No rescaldo do AMADORA BD de 2023 que encerrou as suas portas no passado dia 29, não posso deixar passar aqui algumas situações que revelam que 34 anos depois o festival ainda tem muito para melhorar.
O último fim-de-semana foi dominado pela presença do galego Miguelanxo Prado, que se pode dizer que é um quase residente em Portugal. Felizmente para nós. Ainda no ano passado marcou presença na nossa Comic Con, e este ano voltou a visitar-nos com a mesma simpatia e disponibilidade.
Domingo. As senhas para as sessões de autógrafos começam a ser distribuídas a partir da 14h. A fila começa a formar-se pouco depois das 12h. A fila para senhas foi a “originalidade” deste ano. No Amadora BD as tradicionais filas para os autores é agora "coisa do passado". Serão duas horas de espera. O tempo passa-se com conversas. Entretanto as apresentações “às moscas” decorrem paralelamente exatamente no lado oposto da tenda. Falta do dom da ubiquidade aos visitantes do festival.
Finalmente chega a hora. Cada visitante recebe uma senha por autor pretendido. A sexta pessoa da fila recebe a senha MP 11 (eu traduzo: é a senha n.º 11 para o Miguelanxo Prado). Desculpa?! Pois é, parece um daqueles problemas matemáticos com várias respostas: estão seis pessoas numa fila e cada pessoa recebe uma senha por ordem de chegada. Qual é o número da senha da sexta pessoa? A resposta certa é depende. Se a fila for fora do festival, a resposta certa é seis; se a fila for dento do festival, então aí a resposta é onze. Eu já tinha escrito que este Amadora BD prima pelas originalidades! A pessoa atrás de mim comenta que é a 29ª pessoa da fila e ainda alimenta esperanças em receber um desenho autografado do Prado. Digo-lhe para esquecer. As 20 ou 30 senhas MP disponíveis devem chegar para as dez primeiras pessoas da fila. A hora de espera foi inútil. As meninas que distribuem as senhas fazem bem o seu papel: dão uma com uma mão e retiram outra com a outra mão. É surreal este festival.
Sigo para os restantes autores. Algumas caras novas. A autora Alice Prestes (Vinil Rubro) é uma delas. Tenho a senha AP 06. O quadro eletrónico revela que já chamou cinco números. Sou o próximo. Aguardo a minha vez. De repente, o surreal entra em cena. Antes que pudesse chamar mais um número, a autora é “expulsa” por quem gere o espaço dos autógrafos. Na verdade, não é a primeira vez que vejo isto acontecer no festival. Autores convidados a sair sem assinarem os livros daqueles leitores que esperam pacientemente há já algumas horas. Que eu tivesse observado, aconteceu com o Paulo Airosa, com a Rita Alfaiate, com o Jorge Coelho, com o Osvaldo Medina, com o Dário Duarte. Por coincidência (ou não) todos autores nacionais. Eu escrevi que era surreal, mas a verdade é que roça mesmo a falta de respeito, primeiro com o autor e depois com o visitante. Os autores para não defraudarem as expectativas dos leitores acedem em assinar os livros dentro dos stands das editoras, em espaços mínimos improvisados. E é este o maior evento nacional de promoção da banda desenhada e dos seus autores.
Bem podem pintar o festival com mil elogios, mas não se iludam, porque na verdade neste Amadora BD há muita coisa que não bate bem.
Vou só deixar aqui duas sugestões:
- O festival abre as portas às 10h da manhã. Iniciem a distribuição das senhas logo a partir dessa hora. Primeiro a chegar, primeiro a servir-se. Elimina-se as estúpidas filas para senhas que como já se percebeu não são garantia de coisa nenhuma, e sobretudo poupa-se tempo, muito tempo que pode ser bem aproveitado pelos visitantes para assistir por exemplo às…. apresentações.
- A mesa curva de autógrafos permite que onze(?) autores estejam presentes em simultâneo. Arranjem uma segunda mesa, e disponham-nas a formar por exemplo uma figura convexa. Sentem os autores no meio, costas com costas. Duplicam logo o número de lugares, e sobretudo respeitam o trabalho e disponibilidade do autor e a presença e paciência do visitante do festival.
De nada. E até para o ano!