...fica aqui o meu balanço sobre os 17 dias de BD na Amadora deste ano, passados entre exposições, autógrafos e novidades editoriais.
Para começar, a avaliação global que faço é que o festival correu bem, dentro das limitações a que já nos habituou. Penso ter existido uma maior afluência de público, que é bastante positivo, e confirmou, se dúvidas houvessem, que o
Fórum da Brandoa é a "casa ideal" para o FIBDA, não deixando ficar saudades dos espaços que o antecederam.
No entanto, em ano de maioridade, as exposições do 18º FIBDA revelaram-se pouco ambiciosas, quiçá condicionadas pelo orçamento, o que se traduziu em mostras fracas, entre as quais destaco pela negativa as relativas às "10 BD’s do Sec. XX", que ocupava um lugar de destaque no piso 0 e a dedicada à BD italiana para adultos intitulada "O Caso Italiano" destinada a maiores de 18 anos, localizada no piso -1. Enquanto a primeira limitava-se simplesmente a exibir, em pequenos espaços, uma dúzia de capas de álbuns/revistas alusivas ao personagem em questão, sem qualquer historial, a segunda confinava-se um espaço com ar de bordel, onde se encontravam expostas pouco mais de meia dúzia de pinturas erótico-sugestivas, deixando de fora praticamente as pranchas, por exemplo de um dos mestres do desenho porno-erótico, que por acaso era só um dos autores convidados pela organização. É caso para dizer, muita parra, pouca uva! Muito negativo também foi a quase total ausência de referência a Hergé, um autor bem conhecido do público português, no ano do centenário do seu nascimento. Pela positiva, pessoalmente gostei da exposição "Salazar, Agora na hora da sua morte" (piso 0), não só pela arrumação do espaço mas também por ser possível visualizar a evolução dos desenhos das várias páginas da obra.
No piso -1, funcionou a zona nevrálgica do festival, ou seja a zona comercial e de autógrafos. Foi, porventura, uma das mais bem conseguidas que tenho memória em FIBDA’s. Um
espaço amplo e aberto, onde as bancas comerciais ladeavam uma zona de estar central que se fazia a ligação à zona de autógrafos através de um corredor largo e arejado, que tão bem funcionou para as filas que se formaram, nomeadamente no caso de Manara. Qualquer comparação com o afunilamento que se verificava em anteriores edições realizadas, por exemplo na estação de metro ou na escola inter-cultural é mera ficção!
Relativamente aos autores presentes, como vem sendo hábito, a organização convida poucos autores conhecidos e muitos ilustres desconhecidos. Assim, o italiano Milo Manara foi o nome grande presente, que provocou a formação de longas filas, que chegaram inclusive a encerrar horas antes do final da sessão, para a obtenção do desejado autografo. Talvez não seja alheia a esta popularidade o facto de grande parte da obra deste autor estar publicada em Portugal. Destaque também para José Carlos Fernandes, não só pelas nomeações obtidas e pelos prémios arrecadados, que consolidam o seu estatuto de principal e mais profícuo autor de bd (sob transe) em Portugal, reconhecimento esse também feito pelo publico, a avaliar pelas filas nas sessões de autógrafos. Acresce o facto de ter sido publicado (o que em Portugal não é fácil para um autor de bd) mais um álbum seu, o sexto volume da famosa série “A Pior Banda do Mundo” intitulado “Os Arquivos do Prodigioso e do Paranormal”. Sublinha-se o regresso de Luís Louro, agora numa inverosímil dupla com Nuno Markl, com o terceiro álbum das aventuras do “Corvo”. Em termos de novos talentos, confesso-me um apreciador da arte de Filipe Teixeira (responsável pelo "C.A.O.S." da editora Kingpin Comics, salvo seja!).
Em termos das (poucas)
novidades editoriais, sublinho a quantidade de autores portugueses de que viram os seus trabalhos publicados. Para além do já citado “
Os Arquivos do Prodigioso e do Paranormal” (de JC Fernandes) pela DEVIR, que segundo consta foi o “
canto de cisne” da editora em termos de publicações de bd em Portugal; tivemos “
Corvo 3 - Laços de Família” (de Luís Louro/Nuno Markl), “
Obrigado, patrão” (de Rui Lacas) e a republicação de “
Everest” (de Ricardo Cabral), todos pela ASA; “
C.A.O.S. Livro 3” (de Filipe Teixeira/Fernando Dordio Campos) e “
Super Pig 3” (de Mário Freitas/Gevan) pela editora KingPin Comics e “
Sexo, Mentiras e Fotocópias” (de Álvaro) e “
Bang Bang” (de Hugo Teixeira) pela Pedranocharco. Convenhamos que não é habitual um tão elevado número de publicações de autores portugueses e peço desculpa se me esqueci de alguém!
No que respeita à bd estrangeira, como apaixonado pelos clássicos que sou, e pelas memórias que me traz, destaco aqui a publicação do álbum de “Tarzan – Volume 1” com as pranchas dominicais de Russ Manning do período de 1968-1970, com a qualidade que a editora Bonecos Rebeldes já nos habituou, ou não fosse ela a responsável pela publicação actual das aventuras do “Príncipe Valente”.
No que concerne à área comercial, continuo a achar que o festival tinha potencialidade para promover uma feira de venda de bd em 2ª mão, convidando alfarrabistas, até porque a banda desenhada não é só as novas edições!
Em resumo, mais um ano mais um festival, que mais não seja serve para rever “velhas” caras, obter um desenho de vez em quando de um super-autor e conhecer melhor a “nossa” banda desenhada e os “nossos” talentos. Para o ano, na sua 19ª edição o FIBDA terá como tema subjacente a ficção científica!
As minhas notas sobre o 18º FIBDA:
Notas positivas:+ José Carlos Fernandes
+ Milo Manara
+ Espaço da área comercial e de autógrafos do festival
+ Lançamento de vários álbuns de autores portugueses
Notas negativas:- Exposição “As 10 BD’s do Séc. XX”
- Falta na evocação do centenário de Hergé
- O preço dos álbuns na área comercial
- Convite a autores (quase) desconhecidos do grande público
legendas das fotografias por ordem de aparição, da esquerda para a direita:foto 1 – exposição "O Caso Tiotónio" piso -1
foto 2 – exposição "Salazar, Agora na hora da sua morte" piso 0
foto 3 – detalhe da zona de autógrafos
foto 4 – Milo Manara
foto 5 – Cameron Stewart
foto 6 – Rui Lacas
foto 7 – Filipe Tixeira
foto 8 – detalhe da banca de venda da KingPin Comics