25 junho, 2010

Manuel Caldas apresenta “Os meninos Kin-der”

O editor Manuel Caldas continua o seu laborioso trabalho de recuperação, restauração e publicação de clássicos da banda desenhada, conforme já várias vezes foi referenciado neste blogue (ver aqui, aqui e aqui). O seu novo lançamento, cuja apresentação aqui faço (a imagem é da capa) é (mais) um bom exemplo disso.

Manuel Caldas propõe-nos agora “Os meninos de Kin-der”, um álbum de 40 páginas, que reúne as pranchas desenhadas por Lyonel Feininger, um ilustre desconhecido pintor, talvez para a grande maioria de nós (eu incluído), que viveu entre 1871 e 1956, e que foram publicadas nas páginas de The Kin-der-Kids e Wee Willie Winkie's World.

Deixo aqui a síntese de introdução, feita por Rúben Varillas:

A banda desenhada, na sua evolução histórica, viu-se sujeita a um paradoxo digno de figurar nos anais da historiografia artística: chegou à pós-modernidade sem ter passado pela modernidade. No entanto, muito antes da pós-modernidade houve um período de ensaio, busca e experimentação, um momento em que estiveram prestes a abrir-se muitas portas (que afinal acabaram por ficar entreabertas): algo similar ao que noutros meios artísticos se reuniu sob a etiqueta de As Vanguardas. Na banda desenhada, nas mesmas datas em que a pintura, a escultura ou a literatura estavam em plena convulsão criativa, apareceu uma série de artistas dispostos a fazer arte com as vinhetas e a situá-las ao nível artístico desses outros veículos mais sérios, digamos assim.
Foram poucos e ousados. E Lyonel Feininger foi o menos reconhecido (e por consequência menos apreciado). O artista menos autor de banda desenhada, menos prolífico, menos ortodoxo desses primeiros tempos. As escassas pranchas que realizou constituem uma verdadeira aventura visual: nem chegou a um ano. Tempo suficiente, afinal de contas, para demonstrar que os bem sucedidos expressionismo e cubismo que começavam a inundar as telas da Europa também tinham lugar nas páginas dos jornais norte-americanos. Mas, apesar de não ter alcançado o triunfo que merecia pela sua faceta de autor de banda desenhada, Feininger obteve um aceitável reconhecimento como pintor daquelas mesmas correntes de vanguarda que atrás mencionamos.
Curiosamente, ao longo de toda a sua produção pictórica posterior, Feininger manteve muitas das constantes estilísticas que já tinha antecipado na banda desenhada. Nas suas pinturas expressionistas e numerosas xilogravuras encontramos arquitecturas oblíquas, edifícios angulosos e paisagens tão violentamente deformados como os que apareceriam nas páginas de The Kin-der-Kids e Wee Willie Winkie's World.

Feiniger nunca deixou de estar em contacto com a Vanguarda, primeiro graças à sua já referida adscrição estética e artística ao movimento expressionista alemão (e às suas posteriores influências cubistas) e mais tarde com a sua entrada na Bauhaus, sendo o responsável pela oficina de impressão e o único membro da escola que esteve nela desde o início até ao encerramento.
A edição que têm nas mãos é uma homenagem a Feininger e à sua obra, ao seu virtuosismo gráfico, ao seu inteligente emprego da cor e à audácia infinita deste autor eternamente encolhido na sombra do reconhecimento. O trabalho levado a cabo no restauro das páginas de jornal de The Kin-der-Kids e Wee Willie Winkie's World (incluem-se duas pranchas representativas desta série no presente volume) faz-nos redescobrir a obra de Feininger e mostra-no-la com uma nitidez gráfica como nunca antes foi possível vê-la. Graças ao restauro e ao grande formato, ressurgem os mares e condensam-se as nuvens, elevam-se majestosos os edifícios nova-iorquinos nas margens do rio Hudson, recortam-se diáfanos os perfis angulosos das suas personagens sobre os barcos e demais engenhos motorizados que percorrem as páginas. Ressurge, afinal, o talento de um desenhador de histórias aos quadradinhos adiantado para a sua época, um dos que poderiam ter mudado definitivamente a história da banda desenhada.

Esta edição, que terá um preço de venda de € 22, ainda não tem data marcada de distribuição pelas livrarias, mas encomendas podem ser feitas directamente através da página do editor.

11 comentários:

Nuno Amado disse...

Ok... adoro o trabalho de Manuel Caldas! Mas 22EUR por 40 páginas... ui!
É salgado...

Abraço

PS: Preferia umas reedições do Príncipe Valente que se encontram esgotadas, parece que essa série vende! Porque não reedição?

Nuno Neves disse...

Olá Bongop, não sendo eu o editor, apenas posso adiantar uma possível explicação fazendo minhas as tuas palavras: "Em relação ao preço (...) que quanto menor a tiragem, mais caro fica o produto final... portanto a diferença de preço é mais do que natural! Se os portugueses lessem e comprassem BD com fartura, garantidamente os preço baixavam para valores parecidos com os praticados lá fora." :)

Quanto ao Príncipe Valente, com grande perda para a BD portuguesa e para os bedefilos de língua portuguesa, a zanga entre José Vilela e Manuel Caldas acabou com esse excelente projecto, pelo que dificilmente haverá reedições ou mesmo continuações!

Abraço

Nuno Amado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Amado disse...

Bolas Verbal... mesmo com uma tiragem muito curta, é "salgado"! Eu penso sou o autor dessas palavras transcreveste de algum "sítio...":D
E continuo a achar que as pequenas tiragens encarecem as edições! É verdade! :D
Mas neste caso a edição foi (ou vai ser) de quantos livros: 50, 100, 200, 400, 1000?
Isto é a minha opinião muito pessoal em relação ao preço desse livro. Se calhar até é o devido preço! Mas muito dificilmente irei comprar com esse preço, existem uma miríade de livros interessantes que se podem comprar por metade desse preço. Estamos a falar de 40 páginas que nem sei se tem capa dura, e se o "modus operandi" for o mesmo dos restantes livros desta editora, será capa mole com certeza.

Quanto ao Príncipe Valente não sei como foi feito o contracto, mas gostaria que ele pudesse editar aqueles em que foi participante (que são os mais difíceis de obter...)!

Nuno Amado disse...

E esses (Príncipe Valente) valem bem o preço que custam!
:)

Júlio Vaz disse...

Eu fui dos que recebeu a nota de imprensa do manuel caldas sobre esta edição e pelo que ela diz não se pode achar o livro caro. É que quando o Verbal diz que tem 40 páginas, omite o que vem a seguir: "Trata-se de um álbum de 40 páginas a cores impressas em papel de 225 gramas e com o enorme tamanho (maior do que o A3) de 33 por 44 centímetros! É portanto precisamente o tipo de excentricidade que actualmente nenhum editor no seu perfeito juízo comete o arrojo de fazer."
Portanto assim sendo, com páginas com o dobro do tamanho do normal, o livro tem que custar o que custa, ou mais até.
Ou seja: 22 Euros por 40 páginas daquele tamanho faz todo o sentido. O que às tantas não faz sentido nenhum é que se publique uma coisa assim nesta altura de crise. É como fazer o TGV nesta altura.
Mas é como o Caldas diz: só um editor sem juízo publica uma edição assim. Ele lá sabe.
Eu vou esperar para poder folhear antes de comprar.

Diogo Alves disse...

Faz sentido, sendúdida.
A propósito de Príncipe valente, ouvi dizer que o Manuel Caldas já pôs a acção no tribunal contra o Vilela por ele lhe ter roubado a edição

cori disse...

Já que Flash Gordon e Princípe Valente é impossível, pela mesma razão, adorava ver Popeye de Elzie Crisler Segar publicado por Manuel Caldas.
Para além de outros livros de Lance, Hagar,...

Nuno Amado disse...

Pronto... com esse tamanho todo já não acho estranho o preço.
Agora eu pergunto-me a mim próprio, onde e em que prateleira da minha casa, é que eu conseguiria enfiar um livro com essas dimensões?
=)

Diogo Alves disse...

Os livros do Little Nemo do Peter maresca ainda são maiores, com mais de meio metro de altura... Guardam-se no guarda fatos, por exemplo. Ou debaixo da cama

Nuno Neves disse...

Independentemente da questão do tamanho ou do nº de páginas - nunca foi critério que seguisse na compra de BD – concordo com o Júlio Vaz que esta edição é uma excentricidade do editor. Não só pelo tamanho da edição que convenhamos comercialmente é pouco apelativa mas também porque o público a que dirige é muito reduzido. Pessoalmente preferia que a energia fosse canalizada para edições como do Lance, por exemplo, ou outros grandes clássicos da BD americana. No caso Flash Gordon desconheço que se existe algum contrato. O Príncipe Valente é uma carta fora do baralho, porque mesmo com processo judicial a correr, a lentidão da nossa Justiça atira o desfecho do imbróglio lá para calendas. Da minha parte aguardo pela saída da edição para ver antes de comprar.