sábado, 27 de dezembro de 2025

As Melhores Leituras de BD de 2025

Abro hoje aqui a época de balanços. Já faço disto uma tradição. E começo pela divulgação do meu TOP-9 das melhores leituras de 2025. Obviamente que não li tudo o que foi por cá publicado, mas dentro do muito que li, devo dizer, mais uma vez, que tivemos mais um belíssimo ano. E se é verdade que há uma mão-cheia de obras com entrada directa (alguns já aqui fui dando nota) não é menos verdade dizer que houve depois uma meia-dúzia de álbuns com muita qualidade a lutar por entrar. Não foi fácil, mas está decidido. Prevaleceram gostos pessoais, prazer da leitura e qualidade da edição. O importante a realçar aqui é que continuamos a ser privilegiados com magnificas obras, que se tornam quase obrigatórias. E a lista que divulgo de seguida (a arrumação é aleatória) assim o confirma. 

TOP-9 de 2025:

  • A Fera – volume 2 (A Seita)

  • O Meu Irmão (Ala dos Livros)

  • Peças (Ala dos Livros)

  • Undertaker – O Mundo de Oz (Ala dos Livros)

  • Islander – Exílio  (Arte de Autor) 

  • Hoka Hey (Asa)

  • Os Filhos de Baba Yaga (A Seita/Arte de Autor)

  • Corpo de Cristo (Iguana)

  • O Castelo dos Animais – O Sangue do Rei (Arte de Autor) 



Breves notas sobre as escolhas:
 
A FERA
A segunda parte de uma bela história de amizade e compaixão. Da sua leitura, diria que quase que dispensava os balões das falas e deixava-me levar só pela beleza do desenho de Frank Pê, autor que nos deixou este ano. Graficamente tem uma intensidade rara. Mais que uma aventura do marsupilami, A FERA é uma comovente fábula dos tempos modernos, onde Zidrou demonstra que personagens icónicas da BD podem ser revisitadas e reinterpretadas com inteligência e profundidade. 

 
O MEU IRMÃO
Tripp oferece-nos nesta obra feita de coração aberto: na sua juventude, perdeu o irmão mais novo durante umas férias de Verão. Ser narrador de uma tragédia pessoal desta dimensão revela bem a sua necessidade de partilha e apaziguamento. Fá-lo de uma forma sóbria, com uma narrativa bem construída, num relato na primeira pessoa, assente em factos, emoções e sentimentos. O MEU IRMÃO é uma obra dura, de leitura difícil que nos toca. Justa vencedora do prémio de melhor álbum estrangeiro no festival Amadora BD. A critica completa pode ser lida aqui.

 
PEÇAS
PEÇAS é uma história que nos fala de relações humanas. Uma obra que aborda o amor nas suas várias formas. De casais em ruptura a paixões fugazes, de encontros fortuitos a amores estagnados, de encontros e desencontros a segundas oportunidades, de relações que definem uma vida. A critica completa pode ser lida aqui.

 
UNDERTAKER – O MUNDO DE OZ
A dupla Dorison e Meyer confirma mais uma vez o seu estatuto de referência: UNDERTAKER é, indiscutivelmente, dos melhores westerns da actualidade. A caracterização do Velho Oeste é feita através de ambientes hostis e personagens intensas e moralmente ambíguas. Neste oitavo volume, que encerra o díptico dominado pela Liga para a Supressão do Vício, temos o retrato do fanatismo religioso, nascido do pós-guerra - um confronto entre a fé e a liberdade individual de escolha, que coloca o cinismo de Jonas Crow como o eixo moral da narrativa.  
 
ISLANDER – EXÍLIO
ISLANDER é uma trilogia que nos antecipa um futuro distópico, de Europa palco de crises sociais e climáticas, de fronteiras fechadas e à beira do colapso civilizacional. E se os europeus fossem obrigados a emigrar? Uma narrativa com uma grande actualidade, de leitura cativante e visualmente impactante. A critica completa pode ser lida aqui.

 
HOKA HEY!
Trata-se de um belíssimo western, numa história de vingança, de leitura intensa até ao seu final. A acção de HOKA HEY! decorre em finais do século XIX. O Oeste americano encontra-se conquistado, e o que resta são cicatrizes profundas. O autor, Neyef apresenta-nos uma obra equilibrada, onde a dureza dos factos históricos, que recordam a responsabilidade do opressor, se misturam com a beleza implacável da paisagem, e onde personagens feridas encontram - ou perdem para sempre - a sua redenção. A critica completa pode ser lida aqui.

 
OS FILHOS DE BABA YAGA
Um Louro no melhor dos seus 40 anos de carreira. Um autor que se renova constantemente em termos narrativos e gráficos. Nesta obra, visualmente brilhante, a narrativa conduz-nos numa história negra de sobrevivência de um grupo de orfãos nas estepes geladas da frente russa durante a segunda grande guerra. A doce inocência da infância capitula cruelmente perante um estômago vazio. OS FILHOS DE BABA YAGA foi justamente vencedor do prémio de melhor álbum nacional no festival Amadora BD. A critica completa pode ser lida aqui.

 
CORPO DE CRISTO
É aqui um peixe fora de água. Primeiro estranha-se, depois entranha-se, porque a linguagem da banda desenhada não tem de seguir sempre as mesmas linhas e o mesmo padrão. CORPO DE CRISTO é uma obra ficcionada, que parte das memórias e da experiência real da autora em lidar com a doença mental da sua mãe. Destaco pela ousadia na abordagem gráfica feita de desenhos toscos e páginas bordadas, onde a arte de costureira (da mãe) é aqui transformada numa ferramenta narrativa de denúncia e critica para lidar com as cicatrizes deixadas pela falta de empatia médica, pelo estigma religioso e pela ignorância popular na abordagem da doença mental.

 
 O CASTELO DOS ANIMAIS - O SANGUE DO REI
Os animais da quinta perceberam que todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros, e o movimento de libertação tem aqui o culminar de uma luta desigual. Mas a verdade é que por muito pacifica que possa querer fazer uma revolução, sabemos que no jogo da democracia se escondem jogos de regimes autoritários: propaganda, manipulação e fraude. Dorison explora com mestria os limites e riscos das revoluções não violentas. E Delep é exemplar no registo da expressividade animal. Fecha aqui uma bela aposta da editora.

 
 

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