Ontem, foi na qualidade de visitante que participei naquela que foi a 1ª edição da Comic-Con Portugal. O profissionalismo com que vinha a ser anunciado à alguns meses e o número e o nome dos convidados criou boas espectativas. Hoje, se me perguntarem qual a minha impressão sobre o evento, só poderei dar uma nota negativa. Foi tudo mau, muito mau. Filas, e filas, e desorganização pelo meio e ainda mais filas. Fico com a sensação que prepararam uma festa para 10 pessoas e apareceram 100. A festa é um sucesso? Não, é um desastre!
Comecemos. Como chegar à Exponor? Para um visitante vindo de fora do Porto, todas as informações são sempre úteis. E a página oficial do evento, prestou nisto um grande auxílio. Explica que chegando à estação ferroviária de Campanhã, toma-se o metro (linha Azul), em direção ao Senhor de Matosinhos, com saída na Rotunda da Boavista (estação Casa da Música). Depois apanha-se o autocarro da STCP 601 para o Aeroporto e sair na Exponor. Mais simples e fácil não era possível.
Apanho o comboio em Lisboa às 7h da manha e ainda não eram 10h e eu já estava na Invicta, na paragem à espera do 601. Miguelanxo Prado, um dos autores convidados que me fez fazer a viagem a norte estava previsto para as 11h para participar numa sessão de autógrafos, e por volta das 12h, estaria no auditório para falar com os leitores. Só se acontecesse um terramoto é que nunca chegaria a horas. Quando cheguei, a paragem do 601 já estava com uma fila bem composta de pessoal. Não atendi a este pequeno (que viria a revelar-se enorme) pormenor. O tempo passa, foi passando, e passando e de 601 nada. Espero, esperei, e confesso que estive para desesperar. Finalmente, passa o primeiro. Vem apinhado de gente. Nem pára para abrir portas. Começo a ter consciência que a coisa pode correr mal. Apercebo-me que a cadência de passagem do autocarro 601 é de 45 em 45 minutos!!! Parece que ninguém da organização se lembrou desta questão. Não houve um protocolo com a STCP para um aumento do n.º de carreiras, não houve um autocarro directo fornecido pela organização. Não houve nada. A mensagem da Comic-Con começa a ser clara na minha mente: visitante desenrasca-te. Hora e meia de espera numa paragem cada vez mais cheia, passa o segundo 601. Apinhado. Olho para as horas e o Miguelanxo Prado já está a meio da sessão de autógrafos. Passa um 507 e alguém diz que também serve a Exponor. A loucura é total e o autocarro é tomado de assalto. Um quarto para o meio-dia e finalmente estou a caminho. A viagem faz-se por estradas e ruas secundárias. São paragens e paragens. A Exponor fica longe, em Leça da Palmeira. É tudo menos central. Acresce mal servida de transportes. Como é que alguém se lembra de organizar qualquer coisa aqui?
Meio-dia e meia. Desço na paragem à frente da Exponor. Olho para uma longa fila para entrar que serpenteia para fora das instalações daquela feira de exposições. Não acredito que aquilo seja a fila para quem já tem bilhete comprado previamente. Dizem-me que sim. As portas já abriram à duas horas e a fila parece interminável. Será possível?
Neste momento já perdi o painel com a presença de autores portugueses, a sessão de autógrafos com o Miguelanxo Prado e nem um deslumbre da Morena Baccarin vou conseguir. Portanto deixou de se justificar a minha vinda e o valor que paguei pela entrada.
A fila avança vagarosamente. Vinte minutos depois estou finalmente na entrada, no portão 2B. «O pior já passou. Vamos lá aproveitar» penso eu. Esqueçam. Sou informado que tenho de escolher seguir uma das quatro enormes filas que existem dentro do pavilhão. Começo a questionar seriamente se não entrei inadvertidamente numa qualquer dimensão paralela onde o bizarro domina.
É mais uma hora de fila. São quase duas da tarde quando entrego o meu bilhete de entrada para validação. Em troca recebo uma pulseira. Pulseira? Pára tudo! Todo este tempo de espera à entrada é devido a uma pulseira?? Esperei quase hora e meia para isto?? Mas é tudo feito de gente parva por aqui?! Refeito, pergunto por um programa e o mapa do recinto. Claro, que não há! Já nada me espanta nesta organização.
Consulto no telemóvel o programa e há um painel com Brian K. Vaughan e Marcos Martin às 14:30h e sessão de autógrafos de BD a partir das 15:30h. Parece-me bem. Decido ir almoçar. Adivinhem? Filas, e filas, e filas em tudo que é bar. Claro que neste ponto já não faço planos. Deixo-me ir. Vai ser mais uma hora e picos antes de comer.
Enquanto aguardo a minha vez, acontece o Brian Vaughan no Auditório Comics e a Natalie Dormer no Auditório A. Obviamente tudo me passará ao lado. As duas senhoras que estão atrás do balcão fazem o seu melhor, mas estão claramente em insuficiência. Expliquem-me lá! A Exponor é um recinto próprio para albergar feiras e exposições com milhares de visitantes? A sério? O humor desta gente deixa-me desconcertado.
São 15:15h quando, munido de comida e bebida, sigo directo para a zona dos autógrafos de BD. Tudo o resto ficará por ver. Cortesia da organização. A fila para o Brian Vaughan já chega a metade da sala. Mais meia-hora e sairá para fora da área destinada. A organização marcou para a mesma hora e apenas uma hora autores como Carlos Pacheco, Brian Vaughan, Javier Rodriguez e Marcos Martin. Toda a gente percebe que é claramente insuficiente. Toda a gente não, na organização do evento parece que há quem não perceba nada disto. Haverá leitores que não conseguirão o desejado autógrafo. Vaughan acede ficar mais meia-hora adicional para que ninguém fique prejudicado. Merece respeito. Seguem-se Pia Guerra, o marido Ian Boothby e Claudio Castellini. E será tudo o que levo desta Comic-Con. Na verdade já estou completamente saturado com tudo isto. Com as horas perdidas, foi-se a vontade para deambular pelas várias áreas.
De tudo ficam só duas notas positivas. A primeira para o desfile da Marcha Imperial Star Wars que envolveu uma boa dezena de Stormtroopers, o próprio Imperador e claro está Darth Vader, numa figura imponente. E para os Walkers da Fox. Magnifica caracterização e interpretação das personagens que pareciam ter saído directamente de um dos episódios de The Walking Dead.
Dirijo-me para a saída. E adivinhem? Tenho ainda mais uma última fila para vencer. Parece incrível. Mas já não tenho forças para questionar. A irracionalidade definitivamente prevalece neste mundo.
Finalmente saio porta fora. Desta Comic-Con fico com a certeza que o visitante, aquele que paga o bilhete, é o elo mais fraco de uma cadeia de interesses. Isto diz bastante de uma organização. E se às vezes nos perguntamos como é que o nosso país chegou ao estado onde se encontra. A resposta muitas vezes está à nossa frente. É que pessoas ligadas à organização da Comic-Con também votam.
Temos várias formas de medir o sucesso (ou não) de um evento. Pode ser pelo número de bilhetes vendidos, pela qualidade dos convidados, pelo rol de críticas positivas de vários intervenientes. São tantas as formas de medir, que dificilmente qualquer evento não terá sucesso. Não tenho dúvidas que os 30.000 visitantes do evento servirão para revestir de «sucesso» esta iniciativa. A questão que eu coloco é quantos destes 30.000 visitantes voltarão no futuro para repetir a experiência? Da minha parte digo já: não obrigado!
O norte tem com certeza bons motivos para ser visitado, mas a Comic-Con não é com a certeza absoluta um deles. E termino como comecei. Nesta 1ª edição da Comic-Con Portugal foi tudo mau, muito mau.