Entrados agora no último quadrimestre do ano, e antes que comecem a chegar as novidades de Setembro, aproveito para fazer aqui uma mini-análise do comportamento editorial nos primeiros oito meses.
O mercado editorial de banda desenhada em Portugal iniciou 2025 num ritmo moderado somando 18 títulos em Janeiro - uma ligeira quebra face ao verificado em 2024. Foi um discreto início que rapidamente foi deixado para trás a partir de Março (33 lançamentos) com um crescimento contínuo, culminando no mês de Junho, que ultrapassou as quatro dezenas de lançamentos - números a superarem os verificados no ano anterior. Talvez como consequência deste pico de actividade antes do Verão, observou-se uma forte contração em Julho (apenas 22 lançamentos) com o ritmo a desacelerar ainda mais em Agosto (19).
Ao todo, encontram-se contabilizados 235 lançamentos entre Janeiro e Agosto, valor que traduz um crescimento de 1% quando comparado com igual período do ano passado. Embora possa parecer um aumento modesto, importa aqui recordar que 2024 foi um ano excepcional, absolutamente “fora de série”. O facto de 2025, até ao momento, ainda conseguir superar este desempenho recorde, é um bom indicador da actual vitalidade do nosso mercado.
Por origem, as edições de origem europeia (Portugal excluído) enfrentam uma forte concorrência oriental, e estes dois mercados dividem a oferta com 40% para cada lado. A produção nacional, que regista 22 novidades, regista uma quebra de 42% face a 2024.
A editora Devir, sem surpresas, responsável por 27% da oferta, continua a dominar. Em finais de Agosto acumulava um total de 64 lançamentos. Tantos quantos os efetuados ao longo de todo o ano de 2024. E esta forte dinâmica promete não se ficar por aqui, pois prepara mais três dezenas de novidades para este último quadrimestre. Se tudo correr como previsto irá fechar o ano com praticamente uma centena de lançamentos. É obra!
Em termos de valores, o preço médio de um livro fixou-se nos € 17,22 ainda que o preço mediano se situe nos € 15,00. O preço de venda mais praticado actualmente é de € 9,99.
2 comentários:
Não deixa de ser "preocupante", no meu ponto de vista, que o mangá e BDs asiáticas ocupem já 40% da oferta do mercado (já agora, seria interessante saber que percentagem ocupa o mangá em relação a outros títulos orientais não-mangá...). Também preocupante a diminuição de títulos de autores nacionais (falta de divulgação, falta de apoio na internacionalização?...). A BD de origem europeia e nacional já não desperta interesse? Os valores médios de capa são elevados? a qualidade e variedade de títulos é muito irregular? O que se passa? Apesar da especificidade do mercado nacional, seguimos as tendências de leitura por esse mundo fora? Será um fenómeno extemporâneo ou veio para ficar? O que se passa com a "evangelização" e a formação de novos públicos leitores em Portugal? Onde estão as parcerias para divulgação de BD nacional? A BD continua a ter muito pouco visibilidade e a pregar aos "convertidos". O que fazer para alterar isto?...
Não partilho desse sentimento preocupante acerca do manga. Os números reflectem um sinal dos tempos. A verdade é que se hoje a edição de BD atravessa um excelente período em Portugal, muito se deve aos leitores de manga. A elevada oferta vem eventualmente dar resposta a uma grande procura, direi eu.
Por acaso não faço a distinção entre os títulos de origem oriental, optando pelo facilitismo de contabiliza-los todos como manga, mas as contas são fáceis de fazer porque a oferta encontra-se essencialmente concentrada na editora Editorial Presença. Apontaria para 20% dos 40%.
Sobre a edição de autores portugueses, a quebra era expectável com o fim da colecção Clássicos da Literatura da Levoir. Por outro lado, temos um campeão de venda que é o álbum do Luís Louro. Relativamente à BD europeia, considero que continuamos com uma oferta condizente com os nossos hábitos de leitura. Uma boa oferta em termos de qualidade e variedade de autores.
No que respeita à "evangelização" e a formação de novos leitores em Portugal o caminho vai-se fazendo. A edição de BD infanto-juvenil é hoje uma das principais categorias na edição. Não publiquei esses números, mas representam 17% da oferta total.
E vem aí o Asterix em Portugal que dará certamente, este ano, uma enorme visibilidade à BD em vários órgãos de comunicação social.
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