Ainda recentemente aqui escrevi sobre Buddy Longway. Volto de novo “à carga” por causa do álbum duplo com histórias inéditas recentemente publicado na colecção “Clássicos do Tintin” da ASA/Público.
No entanto, começo por referir que me mostro indiferente às boas intenções da editora – presumo que visasse proporcionar uma onda saudosista aos antigos leitores da extinta revista Tintin – porque não concordo com a publicação de aventuras isoladas, seccionadas do respectivo enquadramento na cronologia original. A sensação de “perdido” que a leitura isolada das histórias causa é terrível. Entre outros, a série Buddy Longway é um bom exemplo desta má prática. Sendo uma série estruturada com princípio meio e fim, nada justifica a publicação das aventuras correspondentes aos álbuns n.º 13 e 14 na cronologia original, quando se encontram em falta os n.ºs 8, 9, 10, 11 e o 12 da série.
No presente álbum, salva-se no entanto o facto das histórias apresentadas se complementarem, permitindo a leitura completa de um episódio, ainda que truncado do seu enquadramento geral.
A narrativa que se caracteriza por uma certa serenidade, na primeira história, O Vento Selvagem, é perturbada por um acontecimento – uma forte tempestade – que proporciona o encontro de Buddy Longway com um casal de emigrantes húngaros, Gregor e Mariska Komonczy, que se encontram perdidos no caminho para a Califórnia. A disponibilidade de Buddy Longway para servir de guia, será aproveitada por este, inclusive com a história de como conheceu e casou com a sua mulher, a jovem sioux Chinnok, para desmistificar a imagem negativa que os primeiros colonos vindo da velha Europa tinham acerca dos índios americanos. Não é indiferente a situação causada pela reacção do colono no seu primeiro contacto com um grupo de índios. No decorrer da viagem, encontram um outro estrangeiro, o etnólogo francês Xavier Baron que estabelecerá a "ponte" para os acontecimentos desenvolvidos na segunda parte da aventura.
Em O Manto Negro (o desenho da capa pertence a esta história), assistimos à continuação da viagem do grupo, agora na companhia de Xavier Baron. Nesta aventura, o autor Derib continua a dar-nos uma visão apaixonada sobre a cultura índia não esquecendo a realidade que foi os primeiros anos de conquista do Oeste americano. O choque de culturas entre o homem branco e os peles-vermelhas é expresso através de vários acontecimentos envolvendo os colonos, tais como o rapto de Mariska pela tribo Cree, a história do padre Jean Morin ou o ataque brutal dos índios Assiniboines com um desfecho trágico, que com vigor e equilíbrio contribuem para o realismo desta série, excelentemente bem desenhada por Derib.
Buddy Longway O Vento Selvagem / O Manto Negro
Autor: Derib
Álbum nº 11 da Colecção “Clássicos da Revista Tintin”, Cores, Capa mole
Editora: ASA/Público, 1ª edição de Julho de 2009
A minha nota:
No entanto, começo por referir que me mostro indiferente às boas intenções da editora – presumo que visasse proporcionar uma onda saudosista aos antigos leitores da extinta revista Tintin – porque não concordo com a publicação de aventuras isoladas, seccionadas do respectivo enquadramento na cronologia original. A sensação de “perdido” que a leitura isolada das histórias causa é terrível. Entre outros, a série Buddy Longway é um bom exemplo desta má prática. Sendo uma série estruturada com princípio meio e fim, nada justifica a publicação das aventuras correspondentes aos álbuns n.º 13 e 14 na cronologia original, quando se encontram em falta os n.ºs 8, 9, 10, 11 e o 12 da série.
No presente álbum, salva-se no entanto o facto das histórias apresentadas se complementarem, permitindo a leitura completa de um episódio, ainda que truncado do seu enquadramento geral.
A narrativa que se caracteriza por uma certa serenidade, na primeira história, O Vento Selvagem, é perturbada por um acontecimento – uma forte tempestade – que proporciona o encontro de Buddy Longway com um casal de emigrantes húngaros, Gregor e Mariska Komonczy, que se encontram perdidos no caminho para a Califórnia. A disponibilidade de Buddy Longway para servir de guia, será aproveitada por este, inclusive com a história de como conheceu e casou com a sua mulher, a jovem sioux Chinnok, para desmistificar a imagem negativa que os primeiros colonos vindo da velha Europa tinham acerca dos índios americanos. Não é indiferente a situação causada pela reacção do colono no seu primeiro contacto com um grupo de índios. No decorrer da viagem, encontram um outro estrangeiro, o etnólogo francês Xavier Baron que estabelecerá a "ponte" para os acontecimentos desenvolvidos na segunda parte da aventura.
Em O Manto Negro (o desenho da capa pertence a esta história), assistimos à continuação da viagem do grupo, agora na companhia de Xavier Baron. Nesta aventura, o autor Derib continua a dar-nos uma visão apaixonada sobre a cultura índia não esquecendo a realidade que foi os primeiros anos de conquista do Oeste americano. O choque de culturas entre o homem branco e os peles-vermelhas é expresso através de vários acontecimentos envolvendo os colonos, tais como o rapto de Mariska pela tribo Cree, a história do padre Jean Morin ou o ataque brutal dos índios Assiniboines com um desfecho trágico, que com vigor e equilíbrio contribuem para o realismo desta série, excelentemente bem desenhada por Derib.
Buddy Longway O Vento Selvagem / O Manto Negro
Autor: Derib
Álbum nº 11 da Colecção “Clássicos da Revista Tintin”, Cores, Capa mole
Editora: ASA/Público, 1ª edição de Julho de 2009
A minha nota:
4 comentários:
Sim nota-se muito, de livro para livro, o aumento do nível de qualidade da arte de Derib. Se se confrontar a qualidade ao nivel da arte entre o primeiro tomo, Chinook, com estes, verifica-se um grande desenvolvimento desta.
Também não percebi porque não editaram os dois tomos seguintes ao que já tinha sido editado por cá!
Abraço
A primeira BD de verdade que li num álbum requisitado da saudosa biblioteca ambulante da Gulbenkian, Chinook se não me engano, e desde daí nunca mais deixei de ler.
Sou fã do Derib, em especial do Buddy Longway e gostei de ler estas histórias embora seja como dizes, fiquei um pouco desfasado em relação ao restante que é mencionado mas que nunca li.
Quem sabe algum dia, alguma editora não publique a colecção completa, ou até numa colecção em conjunto com um jornal como agora os Passageiros do Vento? (fazendo figas)
Abraço. :)
Mais uma vez foste certeiro. Gostei muito de ler a tua sinopse. Abraço.
Esta é daquelas colecções que, até em parceria com o Público, se "despachava" em pouco mais de dois meses. Apresenta logo como grande vantagem o facto de ser uma colecção fechada, para não falar da qualidade do argumento, do desenho, etc, etc.
Em vez de se perder tempo a publicar "Grandes Autores" ou "Grandes Clássicos" publique-se antes colecções completas!
Sinceramente há decisões que nem com grande esforço da minha parte consigo perceber o alcance delas!
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