Terminada que está a 20º edição, e no mais redundante texto sobre o festival, dou aqui por terminado, o conjunto de crónicas sobre o agora designado Amadora BD. A minha primeira nota vai para o público visitante. Ou melhor, para o muito público que passou pelo Fórum Luís de Camões, nestes últimos 16 dias. Não sei se tal corresponde a um maior interesse pela BD em Portugal, mas é um sinal muito positivo da importância e do espaço próprio que o Amadora BD soube construir ao longo destes últimos 20 anos. Atribuo talvez este êxito ao próprio modelo multifacetado do festival que se desdobra na realização de vários eventos, o que acaba por agradar a diferentes públicos.
Não obstante o sucesso, os vinte anos de experiência, o modelo do Amadora BD continua a apresentar, na minha opinião, algumas falhas. Uma delas prende-se logo com a política de descentralização das exposições do festival. Ponho sobretudo em causa a sua eficácia em termos de visibilidade. O fim a que se destinam estas exposições é serem vistas por um público bedéfilo interessado e conhecedor, público esse que se encontra reunido no núcleo central. Assim, pergunto porquê privar este público em detrimento de uma necessidade camarária de justificar a utilidade de outros espaços? Não haverá ao longo do ano quaisquer outros eventos capazes de dar uso devido aos restantes equipamentos do município?
A edição deste ano alicerçou-se na comemoração de vários aniversários redondos. A começar pelo aniversário do próprio festival. Sob o tema central o Grande Vigésimo decorreu a exposição principal, uma mostra bastante sóbria que valeu sobretudo pelos originais reunidos na colecção do CNBDI. Poderia ter-se mostrado os trabalhos dos primeiros premiados, mas preferiu-se outra abordagem. Outra data redonda foi a dos “50 anos de carreira de Maurício de Sousa”. O pai da Mónica é quase “prata da casa” do festival. Foi devidamente homenageado (o próprio Maurício fez questão de partilhar esse momento via twitter e até revelar o interesse do município da Amadora em ter um parque da Mónica na cidade). Claro está, a “sua” exposição, com um elevado número de pranchas originais, foi uma mais bem conseguidas do festival.
Outra exposição que se destacou foi a dedicada a Lepage, vencedor do prémio de “Melhor Álbum Estrangeiro” da edição do ano anterior. Os originais expostos despertaram-me para este autor. As esplêndidas cores que exibiam contrastavam em absoluto com a palidez da versão papel dos álbuns editados em Portugal pela ASA, que agora sim podemos dizer que deixam muito a desejar.
Uma palavra também Rui Lacas e Osvaldo Medina, cujo talento encontrava-se bem evidenciado em espaços próprios bem construídos e com motivos cénicos, que sempre ajudam na criação da atmosfera própria que emana do universo dos autores.
O bom resultado da política de parcerias promovida pelo Amadora BD teve finalmente expressão na surpreendente mostra colectiva de autores polacos intitulada “Komics” que nos revelou o grande potencial da BD polaca. Contribuiu também a presença de Zbiniew Kasprzak (é mais fácil trata-lo por Kas) e da Grazyna Kasprzak (Graza) nas sessões de autógrafos, que fizeram justiça à qualidade da exposição. Verdade seja dita, valeram o tempo de espera na fila. Foram do melhor que já tenho visto. Ele desenha, ela pinta, e o resultado são pequenas obras de arte. Infelizmente, não temos nada publicado em Portugal e incompreensivelmente na zona comercial, edições francesas nem vê-las.
No lado oposto ao que foi bem feito, tivemos a mostra (das mais beras que já tenho visto) destinada a celebrar os “50 anos de Asterix”. Pela expectativa que se tinha criado em função da enorme popularidade da personagem, esta exposição ainda conseguiu ser pior do que uma coisa que andava para ali perdida e que dava pelo nome de “F.E.V.E.R.”. Sem perder mais tempo com isto, acrescento só que, em relação a ambas, foi um desperdício o espaço que ocupavam, que poderia ter sido melhor empregue, por exemplo, com a retrospectiva de Hector Oesterheld que está no CNBDI.
As sessões de autógrafos são um dos pontos altos do festival. O ponto baixo destas sessões é o incumprimento dos horários por parte dos autores. Atrasos que muitas vezes forçam o fecho da fila quando ainda o autor não começou a assinar. Atrasos que colidem com realização de outros eventos. É um problema que evidencia uma injustificável falta de organização e porque não dizer também, uma falta de respeito pelos leitores que esperam horas nas filas. Garantidamente, não há autor que esteja presente para começar às 15H. Em vez das 15-19H porque não se marca das 16-20H? Porque razão não se define no programa, um dia exclusivamente para autógrafos e o outro dia exclusivamente para conferências, entrevistas e apresentações?
Como já vem sendo hábito o festival apresentou mais uma vez um cartaz de autores bastante diversificado e representante dos vários géneros. Comparativamente confesso que gostei mais da edição do ano passado. Os autores franco-belgas dominaram como naturalmente não podia deixar de ser, mas gostei bastante do elevado número de autores portugueses que se mostraram. É verdade que não é fácil para um autor português editar em Portugal, mas já se começam a abrir algumas portas, e aqui gostaria de destacar o trabalho feito por uma pequena editora, a Kingpin Books, que aposta na edição própria, na promoção de novos autores portugueses e que soube tirar proveito do festival. Lançamentos, conferências, sessões de autógrafos, exposições. Tudo o que se espera que possa acontecer durante um festival de BD aconteceu com a Kingpin. Sempre entendi o Amadora BD como o ponto alto da “onda” bedéfila em Portugal. Há que aproveitar este palco!
Sobre os PNBD, já exprimi a minha opinião aqui e aqui, pelo que só acrescento que a atribuição do prémio à dupla Schuiten e Peeters teve pelo menos o condão de garantir na edição do próximo ano, uma exposição sobre as “Cidades Obscuras” que esperemos que esteja ao nível da elevada qualidade da obra destes autores.
Na zona comercial, fiz as habituais compras das (poucas) novidades. Senti a falta de uma grande livraria comum que tenha uma oferta mais alargada em termos de edição nacional e edição estrangeira, bem como abrangendo um maior número de editoras. Resumindo uma “Dr. Kartoon” em tamanho maior. Como visitante, compreendi perfeitamente a unanimidade das críticas que se gerou à volta do funcionamento da zona comercial do festival, sobretudo por parte dos livreiros. O espaço com obstáculos arquitectónicos de gosto e utilidade duvidosos não era manifestamente propício à circulação de pessoas nem acolhedor.
Depois temos as eternas questões, da apresentação do festival apenas três semanas antes deste se iniciar, que pouca margem dá a visitantes, livreiros e editoras de se organizarem em função dos autores presentes, da falta do programa e catalogo logo no inicio do festival, que é imprescindível para o visitante estabelecer uma identificação com festival, das constantes alterações dos autores presentes e tudo junto, passa a imagem que se não é parece que é tudo tratado à ultima da hora. Não abona nada em favor de um festival com 20 anos de experiência.
Relativamente à edição do próximo ano, é dedicada a mais um aniversário redondo, desta vez o Centenário da República. Também promete ser um ano em grande em termos de produção nacional, a avaliar pelas intenções já manifestadas por vários autores em trabalhar em projectos directamente relacionados com o tema. A ver vamos. Até para o ano!
Para terminar, ficam então aqui as minhas notas finais sobre o 20º Amadora BD:
Notas positivas:
+ Exposição Lepage “Muchacho”
+ Maurício de Sousa
+ Forte presença de autores portugueses
+ Parceria com o FIBD Lodz (Polónia)
Notas negativas:
- Exposição “50 anos de Asterix”
- Descentralização das exposições
- Modelo dos PNBD
- Incumprimento de horários nas sessões de autógrafos
Também sobre o 20º Amadora BD:
- As "notas" esmiúçam o Amadora BD - parte I
- As "notas" esmiúçam o Amadora BD - parte II
Não obstante o sucesso, os vinte anos de experiência, o modelo do Amadora BD continua a apresentar, na minha opinião, algumas falhas. Uma delas prende-se logo com a política de descentralização das exposições do festival. Ponho sobretudo em causa a sua eficácia em termos de visibilidade. O fim a que se destinam estas exposições é serem vistas por um público bedéfilo interessado e conhecedor, público esse que se encontra reunido no núcleo central. Assim, pergunto porquê privar este público em detrimento de uma necessidade camarária de justificar a utilidade de outros espaços? Não haverá ao longo do ano quaisquer outros eventos capazes de dar uso devido aos restantes equipamentos do município?
A edição deste ano alicerçou-se na comemoração de vários aniversários redondos. A começar pelo aniversário do próprio festival. Sob o tema central o Grande Vigésimo decorreu a exposição principal, uma mostra bastante sóbria que valeu sobretudo pelos originais reunidos na colecção do CNBDI. Poderia ter-se mostrado os trabalhos dos primeiros premiados, mas preferiu-se outra abordagem. Outra data redonda foi a dos “50 anos de carreira de Maurício de Sousa”. O pai da Mónica é quase “prata da casa” do festival. Foi devidamente homenageado (o próprio Maurício fez questão de partilhar esse momento via twitter e até revelar o interesse do município da Amadora em ter um parque da Mónica na cidade). Claro está, a “sua” exposição, com um elevado número de pranchas originais, foi uma mais bem conseguidas do festival.
Outra exposição que se destacou foi a dedicada a Lepage, vencedor do prémio de “Melhor Álbum Estrangeiro” da edição do ano anterior. Os originais expostos despertaram-me para este autor. As esplêndidas cores que exibiam contrastavam em absoluto com a palidez da versão papel dos álbuns editados em Portugal pela ASA, que agora sim podemos dizer que deixam muito a desejar.
Uma palavra também Rui Lacas e Osvaldo Medina, cujo talento encontrava-se bem evidenciado em espaços próprios bem construídos e com motivos cénicos, que sempre ajudam na criação da atmosfera própria que emana do universo dos autores.
O bom resultado da política de parcerias promovida pelo Amadora BD teve finalmente expressão na surpreendente mostra colectiva de autores polacos intitulada “Komics” que nos revelou o grande potencial da BD polaca. Contribuiu também a presença de Zbiniew Kasprzak (é mais fácil trata-lo por Kas) e da Grazyna Kasprzak (Graza) nas sessões de autógrafos, que fizeram justiça à qualidade da exposição. Verdade seja dita, valeram o tempo de espera na fila. Foram do melhor que já tenho visto. Ele desenha, ela pinta, e o resultado são pequenas obras de arte. Infelizmente, não temos nada publicado em Portugal e incompreensivelmente na zona comercial, edições francesas nem vê-las.
No lado oposto ao que foi bem feito, tivemos a mostra (das mais beras que já tenho visto) destinada a celebrar os “50 anos de Asterix”. Pela expectativa que se tinha criado em função da enorme popularidade da personagem, esta exposição ainda conseguiu ser pior do que uma coisa que andava para ali perdida e que dava pelo nome de “F.E.V.E.R.”. Sem perder mais tempo com isto, acrescento só que, em relação a ambas, foi um desperdício o espaço que ocupavam, que poderia ter sido melhor empregue, por exemplo, com a retrospectiva de Hector Oesterheld que está no CNBDI.
As sessões de autógrafos são um dos pontos altos do festival. O ponto baixo destas sessões é o incumprimento dos horários por parte dos autores. Atrasos que muitas vezes forçam o fecho da fila quando ainda o autor não começou a assinar. Atrasos que colidem com realização de outros eventos. É um problema que evidencia uma injustificável falta de organização e porque não dizer também, uma falta de respeito pelos leitores que esperam horas nas filas. Garantidamente, não há autor que esteja presente para começar às 15H. Em vez das 15-19H porque não se marca das 16-20H? Porque razão não se define no programa, um dia exclusivamente para autógrafos e o outro dia exclusivamente para conferências, entrevistas e apresentações?
Como já vem sendo hábito o festival apresentou mais uma vez um cartaz de autores bastante diversificado e representante dos vários géneros. Comparativamente confesso que gostei mais da edição do ano passado. Os autores franco-belgas dominaram como naturalmente não podia deixar de ser, mas gostei bastante do elevado número de autores portugueses que se mostraram. É verdade que não é fácil para um autor português editar em Portugal, mas já se começam a abrir algumas portas, e aqui gostaria de destacar o trabalho feito por uma pequena editora, a Kingpin Books, que aposta na edição própria, na promoção de novos autores portugueses e que soube tirar proveito do festival. Lançamentos, conferências, sessões de autógrafos, exposições. Tudo o que se espera que possa acontecer durante um festival de BD aconteceu com a Kingpin. Sempre entendi o Amadora BD como o ponto alto da “onda” bedéfila em Portugal. Há que aproveitar este palco!
Sobre os PNBD, já exprimi a minha opinião aqui e aqui, pelo que só acrescento que a atribuição do prémio à dupla Schuiten e Peeters teve pelo menos o condão de garantir na edição do próximo ano, uma exposição sobre as “Cidades Obscuras” que esperemos que esteja ao nível da elevada qualidade da obra destes autores.
Na zona comercial, fiz as habituais compras das (poucas) novidades. Senti a falta de uma grande livraria comum que tenha uma oferta mais alargada em termos de edição nacional e edição estrangeira, bem como abrangendo um maior número de editoras. Resumindo uma “Dr. Kartoon” em tamanho maior. Como visitante, compreendi perfeitamente a unanimidade das críticas que se gerou à volta do funcionamento da zona comercial do festival, sobretudo por parte dos livreiros. O espaço com obstáculos arquitectónicos de gosto e utilidade duvidosos não era manifestamente propício à circulação de pessoas nem acolhedor.
Depois temos as eternas questões, da apresentação do festival apenas três semanas antes deste se iniciar, que pouca margem dá a visitantes, livreiros e editoras de se organizarem em função dos autores presentes, da falta do programa e catalogo logo no inicio do festival, que é imprescindível para o visitante estabelecer uma identificação com festival, das constantes alterações dos autores presentes e tudo junto, passa a imagem que se não é parece que é tudo tratado à ultima da hora. Não abona nada em favor de um festival com 20 anos de experiência.
Relativamente à edição do próximo ano, é dedicada a mais um aniversário redondo, desta vez o Centenário da República. Também promete ser um ano em grande em termos de produção nacional, a avaliar pelas intenções já manifestadas por vários autores em trabalhar em projectos directamente relacionados com o tema. A ver vamos. Até para o ano!
Para terminar, ficam então aqui as minhas notas finais sobre o 20º Amadora BD:
Notas positivas:
+ Exposição Lepage “Muchacho”
+ Maurício de Sousa
+ Forte presença de autores portugueses
+ Parceria com o FIBD Lodz (Polónia)
Notas negativas:
- Exposição “50 anos de Asterix”
- Descentralização das exposições
- Modelo dos PNBD
- Incumprimento de horários nas sessões de autógrafos
Também sobre o 20º Amadora BD:
- As "notas" esmiúçam o Amadora BD - parte I
- As "notas" esmiúçam o Amadora BD - parte II
5 comentários:
Olá Verbal,
Nem uma palavrinha para o David Lloyd, não posso acreditar :-)
Boa resenha que aqui fizeste. Focaste pontos bastante importantes.
Quero só realçar o bom ambiente que se criou na zona dos autografos, com algumas discussões dignas de uma verdadeira tertúlia, e que veio atenuar a tal espera pelos autores.
Até me sinto envergonhado pelas minhas considerações pessoais tão mal esmiuçadas em comparação!
Partilho da tua opinião completamente.
Eu tambem partilho inteiramente!
Mas permite-me discordar.
Viva Rui, permite-me a liberdade de dizer que fiquei foi encantado com os polacos!!! Para o ano faço lobby para promover de novo a vinda deles!
Caros Refém e Gio, também partilho da vossa opinião! eheheh
Olá Verbal,
Até posso participar nesse lobby, mais que não seja para poder chatear a cabeça ao Kas :-) no caso de ele voltar.
Tirando a falta de consideração e os tiques de "estrela", tenho de reconhecer que fazem um belo trabalho.
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