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18 outubro, 2023

As capas do 34º Amadora BD

Por aqui vamos entrar em modo AMADORA BD. Ia escrever que se trata do último festival nacional de BD do ano, mas o Coimbra BD parece ter renascido e anuncia-se agora para os próximos dias 10, 11 e 12 de Novembro. Voltando ao Amadora BD, o evento começa já amanhã, com a inauguração dos núcleos expositivos na Galeria Municipal Artur Bual, que recebe a exposição Traço e Têmpera, dedicada à autora Marta Teives; na Bedeteca da Amadora que recebe a exposição comemorativa dos 75 anos do Tex Willer; e no final do dia, no Ski Skate Park (já mudavam esta designação, não?), abrem as portas do núcleo central do festival, que reúne o grosso das exposições e onde irá decorrer toda a programação.

A edição deste ano fica desde já marcada pela presença da estrela brasileira Maurício de Sousa, naquela que será muito provavelmente a sua última visita ao nosso país. Terá à sua espera a exposição dedicada “Mônica 60 anos: Sempre fui forte”, comemorativa dos 60 anos da Turma da Mónica, que inclui tiras originais. Outra estrela, mas do universo franco-belga, é o francês Émile Bravo, autor de uma das melhores aventuras do Spirou, cuja terceira parte foi recentemente editada pela ASA. Estes dois autores estarão presentes para apresentações e sessões de autógrafos nos dias 21 e 22. 

Toda a programação pode e deve ser consultada aqui no sitio oficial do festival (seria fastidioso estar aqui a transcrever). 

Mas uma das mais-valias do festival, para além do contacto com os autores nacionais e estrangeiros, as sessões de autógrafos, as exposições (que valem sempre a visita) são os novos lançamentos. É justo dizer que as nossas editoras se prepararam bem para este momento. O Amadora BD, na qualidade de maior festival nacional, é sem dúvida uma excelente montra, e por isso estarão presentes as principais editoras e livrarias especializadas. Tudo com as devidas consequências para as nossas carteiras!

O número de novidades este ano ultrapassa as duas dezenas!!! Reuni aqui uma pequena mostra, de capas que as editoras disponibilizaram, não exaustiva, das novidades que que vamos poder encontrar na 34º edição do Amadora BD.  A estas somam-se ainda os mais de 250 lançamentos que já ocorreram este ano!! Portanto muita oferta! Bom festival, boas compras e boas leituras! Encontramo-nos por lá!

 

 
 
 
 
 
 

 

 

11 outubro, 2023

Leituras: Uma estrela de algodão negro

Não tenho conseguido ler muita banda desenhada nos últimos tempos, mas que tenho lido, felizmente, têm-me enchido as medidas. E hoje trago uma dessas leituras. Trata-se de álbum que confronta o leitor com uma dura realidade histórica, a questão da segregação racial que sempre dividiu a sociedade americana, e que aqui é representada sob um pano de fundo histórico bem conseguido.
 
UMA ESTRELA DE ALGODÃO PRETO, uma recente edição da editora  ALA DOS LIVROS, é um álbum poderoso. Quando qualquer história mexe com o leitor, então o objectivo do livro realiza-se. Foi este o caso.
 
O nosso já conhecido Yves Sente (ainda no ano passado tivemos deste autor o magnifico A Vingança do Conde Skarbek) tem aqui mais uma narrativa bem construida, combinando elementos reais com ficcionais, e com um tratamento bastante interessante de questões históricas, sociais e culturais. Apresenta ao leitor uma história de guerra, onde sentimentos de injustiça, orgulho e coragem são impulsionados por personagens cativantes.
 
Transporta-nos para o cenário europeu da Segunda Guerra Mundial, onde acompanhamos a difícil missão de três soldados afro-americanos na recuperação da primeira bandeira da União, cujo simbolismo associado se revelava de elevada importância na História do Estados Unidos. Estabelece-se aqui um paralelismo com os chamados Monument Men, uma secção das forças aliadas que teve um papel vital na recuperação e preservação de obras de arte e tesouros culturais durante a Segunda Guerra Mundial, crucial para preservar a herança cultural e histórica da Europa. Sente não se esquiva em dar o papel principal a estas três personagens, em especial o soldado Lincoln por quem sentimos uma natural empatia, para abordar uma dura realidade: a segregação racial vigorava em 1944 no exército dos EUA. 
 
E depois temos a arte de Steve Cuzor. Para quem o conhece já sabe ao que vai; para quem como eu não conhecia (teve uma pequena participação a meias no álbum Go West Young Man, que não deu para avaliar bem) acreditem que é uma bela surpresa. Dono de um traço limpo, elegante extremamente  realista, trabalha muito bem todos os diferentes cenários (brutal o desembarque na Normandia) e intervenientes da narrativa, é aqui muito muito bem secundado pela colorista Meephe Versaevel que com as suas cores monocromáticas particularmente cuidadas e contratantes definem ambientes, proporcionando um deleite visual ao longo de todo o álbum.

Em resumo, uma história densa e emotiva, que tem tanto de enriquecedora como de envolvente. E há toda uma atmosfera visual que dá um verdadeiro sabor à narrativa. O desfecho trágico é inesperado e acabo a leitura com um murro no estômago. Sem dúvidas, temos aqui um dos álbuns do ano!
 
A edição da Ala dos Livros é primorosa como aliás é apanágio desta editora. Álbum duplo que reúne os dois volumes que compõem a história, que é servida no formato de capa dura e nas generosas dimensões de 31x23 que dificilmente não deixam de agradar ao leitor de bd franco-belga.
 
Avaliação:
 

20 setembro, 2023

Unicórnios!

No nosso imaginário e por definição temos o unicórnio como uma figura mitológica que tem a particularidade o facto de ser um animal extremamente raro de encontrar. E qualquer coleccionador sabe o bem o valor desta última palavra. Rara é sempre aquela peça muito difícil de encontrar e/ou obter mas pela qual sentimos um enorme desejo de possuir na nossa colecção. Resumindo, será justo a apropriação e considerá-la como… um unicórnio! 

Isto a propósito porque para além de leitor, sou igualmente coleccionador de livros, mais concretamente de obras de banda desenhada. E como qualquer coleccionador que se preze tenho uma boa listagem de alguns unicórnios desejados. Antes procurava-os em feiras de ocasião, de antiguidades, alfarrabistas, mas com o advento das redes sociais, passei a caçador de sofá. As plataformas de venda de produtos usados e grupos de leilões são um terreno fértil. Uma grande variedade e tudo à distância de um clique. E a verdade que se soltaram alguns unicórnios. Edições que procurava literalmente há anos, e que para mim tinham praticamente o estatuto de “mito urbano”, ou seja, ouvimos falar que existem, mas nunca lhe pusemos a vista em cima, começaram a aparecer. Também é verdade que para algumas pediram-me um rim, e não dei. Felizmente para outras a coisa foi mais razoável. 


São quatro os unicórnios que escolhi e que estão entre as entradas raras mais recentes na minha bedeteca. Podemos pensar nos factores que contribuíram para a sua raridade ou dificuldade em encontrar estas edições no mercado. A antiguidade será sem dúvida uma delas, mas há outras:

 
 
Começo pela edição de A Casta dos Metabarões. Esta saga é para mim das melhores coisas de ficção-científica que já se fez em banda desenhada. Saída do universo do “Incal”, é assinada por dois monstros, Jodorowsky no argumento e Juan Gimenez no desenho. A história de uma linhagem de guerreiros lendários, que servem como mercenários a casas nobres que governam o universo conhecido Este quinto volume, Cabeça-de-Aço o Avô, em capa dura, foi editado em 2004 pela Meribérica. A colecção no seu original conta com oito volumes, por cá ficou pendurada aqui. As razões da sua raridade prendem-se eventualmente pelo facto de ter sido das últimas edições da Meribérica, uma vez que editora fechou as portas nesse ano. Uma tiragem reduzida poderá ser uma das principais razões, a que se acresce todos os problemas resultantes da movimentação de stocks de uma editora falida. Depois de uma demanda por mais de uma década(!) para poder ler finalmente este álbum, e um belo dia encontro o álbum, em excelente estado, numa página de vendas de bd pela módica quantia de € 15. Há dias assim! Mantenho a esperança de ver esta saga integralmente editada em português. 
 
Segue-se A Terra sem Mal, de Lepage e Sibran, uma edição de 2003, em capa dura da Vitamina BD. A história de uma europeia perdida numa comunidade indígena na América do Sul que se deixa levar pela tribo numa viagem através da selva em busca de um mundo melhor. Lepage é um autor de quem me lembro sempre das suas magnificas cores nas pranchas da série Muchacho que estiveram em exposição durante o festival Amadora BD de 2009. E este Terra sem Mal escapou-me aquando da sua edição. E voltar a encontrá-lo? Trata-se de outra edição que sofre do mesmo mal da referida anteriormente: a fecho da editora, aqui com a agravante do problema sério relacionado com a falência do distribuidor que ficou com os stocks de livros. E a verdade é que nem naquelas feiras com material da Vitamina BD se consegue encontrar este álbum. Consegui através do insistente contacto com o pessoal da BD Mania, a quem agradeço, terem-me desencantado um exemplar lá do fundo do caixa no mais recôndito dos armazéns.
 
 
 
Continuando, temos o terceiro volume de O Terceiro Testamento, de Xavier Dorison e Alex Alice, uma edição de 2001 pela Witloof. Uma colecção composta por quatro álbuns e, felizmente, toda editada em português, em belas edições de capa dura. Uma história envolvente e magnificamente ilustrada, passada em plena Idade Média, onde um ex-inquisidor tenta desvendar um dos segredos da Igreja. Dorison, já sabemos, é um excelente contador de histórias. Acrescento que a Witloof foi uma editora portuguesa com um excelente catálogo franco-belga, e este Testamento foi uma das suas pérolas. Agora, confesso não conseguir perceber o facto de ser tão difícil encontrar especificamente este terceiro volume, Lucas ou o Sopro do Touro, de seu título, no mercado de segunda mão. Encontra-se muito facilmente em feiras, o primeiro e o quarto volumes, Marcos ou o Despertar do Leão e João ou o Dia do Corvo, respectivamente, e a preços muito acessíveis; o segundo volume, Mateus ou a Face do Anjo, vai aparecendo de vez em quando; agora ver este terceiro volume à venda individualmente é simplesmente raro. Não encontro explicação. O meu exemplar consegui-o num leilão, felizmente para a minha carteira, pouco disputado.
 
Por último, o último que me faltava na magnifica colecção As Cidades Obscuras: Brüsel, de Schuitten e Peeters, numa edição de 1993, em capa mole da Meribérica. A série já se sabe desenvolve-se num mundo fictício de grandes espaços urbanos dotados de cenários arquitetónicos verdadeiramente impressionantes e surreais criados por Schuiten, onde cada edifício tem a sua própria cultura e segredos, e que se assumem invariavelmente como protagonistas de histórias que exploram a relação entre a humanidade e a tecnologia, a preservação da memória e a busca pela verdade. Dos onze álbuns da colecção original (o 12º está previsto sair em finais de Outubro deste ano, e tem edição portuguesa já garantida na colecção Novela Gráfica), em Portugal temos editados dez, por várias editoras. Este Brüsel é o quinto da colecção, e um dos mais difíceis de encontrar a preços ditos razoáveis. A antiguidade aqui conta bastante, porque já lá vão 30 anos desde a sua publicação. Acresce ainda falência da editora, e o nome consagrado dos autores que tem um público dedicado aqui em Portugal (entre os quais eu me incluo), que talvez ajudem a perceber a sua raridade. A minha edição veio de um leilão pouco participado com uma licitação nos últimos minutos para não inflacionar o preço. Finalmente!

Quanto aos restante unicórnios que ainda permanecem na minha lista, vou manter a sua identidade em segredo até porque tenho esperança em encontra-los e preciso do meu rim!

13 setembro, 2023

Rentrée Bedéfila

Agora todas as Quartas-feiras em vez de divulgar um qualquer novo lançamento por cá, vou trazer aqui um qualquer assunto relacionado com a banda desenhada e que me apeteça falar. Já comecei a semana passada com o Estado da Arte em Agosto, e das mais de cem novidades que ainda nos esperam até ao final do ano, e hoje, aproveitando, vou falar de regressos, ou melhor, socorrendo-me de um galicismo, falar da rentrée bedéfila.
 
 
Os rolos nas gráficas já começaram a acelerar agora que entramos num dos períodos com maior oferta de banda desenhada, seja no mercado português ou no mercado franco-belga. Por cá, como ainda não temos muito a tradição da divulgação com grande antecedência do que está para vir, pouco sabemos. Confesso não perceber este secretismo por parte dos nossos editores, mas eles lá saberão melhor da questão da comunicação do seu negócio melhor que eu. No entanto, algumas editoras já disseram qualquer coisa. A listagem que se segue está longe de ser exaustiva, é apenas um levantamento.
 
Da parte da ASA, para além do esperado 40º álbum das aventura de Astérix, O Lírio Branco, cuja capa foi recentemente revelada (consta que esta antecipação inesperada foi para conter uma fuga de informação dentro da editora francesa), teremos uma edição comemorativa do 60.º aniversário do álbum As Joias de Castafiore, do Tintin, as reedições de alguns Lucky Luke, um Blake e Mortimer de homenagem, A Arte da Guerra, assinado por Floc'h, um novo Spirou com a terceira parte de A Esperança Nunca Morre, de Émile Bravo (convidado do próximo Amadora BD), um novo Michel Vaillant, e ainda uma nova coleçcão, cujo título está guardado a sete chaves e que deverá sair com o jornal Público (tenho uma forte suspeita do que será e a confirmar-se é magnifica… voltarei a este assunto mais tarde).
 
Já da GRADIVA, podemos esperar o regresso de Alix Senator com mais dois álbuns, um Nestor Bruma (o quinto volume) e finalmente mais um álbum da série Grandes Batalhas Navais, desta vez dedicado a Trafalgar, que corresponde originalmente ao primeiro volume desta colecção. Recordo que o segundo, Jutlândia já se encontra editado por cá.
 
Da ALA DOS LIVROS, esperamos impacientemente pelo Corvo VI. Já temos o título, O Segredo dos Indecentes, já temos a imagem da capa e já temos uma página, só falta mesmo o álbum físico (dia 26 nas livrarias). E desta editora podemos sempre esperar mais umas surpresas!
 
Já a IGUANA anunciou o regresso da famosa Mafalda, de Quino, que vai voltar a ser publicada no nosso mercado na colecção O Indispensável de Mafalda. Para quem perdeu o imperdível integral Toda a Mafalda, a edição comemorativa dos 50 anos, tem agora uma nova possibilidade. 
 
 
 
A insuspeita RELÓGIO D’ÁGUA divulgou para Outubro a publicação do primeiro volume do romance gráfico DUNA, a adaptação para banda desenhada da obra-prima de ficção científica de Frank Herbert, depois ter sido já adaptada para o cinema. Espero que esteja à altura da responsabilidade!
 
Mas como disse no inicio é no mercado francês que existe a tradição por parte das editoras em divulgarem o que vão publicar e daí resolvi dar uma volta por aqueles lados, e ver o que se espera da rentrée francofóna. Ficam só as capas de alguns dos lançamentos, investiguem se quiserem! O consolo é saber que alguns dos próximos álbuns vão previsivelmente e felizmente ter uma edição portuguesa. Pode é não ser este ano! Boas leituras!
 
Da parte da DARGAUD:
 
 
Da parte da DUPUIS:
 
 
 
Da parte da GLENAT:
 
 
Da parte da LOMBARD:
 
 
Da parte da CASTERMAN:

06 setembro, 2023

O Estado da Arte em Agosto

E hoje trago aqui uma coisa diferente. Por norma este é um exercício que faço no final de cada ano, mas desta vez resolvi fazer um intermédio para avaliar como se está a comportar o nosso mercado editorial de banda desenhada depois de um 2022 que superou todas as expectativas. E talvez seja esta a melhor altura para se ficar com uma ideia. Findo Agosto entramos no último quadrimestre do ano, que estatisticamente é aquele que concentra o maior número de novidades – basta recordar que no ano passado este período representou cerca de 45% dos lançamentos desse ano e como isso pode ajudar a confirmar se o mercado de edição de banda desenhada em Portugal, atravessa ou não uma nova época dourada.

 

 
Falta infelizmente no nosso mercado bedéfilo um indicador chamado Vendas. Não existem dados públicos e parece existir um certo secretismo em cada editor relativamente às tiragens e respectivas vendas. Mas tal não nos impede de aferir o estado da arte em Portugal, através de outros indicadores, nomeadamente pelo incremento do número de lançamentos.

Olhando para os números, referentes aos primeiros oito meses de 2023, estes revelam-se pujantes. No final de mês de Agosto, encontravam-se contabilizados cerca de 205 lançamentos. Representam uma taxa de crescimento de 19% face a 2022, o que significa que até à data já se editaram mais de três dezenas de novidades em comparação com igual período no ano passado. E entramos agora em Setembro. Eu não diria que a venda de banda desenhada em Portugal é uma actividade sazonal até porque a edição faz-se ao longo do ano todo, mas há qualquer coisa nos últimos meses do ano. Não sei se motivado pela realização do maior festival nacional de BD; se pela maior época festiva de consumo que é o Natal, se por ambos, mas os números não mentem e é um período fortíssimo…. abalo para as carteiras dos leitores!

Numa estimativa optimista, considerando o que já foi anunciado por algumas das editoras, com a informação que recolhi entretanto e com o que previsivelmente ainda se espera que venha a ser editado, posso afirmar que é expectável que até ao final do ano, as bancas e livrarias nacionais (principais canais de distribuição) recebam ainda cerca de 115 a 120 novas edições de banda desenhada. Dá praticamente a média de um livro por dia nos quatro meses que restam, o que fará que 2023 feche com um total a rondar entre as 320 a 325 novidades. A confirmar-se teremos um número que bate o resultado alcançado em 2022 (310 lançamentos) e a confirmação que o sucedido no ano passado não foi uma situação passageira mas antes reveladora de uma tendência, que a edição da banda desenhada em Portugal está actualmente de muito boa saúde e que se recomenda!

E este resultado não deixa de ser fantástico, não só pela reduzida dimensão do nosso mercado, mas também porque os tempos que correm não seriam à partida o terreno mais favorável para este crescimento, se olharmos para uma realidade europeia mergulhada numa taxa de inflação alta, em taxas de juro que não param de subir e para uma guerra na Europa que nunca mais acaba... e não sendo os livros de banda desenhada produtos de primeira necessidade, são vulneráveis a crises económicas.
 
Mas há razões que contribuem para este boom, sobretudo nos últimos dois anos, e são de vária ordem. Eu destacaria aqui três:
 

  • Proliferação de editoras a incluir BD nos seus catálogos: As novelas gráficas e sobretudo o manga deram uma forte visibilidade à edição da banda desenhada, e isso atraiu a atenção de novas editoras, que começaram a olhar para este mercado de BD de forma diferente, de tal forma que no ano passado registou-se um bom número de entradas de novas editoras. Em consequência tivemos lançamentos provenientes de quase meia centena(!) de editoras/chancelas portuguesas. Até finais de Agosto deste ano, contabilizo cerca de 40 chancelas/editoras com actividade.

  • Diversificação de géneros: Uma coisa leva a outra, e a chegadas de (novas) editoras ao mercado, cada uma com uma filosofia própria, e na descoberta do seu público, conduz a uma maior concorrência e a uma aposta na diversidade. Assim para além das tradicionais séries de aventura e fantasia, as nossas editoras passaram a publicar uma variedade de outros géneros, e este ano observa-se um tendência para as bd's de carácter biográfico, para as adaptações literárias, para os romances, e uma aposta muito forte também nos leitores mais infantis, e tudo isso atrai um público mais amplo e diversificado, que leva a um aumento da base de leitores. 

  • Internet e as redes sociais: O mundo digital trouxe um novo impulso para a disseminação da BD. E nos tempos que correm a informação é tudo,  e os novos canais de divulgação, leia-se blogues dedicados e grupos de opinião e discussão nas redes sociais ajudaram e ajudam à promoção da banda desenhada em Portugal. E a realidade é esta: a informação permanentemente actualizada sobre novidades, lançamentos, festivais, eventos existe, circula e está facilmente acessível a todos a partir de um clique para um público global.

 
Ainda que o mercado francófono tenha recuperado relativamente ao ano passado, a edição nacional de banda desenhada encontra-se actualmente sob grande influência do mercado de manga, e a liderar esta oferta surge, quase sem surpresa diria eu, a DEVIR. Editora que graças ao seu já extenso catalogo de manga continua a dominar no mercado, ainda que numa "luta" com a ATLÂNTICO PRESSque trouxe os super-heróis de volta às bancas com a sua colecção Clássica Marvel (que este ano recebeu uma extensão de mais 30 volumes) repetindo-se assim uma corrida já observada em 2022. A dúvida aqui será saber se a DEVIR conseguirá ultrapassar as cinquenta edições este ano para manter a "coroa" conquistada no ano passado.
 
Já faltam menos quatro meses para confirmarmos todo este cenário, mas pelo meio temos o festival de BD da Amadora, um palco por excelência para apresentação de novidades, que certamente ajudará a validar estas expectativas de um “livro por dia”. Continuação de boas leituras!