À porta do segundo fim-de-semana do festival, posso afirmar que a (minha) primeira impressão sobre a edição do Amadora BD deste ano é muito positiva. Ainda que pairem algumas nuvens escuras, é um bom começo para uma nova equipa. Assistimos ao regresso de grandes autores estrangeiros publicados em Portugal, a uma excelente presença de autores nacionais, ao lançamento de um grande número de novidades editoriais, e as exposições, em geral, mantém a mesma qualidade de sempre. O festival é isto. Uma celebração da banda desenhada em todas as suas vertentes e em comunhão com todos os seus intervenientes.
O Ski Skate Amadora Park, a nova casa do festival, e ao que parece a definitiva (seja lá o que isto signifique para os lados da Amadora) não é dos sítios mais centrais. Aliás, diria mesmo que estamos a falar de arredores da cidade. O parque de estacionamento cheio explica-se porque o carro é a solução mais pratica e mais rápida para chegar ao recinto. Confesso que não tive a noção da adesão do público. Tanto no Sábado como no Domingo, a zona comercial (ver mais abaixo) esteve sempre cheia mas não serve de indicador. No edifício principal encontramos um bom espaço para exposições. Espaçoso e sobretudo bem iluminado, e é neste último ponto que verificamos um absoluto contraste relativamente ao piso negativo do Fórum Luís de Camões. Ao invés de um lugar frio, temos agora um espaço aprazível que acolhe pequenas galerias de arte. No silencio das salas quase que conseguimos ouvir as falas. Não posso deixar de dar, mais uma vez, os parabéns à equipa de cenógrafos que prepara cada área de exposição. Nos cenários sentimos o ambiente de cada história. Nota extremamente positiva.
Ficaram ainda por ver as exposições fora do núcleo central do festival. Mas é uma questão antiga esta da descentralização. Pessoalmente acho um erro. Sobretudo porque os restantes espaços de exposição são colocados noutra ponta da cidade. Para um visitante do festival, não é viável, nem se proporciona, sair de um espaço onde tudo acontece para se deslocar para outro apenas para ir ver uma ou duas exposições. O Amadora BD dura 10 dias por ano. Se a Câmara Municipal da Amadora faz mesmo questão na realização das mostras noutros espaços culturais da cidade, recordo que restam ainda 240 dias para o efeito. Nota negativa para a descentralização.
No Ski Skate Amadora (sou só eu que acho piada à ideia de escrever as palavras “Ski” e “Amadora” na mesma frase? ), a zona comercial encontramos num segundo edifício. Uma estrutura (tenda) com ar de provisória, mas que vai ficando como definitiva. Aqui gostei da ideia de se concentrar as lojas e os balcões de autógrafos em redor do palco onde decorrem as apresentações e entrevistas. O chamado “três em um” mas com sentido. Apresentação, venda e autografo. É a Santa Trindade de um livro. É certo que não impera o silencio, mas a envolvência dá uma dinâmica de feira onde só se respira banda desenhada. O único senão, a meu ver, é o próprio espaço, que é manifestamente reduzido para as necessidades actuais, e eventualmente futuras.
E foi justamente a questão do (pouco) espaço que ganhou maior importância logo no primeiro fim-de-semana do festival. A presença de “pesos-pesados” na categoria de autores, trouxe ao de cima a inexperiência do staff de apoio na gestão do próprio espaço. Acresceu a dificuldade de comunicação. E depois foi correr atrás do prejuízo. Se a implementação de um sistema de senhas é positivo, porque evita a aglomeração de pessoas, não se compreende a obrigação da criação de uma fila no exterior da tenda justamente para os autógrafos. É a subversão de toda a lógica das senhas. Eu, portador de uma senha, circulo a meu belo-prazer, e à medida que se aproxima o meu número, dirijo-me ao local. Agora ficar duas horas à espera numa fila é um absurdo. Ainda há muito a trabalhar e melhorar pela organização neste ponto.
No primeiro fim-de-semana, aconteceu também a entrega dos prémios nacionais de banda desenhada do festival. Talvez a única nota positiva dos prémios. Aconteceu no Domingo (4º dia), mas melhor ainda seria se acontecesse na Quinta (1º dia). Tem toda a lógica os vencedores serem conhecidos desde do inicio do evento de forma que todos os intervenientes, sejam autores ou editores, possam durante o festival, beneficiar desse reconhecimento. Até porque sabemos que este é efémero. Porque no pós-festival, não há, infelizmente, conhecimento de qualquer promoção e divulgação, tirando uma ou outra nota que surja na comunicação social, mas que rapidamente é engolida no vórtice de notícias diárias. Diz quem assistiu que a entrega deste ano, que foi uma cerimónia constrangedora, despida de público. Não me surpreende, porque no fundo é o reflexo perfeito de uns próprios prémios sem credibilidade, uma sombra do que já representaram. Há por aí alguém que ainda valoriza os actuais PBDA? Muito a fazer pela organização. A começar pela revisão do regulamento de forma a tornar os prémios representativos, abrangentes e que valorizem os principais actores: autores e editores. Ponderar o dia e local da entrega dos prémios para o início e no sítio onde acontece a festa da BD. Para quem lê este blogue sabe que isto já não é novo por aqui. A alternativa, que existe, é não fazer nada, deixar tudo como está, e apresentá-los como os prémios mais risíveis da banda desenhada portuguesa! E na falta de categoria de humor, não se perde tudo. Fica a sugestão!
Para terminar este olhar inicial sobre o Amadora BD, até porque ainda há mais festival para acontecer, mais uma nota ou duas sobre (alguns) autores. Gostei muito do regresso do Jorge Miguel. Um autor que aprecio bastante, e cujo reconhecimento por cá lhe faltava. É também para isto que se faz um festival de banda desenhada. E falando em regressos, na conversa que tive com o Osvaldo Medina (outro da minha preferência), disse-me que o facto de não ter publicado nada nos últimos anos, não significa que tenha estado afastado. O resultado está à vista com «Macho-Alfa» o primeiro de quatro volumes. O seguinte já está pronto e o terceiro em produção. Mas o melhor é mesmo o regresso de Kong The King. Sim, o segundo volume vai acontecer! Quanto ao incansável Luís Louro, já se sabe que está a produzir um novo trabalho. Aponto para a magnum opus do autor. No próximo fim-de-semana vai estar à conversa. Vamos ver se temos mais novidades!
Encontramo-nos no festival!