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07 março, 2024

As Melhores Leituras de 2023

Serve este para reparar a falta comigo mesmo. Para fechar o Balanço de 2023 faltava-me deixar aqui as minhas melhores leituras do ano. A ideia é destacar apenas as “melhores das melhores” leituras que fiz dentro do que se publicou no mercado nacional durante o ano passado, fugindo daquele facilitismo de nomear tudo e todos. Posto isto, digo que foi um mais ano generoso o que dificultou alguma escolha entre os quase trezentos e cinquenta novos lançamentos contabilizados.

É verdade que mais de metade do que foi editado, quer seja pelo desenho, quer seja pelo argumento, não me despertou qualquer interesse ou entusiasmo, possivelmente porque ou não me enquadro no público-alvo daquelas edições ou então simplesmente porque as edições não o merecem. Por outro lado, outras obras há que me encheram as medidas, pelo cuidado na edição, pela qualidade do argumento, pela excelência do desenho. E foram estas as que nos ficam na retina, e que me facilitou depois esta tarefa de escolha. O mais difícil do exercício é o de completar o TOP 9 com a selecção de mais dois ou três álbuns entre uma oferta que se mostrou de grande qualidade. Mas cheguei lá.

São estas as melhores bandas desenhadas de 2023, um tributo à sublime arte de contar histórias em narrativa gráfica, cuja leitura recomendo fortemente:

(mosaico com disposição aleatória)

 

(apresentação das obras por ordem alfabética)

1629 - O Boticário do Diabo… ou a história apavorante dos náufragos do Jakarta

Sente-se permanentemente a tensão a bordo nesta obra! Na primeira parte de um díptico embarcamos num navio da Companhia Holandesa das Índias Orientais do século XVII, para uma viagem que já sabemos que não vai acabar bem. Baseado numa história verídica, o argumentista Xavier Dorison proporciona um excelente momento de leitura, trazendo-nos com mestria a atmosfera de conflito latente reinante entre uma trágica tripulação, resultante de um jogo psicológico de interesses e de desequilibro de poderes entre os vários protagonistas, ao qual o traço realista de Thimothée Montaigne confere uma dimensão ainda mais negra. Grande expectativa para o segundo volume. A edição é da Arte de Autor. 

Blacksad - Então, tudo cai - Segunda Parte

Começo pelo óbvio: é tudo muito bom no universo antropomórfico de Blacksad! Neste álbum recuperamos a leitura para a segunda e conclusiva parte da mais longa das aventuras. Juan Díaz Canalès embalou-nos para mais um policial bem conseguido numa Nova Iorque onde os fios da construção e da corrupção tecem uma teia que aprisiona a cidade. A riqueza da narrativa centra-se no retrato social perfeito das suas personagens. Um microcosmo de complexidades e contradições. E Juanjo Guarnido brinda-nos (mais uma vez) com o seu traço exuberante e esplendoroso, preenchendo o desenho com múltiplas e deliciosas referências. A história, tal como uma investigação, vai-se descobrindo entre desenvolvimentos e reviravoltas, com o cair das máscaras até desenlace final tão inesperado quanto o destino que aguarda cada personagem. Maravilhosa leitura. A edição é da Ala dos Livros. 

Em Busca do Tintin perdido

Em páginas que são janelas para a alma, Em Busca do Tintin perdido, obra de cariz biográfico do brasileiro Ricardo Leite, é uma ode apaixonada à nona arte! Cada bela ilustração é um sussurro de admiração e cada palavra um tributo. Ao longo de mais de duzentas páginas, seguimos com o autor na sua demanda pelo "bichinho" da banda desenhada. Numa viagem ao interior da sua prolífica imaginação, somos convidados a ser mais do que leitores - somos exploradores de um território onde as múltiplas referências e metáforas são estrelas a seguir e as conversas com os autores do panteão bedéfilo são luzes que iluminam o caminho. Com jogos gráficos que subvertem os habituais cânones da narrativa sequencial, estes são verdadeiras e inspiradas homenagens que o autor presta aos mestres que moldaram o seu sonho. Esta edição de A Seita não é apenas um livro; é um portal para um mundo onde a banda desenhada é a linguagem universal. 

Frankenstein de Mary Shelley

Depois do seu magnifico trabalho com Drácula de Bram Stocker, só podíamos esperar que Georges Bess espalhasse o seu talento em mais uma bela e fiel adaptação de um conto gótico. E aconteceu com este clássico Frankstein de May Shelley. Um resultado cinco estrelas. Um registo num traço a preto e branco, de recorte fino e repleto de detalhes consegue que acentuar a dramatologia de uma trágica história de ambição desmedida e incompreensão humana. A capacidade narrativa do autor permite aqui replicar a empatia do leitor em relação à infeliz criatura. Trabalho fantástico. A edição é A Seita.

Mattéo - Sexta Época (2 de Setembro de 1939 – 3 de Junho de 1940)

Estamos perante o desenlace de uma bela saga que em seis épocas revisitou um quarto da nossa História, numa história de paixão e perda, sacrifício e infortúnio, condicionada pelas emoções de encontros felizes e infelizes. Temos uma narrativa que navega pelos turbulentos conflitos militares do século XX, desde as trincheiras da Primeira Guerra Mundial, passando pelos ecos da Revolução Russa, até aos clamores da Guerra Civil Espanhola para chegar à segunda Grande Guerra. É neste palco, que o autor Jean-Pierre Gibrat traz-nos a metamorfose de um herói da grande guerra em desertor condenado, na personagem de Mattéo, filho de um anarquista espanhol, um belo estereótipo de todos os sonhadores utópicos que acreditam na bondade e na beleza dos ideais revolucionários. A arte que acompanha é simplesmente extraordinária, uma sinfonia visual pintada com mestria a aguarela, e donde sobressai, mais uma vez, a grande sensualidade das personagens femininas de Gibrat, com grandes semelhança de outras histórias, mas sempre belas de admirar. Magnifica colecção, composta por seis álbuns, selada com distinção pela Ala dos Livros. 

Monster – volume 1

De leitura voraz, estamos temos uma história sinistra e complexa, mas simultaneamente cativante. Aborda questões morais (todas as vidas terão o mesmo valor?) da responsabilidade e das consequências de nossas escolhas. São estas as premissas para a viagem entre as sombras da personagem principal, o médico Kenzo Tenma, aos limites da natureza humana, numa narrativa habilmente explorada por Naoki Urasawa, com um rol de personagens bem estruturados, que evolui freneticamente através de sucessivos desenvolvimentos e ramificações da perseguição a um assassino em série numa Alemanha pós-muro. O desenho num registo clássico é preciso, detalhado e realista servindo muito bem um mangá da categoria seinen. Este é o primeiro tomo de uma colecção composta por volumes duplos, numa excelente aposta da editora Devir. 

Sou o Seu Silêncio – Um Policial em Barcelona

O autor espanhol Jordi Lafebre, que já nos tinha cativado anteriormente com a comédia romântica Apesar de Tudo, regressou agora com um enredo policial. Assume mais uma vez a escrita e o desenho. A história desenrola-se a partir de uma consulta de terapia da extrovertida Eva Rojas, uma jovem psiquiatra com problemas de personalidade. A misteriosa morte de um herdeiro durante uma reunião familiar, naquilo que quase parece ser um clássico para as aventuras do detective Hercule Poirot, é o ponto de partida para uma divertida narrativa, muito por culpa da Eva. É a força desta personagem, com a sua atitude desafiante e ao mesmo tempo sedutora, que nos toma toda a atenção ao longo da história. Pode-se dizer que começa a existir uma imagem de marca de Lafebre: as suas personagens cativantes. De leitura deliciosa. A edição é da Arte de Autor.

Spirou - A Esperança Nunca Morre... (terceira parte)

O terceiro volume de quatro de uma magnifica obra que destaca por uma história impactante, eco da gravidade dos eventos que a moldaram. Em A Esperança nunca morre… o autor Émile Bravo revisita um dos capítulos mais marcantes da história da Bélgica, com a invasão do território pelas tropas alemãs no decurso da Segunda Guerra Mundial. Servindo-se da ingenuidade da personagem do Spirou - aqui fora do registo aventureiro a que estávamos habituados - transforma-o em símbolo de consciência humanista perante o horror da guerra e das suas consequências. É através de Spirou e de um ambíguo Fantásio, que somos apresentados a uma gama de personagens humanos e complexos, cada um lutando com suas próprias batalhas internas e externas. É o drama da ocupação contado com uma sensibilidade e toques de humor que transcendem as páginas. Bravo de uma forma tão emocionante quanto educativa, retrata a esperança em tempos de desespero, a coragem face do medo e a resiliência contra todas as probabilidades. Uma bela e bem conseguida história numa excelente aposta da editora ASA.

Uma Estrela de Algodão Preto

No palco da História, onde o drama da Segunda Guerra Mundial se desenrola, Yves Sente, numa narrativa poderosa, tece uma tapeçaria de emoções humanas - injustiça, orgulho, coragem – numa colagem que transcende o tempo, num conseguido equilíbrio entre diferentes épocas. No ano de 1944, três soldados negros americanos, marginalizados por uma política de segregação vigente no exército dos EUA, mas determinados em honra, oferecem-se como voluntários para uma difícil missão que desafia a morte, de recuperar a primeira bandeira que foi feita para representar os Estados Unidos, e cujas estrelas escondem um segredo que remonta a 1776. É o começo de uma nova frente na história de luta pela igualdade e respeito, onde o horror da guerra é graficamente realista graças ao magnífico desenho de Steve Cuzor (um autor a reter), onde cada traço é uma homenagem à bravura, cada sombra uma meditação sobre a tragédia. Uma história densa e emotiva, que tem tanto de enriquecedora como de envolvente, termina mostrando a trágica banalidade das pequenas conquistas. Soberbo. Uma obra que envolve o leitor. Se tivesse de escolher apenas um álbum, sem hesitação, esta seria a minha escolha de 2023. Primorosa edição com a chancela da Ala dos Livros. 

 

30 dezembro, 2022

As Melhores Leituras de 2022

Como já vem sendo hábito publico aqui o meu Top 9 do ano relativamente aos melhores álbuns que li durante o ano que agora termina. Apesar os tempos incertos em que vivemos, tivemos um 2022 rico em novidades numa quantidade tal que prevejo que dificilmente se repetirá nos próximos tempos. Editou-se por cá coisas muito boas numa oferta bastante diversificada de grande qualidade narrativa e gráfica e em belas e cuidadas edições. Dito isto, nas leituras que tenho vindo a fazer, posso afirmar que há álbuns incontornáveis, outros quase obrigatórios e alguns que foram verdadeiras surpresas.
 
Para quem acompanha este blogue, estas minhas escolhas já não devem constituir qualquer surpresa porque encontram-se incluídas nas sugestões que fiz para o Natal. Devo dizer que não foi um processo de escolha  fácil - nenhuma o é - e podia referir mais uma mão-cheia de obras que mereciam uma menção honrosa, mas a ideia aqui é mesmo destacar os melhores entre os melhores.
 
O franco-belga domina indiscutivelmente os meus gostos, e quanto a isso não há remédio. Uma palavra adicional para mais uma nomeação de Luís Louro, indiscutivelmente o mais completo dos autores nacionais, e como tal um excelente representante do melhor que se faz na BD nacional. A presença de uma obra mangá justifica-se porque este género teve este ano a sua explosão no nosso mercado, não só pelo numero de novidades (+60) mas igualmente pelo número de editoras que este ano incluíram este género no seu catalogo, e este One-Piece traz lá de fora números verdadeiramente demolidores.
 
Assim, sem qualquer critério na disposição ou arrumação, e a formar o quadrado perfeito, são este os obrigatórios e as minhas Melhores Leituras de 2022:


De cima para baixo, da esquerda para a direita, são estes os títulos e editoras: 

  • A ADOPÇÃO  -  Ed. Ala dos Livros
  • NOIR BURLESCO  -  Ed. A Seita / Arte de Autor
  • DANTE  -  Ed. Ala dos Livros
  • A VINGANÇA DO CONDE SKARBEK  -  Ed. Arte de Autor
  • LITTLE TULIP  -  Ed. Ala dos Livros
  • SPIROU - DIÁRIO DE UM INGÉNUO  -  Ed. Asa
  • MONSTROS  -  Ed. G.Floy
  • UNDERTAKER, vol. 3 - O MONSTRO DE SUTTER CAMP  -  Ed. Ala dos Livros
  • ONE PIECE, vol. 1 - A ALVORADA DA AVENTURA  -  Ed. Devir
 

03 janeiro, 2022

As Melhores Leituras de 2021

Terminadas as festa e findo o ano, é tempo de balancearmos! E nada melhor do que começar pelos melhores. Posso, em termos de leituras, afirmar que o ano transacto foi rico e de muita qualidade. De tal forma que confesso, que tive alguma dificuldade na selecção dos melhores álbuns que li, entre os lançados/editados durante 2021. E à semelhança do que já tinha feito no ano passado, inspirado pela hashtag #topnine apenas elejo nove obras. A ideia é mesmo destacar as melhores, dentro das melhores. Todas estas merecem a minha nota máxima. Escolhi aquelas que me trouxeram um enorme prazer na sua leitura, em função da temática, da história, do desenho, da edição. Como não podia deixar de ser a BD de origem franco-belga domina quase na totalidade, mas curiosamente não há um western, uma das minhas temáticas de eleição, representado neste top. Mas não foi por falta de oferta de bons álbuns, apenas houve outros que se sobrepuseram. Assim, sem qualquer critério na disposição ou arrumação, deixo aqui o quadrado perfeito das minhas Melhores Leituras de 2021:
 

Breve critica das minhas melhores leituras:

  • Drácula, da editora A Seita
George Bess não é um perfeito desconhecido do leitor português, mas tem aqui na adaptação do conto Drácula de Bram Stoker, um dos seus melhores trabalhos publicados por cá. Num clássico registo a preto-e-branco, Bess subverte a tradicional arrumação de vinhetas, para nos conduzir com mestria, através de espaços gráficos, quadros desconstruídos, numa narrativa que se mantém fiel ao original, aqui ilustrada num traço vitoriano elegante, e generoso em detalhes, que facilmente nos cativa. Depois ter visto a fantástica exposição de originais no festival Amadora BD, as páginas deste Drácula ganharam um novo encantamento. 
 

 
 
 
 
  • Long John Silver, da editora ASA
O que dizer de um dos meus pedidos (entre outros) para 2021? Um bom conto de piratas sempre povoou o imaginário popular, e Xavier Dorison e Mathieu Lauffray preenchem esse espaço com esta excelente história, construída em torno de uma das personagens mais enigmáticas do clássico «A Ilha do Tesouro». A narrativa assinada por Dorison leva-nos numa improvável caça ao tesouro, onde a cobiça e a traição deixam o desenvolvimento de Long John Silver num rumo imprevisível. A arte de Laufray dá-lhe substância, num registo gráfico irrepreensível, de puro deleite visual. A história distribuida o longo de quatro álbuns é, sem dúvida, uma das colecções do ano, até porque há muito que se justificava esta edição por cá.






  • O Burlão nas Índias, da editora Ala dos Livros
Desde do título até à ultima das suas 160 páginas, somos deliciosamente  levados ao engano com este álbum. As "Índias" do título são na realidade as Américas. Mais concretamente, o cenário é o Peru conquistada por Pizarro. É neste Novo Mundo que seguimos a história de  Dom Pablos de Segóvia, um aventureiro, um vagabundo exemplar, o burlão do título, a quem a sorte protege, na sua viagem em busca pelo mítico El Dorado. A narrativa é toda ela surpreendente e inesperada, com a traição e a sobrevivência entrelaçadas, trazendo-nos uma história dentro de cada história. Guarnido é um mestre do desenho, já o sabemos, mas aqui atinge o pináculo. Uma arte expressiva nas personagens, com um traço rico em pormenores e exuberante nas paisagens, a quem as cores dão uma dimensão absolutamente extraordinária, que deslumbra a cada virar de página. O Burlão nas Índias é uma edição SOBERBA a todos os níveis.
 
 

 
 
 
  • Lena, da editora Arte de Autor
Foi surpreendente esta edição de Lena, uma trilogia reunida numa único álbum. Assinada por Pierre Christin e André Juillard, traz-nos uma temática pouco habitual em banda desenhada, a espionagem. Colocando-se no cenário dos bastidores do terrorismo  internacional, explora as diferentes motivações, de cada lado, num trabalho de ficção politica que provavelmente não andará muito longe da verdade. Aqui, em cada uma das histórias, todo o enredo desenvolve-se muito lentamente, e os "serviços" da personagem central, uma mulher com as suas motivações e dúvidas, vai-nos cativando com expectativa no desenrolar dos acontecimentos, de tal forma que sentimos que entramos num dos livros assinados pelo escritor John Le Carré. Juillard tem aqui mais um belo trabalho no clássico traço realista de linha clara.
 

 



  • O Último Espadão, da editora ASA
Posso dizer que foi um dos melhores B&M que li nos últimos anos, e daí o merecido lugar nesta minha selecção. Van Hamme confirma-se como um dos grandes contadores de histórias, e faz aqui (mais) um belíssimo trabalho. Partindo de O Segredo do Espadão, de Jacobs, onde foi buscar todas as referências para esta aventura, cria neste O Último Espadão uma "continuação" muito bem conseguida, plena de acção, onde até há palco para brilharem personagens secundárias que se encontravam esquecidas. No desenho, nada a apontar, Teun Berserik e Peter Van Dongen, cumprem com rigor a linha jacobiana. Missão cumprida!
 

 



  • O Relatório de Brodeck, da editora Ala dos Livros
Preparem-se para uma viagem gráfica ao pior da natureza humana! A fama deste livro já procedia a sua edição, e justifica-se plenamente. A história crua e triste sobre o mal dos Homens. O ambiente transporta-nos para uma aldeia isolada, num pós-guerra com feridas por sarar, onde depois de um crime sem castigo, reina a desconfiança e o medo. O instinto de sobrevivência faz despertar as piores características do homem, e o autor Manu Larcenet ilustra-o n'O Relatório de Brodeck de forma brilhante. Num traço propositadamente rude e pouco dado a detalhes, trabalhando magnificamente sobre um jogo de sombras, submerge o leitor numa atmosfera pesada, enquanto assistimos no silêncio das páginas à banalização do mal, ao mais cobarde dos crimes. Não saímos indiferentes desta leitura! Numa edição toda ela pensada até ao pormenor, onde não falta uma marcador, a obre apresenta-se servida em versão integral, e num formato italiano, o que convém para um livro com mais de 300 páginas e 1,7kg de culpa peso.
 

 
 
 
 
  • O Corvo V - Inimigos Íntimos, da editora Ala dos Livros
É o único representante nacional nesta minha selecção. Sem qualquer desprimor pelos restantes bons e interessantes autores portugueses publicados, a verdade é que o Louro encontra-se actualmente num patamar superior. Está numa das suas melhores fases da carreira como autor e isso reflecte-se nos seus álbuns, onde assina o argumento e o desenho. Este quinto álbum d' O Corvo é um reflexo disso. Em Inimigos Íntimos, Louro começa a dar substância a todo este universo, e desta vez vamos até à infância do nosso herói para perceber (tentar) saber a origem da sua crise existencial. Sim, os heróis (os super) também sofrem disso. O resultado é, mais uma vez, uma brutalidade de luz e cor e... humor!
 

 



  • Apesar de Tudo, da editora Arte de Autor
Para quem conhecia Jordi Lafebre apenas pelo seu trabalho de desenhador em Verões Felizes (com o argumento de Zidrou), este Apesar de Tudo, onde se assume como autor completo, constitui uma das mais belas surpresas de 2021. Lafebre assina aqui a história de amor do ano. Contada de uma forma simples, e inteligente, com tempo, ao longo de 20 capítulos. Aliás, intencionalmente começamos a leitura do álbum justamente pelo último capitulo (ou será o primeiro?). E tudo funciona numa perfeita harmonia, a liberdade de Zeno e a responsabilidade de Ana, os encontros e desencontros, os diálogos e os ambientes, os desenhos e as cores. Acabamos a sua leitura de coração cheio, com a certeza que apesar de tudo, haverá sempre tempo. E este álbum, é para se ler duas vezes!






  • Blacksad 6 - Então, tudo cai (primeira parte), da editora Ala dos Livros
O que se pode dizer sobre o regresso de uma das mais conhecidas (e de sucesso) série antropomórfica do universo da banda desenhada? Neste sexto volume de Blacksad, o cenário transporta-nos agora para uma Nova Iorque, dos anos 50, numa América em pleno crescimento económico, o palco fértil para que esteja instalada uma sede de poder insaciável, ambições desmesuradas e claro muita corrupção. Juan Díaz Canalès explora bem todo este cenário, servindo-se uma vez mais de uma galeria rica de personagens, que criam as condições numa narrativa, que decompõe por camadas sociais todos os diversos interesses em jogo. Sobre a arte de Guarnido, repito-me "um desenho expressivo, com um traço rico em pormenores, a quem as cores dão um dimensão absolutamente extraordinária". Bem sei que se trata só da primeira parte da história, mas tudo já se revela bastante promissor, e já aguardo com expectativa pelo seu desenlace. 




Bom Ano Novo e que traga boas leituras! 

Nos próximos dias, conto trazer aqui o Balaço e a listagem de todos os lançamentos de 2021!

30 dezembro, 2020

As Melhores Leituras de 2020

O caminhar rapidamente para o fim de mais um ano, é sempre um bom pretexto para se fazer balanços, escolhas, listas. Apesar do malfadado 2020 não deixar grande saudades, a verdade é que em termos de lançamentos e novidades por cá, nós leitores de banda desenhada, não temos muito capital de queixa. É verdade que poderia ter sido excelente ano mas a pandemia não deixou acontecer. Mas também não é menos verdade que houve muita qualidade. E por causa disso não foi uma escolha fácil. Escolhi aquelas edições que deram um genuíno prazer de leitura desde da primeira até à ultima página. E como achei redutor destacar aqui apenas três ou cinco títulos como excelentes e recomendadas leituras, roubo o quadrado perfeito do #topnine do Instagram, para as minhas nove escolhas nas «Melhores Leituras de 2020» em banda desenhada publicada em Portugal. Assim, sem qualquer critério na disposição no quadrado, as minhas recomendações arrumam-se assim:
 
 


De cima para baixo, da esquerda para a direita, são estes os títulos e editoras: 

Os votos de Boas leituras!