Está fechado o ano de 2016. Ficará registado como um dos mais produtivos dos últimos anos em termos de edição de banda desenhada em Portugal. Não disponho de números oficiais –
o editor José de Freitas numa análise que fez, disponível aqui, contabiliza cerca de 225 livros/edições – mas eu fiquei com a sensação que saiu para os habituais pontos de venda (livrarias e bancas) o equivalente a um livro por cada dia útil do ano. Não há muitas dúvidas que houve muita quantidade, muita variedade e acrescento muita qualidade, o que é um excelente sinal de consolidação do nosso mercado, que está vivo e recomenda-se.
E agora o que esperar para 2017 por parte das editoras nacionais?
Bem, a fasquia está alta. Tento dar aqui uma ideia do que nos espera. Não havendo o hábito das editoras divulgarem antecipadamente o plano editorial do ano, baseio-me nas informações que já se encontram a circular por aí. Começo seguindo uma ordem alfabética:
Em primeiro temos a
ASA. A editora tem no catalogo franco-belga a sua grande aposta. Nos últimos tempos tem centrado a sua atenção tempos em cinco populares séries: Asterix, Lucky Luke, Blake e Mortimer, Michel Vaillant e Águias de Roma. Os quatro últimos títulos citados viram ser publicado um novo álbum em 2016, por conseguinte qualquer novidade nestes títulos será por agora difícil. Também não é expectável a edição de novas séries até porque o foco da ASA passa muito pelas coleções em parceria com o jornal Público, que totalizaram 22 álbuns em 2016. Em 2017, o normal será a ASA fazer publicar uma colecção entre 10 a 12 álbuns (VALERIAN?), a que se soma os 5 álbuns remanescentes da colecção em curso
Os Túnicas Azuis. Agora, seria igualmente interessante a edição do Corto Maltese, da dupla Juan Díaz Canales/Rubén Pellejero. É só uma ideia.
Segue-se a DEVIR. Está em falta com o FROM HELL. Tendo falhado este lançamento em 2016, é mais que previsível que (mais) “Alan Moore” seja editado agora em 2017. Entretanto, esta editora de manga por excelência já anunciou mais duas novas séries para o seu catálogo: ONE PUNCH MAN e PLATINUM END (com data prevista para Março). E a manter o mesmo volume de edição de 2016, podemos igualmente contar este ano com cerca de quatro volumes de cada uma das séries manga em curso, mais dois volumes de The Walking Dead e ainda para os mais novos a continuação de Adventure Time. No total, espera-se uma produção a rondar as 30 edições por parte desta editora.
Sigo para a G-FLOY. Responsável pelas séries mais entusiasmantes que se publicaram no ano transacto, já anunciou a vontade de publicar, este ano, um número entre 25 a 30 edições. Para já, e ainda durante este mês, teremos OUTCAST e VELVET (Vol. 2). Depois, e não necessariamente pela ordem apresentada, vem WYTCHES (de Scott Snyder), CAPITÃO AMÉRICA BRANCO (de Loeb e Tim Sale), CAGE (de Brian Azzarello e Richard Corben) e fala-se em MIRACLEMAN de Neil Gaiman. E teremos certamente mais dois volumes de cada uma das entusiasmantes séries da editora: Saga, Tony Chew, Southern Bastards, Harrow County. E claro, a conclusão de Velvet. E para compor o pacote devem-se juntar novidades ainda no segredo dos deuses.
Depois temos a LEVOIR. Foi a editora que mais publicou em 2016. É uma das grandes responsáveis pelas colecções do jornal Público. Se durante 2016 publicaram três colecções num total de 41 volumes, a que se somaram algumas edições soltas, para 2017 não se pode esperar muito mais que isto, até porque como o José de Freitas fez notar na sua análise, não há mais semanas disponíveis com o jornal Público. É certo que uma das colecções será a terceira série de NOVELAS GRÁFICAS num número a rondar os 15 volumes, e depois é esperar que venham mais super-heróis.
Avanço para a PLANETA. No ano passado agarrou a edição do Universo Star Wars para Portugal. Para este início de ano já anunciou dois títulos: Star Wars – ACADEMIA JEDI (ainda durante este mês) e Star Wars – TRILOGIA DO IMPÉRIO NEGRO (para Fevereiro). É previsível que edite um total de 5 a 6 livros este ano. A pensar nos mais novos trará um novo álbum de Gerónimo Stilton (para Março).
Chego à
SALVAT. Com cerca mais de metade da sua
Colecção Oficial de Graphic Novels Marvel já publicada, podemos esperar para 2017 a edição da quase totalidade do resto da colecção. Faltam 26 volumes dos 60 volumes previstos.
E depois faltam editoras como a ARTE DE AUTOR para a qual há uma expectativa de repetir os números do ano passado com cinco edições; a GOODY, que ultrapassadas as dificuldades, espera-se que continue a encher as bancas de "patinhas" e a POLVO que certamente fará sair mais um TEX para acompanhar a vinda de Andrea Venturi e Massimiliano Leonardo a Portugal
E autores portugueses? Parece que há belos livros para serem lançados este ano.
Na KINGPIN recupera-se o tempo perdido e prepara-se para um bom ano. A Joana "Mosi" Simão encontra-se a trabalhar em O OUTRO LADO DE Z que conta com o argumento de Nuno Duarte. Mário Freitas escreve e Marta Teives desenha O ÚLTIMO POLLOCK. Fernando Dordio, Osvaldo Medina e Inês Falcão Ferreira preparam O ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE. E para este ano há também o novo álbum NOCTURNO do autor da casa Tony Sandoval,
Na POLVO, repete-se a dupla André Oliveira e João Sequeira numa nova banda desenhada, intitulada LUGAR MALDITO.
O Daniel Maia tem finalmente preparada a adaptação para banda desenhada de O INFANTE PORTUGAL EM UNIVERSOS REUNIDOS, que conta com o argumento de José de Matos-Cruz.
O Nuno Saraiva encontra-se a dar os traços finais no seu novo livro FADO DE MALHOA, O PINTOR FINO DA MOURARIA. Mais uma edição Egeac / Museu do Fado.
E a dupla Filipe Melo / Juan Cavia não descansam à sombra do sucesso de Os Vampiros, e já meteram de novo "mãos à obra", encontrado-se a trabalhar numa nova história, do qual foram revelados alguns desenhos nas redes sociais com a hashtag #Sleepwalk. Expectativas altas, mais uma vez!
Em resumo, em 2017 irá manter-se um bom ritmo de edição de banda desenhada. Não acredito que ultrapasse os números de 2016, mas andará certamente na casa das duas centenas. Em termos de grandes obras, será difícil "bater" o "Ano Alan Moore", mas pode ser que seja o "Ano Neil Gaiman". Muita produção de autores nacionais o que deixa antever Beja e Amadora com óptimas novidades. Que venham os livros!