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10 janeiro, 2024

O ESTADO DA ARTE EM 2023


Tempo de Balanços! Como correu o ano bedéfilo de 2023 em Portugal?

O MERCADO

Quando em inícios de Setembro do ano passado fiz aqui uma análise intermédia para saber como estava a correr o ano editorial bedéfilo em Portugal, os números já se revelavam bastante animadores. De tal forma que arrisquei uma estimativa que 2023 fechava com um total de novos lançamentos a rondar entre as 320 a 325 edições. Este número já representava um crescimento de 5% relativamente a 2022, ano que por si só já se tinha revelado bastante surpreendente. A verdade é que errei por defeito.
 
Para falar do nosso mercado, e na falta de dados concretos sobre tiragens e vendas, temos de caracteriza-lo através da informação que se encontra disponível, e para o efeito defini o numero de lançamentos de obras com ISBN atribuído. Se o pudermos caracterizar pelo número de novas edições, então o resultado de 2023, que se traduziu na edição de quase três centenas e meia de novidades (mais precisamente 349), revela que a edição em Portugal de banda desenhada se encontra numa das suas melhores fases, em crescimento, representando este número uma subida de 13% relativamente a 2022 (a listagem completa dos títulos pode ser consultada no ANUÁRIO de 2023).
 
Torna-se legitimo afirmar que nunca se editou tanto por cá, e o que foi alcançado no último ano não encontra paralelo nos últimos dez (e porque não tenho números anteriores a 2013). Não restam portanto muitas dúvidas que o sector editorial de banda desenhada em Portugal encontra-se, ano após ano, mais pujante e dinâmico. E a pergunta que fica para 2024, é qual o nosso limite? 

Por origem, o peso da banda desenhada estrangeira continua dominante no mercado português. Mantêm-se a influência do mercado francófono, acompanhado pelo americano e agora com a forte concorrência asiática (principalmente mangá) que já representa 22% dos lançamentos. A BD portuguesa tem tido alguma dificuldade em afirmar-se de forma sustentada, tendo apresentado em 2023 um decréscimo na oferta, representando agora apenas 11% das novidades.
 
Por períodos de oferta, os meses de Junho e Outubro continuam como os mais fortes do ano, o que não será indiferente o facto de coincidir com as datas de realização dos festivais de banda desenhada de Beja e da Amadora. Aliás, os festivais de BD continuam a ser por excelência uma verdadeira montra para as editoras, que começa a ser uma tendência surgirem associadas ou na qualidade de co-organizadoras dos eventos em conjunto com câmaras municipais, como acontece já nos novos festivais que começam a proliferar pelo pais, como é o caso do Maia BD, Coimbra BD e Louri BD (Lourinhã).

AS EDITORAS

Em 2023 tivemos cerca de 49 editoras activas (considero aqui todas com pelo menos um livro editado). Continua-se a observar a entrada de novos editores, o que revela que a banda desenhada está a ser vista com um nicho de mercado muito interessante. Cerca de 53% da oferta concentrou-se em cinco editoras sendo o restante distribuído por um grande número de pequenas e médias editoras e editoras com um catalogo reduzido de BD. No entanto, alguns grupos editoriais começam a aproveitar as sinergias entre as suas chancelas para capitalizarem a edição. O melhor exemplo é sem dúvida dado pelo Grupo Penguin House. Teve um total de 26 livros editados (o que lhe valeria um 4º lugar no top), mas apenas 11 são com a chancela da Iguana, o seu principal selo na edição de BD. 
 
 
Entre as mais activas, ou aquelas com a maior oferta, não houve grandes surpresas. Nas duas primeiras posições repetiu-se o pódio do ano passado com a Devir e a Atlântico Press. Editar meia centena de obras de banda desenhada por ano, por razões de vária ordem, não está ao alcance de muitas editoras em Portugal. Nos últimos anos recordo que só a extinta Goody, com a sua combinação de edições Disney e Marvel é que alcançou tais números. Mas em 2023, tanto a Devir como a Atlântico Press alcançaram (e ultrapassaram) pela primeira vez essa marca.
 
A DEVIR domina. Consolida a liderança que alcançou no ano passado com um crescimento de 20%, sendo responsável por 53 novidades (é como se lançasse um novo mangá todas as semanas) a que corresponde a uma quota de mercado de 15,2%. A gestão do seu já extenso catálogo com 3 a 4 lançamento de novos volumes de cada colecção e a aposta em títulos populares garantem-lhe a posição. A própria editora fez questão de revelar quais foram os seus títulos mais vendidos (por ordem de popularidade): One Piece, Demon Slayer, Jujutsu Kaisen, Chainsaw Man e Naruto. E para 2024, a oferta da DEVIR não dá sinais de abrandar: a editora acaba de anunciar já para Janeiro o lançamento de nada mensos do que... sete(!) novidades. 
 
Na segunda posição encontramos a ATLÂNTICO PRESS, responsável por 51 lançamentos e uma quota de mercado de 14,7%. A editora da colecção Clássica Marvel, que garantiu semanalmente (durante mais de dois anos) o regresso às bancas nacionais das aventuras em português de super-heróis, beneficiou da extensão de mais 30 volumes. Mas terá sido o ano de despedida, uma vez que a colecção terminou agora no início de 2024. 
 
A fechar o pódio encontramos a ASA. Teve o seu melhor ano de sempre com 40 lançamentos. Face a 2022 é um crescimento de 60% que lhe garante uma quota de mercado de 11,5%. Contribuiu para este resultado as duas colecções em parceria com o jornal Público, com um total de onze álbuns (contra as duas de 2022 com sete álbuns) e sua aposta na edição de mangás/manfras. A editora sofreu uma reestruturação no seu departamento de BD, e espera-se que seja no seu bom catálogo de títulos franco-belgas que possam surgir novidades capazes de dar seguimento aos resultados conseguidos.
 
Relativamente às restantes editoras, pela positiva de realçar o forte crescimento da LEVOIR, que fez regressar a sua colecção de Novelas Gráficas com o jornal Público e com isso teve um crescimento de 83% face a 2022, e pela negativa a GRADIVA, com a sua oferta editorial de BD a ter uma queda de 44%. Possíveis causas aqui, a saída em 2022 do autor José Rodrigues dos Santos que foi classificada com um “rombo financeiro” e que obrigaria a editora a “repensar os seus recursos”, e as mudanças verificadas em 2023, com a passagem de testemunho  do editor e fundador da editora Guilherme Valente. Veremos o que sairá da “nova” Gradiva em 2024. 
 
Deixo aqui o top 10 de 2023:

NAS REDES SOCIAIS

Está tudo ligado. Ao bom momento que o mercado da BD atravessa não se poderá desassociar  uma melhor informação disponível e consequentemente um aumento da procura dessa informação. Logo por aqui também se sentiram esses bons ventos. Se em 2022, o blogue registou com uma média de 15.000 visitantes por mês, número este que me surpreendeu, então o que dizer de 2023, onde recebeu um total de mais de 220.000 visitas? Um crescimento de 16% relativamente ao ano anterior, e o melhor em 12 anos de existência. Grato por saber que não estou aqui sozinho e que estão bastantes desse lado. Mas o “topo da cereja” foi nos últimos dias de 2023 foi o grupo BANDA DESENHADA PORTUGAL (do qual sou o administrador) a ultrapassar de forma espontânea (não faço qualquer promoção ou angariação para o mesmo) a marca dos 6.000 membros (neste momento caminha para os 6.200). Confirma o seu estatuto de verdadeiro ponto de encontro e de informação exclusivamente dedicado aos amantes da 9ª arte. Registou durante o ano mais de 9.200 publicações, quase 9.500 comentários e praticamente 63.000 reacções. Fico satisfeito por ver que é uma referência na partilha de informação sobre BD em português.
 
 

 
Em suma, a avaliar por 2023, podemos afirmar que o Estado da Arte em Portugal está bem, provavelmente nunca esteve melhor, e portanto recomenda-se. Muitos lançamentos, muito mangá, muitas obras de grande qualidade, e sobretudo muito interesse. 

Nos próximos dias divulgarei aqui quais foram as minhas Melhores Leituras de 2023.

E expectativas para 2024? 

Logo à partida em termos de n.º de lançamentos penso que a fasquia dos 350 lançamentos não é possível de se repetir, não obstante a DEVIR não dar mostras de abrandar o seu ritmo e ter alguma expectativa com o que a ASA vai fazer com o seu catalogo e nas colecções com o Público. Mas com o fim da Clássica Marvel, serão à partida menos 50 edições nas bancas. De difícil compensação. Se tivermos menos quantidade mas mantivermos o mesmo nível de qualidade por mim está óptimo.

Das muitas coisas que para aí vêm, uma das colecções que aguardo com mais expectativa é SHI com a chancela da ALA DOS LIVROS. Desde 2022 quando o um dos autores, Joseph Homs esteve presente na Comic Con e confirmou a sua edição em Portugal. O argumentista é um tal de Zidrou. 

Pessoalmente, aqui estarei a dar nota de novos lançamentos, análises, divulgações, esperando continuar a cativar o vosso interesse.
Os votos de boas leituras para todos!


06 setembro, 2023

O Estado da Arte em Agosto

E hoje trago aqui uma coisa diferente. Por norma este é um exercício que faço no final de cada ano, mas desta vez resolvi fazer um intermédio para avaliar como se está a comportar o nosso mercado editorial de banda desenhada depois de um 2022 que superou todas as expectativas. E talvez seja esta a melhor altura para se ficar com uma ideia. Findo Agosto entramos no último quadrimestre do ano, que estatisticamente é aquele que concentra o maior número de novidades – basta recordar que no ano passado este período representou cerca de 45% dos lançamentos desse ano e como isso pode ajudar a confirmar se o mercado de edição de banda desenhada em Portugal, atravessa ou não uma nova época dourada.

 

 
Falta infelizmente no nosso mercado bedéfilo um indicador chamado Vendas. Não existem dados públicos e parece existir um certo secretismo em cada editor relativamente às tiragens e respectivas vendas. Mas tal não nos impede de aferir o estado da arte em Portugal, através de outros indicadores, nomeadamente pelo incremento do número de lançamentos.

Olhando para os números, referentes aos primeiros oito meses de 2023, estes revelam-se pujantes. No final de mês de Agosto, encontravam-se contabilizados cerca de 205 lançamentos. Representam uma taxa de crescimento de 19% face a 2022, o que significa que até à data já se editaram mais de três dezenas de novidades em comparação com igual período no ano passado. E entramos agora em Setembro. Eu não diria que a venda de banda desenhada em Portugal é uma actividade sazonal até porque a edição faz-se ao longo do ano todo, mas há qualquer coisa nos últimos meses do ano. Não sei se motivado pela realização do maior festival nacional de BD; se pela maior época festiva de consumo que é o Natal, se por ambos, mas os números não mentem e é um período fortíssimo…. abalo para as carteiras dos leitores!

Numa estimativa optimista, considerando o que já foi anunciado por algumas das editoras, com a informação que recolhi entretanto e com o que previsivelmente ainda se espera que venha a ser editado, posso afirmar que é expectável que até ao final do ano, as bancas e livrarias nacionais (principais canais de distribuição) recebam ainda cerca de 115 a 120 novas edições de banda desenhada. Dá praticamente a média de um livro por dia nos quatro meses que restam, o que fará que 2023 feche com um total a rondar entre as 320 a 325 novidades. A confirmar-se teremos um número que bate o resultado alcançado em 2022 (310 lançamentos) e a confirmação que o sucedido no ano passado não foi uma situação passageira mas antes reveladora de uma tendência, que a edição da banda desenhada em Portugal está actualmente de muito boa saúde e que se recomenda!

E este resultado não deixa de ser fantástico, não só pela reduzida dimensão do nosso mercado, mas também porque os tempos que correm não seriam à partida o terreno mais favorável para este crescimento, se olharmos para uma realidade europeia mergulhada numa taxa de inflação alta, em taxas de juro que não param de subir e para uma guerra na Europa que nunca mais acaba... e não sendo os livros de banda desenhada produtos de primeira necessidade, são vulneráveis a crises económicas.
 
Mas há razões que contribuem para este boom, sobretudo nos últimos dois anos, e são de vária ordem. Eu destacaria aqui três:
 

  • Proliferação de editoras a incluir BD nos seus catálogos: As novelas gráficas e sobretudo o manga deram uma forte visibilidade à edição da banda desenhada, e isso atraiu a atenção de novas editoras, que começaram a olhar para este mercado de BD de forma diferente, de tal forma que no ano passado registou-se um bom número de entradas de novas editoras. Em consequência tivemos lançamentos provenientes de quase meia centena(!) de editoras/chancelas portuguesas. Até finais de Agosto deste ano, contabilizo cerca de 40 chancelas/editoras com actividade.

  • Diversificação de géneros: Uma coisa leva a outra, e a chegadas de (novas) editoras ao mercado, cada uma com uma filosofia própria, e na descoberta do seu público, conduz a uma maior concorrência e a uma aposta na diversidade. Assim para além das tradicionais séries de aventura e fantasia, as nossas editoras passaram a publicar uma variedade de outros géneros, e este ano observa-se um tendência para as bd's de carácter biográfico, para as adaptações literárias, para os romances, e uma aposta muito forte também nos leitores mais infantis, e tudo isso atrai um público mais amplo e diversificado, que leva a um aumento da base de leitores. 

  • Internet e as redes sociais: O mundo digital trouxe um novo impulso para a disseminação da BD. E nos tempos que correm a informação é tudo,  e os novos canais de divulgação, leia-se blogues dedicados e grupos de opinião e discussão nas redes sociais ajudaram e ajudam à promoção da banda desenhada em Portugal. E a realidade é esta: a informação permanentemente actualizada sobre novidades, lançamentos, festivais, eventos existe, circula e está facilmente acessível a todos a partir de um clique para um público global.

 
Ainda que o mercado francófono tenha recuperado relativamente ao ano passado, a edição nacional de banda desenhada encontra-se actualmente sob grande influência do mercado de manga, e a liderar esta oferta surge, quase sem surpresa diria eu, a DEVIR. Editora que graças ao seu já extenso catalogo de manga continua a dominar no mercado, ainda que numa "luta" com a ATLÂNTICO PRESSque trouxe os super-heróis de volta às bancas com a sua colecção Clássica Marvel (que este ano recebeu uma extensão de mais 30 volumes) repetindo-se assim uma corrida já observada em 2022. A dúvida aqui será saber se a DEVIR conseguirá ultrapassar as cinquenta edições este ano para manter a "coroa" conquistada no ano passado.
 
Já faltam menos quatro meses para confirmarmos todo este cenário, mas pelo meio temos o festival de BD da Amadora, um palco por excelência para apresentação de novidades, que certamente ajudará a validar estas expectativas de um “livro por dia”. Continuação de boas leituras!
 

11 janeiro, 2023

O ESTADO DA ARTE EM 2022

Fazendo um balanço bedéfilo, o primeira evidência que salta à vista é que a edição de banda desenhada em Portugal atravessa um período dourado. Tal verifica-se não só pela quantidade, qualidade e diversidade das obras lançadas, mas igualmente pela atenção que está a despertar, confirmada pelo crescente número de editoras a incluir este género de narrativa nos seus catálogos. E um bom exemplo do que acabei de escrever, é que apesar da conjuntura económica difícil que atravessamos, o ano de 2022 superou as melhores expectativas!
 
 
Tivemos um número de lançamentos, ou novidades, em língua portuguesa (excluo aqui revistas, fanzines e outras publicações sem distribuição comercial), que ultrapassou as três centenas, representando o melhor resultado nos últimos anos, e o número de editoras/chancelas ou entidades que promoveram a edição de obras de banda desenhada aproxima-se das cinco dezenas. Observa-se assim um forte crescimento do mercado e no número de leitores, suportado numa oferta mais pensada, não só em termos de qualidade, mas dirigida a públicos-alvo.
 
Só assim se justifica a explosão que tivemos em 2022, no género mangá, com mais de 60 obras por cá editadas (20% do total). Para chegar até aqui temos que reconhecer o trabalho feito no mercado nacional pela editora DEVIR, ao longo dos últimos 10 anos, e que abriu caminho para que houvesse agora 7 editoras nacionais com oferta de mangá nos respectivos catálogos.
 
Assim, é com toda a naturalidade que se pode destacar o fantástico ano que a DEVIR teve em 2022! Em ano da celebração, manteve a posição de liderança entre as editoras nacionais, com um total de 44 livros editados, o que representa um crescimento de 38% relativamente ao período anterior. O seu segredo? Ter conseguido fidelizar os seus leitores, com a presença em eventos associados, apresentar um leque alargado e renovado de títulos, e sobretudo ter conseguido um controlo de custos, que lhe permite actualmente manter a sua oferta ao mesmo preço de capa (€ 9,99) com que iniciou esta aventura há 10 anos. Garantiu as condições perfeitas para que conseguisse editar agora em português um "peso-pesado" como é o mangá One Piece. Recolhe merecidamente os frutos da perseverança que semeou, e é hoje sinónimo de mangá em Portugal. E como se fizesse questão de mostrar quem lidera, basta ver o seu recente anúncio de seis(!) novidades mangá já para o corrente mês, entre os quais um "peso-pesado" com mais de 400 páginas. Pela pujança, está de parabéns a DEVIR!
 

 
No segundo lugar no pódio das editoras, encontramos a ATLÂNTICO PRESS. Quem? É legitima a pergunta, porquanto não se trata de umas das ditas tradicionais editoras nacionais de banda desenhada, mas sim a promotora da colecção Clássica Marvel, que nos trouxe, por ordem cronológica, as primeiras histórias, na sua maioria inéditas, de nove dos mais conhecidos e populares super-heróis da Marvel. Ainda que ocupe por uma posição passageira, beneficia dos 38 volumes editados em 2022. A verdade é que foi uma bela surpresa esta colecção. Concilia uma boa edição com um preço simpático. E teve o condão de trazer de novo, e semanalmente, os super-heróis de volta às bancas. Bom trabalho!

A fechar o top 3 nacional, encontramos a GRADIVA. Se com a DEVIR aconteceu uma explosão de mangá, com a GRADIVA tivemos uma explosão de banda desenhada. Foi um ano de loucura com esta editora. Para se ter uma ideia do ritmo, passou de uma média de 10 edições por ano para um total de 32 lançamentos em 2022, essencialmente de origem franco-belga mas com espaço igualmente para o mangá. A editora deu continuidade às suas séries, iniciou e fechou colecções. Editou aventura, biografia, mitologia, história, western, policial. A taxa de crescimento foi de uns impressionantes 191%(!). O meu único senão, mas que não retira o brilho de todo o trabalho efectuado, foi a má decisão editorial em publicar A Bomba, em dois volumes de capa mole. Retirou-lhe a imponência que a obra merecia. Foi pena! Não obstante, de louvar o crescimento e o lugar cimeiro da editora.

Nas restantes posições quase que se poderia dizer que não houve surpresas. Todas as editoras apresentaram taxas de crescimento relativamente ao ano anterior, reforçando o peso das "maiores" dentro da oferta total de banda desenhada em Portugal. Em 2022, este o peso foi de quase 80% mas encontra-se fortemente (e temporariamente) influenciado pela actividade da Atlântico. Apesar do problema crónico da falta de dimensão do nosso mercado, ter em condições normais, as nossas 10 maiores editoras a representar, em média, cerca de 65% da oferta, oriunda dos principais fornecedores de banda desenhada mundial um sinal muito positivo de um mercado equilibrado.

Ficou assim composto o top 10 nacional: 

 A ASA continuou a dar seguimento ao seus títulos-âncora, e mantêm a parceria com o jornal Público, o que nos trouxe mais duas coleções. Já se sabe que a preferência aqui vai agora para séries fechadas e curtas. A SEITA reforçou a sua aposta em autores nacionais, publicando destes um total de 10 obras, e recuperou em 2022, para o mercado nacional, um género que não tem tido uma grande tradição entre nós: a edição de livros que falam sobre banda desenhada. Lançou um total de 4 obras com temáticas, que vão desde a entrevista a autores de BD, passando por resenhas históricas até à edição enciclopédica, diria mesmo definitiva, dedicada ao cowboy da casa Bonelli. Desconheço a apetência do nosso mercado para este tipo de obras, e como tem sido a receptividade, mas não me surpreende que a edição de Tex, Mais que um Herói, com quase de 500 páginas dedicadas, tenha suscitado um grande entusiasmo entre os admiradores do eterno ranger.
 
A ARTE DE AUTOR e a ALA DOS LIVROS, as duas editoras com o melhor catálogo nacional de banda desenhada franco-belga, continuaram a trazer-nos obras de grande qualidade narrativa e gráfica. A primeira aproveitou o ano para concluir várias das suas coleções, incluindo a publicação integral das aventuras de Corto Maltese por Hugo Pratt; a segunda, vai alternando entre continuações e álbuns integrais. Ambas dominam nas minhas escolhas das melhores leituras de 2022.
 
O quase que não houve surpresas neste top, deve-se à entrada do grupo PENGUIN RAMDON HOUSE, com um total de 20 edições (resulta do somatório da actividade nas suas várias chancelas). Apesar do lançamento de mais uma nova chancela, agora destinada a novelas gráficas, é no segmento de edições destinado a um público infantojuvenil que lhe dá este destaque entre as editoras nacionais. A LEVOIR continua na sua letargia! Figura neste top devido essencialmente à sua colecção Clássicos da Literatura, que teve mais 9 volumes editados. Por aqui continuamos à espera que termine este seu período sabático!
 
Na análise por origens da bd - para simplificar considerei apenas as três principais fontes, a americana, a europeia e mangá - apesar do forte crescimento desta última no nosso mercado, conforme referido anteriormente, em 2022, a banda desenhada de origem europeia continuou a prevalecer, com praticamente 50% da oferta. Dentro desta o franco-belga domina com 33% dos lançamentos e a bd portuguesa vale 15%. A americana representou uma oferta de cerca de 28%.
 
Por período de lançamento, regista-se que à medida que o ano vai avançando, o número de novidades em cada trimestre revela uma tendência crescente. O primeiro revelou-se o mais fraco com 15% das novidades, por oposição ao último trimestre, que concentrou 33% da oferta. Não será coincidência observar que em cada um dos semestre do ano, os meses como o maior número de lançamentos correspondem aqueles de realização do festivais de Beja (em Maio) e Amadora (em Outubro), revelando bem a importância destes eventos para os editores nacionais.

Resumindo, 2022 foi melhor ano dos últimos anos!
 
Pessoalmente, o ano foi igualmente excelente. Uma boa relação com a grande maioria das editoras e editores nacionais possibilita o fluxo de informação. Em consequência, aqui o sitio recebeu uma média de 15.000 visitas por mês. Desconfio de uma correlação com o n.º de lançamentos. Para um blogue que fala só sobre banda desenhada em Portugal, sem promoções nem talões, confesso ficar agradavelmente surpreso. Nas redes sociais, o grupo/fórum Banda Desenhada Portugal caminha para os 5.000 membros que se declaram leitores de bd, tendo registado em 2022, níveis de participação e interação bastante elevados, com mais de 8.600 publicações, quase 14.000 comentários e cerca de 81.000 reacções. Bem hajam! É bom saber que não estou sozinho deste lado. 
 

Para 2023, apesar do sinal contrário dado pela Devir, desconfio que o ritmo deve abrandar. Pessoalmente mais que a quantidade, prefiro a qualidade, e pela amostra que já foi dada podemos preparar-nos para mais um ano de grandes obras. Os votos de boas leituras! 

06 janeiro, 2022

O ESTADO DA ARTE EM 2021

 
Continuo por aqui em modo de Balanço do Ano, e agora para perceber se 2021 foi um bom ou mau ano bedéfilo? A pandemia condicionou? Estiveram os lançamentos e as editoras à altura das expectativas dos leitores portugueses? Vamos à procura das respostas.
 
A verdade é que tudo depende da perspectiva que adoptarmos. Vínhamos de um ano difícil e esperávamos um regresso à normalidade.  Não aconteceu. O lado positivo disto foi que as restrições, desta vez, não fecharam as livrarias e permitiram o regresso dos festivais de BD com público. De máscara postas e conseguimos ter Beja, Amadora e a Comic Con. E mais, contamos com as presenças estrangeiras de nomes como Juanjo Guarnido, Ralph Meyer, Achdé, Miguelanxo Prado, George Bess ou Peter Van Dongen, entre outros, o que atendendo às circunstâncias foi óptimo.
 
Quanto às novidades e lançamentos, registo aqui os números: tivemos um total de 219 lançamentos/novidades de livros de banda desenhada (em português de Portugal e com registo de ISBN), de 42 editoras nacionais + 1 editora europeia. É um valor que fica abaixo do registado nos últimos anos (238), com uma quebra a rondar os 8%, para o qual encontramos as causas (ver mais adiante).  Os interessados podem consultar a listagem completa dos títulos AQUI

2021 foi o ano da DEVIR. Esta editora aumentou e bem o seu já generoso catálogo de mangás, destacando-se com a edição de mais de três dezenas de livros (32), o que a coloca na posição cimeira das editoras de banda desenhada mais prolíficas do ano. Este reforço na literatura mangá deu-lhe o melhor ano dos últimos quatro. Tínhamos que recuar até 2017 para observar um melhor desempenho editorial. Em termos de títulos, a aposta na série Demon Slayer com os 5 primeiros volumes publicados durante o ano, revelou-se certeira, uma vez que este título ocupa o primeiro lugar no top de vendas da editora.
 
Na posição seguinte, surge a cooperativa A SEITA, com um total de 19 lançamentos sob a sua chancela e mais 3 novidades em co-edição (com a Arte de Autor). Regista-se o forte crescimento desta editora, que triplicou (e alargou) a sua oferta (com banda desenhada de origem portuguesa, italiana e franco-belga) quando comparado com o ano anterior.
 
E para fechar o pódio encontramos a ASA, com um total de 19 novidades, um número que fica aquém da média dos últimos anos (25). Colecções mais curtas e com uma periodicidade quinzenal ajudam a explicar. Não obstante, foi dentro desta parceria com o jornal Público que publicou dos suas melhores séries dos últimos anos (Rio, Peter Pan e Long John Silver).
 
Top 5 de 2021:
1. DEVIR (32 lançamentos)
2. A SEITA (19+3)
3. ASA (19)
4. ARTE DE AUTOR (15+3)
5. ALA DOS LIVROS (14)
 
Não podia deixar de dar uma palavra para as duas editoras que fecham este top, ARTE DE AUTOR e ALA DOS LIVROS. Ambas fazem as delícias dos leitores portugueses de banda desenhada de origem franco-belga. Apresentam dois soberbos catálogos, de excelentes séries, que nos são servidas em magnificas edições. Ambas aumentaram a oferta este ano, e em conjunto, foram responsáveis pela maioria das minhas melhores leituras de 2021. A certeza que daqui vamos sempre bem servidos!
 
E depois de conhecermos as “mais” é altura de falar da “menos”. Cito a rainha, para dizer que 2021 foi um annus horribilis para a LEVOIR. Em finais de 2020, já dava alguns sinais que algo não ia bem. Uma das mais activas editoras nacionais nos últimos anos, conhecida pelas suas novelas gráfica, e detentora dos direitos da americana DC Comics, não totalizou  uma dezena de lançamentos (9), e tudo volumes da colecção «Clássicos da Literatura», que por sinal foi muito fraquinha. Recordo que nos últimos anos, apresentou sempre números a rondar as quatro dezenas de novidades, reservando para si os primeiros lugares entre as editoras. Com a sua actividade reduzida a serviços mínimos, a LEVOIR é a principal responsável pela quebra que se registou no número total de lançamentos deste ano. Continuam a pairar algumas nuvens sobre a continuidade da sua actividade editorial alimentadas sobretudo pela falta de informação. Espera-se e deseja-se que em 2021 tenha terminado o seu ano sabático. Faz falta a LEVOIR.
 
Mas 2021, manteve algumas das (boas) tendências que já se observavam em anos anteriores. O crescimento da oferta da banda desenhada de origem franco-belga foi uma delas. Continuamos com excelentes apostas de qualidade, fruto de termos cinco editoras nacionais (Asa, A Seita, Ala dos Livros, Arte de Autor e Gradiva) a negociarem os direitos sobre as principais novidades. Do resultado desta concorrência só se pode esperar bons frutos para 2022. 
 
Outra das tendências foi o elevado número de autores portugueses a serem publicados. Foram cerca de três dezenas de obras. Um número bastante bom e que revela um crescimento face ao ano anterior, e que reflecte uma aposta cada vez maior das editoras, nomeadamente da Escorpião Azul e d'A Seita, nos talentos nacionais.
 
Também se verifica o crescente aumento do n.º de editoras que abrem o seu catálogo à banda desenhada. Muitas são editoras com actividade e que vêm no género da banda desenhada uma oportunidade de alargar o seu leque de oferta e chegar a diferentes públicos. A aposta passou sobretudo pela edição de novelas gráficas. Editoras como Cavalo de Ferro, Elsinore, Fábula ou Relógio d'Água são bons exemplos.
 
2021 foi também um ano Orwelliano. Os direitos sobre das obras do escritor George Orwell entraram naquilo que se designa por domínio público, e logicamente, multiplicaram-se em Portugal as edições dos seus títulos, em nova edições e traduções, e claro, a banda desenhada também apanhou esta ‘onda’. A Ala dos Livros abriu logo o ano com o lançamento da biografia gráfica do autor, e depois seguiram-se as esperadas novelas gráficas de adaptação do distópico «1984», por cá com três diferentes versões, e também a conhecida fábula política de sátira «O Triunfo dos Porcos».
 
Em termos de divulgação, posso dizer que foi um excelente ano. Por aqui, as visitas pulverizaram as minhas melhores expectativas com um incremento exponencial (+200.000). Desconfio que foi um efeito colateral da pandemia. Complementarmente o grupo de discussão BD Portugal regista igualmente uma boa taxa de crescimento, com uma excelente dinâmica diária e um nível de participação por parte dos membros bastante elevado. Registado com agrado.

Por tudo isto, posso afirmar que não temos muitas razões de queixa de 2021. A pandemia assustou mas não estragou.
 
Para 2022?
 
O ano não começou bem, ainda com a pandemia a pairar, e lá por fora o festival de Angoulême previsto para finais deste mês, foi adiado depois da edição do ano passado ter sido cancelado. Por cá ainda é cedo para se falar de festivais, mas temos já algumas editoras a preparar as primeiras novidades para Janeiro. A Gradiva já anunciou o terceiro volume  da série O Guardião e a Asa tem o novo Asterix em mirandês para sair.

Para o primeiro semestre de 2022, a única editora a anunciar publicamente, para já, o seu plano editorial foi a G.FLOY (ver imagem). 

Relativamente às restantes, algum secretismo ainda, mas é certo que podemos contar com as continuações de séries do nosso agrado. Apostas na continuação de séries como Corto Maltese, Spaghetti Bros e Armazém Central (Arte de Autor), O Mercenário, Wild West e Undertaker (Ala dos Livros) e Tango (Gradiva) são quase certas.  A Seita já tinha anunciado o regresso de Thorgal a partir do volume 37. O Luís Louro encontra-se a trabalhar num novo álbum (fora do universo do Corvo) e finalmente o Daniel Maia fará a sua estreia por cá com «CoBrA – Operação Goa» (ambos previstos pela Ala dos Livros).
 
Por tudo isto, e apesar da pandemia que teima em ficar, a edição de banda desenhada em Portugal continua de boa saúde, bem entregue e recomenda-se, e no mínimo terá números semelhantes aos de 2021.


02 janeiro, 2021

O ESTADO DA ARTE EM 2020

 
Num ano tão estranho e difícil como foi 2020, o melhor que se pode dizer é que se salvaram os livros! 
 
A actividade bedéfila nacional começou bem, com optimismo por parte de diversas editoras na divulgação do seu plano editorial. Estávamos longe de prever o que se seguiria. Vínhamos de 2019, onde o nosso mercado se tinha adaptado ao desaparecimento da editora Goody que enchia semanalmente as bancas nacionais com banda desenhada. Assim, tínhamos como referência um número a rondar as 240 novidades por ano.
 
Janeiro e Fevereiro tiveram um bom ritmo de lançamentos, com uma média superior a uma novidade por cada dia útil. Mas chegados a Março soaram os primeiros alarmes. O autor italiano Carlo Ambrosini, o cabeça-de-cartaz do Coimbra BD cancelou a sua vinda. O festival, o primeiro dos quatro importantes  que por cá se realizam, ainda aconteceu, reforçado com a presença de autores nacionais. E foi o único. A seguir o país fechou. Um confinamento obrigatório motivado pelo covid19 paralisou praticamente a actividade económica em Portugal entre Março e Abril e afectou de forma negativa a realização dos restantes festivais e o planeamento das editoras. Um dos palcos privilegiados para os novos lançamentos, o festival de BD de Beja, foi cancelado, e Maio fica com o pior registo do ano de termos de novidades. Chegados a Junho, as editoras que tinham ficado com os livros em armazém por causa do confinamento aproveitaram então para encher as livrarias e o resultado traduziu-se num mês gordo com uma média superior a uma novidade por cada dia útil do mês.
 
No segundo semestre do ano assistiu-se à continuação da recuperação. Um destaque para o mês de Outubro, por regra, um mês forte de novidades, devido ao Amadora BD e que este ano não foi excepção, apesar da realização do festival em formato virtual.  E alavancado por este último trimestre do ano, 2020 acaba por fechar praticamente com iguais números de 2019. A listagem completa de todos os lançamentos pode ser consultada AQUI
 
Num olhar pelas editoras, a primeira nota positiva é que aumentou o n.º de editoras que publicaram pelo menos uma banda desenhada durante o ano. Registo com agrado um total de 41. A mais produtiva de todas foi a LEVOIR com 39 edições, repetindo uma posição de liderança que já havia alcançado em 2019. Nas editoras com mais de vinte lançamentos/ano, encontramos ainda a ASA (26) e a SALVAT (26). A fechar este top 5 temos a G.FLOY (24) e a DEVIR (21).
 
Observa-se que as colecções temáticas de periodicidade definida tem um peso grande nos novos lançamentos, se consideramos que na LEVOIR representaram 74% das suas novidades (colecções «Watchmen/Doomsday Clock», «Novela Gráfica VI» e «Clássicos»), na SALVAT representaram 100% (colecção «Integral Asterix») e na ASA cerca de 50% (colecções «Blueberry», «Operação Overlord» e «Rio»). De referir que, não obstante todas as contrariedade do ano, estas três editoras aumentaram o n.º de lançamentos em 2020. Em sinal contrário tivemos a G.FLOY. Apresenta uma queda nas suas novidades na ordem dos 35%. As explicações podem ser encontradas na pandemia que afectou as vendas em banca que pro sua vez implicaram uma reestruturação interna da editora com implicações na sua actividade no mercado nacional. A verdade é que num futuro próximo dificilmente veremos esta editora tão activa como esteve nos últimos anos com lançamentos a rondar as três dezenas. A DEVIR, a referência mangá nacional, registou apenas um ligeiro decréscimo na sua oferta (-1%). No total, a oferta conjugada destas 5 editoras representou 57% do mercado de banda desenhada nacional.
 
No capitulo das editoras com 10 a 20 lançamentos/ano, surgem a NUVEM DE LETRAS (14 novidades) e a ARTE DE AUTOR (14 novidades, incluindo uma em co-edição). A primeira é uma “lufada de ar fresco”. Uma editora virada para a literatura infantil, e que em 2020 apresentou um forte crescimento na produção de bd, apostando num segmento no qual concorre praticamente sozinha. A ARTE DE AUTOR tem vindo a dar pequenos passos de consolidação do seu já importante catalogo, tendo-lhe juntado, entre outros, o belíssimo «Armazém Central» e o delicioso «Spaghetti Bros» (este uma das minhas leituras do ano). A ARTE DE AUTOR é juntamente com a ASA e com a ALA DOS LIVROS uma das referências na edição nacional de bd franco-belga. 
 
A ALA DOS LIVROS liderou o “pelotão” das editoras com menos de 10 lançamento em 2020. Totalizou 9. Passou a ser a nova casa do «Corvo». O regresso deste anti-heroi marcou a estreia da editora na edição de autores nacionais. Não obstante, foi uma das editoras que viu o seu planeamento afectado pela pandemia. Mas o que não saiu em 2020, apresenta-se agora na linha da frente para 2021. Por aqui aguarda-se com ansiedade o «Undertaker» e com expectativa o «Mercenário». No lugar imediatamente a seguir temos a GRADIVA com 8 novidades. Editora igualmente afectada pela pandemia não foi capaz de acompanhar o andamento de 2019. Em ex-aequo surge a ESCORPIÃO AZUL também com um registo de 8 lançamentos. Não obstante uma quebra de 33% nas novidades, celebrou a marca do 50º título do seu catalogo. A fechar esta lista segue-se a jovem A SEITA com 6 novidades, que se traduzem em 8 edições. Parcerias com FNAC e uma co-edição com a ARTE DE AUTOR ajudam a explicar. Abriu o catalogo à bd franco-belga com o Lucky Luke de Matthieu Bonhomme (outra das minhas leituras do ano). Segue-se depois um "comboio" de pequenas editoras (direi assim) com lançamentos de entre 1 a 3 novidades.
 
De registar o forte crescimento que a banda desenhada de origem franco-belga teve em 2020. Este resultado não é só justificado pelas colecções temáticas, que na sua grande maioria tem esta origem, ou no facto das editoras de referência terem aumentado a sua oferta, mas igualmente por ter sido um ano em que algumas editoras não tradicionais de banda desenhada, terem feito uma aposta justamente neste tipo de edição em formato de novela gráfica.
 
E o que se pode concluir?
O que retiramos é que se num ano difícil como foi 2020, sem um pleno funcionamento das nossas editoras, sem festivais de banda desenhada, e ainda assim se registar um total de lançamentos ao nível de 2019, mantendo-se uma vasta oferta de qualidade, e com um bom numero de "novas" editoras a fazerem uma aposta na edição de banda desenhada, só se pode dizer que o nosso mercado de banda desenhada navegou bem entre a tormenta, o que revela sinais de amadurecimento. Um total a rondar as 250 novidades por ano será o que poderemos esperar num bom ano. Em complemento, a aposta de algumas editoras passará agora eventualmente por explorar o nicho de mercado de valorização do livro de bd, com edições limitadas, ofertas de ex-libris ou originais, cujos primeiros ensaios este ano, correram muito bem.
 
Para 2021, depois de contornada a tempestade, espera-se então a bonança.

 

28 janeiro, 2020

O ESTADO DA ARTE EM 2019

Hora aqui de balancear e fechar o ano de 2019. Uma pequena nota prévia para dizer que apenas considerei nesta minha contabilidade edições nacionais, deixando de fora as edições de autor, os fanzines, as edições em português do Brasil, e admito a possibilidade de um ou outro lançamento de natureza municipal ou de pequena editora me ter escapado.

O ano de 2019 viveu com os reflexos da falência da editora Goody em finais de 2018. Recordo o peso desta editora, que nesse último ano lançou para as bancas um total de 96 publicações de banda desenhada, que representaram um terço das publicações de banda desenhada registadas. Obviamente que a importância que a Goody tinha no mercado nacional (e a sua ausência) teve o seu impacto. Assim, em termos de números absolutos, a realidade de 2019 evidencia que o n.º de novidades contabilizados (238) apresente uma queda (-22%) relativamente aos lançamentos do ano anterior (305).

Não obstante, o mercado adaptou-se bem. Registo o facto de se ter verificado um aumento do número de editoras nacionais a publicar banda desenhada. Com efeito, foram 39 editoras (31 em 2018) com actividade, considerando aqui todas aquelas com que registaram pelo menos a edição de um livro/álbum/revista de banda desenhada. Mais interessante se torna quando se verifica que algumas das editoras reforçaram a sua oferta, e em algumas situações duplicaram.

Em termos de mercado nacional de edição, assistimos a uma consolidação, com uma oferta de banda desenhada com origem portuguesa, americana, franco-belga e japonesa, perfeitamente definida.

Em termos de edição de banda desenhada americana contam-se à volta de 70 lançamentos (números redondos). Uma oferta quase praticamente assegurada pelas editoras G.FLOY, LEVOIR, esta última fazendo valer o seu acordo com a DC Comics, que levou mesmo à criação do selo DC Black Label, e PLANETA com o seu universo Star Wars.

Em termos de oferta japonesa (leia-se mangá) esta foi garantida pela DEVIR com cerca de 20 lançamentos.

Relativamente à oferta franco-belga, posso dizer que foi um excelente ano. Não é segredo que é esta "minha praia". E 2019 foi um verão generoso. Assisto cada vez mas a um regresso em força destes franco-belgas para ocupar um espaço que já lhe pertenceu. Foram aproximadamente 70 os lançamentos, distribuídos sobretudo por uma mão-cheia de editoras: ASA, ARTE DE AUTOR, ALA DOS LIVROS, GRADIVA e LEVOIR.

A ASA aposta sobretudo na parceria com o jornal Público para o lançamento de coleções limitadas e nas novidades dos títulos-chave. Pouco ambiciosos. Olhando para o seu rico catalogo podia fazer mais (leia-se editar). Ambição é coisa que não falta à ARTE DE AUTOR e ALA DOS LIVROS. São neste momento as referências nacionais na oferta franco-belga. Ambas apresentam em comum o facto de serem editoras recentes que apostam na construção de bons catálogos e na apresentação de excelentes edições.  O presente ano vai confirmar esta tendência. A GRADIVA foi daquelas belas surpresas de 2019. A aposta na edição de biografias gráficas e colecções sobre grandes exploradores e mitologia grega, trouxe a editora para o patamar daquelas com mais de 12 edições/ano. No presente ano prepara-se para continuar a surpreender. Da LEVOIR podemos sempre contar com as «Novelas Gráficas». A mais-valia de poder editar obras e autores que de outra forma dificilmente veriam a luz do dia em português.

A edição nacional cifrou-se em cerca de 40 lançamentos, com a produção nacional distribuída por várias pequenas editoras, donde se destaca a ESCORPIÃO AZUL, cumprindo com aquilo a que se propôs, de dar a conhecer novos autores.

Em síntese, ainda que 2019 tenha registado um decréscimo no número de publicações, o aumento de editoras nacionais a apostar em banda desenhada, uma oferta diversificada capaz de agradar a todos os gostos e sensibilidades, associada também à grande qualidade de obras, às propostas para 2020, faz-nos acreditar que o mercado de edição nacional encontra-se actualmente com saúde e recomenda-se.

A LISTA COMPLETA DAS EDIÇÕES EM BANDA DESENHADA DE 2019 PODE SER CONSULTADA AQUI

01 janeiro, 2019

O Estado da Arte em 2018

Primeiro um EXCELENTE 2019 para todos! Segundo, 2018 foi dos mais generosos dos últimos anos bedefilamente falando. Tivemos um total de 31 editoras nacionais a contribuírem com a edição em português de um ou mais livros de banda desenhada. O ano foi verdadeiramente incrível com 307 novas edições de banda desenhada em Portugal (a listagem que compilei poderá não ser exaustiva e omitir edições de autor, de pequenas editoras e camarárias que por algum motivo me possa ter escapado). Mais edição menos edição em nada altera aquele que é o melhor resultado dos últimos 5 anos e que dificilmente se repetirá nos anos mais próximos pelas razões que falarei mais adiante.
 
Em termos de entradas e saídas, saúda-se o nascimento de duas novas editoras: a ALA DOS LIVROS e a JBC Portugal. A primeira apresenta-se para um público mais leitor de bd franco-belga, enquanto a segunda promete complementar a oferta de mangá no mercado nacional. Nas saídas, o ano fica irremediavelmente marcado pelo desaparecimento da GOODY. Por ser uma das maiores e das mais activas o impacto irá sentir-se bastante em 2019. Sai de cena ao fim de 6 anos e 463 edições, levando com ela as publicações regulares da Disney e da Marvel.
 
E foi justamente a GOODY a editora mais produtiva de 2018 ao publicar, entre colecções Disney e Marvel, um total de 96 revistas. Um terço do que foi lançado por cá levava o selo desta editora. Uma média de quase duas revistas por semana. Infelizmente não foi o suficiente para a salvar, e com isso prevê-se um 2019 mais pobre em n.º de edições e distribuição de banda desenhada em banca.
 
A LEVOIR surge neste top na 2ª posição. O resultado da sua parceria com o jornal Público, traduziu-se em algumas das melhores coleções do ano. Foram mais Novelas Gráficas, uma surpresa Bonelli, o muito esperado Torpedo, o aniversário da Vertigo, o Batman de Marini e a continuação de Y somaram 42 obras. Para 2019 é uma incógnita ainda.
 
A fechar o top 3 das editoras nacionais encontramos a dinâmica G.FLOY. O seu diversificado catálogo permitiu apresentar em 2018 o seu melhor registo, com um total de 32 edições, duas destas em co-edição com a ComicHeart. Teve um crescimento de mais 8 livros (+33%) relativamente ao ano anterior.
Temos assim que estas três editoras, foram no seu conjunto, responsáveis por mais de 50% da edição nacional de banda desenhada em 2018. E é interessante ver que todas estas editoras disponibilizaram em banca os seus lançamentos.
 
Na quarta posição, está a ASA. Com uma produção em linha com os anos anteriores (28 edições), recuperou do seu catálogo franco-belga séries que estavam esquecida, como I.R.$ e Largo Winch, com o condão de as colocar em linha com as colecções originais.
 
A fechar o top 5 das maiores editoras nacionais, temos a DEVIR. A editora nacional por excelência de mangá, deu continuidade às suas várias colecções,ainda que não ao ritmo de anos anteriores, e por causa disso apresentou, relativamente ao ano anterior, uma quebra no n.º de publicações de 14 (-35%), e com isso fechou o ano com apenas 26 edições.
 
Depois temos uma mão-cheia de pequenas editoras que editaram 5 ou mais livros em 2018. Em consistência com a produção do ano passado. A excepção aqui vai para a GRADIVA com +4 edições e para a estreante JBC que no seu primeiro ano lançou cinco obras. Assim para fechar o top 10 das editoras nacionais temos a POLVO (13 edições), ESCORPIÃO AZUL (10 edições), ARTE DE AUTOR (7 edições), PLANETA (6 edições) e em ex aequo a GRADIVA e a JBC com 5 edições cada.
 
Em resumo, 2018 foi um excelente ano em termos de edição. Desde 2016 que se observa um crescimento do n.º de lançamentos e culminou agora com a bonita marca de 307 obras editadas. Terminadas as colecções grandes da SALVAT que influenciaram os números de 2016 e 2107, e com o fim da GOODY, é expectável a partir daqui um grande abrandamento no número de lançamentos. Por outro lado, o nosso mercado começa  a ter uma maturidade, onde os ajustes passam por um carácter qualitativo. Espera-se assim para 2019 menos bd's mas melhores bd's. Que no mínimo sejam todas boas leituras!
 

 

01 janeiro, 2018

O Estado da Arte em 2017

Nesta primeira nota de 2018 trago aqui os números do ano findo. A impressão que 2017 foi um ano de ouro na edição de banda desenhada em Portugal é confirmada pelo nº de lançamentos e para o bom número de editoras nacionais activas. No levantamento que efectuei registei um total de 284 lançamentos correspondente à actividade de 26 editoras e duas edições de autor. Ressalvo que não contabilizei edições municipais (que contam com o apoio das Câmaras) por falta de informação sobre as mesmas e poderão também ter-me escapado algumas edições avulso de pequenas editoras e mesmo algumas edições de autor, sobre as quais não tive conhecimento, mas que acredito que possam existir.

A GOODY, mesmo com a suspensão dos títulos Disney, que se espera que retomem à publicação este ano, revelou-se como a editora mais activa em Portugal com um total de 56 edições, graças às suas colecções Marvel. O sucesso de títulos como Homem-Aranha e Vingadores, abriu espaço para que em 2018 se junte um novo título: os X-Men.

Em segundo encontramos a editora LEVOIR, que na sua parceria com jornal Público lançou um total de 41 livros. O universo DC teve um papel de relevo servindo de fonte para 4 das 5 colecções editadas. Comparativamente com 2016, revela uma quebra de 4 livros.

A fechar este pódio, encontramos a DEVIR, que com o seu catalogo de manga em crescimento, totalizou um total de 40 lançamentos. Revela um crescimento de +3 livros editados quando comparado com o ano de 2016.

O resultado obtido em 2017 foi o culminar de uma tendência que já se tinha a vindo a observar-se em Portugal nos últimos anos, com uma aposta forte das editoras de banda desenhada numa oferta bastante diversificada, que abrange hoje uma vasta gama de géneros, criando espaço para que todas as editoras possam ocupar um espaço no mercado.  Que 2018 seja no mínimo tão bom!


rectificação: Actualização com a inclusão da edição Marvel Os Vingadores (Série II) #1, com saída para as bancas em Dezembro último, e que por lapso não tinha sido contabilizada anteriormente. Assim, refeitas as contas temos um total de 276 lançamentos durante o ano de 2017, dos quais 48 são da responsabilidade da editora Goody.

2ª rectificação: Foram compiladas mais 8 revistas editadas pela Goody, que perfaz um total de 56 edições desta editora em 2017. O total de lançamento em 2017 passa a registar 284 edições.



04 janeiro, 2013

Revista do Ano de 2012

Como já o tenho feito em anos anteriores, abro o ano novo aqui no blogue para falar do ano velho. E começo por resumir. Numa escala de mau a excelente, classifico 2012 como um ano muito bom para a banda desenhada em Portugal. A análise é feita dentro de um cenário de crise económica real que a todos afecta e que veio para ficar. E no entanto, em 2012 houve arte e engenho para se realizar quatro festivais de banda desenhada em Portugal, houve coragem para fazer surgir no mercado uma nova editora especializada, houve ambição noutras editoras em abrirem o seu catalogo à banda desenhada, houve trabalho de qualidade na edição de obras de referência, houve reconhecimento do talento de autores portugueses por parte de editoras estrangeiras e houve o regresso das revistas Disney aos quiosques nacionais. Convenhamos que para um mercado periférico como o nosso, onde escasseiam novos leitores, onde a banda desenhada tem tão pouca visibilidade, com culpas repartidas entre editores e lojistas, mais a crise instalada, tudo o que aconteceu e que se fez em 2012 foi de facto muito bom.

É verdade que não se editou muito. Uma consulta às entradas aqui no blogue, e ressalvo que não regista todas as novidades, e contabilizo cerca de 80 novos lançamentos, incluindo as colecções Thorgal (16 volumes) e Heróis Marvel I e II (25 volumes no total). Admito que no total a edição de livros e álbuns de banda desenhada ultrapasse a centena e se aproxime dos números de 2011 (cerca de 140 obras). Não é muito quantitativamente. Mas o que faltou em quantidade sobejou em qualidade. E exemplos não faltam.

Começo pela parceria ASA+Público, finalmente uma colecção como deve ser. Nada de reedições, de misturas de histórias e personagens. Thorgal foi exclusivo numa colecção com álbuns inéditos e de excelente apresentação. A ASA voltou ainda a brilhar com 12 de Schuiten, Portugal de Cyril Pedrosa ou Bouncer (vol. 6 e 7) de Boucq. Mas de Pedrosa, tivemos ainda a edição de Três Sombras, da Polvo. Trata-se de uma obra extraordinária, que para mim merece destaque nas melhores do ano. Outro destaque vai para o regresso dos super-herois da Marvel em português às bancas de jornais. A Levoir, uma empresa especializada na produção de conteúdos, em parceria com o jornal Público (que outro mais?) apresentou Herois Marvel, uma colectânea de histórias de vários super-heróis, cujo sucesso garantiu uma continuação. A coleçcão Herois Marvel II surpreendeu pelas excelentes escolhas, e finalmente vimos publicado em Portugal clássicos como Surfista Prateado: Parábola, Wolverine: Arma X ou Demolidor: Renascido. Espera-se agora que este sucesso se estenda aos super-heróis da DC Comics.

Depois entramos nas surpresas do ano. Editoras de géneros de literatura tão variados, como o romance ou o fantástico, começaram a editar banda desenhada. E foi ver a Saída de Emergência, a Contraponto ou a Planeta a acrescentar bd ao seu catalogo. E um género pouco divulgado em banda desenhada entre nós, as autobiografias, de repente ganham um importante peso pela edição de obras premiadas internacionalmente: Persepolis, de Marjane Satrapi, FunHome, de Alison Bechdel ou Comprimidos Azuis, de Frederik Peeters (sobre este último escreverei aqui amanha). A Autobiografia foi mesmo tema escolhido para a 23ª edição do Amadora BD. Apesar dos cortes orçamentais, tanto Beja como a Amadora, conseguiram montar os respectivos festivais, e na verdade, é que com pouco fez-se muito, e a qualidade das exposições e dos autores convidados foi mantida.
Continuando com as surpresas, surge a Netcom2, uma editora espanhola, especializada em banda desenhada franco-belga. Anuncia o lançamento de três novas séries, duas delas já disponíveis. Peca por uma distribuição limitada o que lhe retira alguma visibilidade. Pessoalmente ainda não consegui comprar qualquer dos álbum desta editora. E falar em (boa) distribuição é falar na Disney. Quiosques, hipermercados, livrarias, é só escolher. Após longa ausência (e aqui podemos "agradecer" à Edimpresa) os "patinhas" estão por todo lado, ocupando um espaço que precisava urgentemente de ser ocupado. A futura geração de leitores de banda desenhada começa aqui a sua escola.

E tivemos também autores portugueses a publicar em Portugal. Não foram muitos. E cito aqui só a Joana Afonso com o seu O Baile e o Marco Mendes e o seu Diário Rasgado. Porque foram os primeiros livros destes autores e exemplificam bem o muito talento que há na nossa arte. Mas continua a faltar qualquer coisa para haver uma explosão de edições. Entretanto, lá fora há reconhecimento e o André Araujo é o mais recente reforço da Marvel.

E termino falando da Devir. Esta editora merece toda a minha simpatia. Pequenos passos de cada vez. E só publica livros que gosto de ler. Entre outros, obras como The Walking Dead, uma série que explora, de forma viciante para o leitor, os limites da natureza humana como nenhuma outra. Ou os quatro volumes de Death Note, que me deixam ansioso pelo quinto. E eu que nunca me tinha interessado pela leitura de manga. E pelo Hobbit, pois então!

Mais havia para dizer, mas este testamento já vai longo. A ideia era fazer um apanhado geral do mais relevante. Para finalizar, deixo a minha escolha pessoal das cinco melhores de 2012. Como sempre só edições portuguesas. Move-me um gosto pessoal na selecção, e não existe qualquer critério na ordem apresentada. São estes os escolhidos:


Que o ano de 2013 nos traga muita e boas leituras bedéfilas!

05 janeiro, 2012

Revista do Ano de 2011

Ora cá estamos, e a primeira entrada de 2012 neste blogue serve para fechar as contas com o ano findo. 2011 foi um bom ano para para a edição de banda desenhada em português. Atendendo ao contexto actual de crise, que se reflectiu por exemplo na ausência de grandes nomes internacionais no Amadora BD, sobressaíram os autores portugueses apoiados num bom número de lançamentos. No geral, a edição em Portugal, no seguimento do ano que antecedeu ao da análise, continuou a muito bom ritmo. Entre inéditos e reedições foi ultrapassada uma centena de álbuns publicados - no blogue Leituras de BD podemos encontrar uma lista exaustiva. Mas mais que a quantidade realçava a edição de um excelente lote de álbuns de qualidade.

A ASA que manteve a sua posição de liderança na edição de bd, reforçou ainda mais essa condição, com a aposta, aparentemente ganha, na linha de mangá, onde editou cerca de uma vintena destes títulos distribuídos entre as séries "Dragon Ball" e "YU-GI-OH!". Não descurando a vertente franco-belga, continuou a proporcionar-nos excelentes leituras, como é um perfeito exemplo a publicação dos três volumes de “Águias de Roma”, uma série que aborda um tema recorrente mas sempre interessante na bd franco-belga – Roma Antiga. “Águias de Roma” que conta com a assinatura de Marini conjuga exemplarmente uma história bem estruturada e cativante com um desenho irrepreensível. De leitura obrigatória!

Da parceria entre a ASA e o jornal Público apenas resultou numa única colecção de bd chamada de “Incontornáveis da BD”. Teve o condão de recuperar, com histórias inéditas, algumas séries de qualidade que infelizmente andam esquecidas no tempo, como “Largo Winch”, “O Assassino” ou “Em Busca do Pássaro do Tempo” e aproveitar para o lançamento de outras como “XIII Mystery” e “I.R.$.” das quais seria muito bom haver desenvolvimentos!

Não sei se atentos à concorrência, mas numa iniciativa inédita o Diário de Noticias/Jornal de Noticias lançou também uma colecção de bd. Intitulada “BD Pop Rock Português”. Foi o recuperar de uma colecção lançada inicialmente em 2008, de livros de bd dedicados a artistas e bandas de música portuguesas assinados por autores portugueses. Uma ideia engraçada mas que na prática se traduziu muitas vezes em histórias sem graça, ou por culpa da narrativa ou por culpa do desenho ou por ambos. Nem a chuva de nomeações para os PNBD do Amadora BD chegou para disfarçar a fraca qualidade desta colecção. Acabei por não a fazer!

Bom, bom foi o regresso da DEVIR à edição regular de banda desenhada com um total de mais de 1.000 pranchas publicadas. E aqui só tivemos qualidade: Sin City, Walking Dead, Wolverine e o excepcional Blankets. Outras duas editoras também deram nas vistas. A BOOKSMILE por ter levado o barco a bom porto, leia-se a publicação integral da série "Scott Pilgrim" e a TINTA-DA-CHINA que nos trouxe um novo livro das agora extraordinárias aventuras de "Dog Mendonça e PizzaBoy" (DMePB). E falar em DMePB é falar em Filipe Melo que reuniu em Portugal os argentinos Juan Cavia e Santiago Villa para a apresentação deste segundo livro. No Festival Amadora BD houve salas cheias, filas intermináveis nas sessões de autógrafos e recorde de vendas na livraria! E atrás da qualidade que se lhes assiste, veio o reconhecimento internacional com a publicação de DMePB no difícil mercado americano pela mão da Dark Horse. Ano em grande com ameaças para 2012!

Em termos de festivais, realizaram-se todos os que existem. Assim, para além da realização do Amadora BD na sua 22ª edição, tivemos ainda a 17ª edição do Moura BD, o 2º festival AniComics, o 8º Festival de BD de Beja e o 17º Salão Internacional de BD de Viseu. E para quem queria mais, houve no final do ano o anúncio surpresa da realização em 2012 de um novo festival na cidade do Porto, o MAB Invicta – Festival Internacional de Multimédia, Artes e Banda Desenhada. De Norte a Sul, de Este a Oeste, a oferta de eventos bedéfilos a nível nacional começa a compor-se!

Termino deixando, como habitualmente, as minhas escolhas do ano. Devo dizer que não foi fácil escolher apenas cinco títulos (que na realidade são 7), mas prevaleceu o gosto pessoal quer no desenho quer na história. Sem qualquer ordem específica são estes os meus eleitos do ano de 2011:

  • As Águias de Roma – vols, 1, 2 e 3 (ASA)
  • Blankets (Devir)
  • The Walking Dead – vol. 2 (Devir)

Para 2012 espera-se mais e melhores leituras!