Num ano marcado (novamente) pelo lançamento de belas obras, a leitura de O MEU IRMÃO de JeanLouis Tripp, edição da ALA DOS LIVROS, faz inteiramente justiça a isso. E começava por aqui, talvez pelo mais fácil, pela magnifica edição. Irrepreensível!
Não é a primeira vez que esta editora faz isto. O resultado de tanta atenção no pormenor resulta numa declaração de amor do editor à obra. O livro, que vale mais que o somatório das páginas que comporta, torna-se um objecto de admiração e exibição. Ao folhear sentimos uma reverência à obra e ao leitor: lombada em tecido, papel denso e generoso, um caderno de extras onde o autor abre a porta da sua dor e memória e o pormenor de um marcador em fita de cetim roxa - cor da dor perda e que também simboliza a tristeza profunda. Não são todas as obras que merecem este luxo, mas esta merece. Não estamos perante apenas um livro.
Com o desenho da capa, história ganha desde logo uma envolvência com contornos solenes antes da sua leitura. Não é fácil ler esta obra; muito menos terá sido fácil escrevê-la. Tripp oferece-nos um relato de coração aberto: na sua juventude, perdeu o irmão mais novo numas férias de Verão. Ser narrador de uma tragédia desta dimensão revela bem a sua necessidade de partilha e apaziguamento. Fá-lo de uma forma sóbria, com uma narrativa bem construída, num relato na primeira pessoa, assente em factos, emoções e sentimentos. Vejo aqui um sincero e comovente exercício de exorcização de fantasmas e culpas.
Temos a violência do acidente, num desenho realista graficamente brutal, mas ainda mais violento é o que segue — das horas intermináveis à espera de ajuda, dos rostos de revolta, da procura das palavras, do esgotamento das lágrimas, da consternação e tristeza. E da vida que se seguiu. Do tempo para sempre marcado por um “depois”.
O autor expressa muitas vezes a dor, página após página, apenas pelo desenho porque sabemos que nestes momentos não há palavras certas.
“Não se morre a meio de umas férias de Verão quando se tem onze anos”. Mas o Gilles morreu.
O MEU IRMÃO é uma homenagem indelével à fragilidade da existência e à força da memória.
É um dos mais belos exercícios de narrativa gráfica que já li. Cinco Estrelas!
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