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07 janeiro, 2025

O Estado da Arte em 2024

 

Análise do Mercado Editorial Nacional de BD em 2024

Introdução 

O mercado nacional de banda desenhada (BD), desde sempre considerado de nicho, tem apresentado, nos últimos anos, taxas de crescimento bastante significativas, quer pela crescente popularidade de manga entre os novos leitores, quer pela proliferação de romances gráficos que abrangem desde clássicos internacionais até criações originais de autores nacionais. Tal envolvido um número crescente de editoras, que veem na BD um interessante segmento capaz de diversificar a oferta do seu catálogo e atrair novos públicos. A BD continua assim a conquistar um espaço significativo na cultura literária.

O presente contributo pretende dar uma visão do mercado editorial nacional em 2024, destacando as maiores editoras, os géneros mais populares, observando a evolução dos números e as principais tendências do mercado. É importante ressalvar desde já ressalvar que uma análise mais precisa exigiria dados específicos, mas não existe, ou não está disponível, informação compilada e consistente acerca das tiragens, das vendas e consequente quotas de mercado das nossas editoras. Esperamos pelo dia que estes números sejam conhecidos no nosso país.

Por conseguinte, a análise far-se-á com recurso a informação complementar que foi possível recolher e tratar, conseguindo-se assim o suficiente para aferir sobre o Estado da Arte em Portugal.

Centrando-se esta análise no mercado editorial português, e tendo como foco a edição de BD em Portugal por parte de editoras nacionais, as publicações independentes de autores e as revistas amadoras distribuídas em mercados alternativos (fanzines) não foram aqui consideradas por serem de difícil inventariação, bem como as simples reimpressões, as edições estrangeiras ou em língua estrangeira ainda que com distribuição em Portugal. Ficaram igualmente de fora desta análise, todas as publicações relacionadas com a banda desenhada, e aqui inclui-se estudos, ensaios, entrevistas, enciclopédias, etc.

Fazendo um enquadramento, o segmento da BD faz parte de um mercado livreiro maior, que em Portugal, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), relativamente a 2023, avaliava em 187 milhões de euros. A BD será responsável por uma parcela modesta deste montante. Em mercados europeus estima-se que as vendas se situem entre 5% a 10% do total do mercado editorial, dependendo do país e da popularidade da BD. Em Portugal, atendendo à reduzida dimensão do nosso mercado, será seguro dizer que uma percentagem conservadora apontará para um valor não superior a 5%. 

Visão geral do mercado português de BD em 2024

Em 2024, o mercado editorial nacional de banda desenhada consolidou-se como um segmento dinâmico e diversificado, refletindo o crescente interesse por esta arte em Portugal. Na verdade, atravessamos um novo período dourado, e isso encontra-se reflectido nos números aqui apresentados, de nº de editoras/chancelas, de novos lançamentos e de procura por informação relacionada. Este bom momento também se estende à BD portuguesa, que apresentou níveis de produção como não se via há alguns anos.

Os Lançamentos

Em 2024, foi registado o melhor resultado de sempre em termos de nº de novos lançamentos de livros de BD, no formato físico, em Portugal. Foram contabilizadas 384 novidades, na contagem pelo ISBN (a listagem completa está disponível AQUI), o que se traduz numa taxa de crescimento de 9% face a 2023, período no qual já se tinha verificado um excelente resultado. Observa-se que se trata do terceiro ano consecutivo de crescimento da oferta de banda desenhada no nosso mercado. 

Numa tentativa de segmentação, pode-se dizer que por origem, o peso da banda desenhada estrangeira continua dominante no mercado português. Mantêm-se a influência do mercado francófono, mas acompanhado agora pelo mercado asiático, que tem revelado crescentes taxas de crescimento.

Assim, com uma taxa de 43% o mercado europeu de banda desenhada mantém-se assim como o principal fornecedor de histórias para as nossas editoras. A este valor soma-se ainda 16% referentes à edição de obras portuguesas, que teve em 2024 um dos seus melhores anos, com um total de 60 novos lançamentos. Depois da queda verificada no ano passado, temos agora a recuperação. Contam-se mais de duas dezenas de editoras nacionais a apostar na BD portuguesa, e este ano com destaque para a Levoir com a sua colecção Clássicos da Literatura Portuguesa em Banda Desenhada. Sem surpresas, na segunda posição, encontramos o mercado asiático, o qual já é responsável por 28% da oferta. Incluem-se aqui as histórias oriundas do Japão, China, Coreia. Em queda livre, está o mercado norte-americano que garante apenas 10% da oferta. O fim da colecção Clássica Marvel da Atlântico Press e a desistência da Levoir do selo editorial da DC Comics são a causa responsável. 

No ano de 2024, destaca-se a consolidação de algumas tendências no mercado de BD nacional.

Entre elas, observa-se a enorme popularização do mangá, o que levou sete das dez maiores chancelas editoriais a apostarem neste género. Outra tendência relevante foi o aumento na edição de adaptações literárias, especialmente em formato de novela gráfica. 

Paralelamente, verificou-se um número significativo das reedições (9%) e aqui considera-se mais do que uma simples reimpressão, ou seja, uma alteração substancial da obra que tenha originado a atribuição de um novo ISBN.

Adicionalmente, houve um forte incremento na publicação de banda desenhada destinada ao público infanto-juvenil. Um segmento em franco crescimento, que representou cerca de 14% da oferta total do ano, com os grupos Porto Editora e Penguin Livros a serem responsáveis por mais de 50% das novidades lançadas no período.

Relativamente à ordenação de cada título existe uma grande dificuldade de enquadramento devido sobretudo à inexistência de um sistema comummente aceite e à enorme variedade de géneros que se podem encontrar, dependendo então a sua classificação de diferentes critérios e abordagens. Não obstante, verifica-se que as obras de acção/aventura continuam no topo de preferências, seguido das temáticas históricas e das biografias gráficas. Em queda livre encontram-se os westerns e as aventuras de super-heróis.

Em termos de distribuição, a disponibilização dos títulos ao longo do ano apresentou extremos históricos. Embora a média mensal tenha sido de aproximadamente 32 novidades, a sua distribuição revelou-se irregular, oscilando entre um mínimo de 4 lançamentos em Dezembro e um pico de 72 novos títulos em Outubro, tradicionalmente o mês mais forte no nosso mercado editorial. De realçar que o último quadrimestre concentrou mesmo assim o maior volume de lançamentos, reforçando a tendência de intensificação das novidades editoriais nesse período do ano. 

 


Em 2024, o cabaz completo, composto por todos as novidades de BD editadas em Portugal, apresentou um custo total de € 6.627,52, com o preço médio de um livro de BD a fixar-se em € 17,26. Em termos de preço de capa, a edição mais barata que encontramos foi a reedição de A Loja da editora Polvo por € 8,90. No extremo oposto, como a mais cara, tivemos a edição integral de BRZRKR da editora G.Floy, com o preço de € 50,00. Assinala-se que o valor de venda mais praticado foi de € 9,99, correspondente ao preço de referência praticado pela editora Devir nas suas edições de manga.


As Editoras

Em termos de editoras (ou chancelas) de BD activas em Portugal tivemos um novo máximo, que passou as cinco dezenas, totalizando as 53. Contabilizam-se aqui todas aquelas que tenham pelo menos editado, em 2024, uma obra de banda desenhada, com ISBN atribuído. Observa-se que é um número que tem vindo a crescer paulatinamente desde 2020. 

Conforme referido inicialmente não existe informação disponível acerca dos valores de vendas e de tiragens, pelo que aqui a  “quota de mercado” das editoras será definida em função do número de novos lançamentos de cada uma face ao total do mercado.

No topo das editoras nacionais encontramos (de novo) a DEVIR. Se em 2023 já tinha alcançado excelentes números, em 2024 bateu todas as marcas. Em número de novidades, foram contabilizados 64 novos lançamentos, correspondente a 17% da oferta nacional de banda desenhada. É a principal responsável pela enorme oferta de manga que temos actualmente, o que lhe confere pelo quarto ano consecutivo o título da editora mais activa do mercado. E promete não ficar por aqui, porque para 2025 já anunciou o estender o seu catálogo ao franco-belga e a aquisição dos direitos de publicação da americana DC Comics

A segunda posição vai para a ASA. Com 54 lançamentos assume uma quota de 14%. A editora tem estado bastante dinâmica desde a sua reestruturação, e apostou na abertura do seu catálogo de BD a novos leitores, apostando em várias frentes, desde títulos de origem franco-belga, ao pisca de olho ao público adolescente com as colecções de manfras e à edição títulos dedicados a um público infantil. O resultado é um crescimento da sua oferta em 35% face ao registado no ano anterior. 

No terceiro lugar deste pódio está a LEVOIR. Registou um excelente ano com 42 lançamentos o que lhe confere uma quota de 11%. Destaca-se a sua aposta em coleções, com o lançamento da oitava série de novelas gráficas em parceria com o jornal Público e uma colecção dedicada à adaptação de clássicos da literatura portuguesa para BD, com a assinatura de autores nacionais. A aposta falhada nos títulos da DC Comics é agora compensada com um virar de página a oriente. O novo ano deve trazer novidades sobre esta matéria. 

A análise dos dados confirma a manutenção de um mercado concorrencial, com as dez principais chancelas a concentrarem em si cerca de 71% da oferta nacional, um percentual em linha com o observado no ano anterior.

De realçar que entre estas, apenas quatro se encontram exclusivamente dedicadas à edição de banda desenhada. As demais podem-se considerar com um perfil mais generalista, integradas em grupos editoriais, onde a BD é editada em conjunto com outras categorias de livros. Adicionalmente, a restante oferta encontra-se distribuída por um grande número de pequenas e médias editoras/chancelas, cujo catálogo de banda desenhada é reduzido.

Gostava de chamar aqui a atenção para o caso especial que constitui a Penguin Livros, a sucursal portuguesa do grupo internacional Penguin Random House. 

Apresenta um total de 24 chancelas editoriais, cada uma direcionada para um género em particular ou um determinado público-alvo. No entanto observa-se que oito delas (a saber, a Iguana, Distrito Manga, Booksmile, Nuvem de Letras, Cavalo de Ferro, Elsinore, Fábula e Objectiva) editaram, pelo menos, uma obra de banda desenhada em 2024. 

Na listagem acima das maiores editoras, encontramos a Distrito Manga num 7º lugar com um total de 15 lançamentos, que faz desta chancela o principal selo da Penguin na edição de BD em Portugal. Mas considerássemos o total do grupo, verificávamos que o seu somatório totaliza 42 edições de BD, um resultado que conferia à Penguin Livros um 4º lugar na classificação das maiores editoras, com uma oferta de 11%. 

 

Os eventos e festivais de BD

Os apoios públicos, em especial das câmaras municipais, têm-se revelado como pilares fundamentais na organização de eventos que promovem a 9ª arte e estimulam a criação de novos públicos. Como resultado, o panorama nacional de festivais de banda desenhada apresenta-se cada vez mais diversificado, com uma oferta geograficamente complementar que fortalece a presença da BD em vários pontos do país.

Em 2024, realizaram-se dois eventos no norte do país (a 10ª edição da Comic Con e o 2º Maia BD), um no centro (o 8º Coimbra BD), um no Alentejo (18ª edição do Festival Internacional de BD de Beja) e os restantes a sul (a 2ª edição do LouriBD na Lourinhã, a 5ª edição do IlustraBD no Barreiro e o 35º Amadora BD). Apesar de não dispor dos números oficiais de visitantes de cada evento, quer-se querer que tenham tido uma boa participação de acordo com as expectativas de cada organização, até porque os apoios mantiveram-se e começaram a ser reveladas as datas das edições de 2025.

Os Canais de Distribuição

O recente estudo da empresa da GfK para a APEL sobre Hábitos de Compra e Leitura de Livros revelou a preferência pelas lojas físicas, em particular as livrarias, como o principal ponto de venda de livros em Portugal. 

No segmento da BD, esta dependência das livrarias físicas torna-se ainda mais evidente quando se observa o quase desaparecimento da presença de banda desenhada noutros canais, nomeadamente as bancas de jornais. Este canal de distribuição restringe-se agora às coleções distribuídas em parceria com jornais. Em 2024, destacaram-se duas colaborações com o jornal Público: a oitava série de Novelas Gráficas da editora Levoir, publicada entre Julho e Novembro, e a coleção Tanguy & Laverdure da editora ASA, disponível entre Agosto e Outubro.

Observa-se, no entanto, novas estratégias de adaptação ao mercado, procurando as editoras novos meios de alcançar um público leitor de banda desenhada, e aqui destacaria uma aposta nas chamadas vendas diretas. Apesar de não se dispor de números de vendas, facilmente se percebe que canais editor-leitor apresentam a enorme vantagem económica de eliminação dos custos de intermediação. 

Assim, a aposta passa por canais próprios. Através das lojas online existentes nos sítios da internet da grande maioria das editoras, mas sobretudo pela presença destas nos principais festivais nacionais de BD. E daí observar-se cada vez mais o coincidir de novos lançamentos com a realização destes eventos, e o melhor exemplo disso é dado pelo festival Amadora BD, que se realiza na segunda quinzena de Outubro, que faz concentrar sempre neste mês o maior número de novidades do ano. 

Os Canais de Divulgação

Em Portugal, os principais canais de divulgação a um público vasto passam essencialmente por blogues e fóruns dedicados na plataforma Facebook. Em 2024, se na blogosfera nacional o número de canais divulgadores não sofreu grande variação, rondando a meia dezena de blogues dedicados, em termos de visitantes a coisa muda de figura.

Tomo aqui o exemplo do blogue NOTAS BEDÉFILASporque disponho dos números – que recebeu ao longo de 2024, mais de 250.000 visitantes (mais concretamente 253.248), uma média superior a 20.000 visitas mensais, o que constitui taxa de crescimento de 15% relativamente a 2023. E esta procura de informação verifica-se igualmente no fórum BANDA DESENHADA PORTUGAL, que passou dos poucos mais de 6.000 membros em finais de 2023 para os quase 9.400 membros em finais de 2024. Uma taxa de adesão superior a 50%. Não se pode dissociar este crescente interesse na procura de informação relacionada com o excelente momento que a BD atravessa em Portugal, e que se observa em todas suas várias vertentes.

 
ESTATÍSTICAS DO GRUPO BANDA DESENHADA PORTUGAL EM 2024


 

O Dia Nacional da BD Portuguesa

O ano de 2024 ficará marcado pela oficialização do dia 18 de outubro como o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa. A proposta apresentada pelo partido parlamentar Livre e aprovada pela Assembleia da República, não está associada a qualquer efeméride significativa relacionada com a banda desenhada, resultando sim de um processo unilateral, sem consulta ou discussão prévia com a comunidade bedéfila. Embora a iniciativa merecesse maior cuidado e envolvimento, este dia, ainda que imperfeito, passa a integrar o calendário cultural nacional.

Conclusão

A avaliar por 2024, a banda desenhada em Portugal atravessa um momento notável de vitalidade e crescimento. O nosso mercado editorial tem demonstrado resiliência e capacidade de adaptação, com uma oferta cada vez mais diversificada que atende a um público amplo e variado. Os números extraordinários deste ano, em todas as suas vertentes, revelam que a oferta tem conseguido atrair novos leitores, e fomentar um interesse renovado, impulsionando assim o aumento de chancelas editoriais e consequentemente o número de novos lançamentos. Embora não sejam conhecidos dados concretos de vendas, a aposta continuada das nossas editoras é sempre um bom indicador que o mercado está bem, é promissor e que se recomenda.

Para 2025, o cenário é de certa forma imprevisível. O volume de edições cresceu significativamente nos últimos três anos (+23%), e os números de 2024 devem marcar o limite que o nosso mercado comporta. Estabilizar talvez seja necessário ou aposta passar agora por mais qualidade e menos quantidade. Daqui a um ano nova avaliação. Até lá, que não nos faltem boas leituras! 

 

10 janeiro, 2024

O ESTADO DA ARTE EM 2023


Tempo de Balanços! Como correu o ano bedéfilo de 2023 em Portugal?

O MERCADO

Quando em inícios de Setembro do ano passado fiz aqui uma análise intermédia para saber como estava a correr o ano editorial bedéfilo em Portugal, os números já se revelavam bastante animadores. De tal forma que arrisquei uma estimativa que 2023 fechava com um total de novos lançamentos a rondar entre as 320 a 325 edições. Este número já representava um crescimento de 5% relativamente a 2022, ano que por si só já se tinha revelado bastante surpreendente. A verdade é que errei por defeito.
 
Para falar do nosso mercado, e na falta de dados concretos sobre tiragens e vendas, temos de caracteriza-lo através da informação que se encontra disponível, e para o efeito defini o numero de lançamentos de obras com ISBN atribuído. Se o pudermos caracterizar pelo número de novas edições, então o resultado de 2023, que se traduziu na edição de três centenas e meia de novidades, o que revela que a edição em Portugal de banda desenhada se encontra numa das suas melhores fases, em crescimento, representando este número uma subida de 13% relativamente a 2022 (a listagem completa dos títulos pode ser consultada no ANUÁRIO de 2023).
 
Torna-se legitimo afirmar que nunca se editou tanto por cá, e o que foi alcançado no último ano não encontra paralelo nos últimos dez (e porque não tenho números anteriores a 2013). Não restam portanto muitas dúvidas que o sector editorial de banda desenhada em Portugal encontra-se, ano após ano, mais pujante e dinâmico. E a pergunta que fica para 2024, é qual o nosso limite? 
 
Por origem, o peso da banda desenhada estrangeira continua dominante no mercado português. Mantêm-se a influência do mercado francófono, acompanhado pelo americano e agora com a forte concorrência asiática (principalmente mangá) que já representa 22% dos lançamentos. A BD portuguesa tem tido alguma dificuldade em afirmar-se de forma sustentada, tendo apresentado em 2023 um decréscimo na oferta, representando agora apenas 11% das novidades.
 
Por períodos de oferta, os meses de Junho e Outubro continuam como os mais fortes do ano, o que não será indiferente o facto de coincidir com as datas de realização dos festivais de banda desenhada de Beja e da Amadora. Aliás, os festivais de BD continuam a ser por excelência uma verdadeira montra para as editoras, que começa a ser uma tendência surgirem associadas ou na qualidade de co-organizadoras dos eventos em conjunto com câmaras municipais, como acontece já nos novos festivais que começam a proliferar pelo pais, como é o caso do Maia BD, Coimbra BD e Louri BD (Lourinhã).

AS EDITORAS

Em 2023 tivemos cerca de 50 editoras activas (considero aqui todas com pelo menos um livro editado). Continua-se a observar a entrada de novos editores, o que revela que a banda desenhada está a ser vista com um nicho de mercado muito interessante. Cerca de 53% da oferta concentrou-se em cinco editoras sendo o restante distribuído por um grande número de pequenas e médias editoras e editoras com um catalogo reduzido de BD. No entanto, alguns grupos editoriais começam a aproveitar as sinergias entre as suas chancelas para capitalizarem a edição. O melhor exemplo é sem dúvida dado pelo Grupo Penguin House. Teve um total de 26 livros editados (o que lhe valeria um 4º lugar no top), mas apenas 11 são com a chancela da Iguana, o seu principal selo na edição de BD. 
 
Entre as mais activas, ou aquelas com a maior oferta, não houve grandes surpresas. Nas duas primeiras posições repetiu-se o pódio do ano passado com a Devir e a Atlântico Press. Editar meia centena de obras de banda desenhada por ano, por razões de vária ordem, não está ao alcance de muitas editoras em Portugal. Nos últimos anos recordo que só a extinta Goody, com a sua combinação de edições Disney e Marvel é que alcançou tais números. Mas em 2023, tanto a Devir como a Atlântico Press alcançaram (e ultrapassaram) pela primeira vez essa marca.
 
A DEVIR domina. Consolida a liderança que alcançou no ano passado com um crescimento de 20%, sendo responsável por 53 novidades (é como se lançasse um novo mangá todas as semanas) a que corresponde a uma quota de mercado de 15,2%. A gestão do seu já extenso catálogo com 3 a 4 lançamento de novos volumes de cada colecção e a aposta em títulos populares garantem-lhe a posição. A própria editora fez questão de revelar quais foram os seus títulos mais vendidos (por ordem de popularidade): One Piece, Demon Slayer, Jujutsu Kaisen, Chainsaw Man e Naruto. E para 2024, a oferta da DEVIR não dá sinais de abrandar: a editora acaba de anunciar já para Janeiro o lançamento de nada mensos do que... sete(!) novidades. 
 
Na segunda posição encontramos a ATLÂNTICO PRESS, responsável por 51 lançamentos e uma quota de mercado de 14,7%. A editora da colecção Clássica Marvel, que garantiu semanalmente (durante mais de dois anos) o regresso às bancas nacionais das aventuras em português de super-heróis, beneficiou da extensão de mais 30 volumes. Mas terá sido o ano de despedida, uma vez que a colecção terminou agora no início de 2024. 
 
A fechar o pódio encontramos a ASA. Teve o seu melhor ano de sempre com 41 lançamentos. Face a 2022 é um crescimento de 60% que lhe garante uma quota de mercado de 11,5%. Contribuiu para este resultado as duas colecções em parceria com o jornal Público, com um total de onze álbuns (contra as duas de 2022 com sete álbuns) e sua aposta na edição de mangás/manfras. A editora sofreu uma reestruturação no seu departamento de BD, e espera-se que seja no seu bom catálogo de títulos franco-belgas que possam surgir novidades capazes de dar seguimento aos resultados conseguidos.
 
Relativamente às restantes editoras, pela positiva de realçar o forte crescimento da LEVOIR, que fez regressar a sua colecção de Novelas Gráficas com o jornal Público e com isso teve um crescimento de 83% face a 2022, e pela negativa a GRADIVA, com a sua oferta editorial de BD a ter uma queda de 44%. Possíveis causas aqui, a saída em 2022 do autor José Rodrigues dos Santos que foi classificada com um “rombo financeiro” e que obrigaria a editora a “repensar os seus recursos”, e as mudanças verificadas em 2023, com a passagem de testemunho  do editor e fundador da editora Guilherme Valente. Veremos o que sairá da “nova” Gradiva em 2024. 
 
Deixo aqui o top 10 de 2023:

NAS REDES SOCIAIS

Está tudo ligado. Ao bom momento que o mercado da BD atravessa não se poderá desassociar  uma melhor informação disponível e consequentemente um aumento da procura dessa informação. Logo por aqui também se sentiram esses bons ventos. Se em 2022, o blogue registou com uma média de 15.000 visitantes por mês, número este que me surpreendeu, então o que dizer de 2023, onde recebeu um total de mais de 220.000 visitas? Um crescimento de 16% relativamente ao ano anterior, e o melhor em 12 anos de existência. Grato por saber que não estou aqui sozinho e que estão bastantes desse lado. Mas o “topo da cereja” foi nos últimos dias de 2023 foi o grupo BANDA DESENHADA PORTUGAL (do qual sou o administrador) a ultrapassar de forma espontânea (não faço qualquer promoção ou angariação para o mesmo) a marca dos 6.000 membros (neste momento caminha para os 6.200). Confirma o seu estatuto de verdadeiro ponto de encontro e de informação exclusivamente dedicado aos amantes da 9ª arte. Registou durante o ano mais de 9.200 publicações, quase 9.500 comentários e praticamente 63.000 reacções. Fico satisfeito por ver que é uma referência na partilha de informação sobre BD em português.
 

 
Em suma, a avaliar por 2023, podemos afirmar que o Estado da Arte em Portugal está bem, provavelmente nunca esteve melhor, e portanto recomenda-se. Muitos lançamentos, muito mangá, muitas obras de grande qualidade, e sobretudo muito interesse. 

Nos próximos dias divulgarei aqui quais foram as minhas Melhores Leituras de 2023.

E expectativas para 2024? 

Logo à partida em termos de n.º de lançamentos penso que a fasquia dos 350 lançamentos não é possível de se repetir, não obstante a DEVIR não dar mostras de abrandar o seu ritmo e ter alguma expectativa com o que a ASA vai fazer com o seu catalogo e nas colecções com o Público. Mas com o fim da Clássica Marvel, serão à partida menos 50 edições nas bancas. De difícil compensação. Se tivermos menos quantidade mas mantivermos o mesmo nível de qualidade por mim está óptimo.

Das muitas coisas que para aí vêm, uma das colecções que aguardo com mais expectativa é SHI com a chancela da ALA DOS LIVROS. Desde 2022 quando o um dos autores, Joseph Homs esteve presente na Comic Con e confirmou a sua edição em Portugal. O argumentista é um tal de Zidrou. 

Pessoalmente, aqui estarei a dar nota de novos lançamentos, análises, divulgações, esperando continuar a cativar o vosso interesse.
 
Os votos de boas leituras para todos!
 

06 setembro, 2023

O Estado da Arte em Agosto

E hoje trago aqui uma coisa diferente. Por norma este é um exercício que faço no final de cada ano, mas desta vez resolvi fazer um intermédio para avaliar como se está a comportar o nosso mercado editorial de banda desenhada depois de um 2022 que superou todas as expectativas. E talvez seja esta a melhor altura para se ficar com uma ideia. Findo Agosto entramos no último quadrimestre do ano, que estatisticamente é aquele que concentra o maior número de novidades – basta recordar que no ano passado este período representou cerca de 45% dos lançamentos desse ano e como isso pode ajudar a confirmar se o mercado de edição de banda desenhada em Portugal, atravessa ou não uma nova época dourada.

 

 
Falta infelizmente no nosso mercado bedéfilo um indicador chamado Vendas. Não existem dados públicos e parece existir um certo secretismo em cada editor relativamente às tiragens e respectivas vendas. Mas tal não nos impede de aferir o estado da arte em Portugal, através de outros indicadores, nomeadamente pelo incremento do número de lançamentos.

Olhando para os números, referentes aos primeiros oito meses de 2023, estes revelam-se pujantes. No final de mês de Agosto, encontravam-se contabilizados cerca de 205 lançamentos. Representam uma taxa de crescimento de 19% face a 2022, o que significa que até à data já se editaram mais de três dezenas de novidades em comparação com igual período no ano passado. E entramos agora em Setembro. Eu não diria que a venda de banda desenhada em Portugal é uma actividade sazonal até porque a edição faz-se ao longo do ano todo, mas há qualquer coisa nos últimos meses do ano. Não sei se motivado pela realização do maior festival nacional de BD; se pela maior época festiva de consumo que é o Natal, se por ambos, mas os números não mentem e é um período fortíssimo…. abalo para as carteiras dos leitores!

Numa estimativa optimista, considerando o que já foi anunciado por algumas das editoras, com a informação que recolhi entretanto e com o que previsivelmente ainda se espera que venha a ser editado, posso afirmar que é expectável que até ao final do ano, as bancas e livrarias nacionais (principais canais de distribuição) recebam ainda cerca de 115 a 120 novas edições de banda desenhada. Dá praticamente a média de um livro por dia nos quatro meses que restam, o que fará que 2023 feche com um total a rondar entre as 320 a 325 novidades. A confirmar-se teremos um número que bate o resultado alcançado em 2022 (310 lançamentos) e a confirmação que o sucedido no ano passado não foi uma situação passageira mas antes reveladora de uma tendência, que a edição da banda desenhada em Portugal está actualmente de muito boa saúde e que se recomenda!

E este resultado não deixa de ser fantástico, não só pela reduzida dimensão do nosso mercado, mas também porque os tempos que correm não seriam à partida o terreno mais favorável para este crescimento, se olharmos para uma realidade europeia mergulhada numa taxa de inflação alta, em taxas de juro que não param de subir e para uma guerra na Europa que nunca mais acaba... e não sendo os livros de banda desenhada produtos de primeira necessidade, são vulneráveis a crises económicas.
 
Mas há razões que contribuem para este boom, sobretudo nos últimos dois anos, e são de vária ordem. Eu destacaria aqui três:
 

  • Proliferação de editoras a incluir BD nos seus catálogos: As novelas gráficas e sobretudo o manga deram uma forte visibilidade à edição da banda desenhada, e isso atraiu a atenção de novas editoras, que começaram a olhar para este mercado de BD de forma diferente, de tal forma que no ano passado registou-se um bom número de entradas de novas editoras. Em consequência tivemos lançamentos provenientes de quase meia centena(!) de editoras/chancelas portuguesas. Até finais de Agosto deste ano, contabilizo cerca de 40 chancelas/editoras com actividade.

  • Diversificação de géneros: Uma coisa leva a outra, e a chegadas de (novas) editoras ao mercado, cada uma com uma filosofia própria, e na descoberta do seu público, conduz a uma maior concorrência e a uma aposta na diversidade. Assim para além das tradicionais séries de aventura e fantasia, as nossas editoras passaram a publicar uma variedade de outros géneros, e este ano observa-se um tendência para as bd's de carácter biográfico, para as adaptações literárias, para os romances, e uma aposta muito forte também nos leitores mais infantis, e tudo isso atrai um público mais amplo e diversificado, que leva a um aumento da base de leitores. 

  • Internet e as redes sociais: O mundo digital trouxe um novo impulso para a disseminação da BD. E nos tempos que correm a informação é tudo,  e os novos canais de divulgação, leia-se blogues dedicados e grupos de opinião e discussão nas redes sociais ajudaram e ajudam à promoção da banda desenhada em Portugal. E a realidade é esta: a informação permanentemente actualizada sobre novidades, lançamentos, festivais, eventos existe, circula e está facilmente acessível a todos a partir de um clique para um público global.

 
Ainda que o mercado francófono tenha recuperado relativamente ao ano passado, a edição nacional de banda desenhada encontra-se actualmente sob grande influência do mercado de manga, e a liderar esta oferta surge, quase sem surpresa diria eu, a DEVIR. Editora que graças ao seu já extenso catalogo de manga continua a dominar no mercado, ainda que numa "luta" com a ATLÂNTICO PRESSque trouxe os super-heróis de volta às bancas com a sua colecção Clássica Marvel (que este ano recebeu uma extensão de mais 30 volumes) repetindo-se assim uma corrida já observada em 2022. A dúvida aqui será saber se a DEVIR conseguirá ultrapassar as cinquenta edições este ano para manter a "coroa" conquistada no ano passado.
 
Já faltam menos quatro meses para confirmarmos todo este cenário, mas pelo meio temos o festival de BD da Amadora, um palco por excelência para apresentação de novidades, que certamente ajudará a validar estas expectativas de um “livro por dia”. Continuação de boas leituras!
 

11 janeiro, 2023

O ESTADO DA ARTE EM 2022

Fazendo um balanço bedéfilo, o primeira evidência que salta à vista é que a edição de banda desenhada em Portugal atravessa um período dourado. Tal verifica-se não só pela quantidade, qualidade e diversidade das obras lançadas, mas igualmente pela atenção que está a despertar, confirmada pelo crescente número de editoras a incluir este género de narrativa nos seus catálogos. E um bom exemplo do que acabei de escrever, é que apesar da conjuntura económica difícil que atravessamos, o ano de 2022 superou as melhores expectativas!
 
 
Tivemos um número de lançamentos, ou novidades, em língua portuguesa (excluo aqui revistas, fanzines e outras publicações sem distribuição comercial), que ultrapassou as três centenas, representando o melhor resultado nos últimos anos, e o número de editoras/chancelas ou entidades que promoveram a edição de obras de banda desenhada aproxima-se das cinco dezenas. Observa-se assim um forte crescimento do mercado e no número de leitores, suportado numa oferta mais pensada, não só em termos de qualidade, mas dirigida a públicos-alvo.
 
Só assim se justifica a explosão que tivemos em 2022, no género mangá, com mais de 60 obras por cá editadas (20% do total). Para chegar até aqui temos que reconhecer o trabalho feito no mercado nacional pela editora DEVIR, ao longo dos últimos 10 anos, e que abriu caminho para que houvesse agora 7 editoras nacionais com oferta de mangá nos respectivos catálogos.
 
Assim, é com toda a naturalidade que se pode destacar o fantástico ano que a DEVIR teve em 2022! Em ano da celebração, manteve a posição de liderança entre as editoras nacionais, com um total de 44 livros editados, o que representa um crescimento de 38% relativamente ao período anterior. O seu segredo? Ter conseguido fidelizar os seus leitores, com a presença em eventos associados, apresentar um leque alargado e renovado de títulos, e sobretudo ter conseguido um controlo de custos, que lhe permite actualmente manter a sua oferta ao mesmo preço de capa (€ 9,99) com que iniciou esta aventura há 10 anos. Garantiu as condições perfeitas para que conseguisse editar agora em português um "peso-pesado" como é o mangá One Piece. Recolhe merecidamente os frutos da perseverança que semeou, e é hoje sinónimo de mangá em Portugal. E como se fizesse questão de mostrar quem lidera, basta ver o seu recente anúncio de seis(!) novidades mangá já para o corrente mês, entre os quais um "peso-pesado" com mais de 400 páginas. Pela pujança, está de parabéns a DEVIR!
 

 
No segundo lugar no pódio das editoras, encontramos a ATLÂNTICO PRESS. Quem? É legitima a pergunta, porquanto não se trata de umas das ditas tradicionais editoras nacionais de banda desenhada, mas sim a promotora da colecção Clássica Marvel, que nos trouxe, por ordem cronológica, as primeiras histórias, na sua maioria inéditas, de nove dos mais conhecidos e populares super-heróis da Marvel. Ainda que ocupe por uma posição passageira, beneficia dos 38 volumes editados em 2022. A verdade é que foi uma bela surpresa esta colecção. Concilia uma boa edição com um preço simpático. E teve o condão de trazer de novo, e semanalmente, os super-heróis de volta às bancas. Bom trabalho!

A fechar o top 3 nacional, encontramos a GRADIVA. Se com a DEVIR aconteceu uma explosão de mangá, com a GRADIVA tivemos uma explosão de banda desenhada. Foi um ano de loucura com esta editora. Para se ter uma ideia do ritmo, passou de uma média de 10 edições por ano para um total de 32 lançamentos em 2022, essencialmente de origem franco-belga mas com espaço igualmente para o mangá. A editora deu continuidade às suas séries, iniciou e fechou colecções. Editou aventura, biografia, mitologia, história, western, policial. A taxa de crescimento foi de uns impressionantes 191%(!). O meu único senão, mas que não retira o brilho de todo o trabalho efectuado, foi a má decisão editorial em publicar A Bomba, em dois volumes de capa mole. Retirou-lhe a imponência que a obra merecia. Foi pena! Não obstante, de louvar o crescimento e o lugar cimeiro da editora.

Nas restantes posições quase que se poderia dizer que não houve surpresas. Todas as editoras apresentaram taxas de crescimento relativamente ao ano anterior, reforçando o peso das "maiores" dentro da oferta total de banda desenhada em Portugal. Em 2022, este o peso foi de quase 80% mas encontra-se fortemente (e temporariamente) influenciado pela actividade da Atlântico. Apesar do problema crónico da falta de dimensão do nosso mercado, ter em condições normais, as nossas 10 maiores editoras a representar, em média, cerca de 65% da oferta, oriunda dos principais fornecedores de banda desenhada mundial um sinal muito positivo de um mercado equilibrado.

Ficou assim composto o top 10 nacional: 

 A ASA continuou a dar seguimento ao seus títulos-âncora, e mantêm a parceria com o jornal Público, o que nos trouxe mais duas coleções. Já se sabe que a preferência aqui vai agora para séries fechadas e curtas. A SEITA reforçou a sua aposta em autores nacionais, publicando destes um total de 10 obras, e recuperou em 2022, para o mercado nacional, um género que não tem tido uma grande tradição entre nós: a edição de livros que falam sobre banda desenhada. Lançou um total de 4 obras com temáticas, que vão desde a entrevista a autores de BD, passando por resenhas históricas até à edição enciclopédica, diria mesmo definitiva, dedicada ao cowboy da casa Bonelli. Desconheço a apetência do nosso mercado para este tipo de obras, e como tem sido a receptividade, mas não me surpreende que a edição de Tex, Mais que um Herói, com quase de 500 páginas dedicadas, tenha suscitado um grande entusiasmo entre os admiradores do eterno ranger.
 
A ARTE DE AUTOR e a ALA DOS LIVROS, as duas editoras com o melhor catálogo nacional de banda desenhada franco-belga, continuaram a trazer-nos obras de grande qualidade narrativa e gráfica. A primeira aproveitou o ano para concluir várias das suas coleções, incluindo a publicação integral das aventuras de Corto Maltese por Hugo Pratt; a segunda, vai alternando entre continuações e álbuns integrais. Ambas dominam nas minhas escolhas das melhores leituras de 2022.
 
O quase que não houve surpresas neste top, deve-se à entrada do grupo PENGUIN RAMDON HOUSE, com um total de 20 edições (resulta do somatório da actividade nas suas várias chancelas). Apesar do lançamento de mais uma nova chancela, agora destinada a novelas gráficas, é no segmento de edições destinado a um público infantojuvenil que lhe dá este destaque entre as editoras nacionais. A LEVOIR continua na sua letargia! Figura neste top devido essencialmente à sua colecção Clássicos da Literatura, que teve mais 9 volumes editados. Por aqui continuamos à espera que termine este seu período sabático!
 
Na análise por origens da bd - para simplificar considerei apenas as três principais fontes, a americana, a europeia e mangá - apesar do forte crescimento desta última no nosso mercado, conforme referido anteriormente, em 2022, a banda desenhada de origem europeia continuou a prevalecer, com praticamente 50% da oferta. Dentro desta o franco-belga domina com 33% dos lançamentos e a bd portuguesa vale 15%. A americana representou uma oferta de cerca de 28%.
 
Por período de lançamento, regista-se que à medida que o ano vai avançando, o número de novidades em cada trimestre revela uma tendência crescente. O primeiro revelou-se o mais fraco com 15% das novidades, por oposição ao último trimestre, que concentrou 33% da oferta. Não será coincidência observar que em cada um dos semestre do ano, os meses como o maior número de lançamentos correspondem aqueles de realização do festivais de Beja (em Maio) e Amadora (em Outubro), revelando bem a importância destes eventos para os editores nacionais.

Resumindo, 2022 foi melhor ano dos últimos anos!
 
Pessoalmente, o ano foi igualmente excelente. Uma boa relação com a grande maioria das editoras e editores nacionais possibilita o fluxo de informação. Em consequência, aqui o sitio recebeu uma média de 15.000 visitas por mês. Desconfio de uma correlação com o n.º de lançamentos. Para um blogue que fala só sobre banda desenhada em Portugal, sem promoções nem talões, confesso ficar agradavelmente surpreso. Nas redes sociais, o grupo/fórum Banda Desenhada Portugal caminha para os 5.000 membros que se declaram leitores de bd, tendo registado em 2022, níveis de participação e interação bastante elevados, com mais de 8.600 publicações, quase 14.000 comentários e cerca de 81.000 reacções. Bem hajam! É bom saber que não estou sozinho deste lado. 
 

Para 2023, apesar do sinal contrário dado pela Devir, desconfio que o ritmo deve abrandar. Pessoalmente mais que a quantidade, prefiro a qualidade, e pela amostra que já foi dada podemos preparar-nos para mais um ano de grandes obras. Os votos de boas leituras!