05 janeiro, 2025

As Melhores Leituras de 2024 - Autores estrangeiros

Terminadas as últimas leituras pendentes, julgo estar nas condições de poder afirmar que foi um ano, onde tivemos, mais uma vez, uma belíssima oferta. A verdade é, que considero, que tem sido assim nos últimos tempos. Temos sido uns leitores privilegiados, por termos visto por cá publicadas excelentes obras, de grandes autores, em magnificas edições. 2024 foi mais um desses anos. Estão de parabéns, portanto, os nossos editores.

Continuando com o Balanço de 2024, que iniciei com as escolhas das minhas melhores leituras de autores portugueses, prossigo agora com as escolhas das minhas melhores leituras de autores estrangeiros, em que todas elas mereceram a minha melhor avaliação.

Fica aqui o meu TOP 9 da BD estrangeira de 2024 (aleatoriamente arrumado): 


Breves notas sobre as escolhas:

Devo dizer que existiram álbuns, quer pela intensidade narrativa, quer pelo desenho, não me deixaram indiferente, da primeira à ultima página, e por causa disso tiveram desde logo entrada direta no meu TOP 9 do ano.

A ESTRADA, de Manu Larcenet, edição Ala dos Livros, foi logo o primeiro em Abril. A minha critica pode ser lida aqui. Seguido de outro álbum que me deixou rendido, O COMBATE DE HENRY FLEMING, de Steve Cuzor, também numa edição magnifica da Ala dos Livros. Também escrevi aqui.

Depois tivemos obras que são voz e memória de períodos negros da História universal. Narrativas que também não foram de leitura fácil, e que retratam dolorosas realidades. Falo de ERVA, a novela gráfica da coreana Keum Suk Gendry-Kim, numa edição da Iguana. A autora, uma das sensações do ano e convidada do Amadora BD, com uma enorme sensibilidade narrativa, apoiada no seu traço simples, a preto e branco, de linhas soltas e pouco dado a pormenores, deu voz às mulheres coreanas que foram vitimas de escravidão sexual, as chamadas “mulheres de conforto” dos soldados japoneses, durante a Segunda Guerra Mundial. Uma história brutalmente honesta, centrada no relato de uma das sobreviventes, o que confere uma autenticidade visceral à obra.

E de O ABISMO DO ESQUECIMENTO, de Pablo Roca, edição Ala dos Livros. É uma viagem ao passado recente de Espanha, onde o autor explora uma ferida aberta pela Guerra Civil Espanhola e os seus ecos no presente. Uma obra que aborda essa necessidade tão humana de querer despedir-nos de forma digna daqueles que nos são queridos, numa vontade que não só reforça a importância de preservar a memória dos que partem mas que também serve como um acto de resistência para que as lições da História nunca sejam esquecidas.

E numa altura em que a palavra Liberdade, e tudo que ela representa, é tão falada, ler uma obra que aborda a falta dela é um exercício que se recomenda. E a edição integral de JONAS FINK, de Vittorio Giardino em dois volumes, numa edição da Arte de Autor, é um belo exercício narrativo gráfico, numa obra que transcende o tempo e o espaço e que oferece uma janela para a luta de resistência humana contra a opressão.

E dos que se seguem não houve como escapar. Foram leituras prazerosas de universos que são paixão, e que tão bem foram tratados em banda desenhada. AS GUERRAS DE LUCAS, edição da Ala dos Livros, tem entrada directa nesta categoria. É um magnifico conto de bastidores. Todas aquelas histórias soltas, rumores e amores, que ouvimos falar sobre a rodagem do primeiro filme da saga Star Wars  encontram aqui o seu tempo e espaço com o devido enquadramento. Sentimos que o poder da força acompanhou George Lucas. Uma narrativa biográfica obrigatória para fans da saga.

E NA CABEÇA DE SHERLOCK HOLMES, numa edição de A Seita. Retomar ao universo de Conan Doyle, num dos álbuns mais originais do ano, seguindo o desfiar do fio do raciocínio lógico do melhor detective do mundo, num estética sumptuosa e elegante e enquadramentos desafiantes, foi puro deleite. 

A holandesa Aimeé de Jongh chegou-nos em dose dupla. É uma belíssima autora, e foi o seu trabalho original em DIAS DE AREIA, edição da Asa, que me cativou. Uma históira de resiliência humana num contexto histórico marcado pela dureza da paisagem e pelo desespero da sobrevivência, que nos transporta para o Dust Bowl, um desastre ambiental e social na década de 1930, e um dos períodos mais difíceis da história americana.

Fecho com manga. Jiro Taniguchi é dos melhores contadores de histórias em banda desenhada. Um autor com uma sensibilidade artística maravilhosa. E tem em BAIRRO DISTANTE, edição da Devir, uma bela história sobre a vida, que nos faz reflectir sobre o passado, o peso das escolhas feitas e os laços que definem a nossa existência. Mais uma narrativa profundamente humana, desenhada pelo seu traço detalhado e delicado, e uma das melhores obras que li deste autor.

 

Ficam fechadas as minhas escolhas. Amanhã encerro este Balanço de 2024, com a publicação do Estado da Arte, a análise do mercado editorial nacional de BD do último ano, com a listagem de todos os lançamentos contabilizados.

 

2 comentários:

Jose Carlos Neves disse...

Olá Nuno, antes de mais, desejar um bom ano...Aproveito este post dedicado aos autores estrangeiros para expressar o quanto estou encantado com a Yermo Ediciones, esta editora espanhola tem editado uns livros com muita qualidade, que me tem enchido as medidas , provenientes de mercados como o francês, estou deliciado com" Las guerras de Arran " (Les guerres d’Arran); Conquistas(Conquêtes) e I.S.S. Sniper . Tenho pena que o nosso mercado seja pequeno, as nossas editoras tem de fazer escolhas e priorizar o seu negocio...mas é frustrante não ter acesso a muitas obras na nossa língua...Não sei se vamos cá ter obras como os "Nains" , "Elfes ", "Samurais",Space relic hunter" ou "UCC Dolores"...mas se alguém me escuta, deixo aqui o meu desejo para 2025 ,que estas obras possam ser cá editadas.... Abraço e cumprimentos

Nuno disse...


Olá José Carlos, agradeço e retribuo os votos de um Bom ano e de excelentes leituras.
Eu acredito que no bom momento que a edição nacional atravessa, todas as boas obras que são editados por essa Europa fora tem fortes possibilidade de virem a ser publicadas em edição em Portugal. E bons exemplos não faltam. Agora muitas vezes a questão complica-se devido ao valor dos direitos, com o timing da publicação e com o próprio catálogo da editora. Mas é uma questão de contactar uma ou duas editoras e sugerir-lhe. Eu faço isso muitas vezes e posso dizer que houve colecções já publicadas no nosso mercado na sequência do meu contacto. Não custa dar o primeiro passo. Abraço