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12 junho, 2012

Leitura: Death Note vol. 2 - Encontro


Depois da bela descoberta que foi a leitura do primeiro volume de Death Note em português, eis-me de regresso a este universo agora com o segundo tomo da coleção. Esgotado que está o efeito surpresa que foi a definição das premissas da história, delicio-me agora com o seu desenvolvimento.

Capa do 2º volume
Neste "Encontro", Tsugumi Ohba explora exemplarmente em termos narrativos a natureza humana. Todo o processo de desconstrução de uma lógica inicial, que nos foi dado nos primeiros sete capítulos e para a qual nós leitores fomos condescendentes, é subvertido agora em nome de um instinto de sobrevivência. Light aka Kira assume o papel de presa. Sentindo-se ameaçado, envereda por uma caminho de eliminação de todos aqueles que identifica como ameaça, não distinguindo criminosos de inocentes. A necessidade em apagar todas e quaisquer ligações que possam conduzir a investigação até si obrigam-no a arriscar mais. Fá-lo de forma inteligente. Mas é sabido que toda a acção provoca uma reacção.

A morte de todos ao agentes do FBI que estavam no Japão a trabalhar no caso é um perfeito exemplo. Por mais calculista que se possa ser há sempre variáveis que não controlamos. E a introdução na história da personagem da noiva de um dos agentes do FBI cumpre exemplarmente este papel. Conforme observamos pelas conclusões que L retira depois de desenvolver um exemplar exercício de lógica. Por outro lado, L assume igualmente um maior protagonismo na história. Na necessidade de dirigir pessoalmente a investigação, sai da cómoda posição de trabalhar no anonimato passando para o palco principal, contribuindo assim para um maior antagonismo com Kira.
E assim de forma inteligente, num crescendo de tensão, vão-se definindo os desenvolvimentos que terão certamente consequências futuras para ambos os protagonistas. E tudo isto torna a leitura de Death Note cada vez mais viciante. Com a edição deste segundo volume, e parece que com o terceiro em preparação, a Devir continua manter altas as espectativas dos leitores portugueses! Assim seja e assim continue!
(a página apresentada à direita para ilustrar o texto não pertence à edição portuguesa da Devir)

Death Note – Encontro
Autores: Tsugumi Ohba (argumento) e Takeshi Obata (desenho)
Volume 2, preto e branco, TPB
Editora: Edições Devir, 1ª edição de Abril de 2012
A minha nota:


01 abril, 2012

Leitura: Death Note vol. 1 - Aborrecidos


Não sou um leitor de Manga. Ainda assim experimentei as edições portuguesas de Astroboy ou Dragon Ball mas fiquei longe de me entusiasmar, ao contrário do que aconteceu com a série de anime do segundo titulo alguns anos atrás. E depois há o formato de leitura. Não aprecio particularmente ler do fim para o início, da direita para a esquerda. Mantenho o estranho hábito ocidental. Mas embarquei na leitura na recente aposta da Devirporque gosto desta (nova) editora – no universo manga. E que surpresa que tive. Direi mais… que viciante surpresa! Li de forma vertiginosa as 190 páginas do primeiro volume de DEATH NOTE.

Capa do 1º volume
A história escrita por Tsugumi Ohba envolve-nos num magnífico enredo psicológico entre dois antagonistas, que vai evoluindo para um desfecho que estou longe de imaginar. Valores como o bem e o mal confundem-se aqui numa lógica onde os fins justificam os meios. Uma narrativa com um fio condutor que nos prende a cada página que lemos. A arte de Takeshi Obata em muito contribui para uma leitura intensa, com o seu desenho detalhado e realista numa planificação que faz sobressair os momentos mais intensos.

Este primeiro volume “Aborrecidos” começa com um entediado deus da morte (um “shinigami” no folclore japonês) chamado Ryuk que para se divertir deixa cair o seu caderno da morte (“death note”) no mundo dos humanos. O death note é um caderno especial com regras de utilização. Lá inscrevem-se o nome de todos aqueles que vão morrer. A premissa desta história é excelente. O caderno é encontrado por Light Yagami, um jovem estudante de 17 anos, um dos melhores alunos do Japão, que após algum cepticismo inicial apercebendo-se do poder de vida e de morte que a posse do caderno lhe confere, decide criar um mundo novo onde o mal não tem lugar, através da eliminação de todos os criminosos. Está criada a figura de Kira, o salvador para uns e um assassino para outros.

Consequência directa, o elevado número de mortos entre a população criminal, desperta a atenção das polícias de todo o mundo, e em especial de um enigmático detective particular, tido como o melhor, cuja verdadeira identidade ninguém conhece, que se identifica apenas por L. A sua missão passa agora por deter Kira. Começa então um interessante jogo do gato e do rato, sem contudo que nos apercebamos quem é que persegue quem.

Como primeira leitura ultrapassou largamente as minhas espectativas relativamente a uma Manga. E isto não é uma brincadeira de 1 de Abril. Fortemente recomendado a quem gosta de uma boa história em banda desenhada. Serão 12 volumes. Espera-se agora que a Devir acompanhe rapidamente as fortes espectativas que conseguiu gerar com esta edição.

(a página apresentada para ilustrar o texto não pertence à edição portuguesa da Devir)

Death Note – Aborrecidos
Autores: Tsugumi Ohba (argumento) e Takeshi Obata (desenho)
Volume 1, preto e branco, TPB
Editora: Edições Devir, 1ª edição de Janeiro de 2012
A minha nota:

12 dezembro, 2011

Um Campeão Chamado Joaquim Agostinho

Em 2010 comemorou-se o centenário do nascimento de Fernando Bento, nome grande da banda desenhada portuguesa. A Câmara Municipal de Viseu em colaboração com o Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (GIVAC) numa excelente iniciativa de homenagem, reeditaram num álbum inédito, precisamente uma banda desenhada assinada por Fernando Bento, que conta a vida de Joaquim Agostinho, enquanto campeão português de ciclismo, e que foi originalmente publicada em Agosto de 1973, no Jornal da Volta, um suplemento do extinto jornal lisboeta A Capital.

Faço aqui um parêntesis para deixar aqui uma nota de reconhecimento para o meritório trabalho de muitas Câmaras Municipais deste país, que aproveitam a justamente a banda desenhada como um canal privilegiado para fazer chegar a vários públicos as histórias e os valores socio-culturais das suas terras.

Esta história biográfica é a vida de Joaquim Agostinho como ciclista, desde do seu nascimento em 1943 até à realização da 36ª Volta a Portugal em 1973. Vencedor de várias Voltas a Portugal, teve uma carreira marcada por muitos momentos altos, muita polémica e também por muitas quedas.
Fernando Bento adapta a história ao propósito de publicar uma prancha por dia em simultâneo com o decurso da prova. Em 16 dias são 16 pranchas numa limitação que leva a narrativa a apresentar-se de forma simples e concisa, com poucas falas e onde o texto serve essencialmente para enquadrar a acção. Percebe-se que o objectivo é o de prestar homenagem a Joaquim Agostinho num contexto em que este era visto como um grande campeão. Fernando Bento não desilude. No desenho, não se perde em detalhes, capta bem a fisionomia de Joaquim Agostinho e destaca-o, aproveitando a dinâmica que o desenho de ciclistas e bicicletas proporciona para algumas vinhetas "rápidas".

A história aqui apresentada tem como grande curiosidade o facto do final feliz idealizado por Fernando Bento para a 36ª Volta a Portugal ter tido um desfecho diferente na vida real, onde Joaquim Agostinho foi desclassificado na sequência de um controlo anti-doping.

No global, esta edição traduz-se num interessante registo, que cumpre com os seus objectivos de divulgação e que apresenta o elevado mérito de resgatar da memória do tempo uma obra cujos originais se há muito se perderam. Assim, o trabalho de pesquisa e recuperação da pranchas que foi necessário efectuar consubstancia-se agora no álbum de homenagem dupla “Um Campeão Chamado Joaquim Agostinho”. 
(Fica o agradecimento a Câmara Municipal de Viseu pela oferta do álbum)

Um Campeão Chamado Joaquim Agostinho
Autor: Fernando Bento
Álbum único, preto e branco, capa mole
Edição Câmara Municipal de Viseu / GIVAC, Outubro de 2010
Tiragem de 500 exemplares

A minha nota:

02 novembro, 2011

Leitura: As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy

Está de regresso o quarteto de heróis mais improvável da banda desenhada portuguesa. Agora a aventura é extraordinária e o motivo não é para menos, trata-se simplesmente de evitar apenas e só o… Apocalipse tal como está vem descrito na bíblia!

Neste segundo livro de «Dog Mendonça e PizzaBoy», que conta com o prefácio de George Romero, tudo começa quando um padre do Vaticano descobre que o mítico terceiro segredo de Fátima, ao contrário do que foi publicamente anunciado, revela afinal a data do fim do mundo e que esse dia já chegou. Uma bíblica praga de gafanhotos, um céu vermelho e o surgimento da besta de sete cabeças e dez chifres no Marques de Pombal, em Lisboa, são sinais mais que preocupantes, para cinco anos depois da última aventura, Dog Mendonça se reunir de novo a Eurico, o Pizzaboy, agora a trabalhar num call-center, e juntamente com Pazuul e Edgar Agostinho (sim, a gárgula tem nome), e salvar mais uma vez o mundo e a chave para isso está nas páginas de uma bíblia… infantil!!!

Está dado o mote para uma, mais que delirante e marcadamente mais acelerada, aventura onde Filipe Melo invoca desta vez o Livro das Revelações, segundo o próprio para poupar nos “direitos de autor”, para uma narrativa tipo filme-catástrofe, com a acção (leia-se destruição) a desenrolar-se entre Lisboa e o Santuário de Fátima, onde tem lugar o bíblico confronto final.

Assim à vinda de Abaddon, o anti-cristo, que longe de uma figura de demónio com asas de morcego e cauda de escorpião se apresenta sob a forma de pequeno anjo de olhar azul e que se faz devidamente acompanhar pelos 4 cavaleiros do Apocalipse, junta-lhe uma nova aparição da Nossa Senhora de Fátima que revela um novo segredo com dois mil anos, uma horda de zombies (ou Romero não assinasse o prefácio) ou porque já não há mais espaço para os mortos no inferno e ainda uma chuva de meteoritos porque não há fim do mundo sem eles.

Soma-se-lhe diálogos bem-humorados com múltiplas referências cinematográficas e à cultura popular portuguesa que fornecem um excelente suporte ao desenho e planificação de Juan Cavia, cujo traço aprendi a apreciar, e que mostra agora uma grande dinâmica, que juntamente com a colorização de Santiago Villa num trabalho com uma palete de cores mais leves conseguem compor um excelente grafismo da história (só uma pequena chamada de atenção, para o trabalho de impressão em algumas páginas, onde o desenho e as cores não saem com a perfeição desejada, como por exemplo na página 13).

Em suma, o resultado final de «As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy II», ainda que peque por não proporcionar ao leitor a visão da apocalíptica batalha final, é a renovação da lufada de ar fresco trazida com o primeiro álbum, que nos revela um Dog Mendonça em grande forma, deliciosamente sarcástico e nada dogmático, numa extraordinária aventura que cativa literalmente o leitor da primeira à última página. Acreditem que lê num fôlego.

Aguarda-se agora pela reconstrução da cidade de Lisboa para o terceiro livro!

As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy - Apocalipse
Autores Filipe Melo (argumento) e Juan Cavia (desenho)
Editora Tinta da China, 1ª edição de Outubro de 2011

Nota de Leitura:
MUITO BOM (4 em 5)



Relacionado:
As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy

Altamente recomendável a quem tiver oportunidade, até porque o Filipe Melo é uma excelente pessoa e um óptimo comunicador, e os argentinos Cavia e Villa são grandes desenhadores, e porque as sessões são sempre animadas, é o mini-tour de promoção deste novo álbum. Apontem lá as datas e apareçam nas sessões de autógrafos:

  • Dia 1 de Novembro 16.00 LANÇAMENTO OFICIAL FESTIVAL BD AMADORA 2011 Fórum Luís de Camões  17.00-19.00 AUTOGRAFOS - BD AMADORA - Filipe Melo, Juan Cavia, Santiago Villa  20.00 LANÇAMENTO TERTÚLIA DE BD DE LISBOA - Parque Mayer  23.00 LANÇAMENTO SHORTCUTZ - Bicaense, Lisboa
  • Dia 2 Novembro 22.00 LANÇAMENTO SHORTCUTZ PORTO - Hardclub
  • Dia 3 Novembro 18.30 LANÇAMENTO FNAC CHIADO - Lisboa
  • Dia 4 Novembro 18.00 FNAC STA CATARINA - PORTO  19.30 MUNDO FANTASMA
  • Dia 5 Novembro 15.00 BERTRAND CALDAS DA RAÍNHA
  • Dia 6 Novembro 15.00 SESSÃO DE AUTÓGRAFOS - DOG VOL. 2 e DOG DARKHORSE - FESTIVAL DA AMADORA 16.00 LANÇAMENTO "DOG NA DARKHORSE" FESTIVAL DE BD AMADORA 17.00-19.00 SESSÃO DE AUTÓGRAFOS - FESTIVAL BD AMADORA
  • Dia 9 Novembro 18.30 DR. KARTOON COIMBRA  21.30 FNAC Coimbra
  • Dia 10 Novembro 10.00 GUIMARÃES - Aula aberta de BD com João Lameiras

30 setembro, 2011

Leituras: O Assassino

Já andava a algum tempo para escrever sobre esta série, pela agradável surpresa que foi a sua descoberta na colecção Os Incontornáveis da Banda Desenhada.
O ASSASSINO (Le Tueur no original) é assinado pela dupla de autores franceses Luc Jacamon e Matz
 
A história trata sobre a vida de um assassino profissional solitário, com uma visão muito simplista da sua vida: o seu trabalho é basicamente dar resposta a uma procura, por sinal bem remunerada. Não questiona o porquê dos alvos, limita-se simplesmente a executa-los.

A história é contada sobretudo através de monólogos introspectivos da personagem principal. É ao longo de várias páginas de períodos mortos, de espera, onde nada acontece, onde o protagonista partilha os pensamentos e angústias com o leitor, que mergulhamos no seu mundo e aceitamos a sua lógica. E o que poderia pressupor uma leitura maçadora, na verdade por força de uma narrativa com bastantes tempos de espera mas que alterna com flashbacks e sequências de grande violência, revela-se absorvente.

O argumento de Matz é inteligente e envolve-nos num sentimento contraditório, porque se por um lado trata-se de um assassino, por outro à medida que vamos conhecendo melhor a vida do protagonista, não conseguimos deixar de sentir alguma compaixão pela personagem.
 
O trabalho gráfico de Luc Jacamon é magnifico e cola-se perfeitamente à história. Tem um traço dinâmico, apresenta um cuidado na planificação das pranchas e um faz um magnífico uso da cor na construção de ambientes ou atmosferas que acompanham exemplarmente o ritmo lento nos tempos mortos ou conferem uma grande intensidade nas situações de confronto.
 
Em França, esta série começou a ser publicada em 1998, tendo sido já editados , até à data, um total de nove álbuns. 
 
Em Portugal, tivemos os dois primeiros álbuns da série, DEBAIXO DE MIRA e A ENGRENAGEM editados pela Booktree, e depois o terceiro e quarto volume, A DIVIDA  e LAÇOS DE SANGUE, foram recentemente editados num álbum duplo, que integrou a colecção Os Incontornáveis da Banda Desenhada (n.º 12), numa edição da ASA/Público. Infelizmente morreu por aqui. Espero uma continuação nós num futuro próximo, preferencialmente num formato de edição em capa dura que faça juz à qualidade narrativa e gráfica da história.
 
O Assassino - Debaixo de Mira
Autores: Matz (argumento), Jacamon (desenho)
Álbum 1, cores, capa mole
Editora: Booktree, 1ª edição de Junho de 2002

O Assassino - A Engrenagem
Autores: Matz (argumento), Jacamon (desenho)
Álbum 2, cores, capa mole
Editora: Booktree, 1ª edição de Fevereiro de 2003

O Assassino - A Dívida / Laços de Sangue
Autores: Matz (argumento), Jacamon (desenho)
Os Incontornáveis da Banda Desenhada - vol 12, 
álbum duplo, cores, capa mole
Edição Publico / ASA, Maio de 2011

 





A minha avaliação:
 

 

 
 
 




18 agosto, 2011

Novos Rumos / Empurrãozinho

Entre os vários canais de diversificados que dispõe para informar sobre os seus programas de apoio financiados, a Comissão Europeia tem apostado na edição em Banda Desenhada para a divulgação de histórias de sucesso inspiradas em casos verídicos seleccionados entre cidadãos europeus que aceitaram dar o seu testemunho sobre a forma como souberam ultrapassar barreiras e dar novos alento às suas vidas.


Neste contexto, o primeiro exemplo foi dado em 2010 com a edição de “Novos Rumos”, um álbum que conta quatro exemplos de vidas que por força de diversas circunstâncias enfrentaram situações de desemprego: Julie, uma jovem mãe solteira, sem estudos e desempregada (abaixo 1º prancha, parte superior esquerda); Viktor, um jovem estudante e músico invisual (2ª prancha, parte superior direita); Pedro (o caso português) um empresário que vê obrigado a fechar o seu negócio devido à crise (3ª prancha, parte inferior esquerda); e Fianne, uma jovem com um passado criminal que é despedida (4ª prancha, parte inferior direita).



No seguimento deste álbum, a Comissão Europeia lançou este ano a segunda parte destas histórias de sucesso, num novo álbum intitulado “Empurrãozinho”. São quatro novas histórias de vida, quatro percursos: Alex, um jovem que recebe uma proposta de negócio mas que não consegue financiamento para a concretizar (abaixo 1ª prancha, parte superior esquerda); Nataline, uma jovem modelo que por motivos de saúde decide mudar de vida (2ª prancha, parte superior direita); Ivana, uma jovem sem rumo que acidentalmente descobre o seu talento como estilista (3ª prancha, parte inferior esquerda); e Dimitra, uma jovem de etnia cigana cuja mãe precisa de cuidados de saúde (4ª prancha, parte inferior direita), aqui num registo de combate à exclusão social.



Todas as histórias têm como denominador comum o argumentista Rudi Miel (autor também de “Águas Perigosas”) que através de uma narrativa bastante simplista, conduz o leitor nas várias situações com a apresentação dos problemas mas focando-se nas soluções, que obviamente se traduzem depois em finais felizes. As dificuldades sociais retratada são infelizmente situações bastantes comuns e actuais, sendo os jovens que estão em inicio de vida aqueles que talvez mais facilmente se identificam com as várias histórias.

Os desenhos, da responsabilidade de autores com obras publicadas, nomeadamente em França, mostram-se igualmente simples e competentes. Vanyda (na história de Julie), Christian Durieux (Viktor), Sylvain Savoia (Pedro), Gihef (Fianne) que assinam no primeiro álbum e Alexandre Tefenkgi (Alex), Maud Millecamps (Nataline), Vanyda (Ivana) e You (Dimitra) no segundo, tem um registo gráfico de linha clara realista que vem na linha do que é hábito neste tipo de publicações da UE.

Em resumo, dois álbuns interessantes, de fácil leitura, onde as narrativas e os desenhos num ponto de vista de BD institucional cumprem satisfatoriamente com o seu único propósito de informar. De mensagem simples e eficaz.

Novos Rumos
Autores: Rudi Miel (argumento), Vanyda, Christian Durieux, Sylvain Savoia, Gihef (desenho)
Álbum a cores, cartonado
Edição: Comissão Europeia, 2010, 60 p.

A minha nota:

Empurrãozinho
Autores: Rudi Miel (argumento), Alexandre Tefenkgi, Maud Millecamps, Vanyda e You (desenho)
Álbum a cores, cartonado
Edição: Comissão Europeia, 2011, 60 p.

A minha nota:

Estas edições estão disponíveis em língua portuguesa e podem ser obtidas gratuitamente em papel ou descarregadas em formato pdf nos seguintes links:


Adicionalmente, informo que a Comissão Europeia desafia os vários autores para o envio de propostas de argumentos e/ou os seus desenhos inspirados em histórias de vida semelhantes. Os trabalhos deverão ser enviados para a seguinte morada: esf@ec.europa.eu. A promessa, que não é minha mas da Comissão Europeia, é a de publicar os melhores no sítio web ou numa próxima BD.

16 julho, 2011

Leitura: Tintin na América (edição facsimile)

Acabei agora a (re)leitura do recém-lançado «Tintin na América», que por se tratar de mais uma reedição não seria aqui objecto de qualquer nota, se não se estivesse aqui a falar do álbum em versão facsimile, de edição limitada e numerada, da ASA

Esta leitura é sobre a segunda versão redesenhada e colorida por Hergé para publicação em 1945 pela editora francesa Casterman.

A escolha desta história, não obstante ser o terceiro álbum na cronologia oficial, para abrir a colecção fac-similada da ASA deve-se talvez ao facto de "Tintin na América" ter sido a primeira aventura deste herói a ser publicada em Portugal, em 1937, nas páginas da publicação O Papagaio (ver mais abaixo).

Salve-se o facto de a lombada não apresentar qualquer numeração o que permite a sua posterior arrumação por ordem correcta na nossa bedeteca.

Muito bom é a oportunidade de voltar ler esta aventura no tradicional formato franco-belga depois daquele infeliz formato que a ASA inventou para a reedição da «Colecção Tintin».

«Tintin na América» apesar de ter um ritmo narrativo bastante elevado, é na minha opinião, uma das histórias menos conseguidas de Hergé. Sucedem-se as situações mais inverosímeis que se possa imaginar, com o autor a socorrer-se muitas vezes de soluções pouco conseguidas e direi infantis para ajudar com o nosso herói a escapar sempre ileso das inúmeras armadilhas com que se defronta ao longo da aventura.

O nosso repórter chega à América com a missão de combater a onda de crime que varre a cidade de Chicago. A aventura desenrola-se por diferentes cenários, desde da cidade até aos territórios índios, motivada sobretudo pela perseguição ao chefe do Sindicato dos Bandidos de Chicago, o gangster Bobby Smiles. Sucedem-se as peripécias com bandidos, Tintin chega a cruzar-se inclusive com o famoso Al Capone, agentes da autoridade, cowboys e índios. Antes do final, ainda há lugar ao rapto de Milu, mas tudo termina em bem (desculpem o spoiler!) após um confronto numa fábrica de conservas, com Tintin a ser reconhecido como herói com direito a desfile numa das tradicionais paradas americanas pelas ruas de Chicago. Registe-se a contabilidade final desta aventura: 355 gangsters presos!

Da edição fac-similada, quando comparada com o álbum que possuo (colecção do Jornal Público, Dezembro de 2003) - que reproduz a terceira versão da história redesenhada em 1973 por imposição dos editores americanos - para além das óbvias diferenças como a capa dura e ao nível da coloração, existem alguns pormenores preciosos ao nível do desenho que nos permitem perceber que Hergé se mostrava bastante critico da sociedade americana.

Logo na primeira vinheta da história observamos um bandido que se passeia à vontade de arma na mão enquanto um polícia lhe faz continência.

Bem-vindos à América de Hergé!

Uma América sem lei, tomada por um capitalismo selvagem, onde sobrevivem índios ingénuos e negros estereotipados por uma visão preconceituosa da época. É justamente sobre as personagens negras da história onde se verifica as principais alterações do desenho. Ou o aspecto físico é alterado (primeiro exemplo) ou simplesmente são substituídas por personagens brancas (restantes exemplos).

















Veja-se o confronto entra as primeiras vinhetas à esquerda (publicadas em 1945) e as segundas vinhetas à direita publicadas em 1973




A grande mais-valia na reedição destes clássicos é sem dúvida prazer que proporciona aos leitores bedéfilos na descoberta das diferenças, no seu entendimento e sobretudo na sua contextualização no tempo. Uma aposta seguramente ganha!

A avaliação global que faço deste álbum, leva em linha de conta uma edição excelente e uma história que como já referi anteriormente é das aventuras mais fracas de Tintin.


Tintin na América - Edição fac-similada
Autor: Hergé
Álbum a cores, cartonado, numerado, com edição limitada a 2000 exemplares
Editora: ASA, 1ª edição de Abril de 2011

Nota de Leitura:
Razoável
(3 em 5)

«Tintin na América» em Portugal


A publicação da aventura “Tintin na América” em Portugal marcou a internacionalização das histórias de Tintin, que até à data na altura nunca haviam sido publicadas num país não-francófono. E logo a cores o que também constituiu um facto inédito.

Esta dupla estreia aconteceu a 16 de Abril de 1936 nas páginas do n.º 53 da revista O Papagaio. A aventura estendeu-se até ao n.º 110. Como curiosidade, Tim-Tim como então era chamado apresentava-se como repórter d’o Papagaio.

Seguiu-se uma nova publicação, em 7 de Janeiro de 1956, com inicio nas páginas do n.º 210 da revista Cavaleiro Andante.

Mais tarde, em 1972, foi a vez da versão portuguesa da revista Tintin publicar as aventuras deste herói na América.

A edição em álbum de “Tintin na América” aconteceu pela editora Verbo em 1995. Seguiram-se edições do Circulo de Leitores (2000), Jornal Público (2003), ASA (2010) e agora a versão fac-similada, também pela ASA.

14 janeiro, 2011

Leitura: The Walking Dead Vol. 1 - Dias Passados

 
Em 2010, um dos títulos que mais me entusiasmou em termos de leituras de banda desenhada foi sem dúvida The Walking Dead (TWD). E descobrir este universo desenvolvido por Robert Kirkman, vencedor de um Eisner Award, tem sido viciante.

Em TWD acompanhamos a história de Rick Grimes, um ajudante de xerife de uma localidade nos arredores de Atlanta (EUA) que depois de acordar de um estado de coma, na cama de um hospital, é confrontado com uma nova realidade: o mundo lá fora encontra-se dominado pelos mortos, melhor, por mortos-vivos. Tudo o que conhecia desapareceu em consequência de uma brutal epidemia, cuja origem não nos é relatada, mas que afectou grande parte da população humana transformando-a em zombies, que vagueiam agora sem destino um pouco por todo o lado, movidos por um instinto animal na procura de carne humana. Restam apenas pequenas bolsas de sobreviventes que lutam agora pela vida num mundo sem lei nem ordem. Rick luta para proteger a família (mulher e filho) ao mesmo tempo que conduz um grupo de sobreviventes na busca por um lugar seguro para viver. Em síntese, TWD apresenta-nos a visão de um mundo dominado pelos mortos, onde os vivos que ainda subsistem são obrigados a começar a viver, numa luta constante pela sobrevivência. Retrata a natureza humana e aborda a complexidade de que se revestem as relações humanas de uma forma exemplar numa análise critica de como o próprio ser humano se relaciona com os seus, com uma constante necessidade de criar e quebrar regras, num tempo onde os conceitos morais de certo ou errado ou de vida e de morte mudam conforme as circunstâncias.

A Devir lançou em finais do ano passado o primeiro volume de TWD – “Dias Passados”, no formato trade paperback (TPB) similar à edição publicada lá fora, que reúne os seis primeiros comics originalmente publicados em 2003 nos EUA pela Image Comic. Devo dizer que aplaudo a opção da editora portuguesa em manter o título original da série The Walking Dead, e não se aventurar numa qualquer tradução que certamente desvirtuaria um duplo significado que título original em inglês encerra em si. Porque à medida que nos embrenhamos na leitura desta aventura – devo dizer que a ideia que se segue não deriva deste primeiro volume mas de uma leitura mais avançada em que eu me encontro (volume 5) – apercebemo-nos que a designação de “walking deads” talvez não se aplique exclusivamente aos mortos-vivos como inicialmente se poderia supor, mas também aos sobreviventes, até porque à medida que avançamos na leitura tomamos consciência que nenhuma personagem está a salvo e que todos os vivos encontram-se irremediavelmente condenados, à excepção (ou talvez não) de Rick Grimes.

TWD- 16

Neste primeiro volume, começamos por estabelecer uma ligação à história. Assistimos ao acordar de Rick para a nova e perigosa realidade. Há sua busca e reencontro com a família. À apresentação do grupo e ao surgimento das primeiras tensões. Rick divide-se entre o seu papel de pai e marido e a obrigação que sente em garantir a protecção do grupo. Enquanto para Lori, a sua mulher, o reencontro é acompanhado por um sentimento de culpa. Todo o ambiente que rodeia o grupo afecta-o e isso traz consequências.

A fluidez na leitura de TWD resulta porque estamos perante um argumento genial que desenvolve uma linha narrativa com grande intensidade, liberta de “amarras e que segue caminhos lógicos. Mas é na exploração eficaz das reacções humanas que a narrativa explode. Quer seja originada pelas situações de tensão latente e de conflito existentes no grupo que se vai formando, derivadas das diferentes personalidades de cada elemento, que evoluem naturalmente para estados de confronto ou pela exposição do pior da natureza humana que nem sempre deriva da exposição a situações extremas. Certo é o suspense dado pela incerteza dos acontecimentos que cada nova página nos reserva.

TWD2-13

A arte sempre num registo a preto-e-branco tem, no seu primeiro volume, a assinatura de Tonny Moore. Autor de traço simples que se torna bastante eficiente pela dinâmica que imprime nas sequências de acção, destacando-se também pela boa caracterização no desenho dos mortos-vivos. Só assina os seis primeiros números que compõem este volume sendo posteriormente substituído por Charlie Adlard.

TWD é uma excelente aposta da Devir, que eu já tinha incluído como uma das minhas melhores leituras do ano de 2010. Agora o sucesso desta colecção em Portugal passa pela publicação não muito espaçada dos restantes volumes. Até porque não havendo cá, o leitor certamente procurará lá fora.

The Walking Dead - Dias Passados
Autores: Robert Kirkman e Tony Moore
Volume 1, preto e branco, TPB
Editora: Edições Devir, 1ª edição de Novembro de 2010



11 dezembro, 2010

Leitura: Off-Road

Um dos lançamentos mais interessantes ocorridos no último Amadora BD foi da responsabilidade da KingpinBooks, com a graphic novel Off-Road do americano Sean Murphy Gordon.
 
O autor, que esteve presente como convidado do festival, teve direito a uma exposição com uma simpática mostra de alguns dos seus trabalhos, desde Batman até Joe the Barbarian, passando por HellBlazer.

Off-Road foi a obra de estreia de Sean Murphy, publicada originalmente em 2005, e que conta a história de três amigos, Greg, Trent e Brad que durante um passeio todo-o-terreno acabam por ficar com o jipe atolado num pântano. Trent é um jovem artista com azar nos amores e terminou mais uma relação; Brad tem uma relação (demasiado) violenta com o pai e Greg é o desportista a quem o pai rico lhe ofereceu o jipe. Partilharem uma situação limite – a impossibilidade de retirarem o jipe do pântano – acaba por funcionar como uma espécie de terapia de grupo, permitindo, sobretudo a Trent libertar-se de fantasmas passados.

Com uma aparente simplicidade de argumento, Sean Murphy desenvolve um excelente exercício sobre relações humanas tendo por fundo o valor da amizade. Tudo é conseguido através de um ambiente bem caracterizado, de uma grande dinâmica entre as personagens, de diálogos bem conseguidos e simultaneamente divertidos, aliado a um desenho, a preto e branco, simples que não se perde em pormenores mas que se mostra particularmente eficaz sobretudo nas situações de acção onde lhe confere um ritmo rápido ou de maior intensidade por vezes com recurso a vinheta que ocupa a totalidade da página. Tudo reunido e estamos perante uma obra de leitura bastante agradável, onde se tudo não aconteceu podia ter acontecido, tal a simplicidade e naturalidade das situações narradas. É talvez esta a grande valia desta obra: mostrar que o segredo para se fazer uma boa história, é faze-la simples.

A edição portuguesa de Off-Road em formato paperback apresenta-se com um design cuidado ao nível que as edições Kingpin já nos habituaram, pecando só mesmo pela escassa tiragem, cerca de 200 exemplares. Da minha parte considero uma das leituras do ano!

Off-Road
Autor: Sean Murphy Gordon
Livro único, preto e branco, TPB
Editora: KingPin Books, 1ª edição de Outubro de 2010

A minha nota:

27 novembro, 2010

José Mendes Cabeçadas Júnior – Um Espírito Indomável

Foi uma apresentação discreta e de âmbito local marcou o regresso de José Carlos Fernandes (JCF) à Banda Desenhada. Não que JCF tenha desistido, até porque não vi qualquer anuncio nesse sentido, mas a verdade é que já lá vai algum tempo sem se publicar nada da sua autoria.

A apresentação foi do livro “José Mendes Cabeçadas Júnior – Um Espírito Indomável”, uma edição da Câmara Municipal de Loulé no âmbito das comemorações do Centenário da Republica, que versa sobre a vida de um ilustre louletano da nossa História contada por... um ilustre louletano da nossa Banda Desenhada.

José Mendes Cabeçadas Júnior (1883-1965) teve o que se pode designar de uma “vida cheia”. Nascido em Agosto de 1883, militar de carreira, tomou parte activa na Revolução de 5 de Outubro de 1910, quando assumiu o comando do cruzador Adamastor que a partir do Tejo bombardeou o Palácio das Necessidades e desembarcou tropas no Terreiro do Paço, foi deputado no Parlamento, liderou um movimento de revoltosos que pôs fim à I Republica, foi Presidente da Republica durante 17 dias, tornou-se opositor ao regime de Salazar até falecer em Junho de 1965.

JCF escreveu e Roberto Gomes desenhou. Uma dupla anteriormente anunciada para o segundo volume das Black Box Stories, mas que (até à data) não chegou a ser publicado. No entanto, o trabalho conjunto destes autores pode ser observado no conto “Um boi no telhado” (“Série Ouro - Os Clássicos da BD”, n.º 18, distribuído com o jornal “Correio da Manhã”) que aliás deu origem a um pequeno mas excelente manual de BD que aliás aqui fiz referência.










No argumento, seguida a opção pelo rigor histórico que até se impunha até porque se trata de uma obra biográfica, JCF consegue num excelente exercício de síntese, condensar em cerca de 30 páginas os factos mais relevantes que marcaram a vida venturosa de Cabeçadas Júnior. Depois coube a Roberto Gomes, dotado de um traço agradável e eficaz, no qual até encontro algumas semelhanças com o de JCF, que peca só pela ausência de emoções no rosto das personagens, ilustrar a vida desta figura da nossa História. O recurso a cores em tons de lilás e castanho sobre um fundo salmão acentua o efeito desta viagem ao passado.

O resultado final é um livro bem conseguido, de fácil compreensão, que cumpre exemplarmente com os objectivos culturais e históricos a que se propôs – dar a conhecer a vida de um “filho da terra” - e que motivaram a sua edição. No entanto a utilização de uma narrativa mais descritiva conduz a quebras no ritmo de acção, dado que muitas das vinhetas funcionam autonomamente retratando apenas situações ou acontecimentos, o que retira algum fulgor na leitura, mas compreendo que sejam consequência dos condicionalismos provocados pelo n.º de páginas ou pelo rigor histórico. O livro apresenta-se em capa mole com badanas, impresso em papel de cor salmão, numa qualidade pouco habitual em edições camarárias.


José Mendes Cabeçadas Júnior – Um Espírito Indomável
Autores: José Carlos Fernandes e Roberto Gomes
Álbum a cores, capa mole
Edição Câmara Municipal de Loulé, Setembro de 2010

A minha nota: