Esta é para mim talvez uma das noticias bedefilas mais negativas do ano, apesar de ter passado quase despercebida e de poucas reacções ter suscitado neste nosso meio, para grande espanto meu ou não se tratasse de uma das melhores colecções que tem sido publicadas entre nós nos últimos anos e, da qual, eu era grande apreciador. Quando finalmente sai o sétimo álbum (ver imagem) da colecção integral do Príncipe Valente surge a polémica, com uma história mal explicada entre os editores Manuel Caldas e José Vilela que culminou no afastamento do primeiro do excelente projecto que tinha vindo a desenvolver. O portal Central Comics - único sítio onde encontrei uma referência a esta noticia, publicou mesmo uma carta aberta de Manuel Caldas, que tomo a liberdade de transcrever de seguida na integra:
"Estimados seguidores do Príncipe Valente:
Alguns já o sabem, mas outros não: apareceu este mês nas livrarias um novo volume da edição da obra de Hal Foster por mim concebida e a cujos volumes antes publicados dediquei anos de trabalho. No entanto, com o novo volume, o sétimo (1949-50), EU NÃO TENHO ABSOLUTAMENTE NADA A VER. É muito importante que todos compreendam isto, pois, apesar de o meu nome não estar na ficha técnica, há ainda quem tenha dúvidas, sendo para esses que estou a escrever.
Não devia haver razões para dúvidas: o novo volume é mau, muito mau, desde a capa à contracapa; um absoluto arremedo da qualidade e do espírito dos seis anteriores; uma edição que deveria envergonhar todos os que a tornaram possível, mesmo que, com o devido bom-senso, não se tenham arvorado em restauradores das páginas de Hal Foster. Em qualquer parte do mundo, edições assim tão más do PV, com aspecto de fotocópias em sétima ou oitava mão, já não se faziam desde os anos 80 do século XX.
E por que motivo apareço eu agora desligado dum projecto editorial que fora por mim concebido e só graças ao meu trabalho aturado e apaixonado transformou finalmente em êxito comercial uma edição do PV em Portugal? Tinha o actual editor (que anteriormente foi comigo co-editor) poder para me "despedir"?
Era ele o verdadeiro e único editor, apesar de na ficha técnica aparecermos os dois como editores?
Não, ele não tinha poder para me excluir e éramos mesmo ambos os editores. E nem ele era, como muitos pensam, o sócio capitalista, aquele graças a cujo dinheiro fora possível iniciar a edição; não: TODAS as despesas para publicar cada um dos primeiros seis volumes foram suportadas em PARTES IGUAIS pelos dois. Mas, sim, o contrato para a obtenção, da King Features, dos direitos de publicação da obra foi tratado por ele e só por ele assinado.
Não que assim tivesse de ser, mas apenas porque eu vivo na Póvoa de Varzim e ele em Lisboa, onde se situa a agência que representa a King Features em Portugal. No entanto, se os direitos de publicação do PV em Portugal estão na mão dele, entre nós dois foi feito (não logo no início, mas mais tarde, na altura em que resolvemos sanar conflitos que haviam surgido) um contrato que me consagrou como fazedor da edição. E então, porque é que, mesmo assim, resolveu arrumar comigo? Porque, publicados os volumes que implicavam mais trabalho de restauro, considerou ele que a partir do sétimo já qualquer pessoa seria capaz de me substituir, permitindo-lhe a ele ganhar mais dinheiro.
O resultado está à vista nas livrarias e o tribunal decidirá qual a extensão dos direitos de cada um de nós.
Para muitos, a ideia de que, apesar de tudo, eu esteja por trás de tão execrada edição dever-se-á ao facto de nas badanas do livro os textos serem os mesmos dos volumes anteriores. Sim, são os que eu escrevi, mas foram usados sem a minha autorização e, pior ainda, desacreditando-me junto de qualquer pessoa quando a certa altura neles se lê, a propósito da edição: "os 22 volumes que a formarão constituirão a edição a preto e branco definitiva do 'Prince Valiant' de Hal Foster." Que arrojo sem escrúpulos: usar as minhas palavras para impingir gato por lebre! Também disto terei de pedir contas. No entanto, elucidados, só comerão o que é mau os que com tal não se importarem.
Para terminar: que todos saibam também que nada tenho a ver com a actual edição do 'Tarzan' do Russ Manning nem com a futura (e de qualidade muitíssimo duvidosa) edição do 'Flash Gordon' do Alex Raymond. Neste momento, o que eu publico é o 'Hagar', o 'Lance' (segundo volume em preparação) e uma edição em espanhol para venda só por correio do 'Príncipe Valente' (cinco volumes saídos); e preparo o primeiro volume de 'Ferd'nand', com as primeiras tiras (de 1937) da série.
Para todos, saudações cordiais do Manuel Caldas"
Alguns já o sabem, mas outros não: apareceu este mês nas livrarias um novo volume da edição da obra de Hal Foster por mim concebida e a cujos volumes antes publicados dediquei anos de trabalho. No entanto, com o novo volume, o sétimo (1949-50), EU NÃO TENHO ABSOLUTAMENTE NADA A VER. É muito importante que todos compreendam isto, pois, apesar de o meu nome não estar na ficha técnica, há ainda quem tenha dúvidas, sendo para esses que estou a escrever.
Não devia haver razões para dúvidas: o novo volume é mau, muito mau, desde a capa à contracapa; um absoluto arremedo da qualidade e do espírito dos seis anteriores; uma edição que deveria envergonhar todos os que a tornaram possível, mesmo que, com o devido bom-senso, não se tenham arvorado em restauradores das páginas de Hal Foster. Em qualquer parte do mundo, edições assim tão más do PV, com aspecto de fotocópias em sétima ou oitava mão, já não se faziam desde os anos 80 do século XX.
E por que motivo apareço eu agora desligado dum projecto editorial que fora por mim concebido e só graças ao meu trabalho aturado e apaixonado transformou finalmente em êxito comercial uma edição do PV em Portugal? Tinha o actual editor (que anteriormente foi comigo co-editor) poder para me "despedir"?
Era ele o verdadeiro e único editor, apesar de na ficha técnica aparecermos os dois como editores?
Não, ele não tinha poder para me excluir e éramos mesmo ambos os editores. E nem ele era, como muitos pensam, o sócio capitalista, aquele graças a cujo dinheiro fora possível iniciar a edição; não: TODAS as despesas para publicar cada um dos primeiros seis volumes foram suportadas em PARTES IGUAIS pelos dois. Mas, sim, o contrato para a obtenção, da King Features, dos direitos de publicação da obra foi tratado por ele e só por ele assinado.
Não que assim tivesse de ser, mas apenas porque eu vivo na Póvoa de Varzim e ele em Lisboa, onde se situa a agência que representa a King Features em Portugal. No entanto, se os direitos de publicação do PV em Portugal estão na mão dele, entre nós dois foi feito (não logo no início, mas mais tarde, na altura em que resolvemos sanar conflitos que haviam surgido) um contrato que me consagrou como fazedor da edição. E então, porque é que, mesmo assim, resolveu arrumar comigo? Porque, publicados os volumes que implicavam mais trabalho de restauro, considerou ele que a partir do sétimo já qualquer pessoa seria capaz de me substituir, permitindo-lhe a ele ganhar mais dinheiro.
O resultado está à vista nas livrarias e o tribunal decidirá qual a extensão dos direitos de cada um de nós.
Para muitos, a ideia de que, apesar de tudo, eu esteja por trás de tão execrada edição dever-se-á ao facto de nas badanas do livro os textos serem os mesmos dos volumes anteriores. Sim, são os que eu escrevi, mas foram usados sem a minha autorização e, pior ainda, desacreditando-me junto de qualquer pessoa quando a certa altura neles se lê, a propósito da edição: "os 22 volumes que a formarão constituirão a edição a preto e branco definitiva do 'Prince Valiant' de Hal Foster." Que arrojo sem escrúpulos: usar as minhas palavras para impingir gato por lebre! Também disto terei de pedir contas. No entanto, elucidados, só comerão o que é mau os que com tal não se importarem.
Para terminar: que todos saibam também que nada tenho a ver com a actual edição do 'Tarzan' do Russ Manning nem com a futura (e de qualidade muitíssimo duvidosa) edição do 'Flash Gordon' do Alex Raymond. Neste momento, o que eu publico é o 'Hagar', o 'Lance' (segundo volume em preparação) e uma edição em espanhol para venda só por correio do 'Príncipe Valente' (cinco volumes saídos); e preparo o primeiro volume de 'Ferd'nand', com as primeiras tiras (de 1937) da série.
Para todos, saudações cordiais do Manuel Caldas"
Apesar de ainda só conhecermos a versão de uma das partes, quer-me parecer a mim, até pelo conteúdo duro da carta, que esta confusão não terá um final feliz, sendo certo que já existe um lado perdedor e esse é de certeza os leitores e coleccionadores desta colecção. Já tinha adquirido o sétimo volume, bem antes de ter conhecimento desta polémica, apesar de ainda não o ter lido. Agora que folheei algumas páginas, nota-se efectivamente um decrescente de qualidade, não só ao nível da legendagem que se apresenta agora um tipo de letra menos harmonioso com o desenho, como o próprio desenho em algumas das pranchas a não se apresenta tão nítido e com tanto detalhe como nos volumes anteriores.
Já aqui por vezes tinha elogiado esta colecção, não só pela sua ambição - a publicação integral das aventuras do Príncipe Valente, em 22 volumes, mas também pelo nível qualitativo a que se propunha, ou não estivesse Manuel Caldas, reconhecido especialista da obra de Hal Foster, por detrás deste projecto, defendendo mesmo como a edição do ano.
Uma vez alterados os pressupostos qualitativos, da minha parte a colecção termina aqui e lamento que num meio tão pequeno como o nosso, os entendimentos sejam tão difíceis e que projectos válidos raramente chegam ao fim porque valores (egoístas) se sobrepõem ao amor pela banda desenhada!
17 comentários:
Amigo Verbal.
Eu fui uma das pessoas a quem o amigo Manuel Caldas enviou directamente a carta mencionada.
De imediato, enviei a resposta, garantindo que ficava à espera da continuação do seu trabalho.
E principalmente por dois motivos:
1 - Prezo a honestidade
2 - Não compro gato por lebre.
Infelizmente continuamos a ser um país pequenino, com pessoas com vistas curtas, que querem ganhar dinheiro depressa.
Mas o meu dinheiro, não vai o Sr. Vilela ver.
Quando quiser ler o volume, vou á FNAC e leio, mas comprar papel borrado, nem pensar...
Um abraço e vamos todos lutar pela qualidade dos trabalhos da BD portuguesa.
Labas
Amigo Labas, apesar de não conhecer o Manuel Caldas, respeito muito o seu trabalho, cujo excelente resultado está á vista nos primeiros seis volumes da colecção do Príncipe Valente. Basta comparar com outras edições publicadas para observar o notável trabalho que foi desenvolvido. Como respeito bastante o trabalho de outros, nomeadamente o desenvolvido em prol da BD, e em Portugal, e como sempre me guiei por critérios qualitativos, é como afirmei: a colecção do Príncipe Valente para mim terminou, infelizmente, no volume seis!
Assim, tb eu fico a aguardar por outras novidades!
Abraço
Cenas tristres...
Deixando d lado os possiveis defeitos da ediçã0 q n comprei (tal como volumes anterires) todo isto já é história velha, que já deve ter quase um ano, q foi nessa altura q o caldas foi "despedido".
Reletavimanete ao resto e as culpas cada um q s defenda, e neste caso só foi divulgada, uma versão dos acontecimentos, e nem é mais correcta, e nesta história o caldas pode ser muita coisa mas n é inocente, nem um infeliz traído e abusado.
enfim, lavagem de roupa suja e incapacidade d admitir erros...
"enfim, lavagem de roupa suja e incapacidade d admitir erros..."
Sabes como é Bruno quando as comadres se zangam descobrem-se as verdades :) .
"1 - Prezo a honestidade
2 - Não compro gato por lebre.
Infelizmente continuamos a ser um país pequenino, com pessoas com vistas curtas, que querem ganhar dinheiro depressa.
Mas o meu dinheiro, não vai o Sr. Vilela ver.
Quando quiser ler o volume, vou á FNAC e leio, mas comprar papel borrado, nem pensar.."
Pois é Labas e depois o pessoal das editoras pergunta-se porque muito pessoal prefere importar as bds la de fora,e as nossas andam sempre aflitas.Mas nota-se que o vil metal tebe muito peso na decisão.
E não se esquecam que essa edição serviu de modelo para a coleção P.V. Da Opera Grafica Brasuca,entre outras
Afinal como é Bruno: dizes que só foi divulgada uma versão dos acontecimentos e ao mesmo tempo dizes que "nem é a mais correcta"?!? Então conta aqui ao pessoal a versão correcta, porque pelos vistos conheces-la. Tou a ver que tens conversado muito com o Caldas e com o Vilela!
Respeito as opiniões de todos e por isso agradeço que respeitem a minha opinião.
Eu tenho os meus motivos, vocês terão os vossos.
Cá fico à espera das outras versões, ou será que como sempre ficamos só pelas ameaças e pelas meias palavras?
Basta apenas que alguém tenha feito umas duas ou três compras ao Vilela para perceber que não foi o homem que durante anos fez os fanzines Nemo e Zero a portar-se mal nesta história. E não é por toda a gente sabido que um estava na edição do Príncipe Valente por paixão e outro apenas por dinheiro?
Concordo que é legitimo publicar BD por dinheiro, mas quando se trata do mercado português convenhamos, que o "vil metal" não pode ser a principal motivação, porque atente-se aos casos da Abril/Controljornal, Meribérica, Devir, só para citar alguns. Por isso gosto de acreditar quem publica BD em Portugal fá-lo por paixão, não para enriquecer. E na presente situação, tratando-se de uma personagem como o Príncipe Valente , tenho sérias duvidas que algum editor ganhe dinheiro q.b. com esta colecção. Perante isto, muito me espanta esta zanga entre editores, e encontro-me por isso no grupo daqueles que gostaria de saber o que afinal aconteceu a um projecto que apresentava mais paixão que tentação.
"tratando-se de uma personagem como o Príncipe Valente , tenho sérias duvidas que algum editor ganhe dinheiro q.b. com esta colecção. Perante isto, muito me espanta esta zanga entre editores, e encontro-me por isso no grupo daqueles que gostaria de saber o que afinal aconteceu a um projecto que apresentava mais paixão que tentação."
----É evidente que dava e dá dinheiro, Verbal. E o que afinal se passou está bem explicado na carta aberta do Manuel Caldas. Eu, que no tempo em que este fazia fanzines falei algumas vezes com ele, não tenho duvida nenhuma da sua honestidade.
Realmente, quando li o último volume fiquei um tanto ao quanto desanimado pela fraca qualidade, comprarando com os anteriores álbuns. É triste. Não sabia desta querela; agradeço-te Verbal pela tua muito oportuna chamada de atenção. Foi como eu me senti, depois de ler este teu post: comido!
Quando o caso for a tribunal temos todos de tar lá, porque um caso assim, realacionado com a bd, nunca se viu em Portugal.
Faço (fazia) a colecção do Principie Valente desde o número um.
Quando aparecia um novo volume à venda era como uma renovação da esperança de ver editado em português e com qualidade os grandes clássicos.
A desilusão veio ao folhear o sétimo volume. Péssimas legendas e imagens e sem a costumeira folha do Manuel Caldas.
Procurei o seu nome na ficha técnica e, ainda bem, que o não encontrei.
Logo vi que alguma coisa teria acontecido.
A minha colecção do Principie Valente terminou com o 6º volume.
Até poderia comprar o 7º mas a qualidade não justifica o preço. Para isso compro as edições a cores da Manuscript Press.
Não conheço pessoalmente o Manuel Caldas mas acredito que tudo deve ter feito para que a colecção mantivesse a qualidade.
Agora “resta” o fabuloso Lance e o Hagar.
Em frente Caldas !!!
Tal como eu já calculava,continuamos à espera da outra versão deste caso...
Bem dizia eu que iamos ficar pelas meias palavras...
Quando sabemos algo que pode esclarecer um caso, não devemos ser cobardes, e devemos dizer mesmo aquilo que sabemos.
Essa coisa de dizer meias frases é bom é para o futebol, não é para a BD!!
Vamos lá Bruno, venha daí essa outra versão "mais correcta" do que se passou!
A versão correcta é evidentemente a do manuel caldas. O Bruno não sabe nada. Nem sequer fazia a colecção do Príncipe Valente. E diz que o Manuel Caldas foi despedido pelo Vilela quando um nunca foi empregado do outro. está lá bem claro na ficha técnica dos primeiros seis livros que eles eram ambos editores. Aliás, isto era´público. Aliás, toda a gente sabe que a colecção só começou a publicar-se porque o Manuel Caldas era capaz de fazer os livros. Não foi o Vilela que lhe encomendou nada.
Para quem possua (o que é o meu caso) edições antigas com as histórias do Príncipe Valente, percebe de imediato a enorme mais-valia que esta colecção integral seria para a BD portuguesa. A diferença é tão simples como esta, passou-se de vinhetas borradas para autenticas obras de arte do desenho, e não dar o merecido crédito ao Manuel Caldas neste projecto ou é por má-fé ou então por distracção. Seja como for, desconfio o que nunca chegaremos a saber toda a verdade, mas já sabemos o veredicto final, nós bedefilos ficamos a perder!
A verdade é o que diz Manuel Caldas, e quem conhece o Vilela não pode duvidar: depois dos primeiros seis volumes publicados, ele (Vilela) concluiu que para os seguintes já não era necessário grande trabalho de restauro e que podia ganhar mais dinheiro se fosse outro a fazer o trabalho do Manuel Caldas. O resultado está à vista de todos.
Claro que toda a gente sabe que foi por dinheiro a mais nada. E agora os seguidores da coleção ficam com esta porcaria que é o 7º volume. Uma vergonha! Eu no lugar do Manuel Caldas lutaria até ao fim das minhas forças em tribunal pelo reconhecimento dos seus direitos.
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