Numa passagem recente por uma feira do livro, adquiri a um “preço simpático” os dois tomos de “Fort Wheeling” da autoria de Hugo Pratt. O autor revela em obras como “Fort Wheeling” uma versatilidade em termos temáticos, por vezes, esquecida ou absorvida pelo enorme sucesso que Corto Maltese alcançou.
Nesta aventura, a acção remete-nos para uma América de colonos, na segunda metade do século XVIII, nos inícios da Guerra da Independência Americana, centrando-se a história na relação de amizade estabelecida entre dois jovens, Criss Kenton, um filho de colonos americanos e Patrick Fitzgerald, um aristocrata inglês emigrado, que se conhecem nos exércitos coloniais da coroa inglesa que combatiam as tribos índias, e que mais tarde durante a guerra da independência se vão encontrar em campos opostos do conflito.
A riqueza visual desta banda desenhada é dada pelas pranchas originais a preto e branco, que permitem, sobretudo no primeiro volume, apreciar o desenho simples de Pratt que beneficia de um jogo de sombras pouco dado a pormenores mas bastante eficaz. Tendo como fundo acontecimentos verídicos, a mistura de personagens reais (Lew Wetzel, Daniel Boone entre outros) e de ficção, sugere um trabalho aprofundado de pesquisa e de recolha de elementos por parte do autor italiano, que se vê expresso na densidade, variedade e riqueza da vasta galeria de personagens intervenientes na história, e que ajudam o leitor a perceber os ódios e as tensões latentes que culminaram na revolta dos índios contra os colonos, dos colonos contra os ingleses, dos ingleses contra os franceses.
Apesar da obra valer pelo seu todo, até pelo seu conteúdo histórico, o 1º volume encontra-se bastante mais conseguido do que o segundo. A própria estrutura narrativa seguida no primeiro volume não é mantida no segundo, e nota-se claramente que o desenho na parte final da história apresenta-se tosco, sem o rigor e vigor do traço inicial. Também a conclusão final da própria história pareceu-me algo insípida… mesmo inconclusiva, talvez a merecer um melhor desfecho.
Apesar de tudo, trata-se de uma boa bd de Hugo Pratt que merece uma leitura, não só pelos valores que transmite mas também pela particularidade de simultaneamente versar sobre um período histórico, que foi a guerra da independência dos Estados Unidos.
Fort Wheeling
Autor(es): Hugo PRATT, desenho e argumento
Tomo 1 e 2, Preto e Branco, Capa Dura
Editora Asa, 1ª Edição de Novembro de 2002
A minha nota:
5 comentários:
Olá Verbal
Eis uma obra que apesar de a já ter visto em venda nos vários alfarrabistas nunca me deu para sequer folhear...
Penso ser pelas razões que apontaste! O Corto abafa tudo...
Isso é Western não é???
Ja o vi muitas vezes mas achei que era uma leitura muito macuda.... :(
A Asa também tem 1 one-shot com o nome Western do Rossinki e Van Hamme a esse preço já o viste verbal???
@kitt
O "Fort Whelling", apesar dos indios, não é um western. Quanto muito um pré-western, afinal a acção passa-se em 1774. E concordo contigo que a leitura não é das mais convidativas e daí as minhas *** estrelas de nota!
Quanto ao álbum "Western" este é sim um verdadeiro western. Comprei-o já alguns anos e inclusive encontra-se autografado pelo Rosinski. É uma excelente história, mas eu tb sou suspeito de falar, porque os westerns são uma das minhas temáticas preferidas na bd.
Abraço
Estes Fort Wheeling são fantásticos. Uma vez mais, Pratt mostra-nos um conhecimento do velho, velho Oeste Norte-Americano. A vida na fronteira. Mil vezes melhor do que um qualquer Verão Indio.
Jesuit Joe também é um must.
Tão bom, num outro registo, de apenas aventura, são os tomos Srgt. Kirk. Já outros, muito pouco conhecidos (do seu tempo como colaborador de revistas argentinas) são os westerns puros e duros de aventuras em 22 short-pages.
Estes dois albuns são globalmente Muito Bons, não tem nada a ver com o Corto de que tb gosto muito. Penso q o desenho do terço final do segundo album é tosco pq me parece que o sr Hugo Pratt já não estava em grandes condições de saúde ...
Cumps,
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