agora para o mês de Dezembro não se espera mais que uma mão-cheia de novidades, até porque a grande maioria das nossas editoras já fecharam o seu ano editorial. Das que ainda resistem temos a ARTE DE AUTOR e A SEITA. E é justamente destas duas, que temos esta semana nas livrarias a novidade PETER PAN DE KENSINGTON, que esteve disponível no último Amadora BD.

Peter Pan é uma das mais populares e conhecidas personagens da literatura infantil, imortalizada em inúmeras obras, incluindo o cinema. Surgiu 1904 numa peça de teatro, e depois em 1911 no romance Peter and Wendy, mas poucos sabem que James Matthew Barrie lhe deu vida pela primeira vez em 1902 no conto O Pequeno Pássaro Branco. É esse texto, meio esquecido, que José-Luis Munuera agora adapta, propondo uma visão da personagem ao mesmo tempo pessoal e fiel à obra do escritor.

PETER PAN DE KENSINGTON
Nova Iorque, distrito de Wall Street. Durante o dia, os jardins de Kensington, em Londres, são invadidos por humanos. Ao cair da noite, tornam-se o território do maravilhoso... a realidade desaparece para dar lugar à imaginação. A pequena Maimie Mannering, de seis anos, perdeu-se neste imenso parque após o fecho das portas. Vai cruzar o caminho de fadas, que ameaçam «comer os seus dedinhos», e depois conhecer um tal Peter Pan. Peter é um rapaz engraçado, capaz de voar, que fala a Maimie de um «país imaginário, uma ilha onde as crianças não crescem». Maimie gostaria de voltar para casa. Mas Peter gostaria que ela ficasse com ele para se divertir. Juntos, eles vão encontrar a Rainha das fadas e tentar resolver um enigma improvável que permitirá a Maimie encontrar a saída do parque, antes que o dia amanheça e ela fique presa no parque... para sempre!
 
Ficha técnica:
Peter Pan de Kensington
Argumento e desenho de José Luis Munuera
Capa dura, formato 210x285, cores, 96 páginas.
ISBN: 978-989-9094-66-6
PVP: € 22,50
Co-edição ARTE DE AUTOR e A SEITA 
 

sábado, 29 de novembro de 2025

O tal ritual

 Blacksad Stories – Weekly


O prazer de apenas folhear um livro que se quer muito ler. O aroma inebriante das páginas que ainda não sentiram as pontas de dedos. O olhar fugaz pelos desenhos que preenchem vinhetas vistas ao acaso. E depois, depois fecha-se o livro e espera-se que surja o momento apropriado que não só dignifique a leitura como a torne memorável.


É este o ritual que guardo para uma ou outra série de BD, para um ou outro autor ou herói. E resulta quase sempre, este ritual que reservo também para Blacksad.


Como disse noutro lado, já todos sabemos que as histórias têm a atmosfera do policial noir e decorrem na década de 1950 nos Estados Unidos. Que o protagonista é John Blacksad, um detective privado que sabe vestir bem, que é sarcástico, sedutor e implacável. Que todos os personagens têm um tratamento antropomórfico. Que todos os álbuns abordam uma problemática contemporânea e têm uma mensagem social. Que a narrativa é intrincada e inteligente. E que o desenho é absolutamente deslumbrante.


Tudo graças aos argumentos de Juan Díaz Canales e à arte de Juanjo Guarnido.


Agora, tirem o Guarnido da equação, façam desaparecer o Blacksad, ignorem a ambiência noir e imaginem uma nova série intitulada Blacksad Stories. No mínimo, vão achar que se passa algo de estranho.


Mas depois, mantenham a acção na década de 1950 nos EUA, o tratamento antropomórfico dos personagens, a abordagem de questões sociais e uma narrativa que se mantém intrincada e inteligente. E de não somenos importância, Juan Díaz Canales é o denominador comum das duas equações.


O resultado é Weekly, o álbum que inaugura a série Blacksad Stories, com arte e cor de Giovanni Rigano, e que a Ala dos Livros acaba de publicar.


A aposta é muito arriscada, até porque está sujeita a inúmeras comparações com a excelência da série-mãe. Por essa razão, nada como fazer um exercício mental, ignorar a existência de Blacksad e ler Weekly como algo que vale ou não por si só.


Vamos à história!

 

As duas jovens irmãs correm livres pela orla do bosque vizinho da sua aldeia. Mas enquanto Prili é sonhadora e poética, Chana é medrosa. E parece ter razões para o ser pois, enquanto se perdem em conversas, são interpeladas por um enorme cossaco em delírio por ter incendiado a aldeia delas.

Chana acorda do pesadelo com o coração apertado. Os sonhos dela costumam ser premonitórios e isso significa que o cossaco está de volta para a matar. O tempo correu imparável desde os acontecimentos na aldeia russa que a obrigaram a fugir da sua terra bem-amada. Agora, vive sozinha com o neto num exíguo apartamento nova-iorquino de uma só assoalhada. Mas Dustin Kalisnowszczyzna não é dado a acreditar nas memórias da avó. Para ele, a velha senhora confunde os seus sonhos com a realidade e nem sequer alguma vez teve uma irmã.


Dustin não tem tempo para os achaques da avó. Para ela, ele estuda e trabalha. Contudo, Dustin foi expulso do liceu por tirar fotos ousadas às colegas. Agora, exerce a sua paixão pela fotografia no comissariado da polícia onde fotografa criminosos. Mas o novo emprego não dura mais de uma semana já que a sua postura de coscuvilheiro incompatibiliza-o com o próprio comissário. Ironicamente, é esse espírito coscuvilheiro que o faz travar conhecimento com o repórter de investigação do The News, o senhor Citizen. Mas a colaboração entre os dois tem um fim inesperado e Dustin vê-se agora obrigado a trabalhar numa agência funerária. Sendo um espírito inquieto, Dustin vai acumular este novo emprego com as funções de foto-novelista na Proper Comics. Este sim, é o seu sonho concretizado. O pior é quando o mundo da banda desenhada e o dos mortos se juntam…

 

Foi há 25 anos que surgiu pela primeira vez Blacksad, a criação inspirada de Juan Díaz Canales e de Juanjo Guarnido. No segundo volume da série, Artic-Nation, travamos conhecimento com Weekly, o fuinha que se tornará personagem recorrente das aventuras do gato-detective e seu amigo.


Pois, neste ano em que se comemora um quarto de século do aparecimento do personagem, e na impossibilidade de termos nova aventura de Blacksad, nada melhor do que a criação de uma série derivada ou spin-off com o título Blacksad Stories. Dita a lógica (que às vezes é uma batata) que uma série com este título augura continuidade e que poderemos esperar novas “estórias de Blacksad” nos tempos vindouros. Cabe a Weekly ser o protagonista deste primeiro volume.


Juan Díaz Canales, sem medo, inicia aqui a nova série com a absoluta ausência de Blacksad, e cria uma espécie de “história de origem” de Weekly, ainda com o nome farfalhudo de Dustin Kalisnowszczyzna. São os primeiros passos do jovem fotógrafo nova-iorquino, bem como as suas origens familiares, que o argumentista nos narra.

 

Em entrevista que fiz a Canales em 2024, à pergunta “Blacksad, embora seja um policial noir, aborda sempre questões sociais como o racismo, a corrupção nos cargos públicos, pedofilia, o flagelo das drogas, entre outros. Foi uma ideia que tiveram desde o início? E vão continuar a abordar temas mais complexos?”, ele responde “A resposta às duas perguntas é sim! Para mim, o policial noir é um género muito especial que me permite abordar todas essas questões sociais. Desde logo, as histórias são passadas durante um período muito rico da história dos EUA – as décadas de 40 e 50 do século XX. Este período do pós-guerra é uma altura de grandes mudanças na sociedade que deixam antever as mudanças ainda maiores que se vão operar durante a década de 60 – por exemplo, a questão da segregação racial. E depois, o género noir permite que, em voz-off, o protagonista narre e comente estas questões, aumentando não apenas a densidade dramática como a crítica “filosófica” a esses temas sociais.”


E, no entanto, muitas das características do policial noir plasmadas em Blacksad estão ausentes em Weekly. Mas tal facto mostra, mais uma vez, a segurança do argumentista na sua nova criação. À medida que avançamos na leitura, Canales complexifica a história e torna-a num sólido policial de contornos intrincados. Tudo gira à volta de Dustin, desde o seu trabalho com o cangalheiro Lubansky até à ligação com a mulher deste que é pastora evangélica e que trava uma batalha com o editor da Proper Comics a favor dos bons-costumes. Editor que dará a Dustin a oportunidade de ser fotógrafo profissional. Pelo meio, Dustin descobre que há algo mais por detrás do trabalho de Lubansky, que os serviços secretos estão envolvidos e que a senhora Lubansky, líder do Movimento Cruzada Moral, pretende, de algum modo, proibir as bandas desenhadas.


Com este enredo, a história de Juan Díaz Canales ganha contornos multidimensionais. Desde logo, a aproximação ao policial noir e ao harboiled, embora ignorando alguns artifícios narrativos próprios do género, como é o caso da voz-off. No entanto, Canales tem o mérito de fazer com que não sintamos a falta dos “reparos” de Blacksad, que nem seriam muito próprios na voz de um adolescente como Weekly. Já a ausência de um detective de serviço é bem ultrapassada pelas façanhas de Weekly e pela própria dinâmica da narrativa.

 


Noutra dimensão, que impele a narrativa numa direcção aparentemente paralela, temos não só a contextualização histórica da história, como a cruzada moral da senhora Lubansky, sobretudo contra a Proper Comics. Estamos nos anos de 1950, em pleno período maccartista, a época da “caça às bruxas” pelo senador McCarthy, sendo as bruxas os comunistas ou seus simpatizantes. O puritanismo americano está ao rubro e acaba por reflectir-se no mundo da Banda Desenhada com a criação em 1954 do Comics Code Authority que proibia a violência e a falta de respeito às figuras da autoridade. Não nos podemos esquecer que nesta altura as bandas desenhadas eram lidas pelas crianças e adolescentes e nunca (ou quase nunca) por adultos. A sociedade americana, religiosa e conservadora, temia a perversão da juventude através destes comics repletos de cenas de terror, violência e muito fantasistas, contribuindo para a alienação dos jovens leitores. O livro Seduction of the Innocent, do psiquiatra Wertham, esteve na origem do movimento, criando-se até uma comissão de inquérito no senado. O resultado foi os editores acabarem por renunciar à sua liberdade de expressão.

Também Vitor Venables, o dono da Proper Comics tem a sua contextualização histórica, pois é baseado na figura de William Ganes, o patrão da EC Comics que fazia frente a editoras como a DC Comics. Entre outras, Ganes foi o criador da famosa Mad Magazine.

 


Não será inocente da parte de Canales abordar o tema da censura nos tempos que correm, com a digladiação entre os movimentos Woke e MAGA e a censura imposta pelos wokistas e pelos trumpistas. É de não esquecer o episódio do cancelamento temporário do programa de Jimmy Kimmel, o “ataque” à universidade de Harvard e outras, ou ainda a proibição de certas palavras em artigos científicos. Na Europa, temos o triste caso da recolha de todos os exemplares em circulação da banda desenhada de Spirou, de Dany e Yann, acusados de racismo e sexismo.

Mas Canales acrescenta ainda uma outra dimensão a esta obra que, porventura, agradará mais aos fãs de Blacksad. Uma dimensão reveladora do passado de Weekly, do seu percurso, da sua família, do que o levará a exercer a profissão de jornalista no What’s News e até da razão porque mudou de nome. E esta é uma dimensão importante pois prolonga o universo inicial de Blacksad, desenvolve-o e adensa a profundidade psicológica dos personagens.


Como curiosidade, o personagem Weekly baseia-se em Weegee, famoso fotojornalista dos anos 20 a 50 do século passado, conhecido por chegar aos locais dos crimes antes da polícia.


Por fim, a narrativa apresenta-nos personagens que, invariavelmente, ultrapassam as aparências, várias reviravoltas no enredo e aquele delicioso princípio de associar estereótipos a diferentes animais nesta obra antropomórfica. Para além disso, tanto a intriga como a investigação conseguem manter o interesse do leitor até ao fim.


Uma última nota inevitável para mencionar o jornalista Citizen, que me parece uma homenagem de Canales a Citizen Kane, filme de Orson Welles de 1941 e que em Portugal passou com o título “O Mundo a Seus Pés”.

 

Quanto à arte, o trabalho de Giovanni Rigano é notável. Tanto ao nível do desenho como das cores. Consegue não apenas manter o estilo habitual da série-mãe como também apresenta personagens muito expressivos e cenários cuidadosa desenvolvidos.


O autor italiano que substitui aqui a mestria de Juanjo Guarnido, tem o seu próprio estilo que tem tanto de eficaz como de elegante. O antropomorfismo dos personagens é plenamente conseguido e confere à obra grande credibilidade gráfica. Claro que somos sempre levados à comparação com a arte de Guarnido e é só aí, nessa comparação, que Rigano fica uns pontos abaixo. Contudo, o resultado final é muito bom, tanto ao nível dos personagens como dos cenários detalhados e dos enquadramentos.

 

De Rigano só conhecia a série de sucesso Tête de Pioche, dirigida a um público infantil e da qual acaba de ser publicado o quarto volume. Para mim serve como uma “série de conforto” e proporciona-me viagens até à infância. Aliás, permitam-me o aparte, não percebo como é que os editores portugueses não infestem neste segmento de mercado e esperam depois que os jovens leitores mergulhem tardiamente no mundo da Banda Desenhada. Para que não passe de um pequeno nicho no nosso País, a Nona Arte tem de ser e deve ser cultivada desde tenra idade.


Aparte de lado, constatar a capacidade de Rigano de saltar de um mundo mágico da Tête de Pioche para o mundo “real” de Blacksad Stories é extraordinário. Sobretudo no que diz respeito à ambiência dada à cidade de Nova Iorque. Andamos pelos mercados, entramos na esquadra, num estúdio de rádio, numa gráfica, deambulamos por ruelas, becos escuros e ruas movimentadas, tudo apresentado com grande rigor e credibilidade que se estende, nomeadamente, ao guarda-roupa e às viaturas.

 

 

Dois últimos reparos em relação à arte. O primeiro diz respeito à capa. Esta consegue captar facilmente a atenção do leitor, mesmo que contendo várias mensagens não perceptíveis de imediato. Weekly, de mãos nos bolsos e algo apático surge exactamente no meio da multidão, iluminado por um raio de sol que consegue furar as sombras que os arranha-céus projectam na rua. A luz que o ilumina desliza também para o ombro de uma figura que se apresenta de costas, mas que se percebe bem ser John Blacksad. O grande ausente do livro não deixa, mesmo assim, de fazer uma discreta aparição na capa. Weekly, alheio a quem o rodeia, está acompanhado de vários personagens – inclusive, os principais – que viverão com ele esta aventura. Uma capa muito bem conseguida.


Por fim, uma menção às guardas do livro, também elas criadas com inteligência. Na de abertura, vemos Weekly em frente de um típico quiosque nova-iorquino dos anos de 1950. Na mão segura uma revista de banda desenhada de “terror sangrento”. Passada toda a aventura, a guarda final apresenta-nos o mesmo quiosque, com o mesmo vendedor e até com as mesmas revistas. Mas Weekly cresceu com a aventura, apresenta já a indumentária pela qual é conhecido, a sacola com o seu material fotográfico e, sobretudo, já não tem um comic entre mãos, mas antes um exemplar do jornal onde trabalha, o What’s News. De resto, a sua leitura passa da fantasia sangrenta para o quotidiano sangrento da grande cidade.

 

 

Em suma, Weekly é mais uma aposta ganha de Díaz Canales, agora tendo como parceiro do crime o italiano Giovanni Rigano.


Narrativa bem ritmada, inteligente, por vezes subtil, que nos faz mergulhar nos tempos do maccartismo e de uma Nova Iorque que pretende ser exemplo para o mundo, mesmo pelas piores razões. Um policial noir com dois fios condutores paralelos que acabam por convergir numa reviravolta inesperada. Tudo ilustrado por uma arte elegante, detalhada e credível e uma paleta de cores bem conseguida.


Talvez haja tempo para uma Blacksad Stories de Alma ou do comissário Smirnov antes da publicação do novo Blacksad lá para 2027. Esperemos! Pois quero manter o tal ritual de que vos falei ao princípio…

 


Por Francisco Lyon de Castro.

 

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Começa hoje cerveja e bd em Marvila!

Um ano depois da edição inaugural, o MARVILA COMICS regressa hoje à Rua Capitão Leitão, 94, em Lisboa, para um evento de três dias que ousa misturar cerveja e livros de Banda Desenhada. A Kingpin Books volta a unir-se à cervejaria Dois Corvos, para um fim de semana repleto de autores, conversas, exposições, mercado do livro e lançamentos exclusivos de cerveja e BD!

PROGRAMA
6ª feira, 28 de Novembro
16h Abertura do mercado do livro  |  22h DJ Set com Jenny Tall 
 
SÁBADO, 29 de Novembro - Conversas com Cerveja
16h LANÇAMENTO - Atrahasis com David Soares e Sónia Oliveira
16h30 O humor, os porcos e os Velhos do Restelo com Mário Freitas e Dário Duarte 
17h LANÇAMENTO - O progresso da humanidade de João Sequeira e Rui Cardoso Martins 
17h30 Living Will: o desafio dos formatos e das pequenas tiragens com André Oliveira, Joana Afonso e Pedro Serpa
18h BD policial, caso raro em Portugal com Osvaldo Medina e Fernando Dordio
18h30 Visões narrativas fora da caixa com Beatriz Brajal e Joana Mosi
19h A Arte para além da BD com Filipe Andrade e Mário Freitas
19h30 A determinar  |  20h QUIZ de BD  |  22h Concerto dos MOLOCH 
 
DOMINGO, 30 de Novembro - Conversas com Cerveja
16h Umbra: visões editoriais sobre antologias Filipe Abranches e Rita Alfaiate
16h30 Desafios da BD para outsiders Susana Carvalhinhos e Cláudia Passarinho
17h Terrea: construções narrativas alternativas Pedro Moura e Ricardo Cabral
17h30 O último prédio à beira do fim do mundo Nuno Duarte e Rita Alfaiate
18h00 Os grandes grupos vs. as pequenas editoras Diana Garrido e Mário Freitas
18h30 O impacto política da BD e do cartoon editorial André Carrilho e Nuno Saraiva
19h Que ambições depois do salto para o mercado americano? Daniel Henriques e Jorge Coelho
19h30 A determinar   |  20h Confraternização final

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Blake e Mortimer enfrentam A Ameaça Atlante!

Apesar dos seus altos e baixos da série, a verdade é que cada novo álbum da colecção BLAKE E MORTIMER é sempre esperado com alguma expectativa! E hoje temos um novo lançamento. Nas livrarias vamos encontrar A AMEAÇA ATLANTE (edição ASA), o 31º álbum dos nossos heróis, numa aventura, assinada por Yves Sente e Peter van Dongen, que apresenta uma ténue ligação com Portugal, ao revisitar o legado de E.P. Jacobs em O Enigma de Atlântida, história publicada originalmente em 1957. E conforme já tem vindo a ser uma tradição na edição portuguesa, este novo álbum apresenta-se numa edição com duas capas distintas: a normal (capa esquerda) e a exclusiva das lojas FNAC (capa direita) destinada a colecionadores, e por sinal mais bonita. 

A AMEAÇA ATLANTE
Encarregado de uma missão governamental de extrema importância, Philip Mortimer viaja para a Escócia para estudar antigas terras vulcânicas e testar a viabilidade de uma instalação geotérmica. Assim, ele vê-se na vanguarda dos terríveis fenómenos que afetam todo o Mar do Norte: nuvens de gás tóxico e um tsunami gigantesco - tudo causado por explosões inexplicáveis!
As vítimas são inúmeras... sem mencionar os corpos mumificados de Doggerland (o leito do Mar do Norte) que sobem à superfície após 10.000 anos.
A manchete do Daily Mail: «O que está a acontecer no Mar do Norte? A Yard está desamparada!».
É hora de Francis Blake juntar-se a Mortimer!
 
Ficha técnica:
Blake e Mortimer - A Ameaça Atlante
Colecção As Aventuras de Blake e Mortimer - volume 31
De Yves Sente e Peter Van Dongen
Capa dura, dimensões 311 x 237, cores, 64 páginas.
ISBN: 9789892366784 (capa normal)
ISBN: 9789892366807 (capa FNAC)
PVP: € 15,90
Editor: Edições ASA 

 

A acompanhar o 31º álbum de aventuras de Blake e Mortimer, chega igualmente hoje às livrarias uma edição especial, o livro A DUPLA EXPOSIÇÃO, também numa edição da ASA, e igualmente pertencente ao universo B&M. Não é um álbum de banda desenhada. Trata-se de uma história ilustrada que traz os nossos heróis numa "micro-aventura", escrita por Sonja Shilito e James Huth e com imagens magnificamente desenhadas por Laurent Durieux.


Convidados para a Feira Mundial de 1964, Blake e Mortimer são expostos aos raios de uma máquina infernal que os reduz à escala milimétrica! Presos em um modelo futurista, conseguirão eles salvar a humanidade dos planos maquiavélicos de seus piores inimigos? 

Ficha técnica:
Blake & Mortimer - A Dupla Exposição
De James Huth, Sonja Shillito e Laurent Durieux
Capa dura, dimensões 254 x 200, 72 páginas.
ISBN: 9789892366791
PVP: € 20,90
Edições ASA 
 

 
 

domingo, 23 de novembro de 2025

A Seita lança o seu sétimo álbum de homenagem a Lucky Luke!

A editora A SEITA continua a sua colecção de homenagens Lucky Luke visto por... com este novo DAKOTA 1880, de Brüno e Appollo que recolhe sete histórias curtas de um jovem Lucky Luke, seguindo o modelo de Sept Histoires de Lucky Luke, álbum de Morris e Goscinny, de 1974, passadas imediatamente antes de Morris começar a contar as suas aventuras no álbum Arizona 1880, de 1946. 

A edição portuguesa d’A Seita, lançada em simultâneo com a edição francesa, conta com duas capas diferentes, uma delas exclusiva da plataforma Wook (imagem da direita). 

Antes de encontrar Jolly Jumper e defrontar os irmãos Dalton, Lucky Luke foi guarda de diligência e atravessou o Oeste, sobrevivendo a um enforcamento (o que lhe valeu a alcunha de “Lucky”). Uma longa viagem, em que, além de índios, enfrentou a fúria da Natureza selvagem e encontrou personagens históricas como Louis Riel, Annie Oakley, os poetas Paul V. Sullivan e John Arthur Cullingam, o fotógrafo Curly Wilcox e o escritor Baldwin Chenier, cujos relatos inspiraram as sete histórias curtas deste livro, onde a História e a lenda se confundem, criadas pelo argumentista Appollo e pelo artista Brüno, duas importantes vozes da nova banda desenhada franco-belga, e que nos mostram um Lucky Luke na sua juventude, antes de ser o Luke que conhecemos, numa homenagem que nos apresenta um herói mais realista.

LUCKY LUKE: DAKOTA 1880 
Dakota, 1880. Acompanhado por Hank Bully e pelo jovem Baldwin, Lucky Luke acompanha uma diligência até à Califórnia. Uma viagem do norte ao oeste dos Estados Unidos, contada em sete histórias e outros tantos encontros. Escravos libertos, mulheres românticas ou impetuosas, um fotógrafo visionário, pistoleiros experientes, poetas e nativos americanos cruzam-se com Lucky Luke e os seus companheiros. 
 
Ficha técnica:
Lucky Luke – Dakota 1880
Arte de Brüno e argumento de Appollo
Capa dura, formato 24,5 x 33 cm, cores, 64 páginas.
ISBN: 978-989-9202-55-9
ISBN: 978-989-9202-56-6 (capa exclusiva WOOK)
PVP: € 18,99
Edição A SEITA 
 

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Lançamento KINGPIN: Atrahasis

A editora KINGPIN BOOKS faz também questão em deixar a sua marca na edição de banda desenhada em 2025, promovendo o regresso da dupla de autores, David Soares e Sónia Oliveira, dez anos depois da edição de O Poema Morre (Kingpin Books, 2015).

Este novo trabalho intitulado ATRAHASIS, que terá o seu lançamento no evento Marvila Comics na cervejaria Dois Corvos, em Lisboa, no próximo Sábado dia 29, é apresentado como uma obra sufocante e frenética, consubstanciada na observação filosófica e visceral sobre dissolução civilizacional.

Ficha técnica:
Atrahasis
Argumento de David Soares e desenhos de Sónia Oliveira
Capa mole, dimensões 19x27cm, preto e branco, 72 páginas.
ISBN: 978-989-8673-59-6
PVP: € 18,99
Edição KINGPIN BOOKS