01 janeiro, 2007

O ESTADO DA ARTE EM 2006


Em termos bedéfilos, atrevo-me a escrever que o ano de 2006 não correu nem bem nem mal, antes pelo contrário. Pode parecer confuso, mas fazendo uma análise do ano que passou, fico com a impressão que a BD em Portugal se encontra numa fase de indefinição, perante tantos sinais contraditórios.

Se por um lado o mercado bedéfilo nacional está em crise, por outro lado surgem novas editoras de BD; se por um lado a BD não se vende, por outro lado novos títulos são lançados que prometem continuação; se por um lado as vendas de BD em bancas de jornais desapareceram, por outro lado anuncia-se o regresso dos “gibis” da Mónica e Cª; se por um lado os autores portugueses andam arredados da publicação, por outro lado quando publicam realizam óptimas vendas. Em que ficamos?

O “monstro” da crise impede que o nosso mercado bedéfilo dê sinais de recuperação. O número de publicações, tanto em títulos produzidos como em tiragens, continua a cair. Se em 2005 já se tinha editado pouco, então em 2006 editou-se ainda menos. As vendas de BD em bancas acabaram, primeiro com a interrupção dos mensais da DEVIR e o depois com o cancelamento dos títulos Disney por parte da EDIMPRESA. Se já vendiam pouco, então agora não se vendem mais!

A maior editora nacional, a ASA confirmou que ocupou o lugar da falecida MERIBÉRICA, como o mais importante editor de BD franco-belga em Portugal, mas manteve um ritmo baixo de novos lançamentos, provavelmente o quanto baste para a actual realidade portuguesa. Lá publicaram Dust (finalmente!) e juntaram assim “Blueberry” a uma carteira que conta com os principais e mais populares títulos da BD franco-belga, tais como “Asterix”, “Lucky Luke”, “Alix”, “Manara”, Bouncer”, entre outros.

As Edições DEVIR quase desapareceram e pequenas editoras como a POLVO ou a WITLLOF tem uma actividade meramente residual. O BDjornal, a única publicação em Portugal dedicada à temática da BD reinventa-se, renova-se, continua e promete continuar a ser publicado para um público-alvo estimado em apenas 1.000 leitores!

Quanto aos autores portugueses, leia-se espécie em vias de extinção, procuram-se! Um ano inteiro de edição e apenas se destacam o primeiro volume do projecto “Black Box Stories” intitulado Tratado de Umbografia da dupla José Carlos Fernandes/Luís Henriques, numa edição da DEVIR; e a obra Salazar – Agora, na hora da sua morte, de João Paulo Cotrim e Miguel Rocha, com a chancela da Parceria A.M. Pereira.

Para terminar, o FIBDA, que desta vez arrastou-se até à Brandoa, continua sem despertar o interesse de leitores, autores e editores, apesar do seu director, que se assume como um promotor cultural (seja lá isso o que for!), em entrevista ao BDjornal, de Dezembro de 2006,  ficar contente com a “casa cheia” (quantos são?) e considerar que os objectivos a que se propõe, de divulgar AUTORES QUE NINGUÉM CONHECE E QUE NINGUÉM LÊ, são atingidos!!! É este o quadro negro da BD em Portugal!

Mas como nem tudo são má noticias, e talvez a contraria esta todo este pessimismo, temos novas editoras no mercado. O destaque maior para a BDMANIA, que para primeiro lançamento fez uma excelente aposta na colecção Marvel Transatlântico. O resultado pode ser avaliado no (excelente) primeiro álbum “Wolverine: Saudade”; a KINGPIN Comics também se lançou na aventura da edição, de forma modestamente mas meritória, com pequenas histórias de novos autores portugueses em pequenas tiragens, cujas continuações estão prometidas para 2007; a GRADIVA, recuperou (e bem, logo com a publicação de dois álbuns) a série “Largo Winch”, uma colecção que já se encontrava catalogada como (mais uma) inacabada, depois da BERTRAND, na década de 90, apenas ter publicado os primeiros três volumes; a DEVIR reapareceu com o Marvel Demolidor Amarelo (não conhecia e fiquei agradavelmente surpreendido) e Neil Gaiman e ainda repôs a honra dos autores portugueses com o já citado Tratado de Umbografia; O livro Salazar – Agora, na hora da sua morte, vencedor dos principais prémios do FIBDA, já vai na sua segunda edição; A LIVROS DE PAPEL continuou a missão a que se propôs, tendo editado um novo volume da colecção “Príncipe Valente”, completando desta forma o conjunto dos primeiros cinco na cronologia da obra. Nota máxima aqui! 

Se é verdade, com excepção das colecções “Lucky Luke” (ao que consta com excelentes vendas) lançadas pelo jornal Público e “Michel Vaillant” pelo semanário AutoSport, que a BD desapareceu das bancas de jornais, também não deixa de ser verdade que essa é uma tendência que já se verifica noutros países, ou seja, as vendas de BD foram transferidas para livrarias e lojas especializadas. Pessoalmente, parece-me o caminho certo a seguir, até porque convenhamos que não é agradável procurar uma BD no meio de “TV Guias” e jornais e para quem não conhece dificilmente “compra sem folhear”. A venda em livrarias, onde se facilita a leitura, pode levar à descoberta e conquista de novos leitores. Penso eu! Para contrariar esta tendência (ou talvez não) a PANINI anunciou a (re)entrada da “Turma da Mónica” no nosso país. 

À boleia do cinema, 2006 foi um ano de oportunidades perdidas. Nas telas houve a estreias  das adaptações de “A History of Violence” e de “V for Vendetta” e por cá esfumou-se uma bela oportunidade de se publicar em português estas duas excelentes bandas desenhadas. Deixo já aqui a dica, em 2007 espera-se a estreia de “Sin City 2” e….. é preciso fazer um desenho?

Em termos de leituras, deixo aqui as minhas escolhas dos ano:

Melhores publicações de 2006: 

  • “Dust” de Giraud, Edições ASA 
  • “Príncipe Valente 1941-42” de Harold Foster, Livros de Papel

Menções Honrosas:

  • “Wolverine: Saudade” de Jean-David Morvan e Phillipe Buchet, BDMania
  • “Borgia 1. Sangue para o Papa” de Jodorowsky e Manara, Edições ASA

Boas leituras!

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