quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A leitura de ISLANDER - O EXÍLIO

Sei que não se deve julgar o todo pela parte, mas quando a primeira parte se apresenta com um ritmo narrativo intenso e desenho magnifico, o risco torna-se mais que aceitável. É o que sucede com este primeiro volume (de uma trilogia) de ISLANDER, edição de Outubro da Arte de Autor, que se revelou, desde já, uma excelente leitura. Começamos logo por ficar cativados pela magnifica capa, com um belíssimo desenho e cores com a assinatura de Corentin Rouge. Esta primeira parte, intitulada O Exilioantecipa-nos um futuro distópico, numa Europa palco de crises sociais e climáticas, de fronteiras fechadas e à beira do colapso civilizacional. A Islândia, com as suas paisagens geladas, surge aqui como o cenário frio e hostil para o desenrolar da acção. Um país dividido, consequência de um fluxo imigratório descontrolado e de políticas secessionistas levadas ao limite. O autor Caryl Ferey prende-nos a atenção com um argumento inteligente e envolvente. A narrativa corre com uma frieza e realismo marcante. Entramos na história em plena crise, no porto de La Havre, em França, onde uma multidão desesperada aglomera-se na esperança da chegada de um barco que as transporte para a Escócia, vista como o último refúgio seguro. Nada é explicado à partida, mas as condições mínimas deste centro de embarque dizem tudo e remete-nos para o pior dos cenários: os controlos de documentos, os guardas armados e prontos a disparar e muito arame farpado. É aqui que conhecemos o pequeno grupo de protagonistas, entre os quais se encontra um importante cientista que aparentemente é uma peça importante nesta crise. Por força da confusão instalada na partida, junta-se Liam, um perfeito desconhecido de poucas palavras, sem rumo e sem nada a perder. É na violenta mudança de rumo do barco em pleno mar-alto, que a leitura se torna vertiginosa e compulsiva, quer pela jornada de sobrevivência onde cada personagem evolui e se vai revelando ao longo das páginas, como pela forma como a história cresce reflectindo as tensões sociais e políticas de segurança que já observamos em muita na nossa realidade actual. Agora tudo isto é amplificado pelo traço realista e dinâmico, na melhor tradição da linha clara franco-belga, de Corentin Rouge, que dá a todo o enredo uma atmosfera cinematográfica. É a cada página, onde tanto alterna grandes planos com situações de tensão e acção, que o seu desenho vivo o define como um dos melhores da actualidade.

Em suma, ISLANDER – O EXÍLIO é um álbum de leitura cativante e visualmente impactante, servido numa edição cuidada e de formato generoso, pelo que não tenho dúvidas em afirmar que  se destaca como um dos melhores do ano! 

A minha nota:


 

 

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