09 janeiro, 2025

Lançamento DEVIR: Naruto vol. 54 - A ponte para a paz

Já nem é grande novidade observar a DEVIR a abrir o ano a grande velocidade, com as séries de mangá a marcarem o rimo. Torna-se quase natural face a um importante catalogo, bastante dinâmico, onde as colecções se sucedem e continuam. NARUTO é uma das que continuam, e em Janeiro recebemos o seu 54º volume.

A PONTE PARA A PAZ
Naruto herda o legado dos pais e cresce como um Shinobi!
Com a sua nova capacidade de controlar o Kyubi, ele captura Kisame que se esconde na sua espada, Samehada. Ao tentar fugir, Kisame encontra, pela terceira vez, a grande besta azul de Konoha. 
 
Novidade já disponível nas livrarias. 
 
Ficha técnica:
Naruto vol. 54 - A ponte para a paz 
De Masashi Kishimoto
Capa mole, dimensões 12,6x19 cm, p/b, 188 págs.
ISBN: 9789895596553
PVP: € 9,99
Edição DEVIR
 

07 janeiro, 2025

O Estado da Arte em 2024

 

Análise do Mercado Editorial Nacional de BD em 2024

Introdução 

O mercado nacional de banda desenhada (BD), desde sempre considerado de nicho, tem apresentado, nos últimos anos, taxas de crescimento bastante significativas, quer pela crescente popularidade de manga entre os novos leitores, quer pela proliferação de romances gráficos que abrangem desde clássicos internacionais até criações originais de autores nacionais. Tal envolvido um número crescente de editoras, que veem na BD um interessante segmento capaz de diversificar a oferta do seu catálogo e atrair novos públicos. A BD continua assim a conquistar um espaço significativo na cultura literária.

O presente contributo pretende dar uma visão do mercado editorial nacional em 2024, destacando as maiores editoras, os géneros mais populares, observando a evolução dos números e as principais tendências do mercado. É importante ressalvar desde já ressalvar que uma análise mais precisa exigiria dados específicos, mas não existe, ou não está disponível, informação compilada e consistente acerca das tiragens, das vendas e consequente quotas de mercado das nossas editoras. Esperamos pelo dia que estes números sejam conhecidos no nosso país.

Por conseguinte, a análise far-se-á com recurso a informação complementar que foi possível recolher e tratar, conseguindo-se assim o suficiente para aferir sobre o Estado da Arte em Portugal.

Centrando-se esta análise no mercado editorial português, e tendo como foco a edição de BD em Portugal por parte de editoras nacionais, as publicações independentes de autores e as revistas amadoras distribuídas em mercados alternativos (fanzines) não foram aqui consideradas por serem de difícil inventariação, bem como as simples reimpressões, as edições estrangeiras ou em língua estrangeira ainda que com distribuição em Portugal. Ficaram igualmente de fora desta análise, todas as publicações relacionadas com a banda desenhada, e aqui inclui-se estudos, ensaios, entrevistas, enciclopédias, etc.

Fazendo um enquadramento, o segmento da BD faz parte de um mercado livreiro maior, que em Portugal, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), relativamente a 2023, avaliava em 187 milhões de euros. A BD será responsável por uma parcela modesta deste montante. Em mercados europeus estima-se que as vendas se situem entre 5% a 10% do total do mercado editorial, dependendo do país e da popularidade da BD. Em Portugal, atendendo à reduzida dimensão do nosso mercado, será seguro dizer que uma percentagem conservadora apontará para um valor não superior a 5%. 

Visão geral do mercado português de BD em 2024

Em 2024, o mercado editorial nacional de banda desenhada consolidou-se como um segmento dinâmico e diversificado, refletindo o crescente interesse por esta arte em Portugal. Na verdade, atravessamos um novo período dourado, e isso encontra-se reflectido nos números aqui apresentados, de nº de editoras/chancelas, de novos lançamentos e de procura por informação relacionada. Este bom momento também se estende à BD portuguesa, que apresentou níveis de produção como não se via há alguns anos.

Os Lançamentos

Em 2024, foi registado o melhor resultado de sempre em termos de nº de novos lançamentos de livros de BD, no formato físico, em Portugal. Foram contabilizadas 384 novidades, na contagem pelo ISBN (a listagem completa está disponível AQUI), o que se traduz numa taxa de crescimento de 9% face a 2023, período no qual já se tinha verificado um excelente resultado. Observa-se que se trata do terceiro ano consecutivo de crescimento da oferta de banda desenhada no nosso mercado. 

Numa tentativa de segmentação, pode-se dizer que por origem, o peso da banda desenhada estrangeira continua dominante no mercado português. Mantêm-se a influência do mercado francófono, mas acompanhado agora pelo mercado asiático, que tem revelado crescentes taxas de crescimento.

Assim, com uma taxa de 43% o mercado europeu de banda desenhada mantém-se assim como o principal fornecedor de histórias para as nossas editoras. A este valor soma-se ainda 16% referentes à edição de obras portuguesas, que teve em 2024 um dos seus melhores anos, com um total de 60 novos lançamentos. Depois da queda verificada no ano passado, temos agora a recuperação. Contam-se mais de duas dezenas de editoras nacionais a apostar na BD portuguesa, e este ano com destaque para a Levoir com a sua colecção Clássicos da Literatura Portuguesa em Banda Desenhada. Sem surpresas, na segunda posição, encontramos o mercado asiático, o qual já é responsável por 28% da oferta. Incluem-se aqui as histórias oriundas do Japão, China, Coreia. Em queda livre, está o mercado norte-americano que garante apenas 10% da oferta. O fim da colecção Clássica Marvel da Atlântico Press e a desistência da Levoir do selo editorial da DC Comics são a causa responsável. 

No ano de 2024, destaca-se a consolidação de algumas tendências no mercado de BD nacional.

Entre elas, observa-se a enorme popularização do mangá, o que levou sete das dez maiores chancelas editoriais a apostarem neste género. Outra tendência relevante foi o aumento na edição de adaptações literárias, especialmente em formato de novela gráfica. 

Paralelamente, verificou-se um número significativo das reedições (9%) e aqui considera-se mais do que uma simples reimpressão, ou seja, uma alteração substancial da obra que tenha originado a atribuição de um novo ISBN.

Adicionalmente, houve um forte incremento na publicação de banda desenhada destinada ao público infanto-juvenil. Um segmento em franco crescimento, que representou cerca de 14% da oferta total do ano, com os grupos Porto Editora e Penguin Livros a serem responsáveis por mais de 50% das novidades lançadas no período.

Relativamente à ordenação de cada título existe uma grande dificuldade de enquadramento devido sobretudo à inexistência de um sistema comummente aceite e à enorme variedade de géneros que se podem encontrar, dependendo então a sua classificação de diferentes critérios e abordagens. Não obstante, verifica-se que as obras de acção/aventura continuam no topo de preferências, seguido das temáticas históricas e das biografias gráficas. Em queda livre encontram-se os westerns e as aventuras de super-heróis.

Em termos de distribuição, a disponibilização dos títulos ao longo do ano apresentou extremos históricos. Embora a média mensal tenha sido de aproximadamente 32 novidades, a sua distribuição revelou-se irregular, oscilando entre um mínimo de 4 lançamentos em Dezembro e um pico de 72 novos títulos em Outubro, tradicionalmente o mês mais forte no nosso mercado editorial. De realçar que o último quadrimestre concentrou mesmo assim o maior volume de lançamentos, reforçando a tendência de intensificação das novidades editoriais nesse período do ano. 

 


Em 2024, o cabaz completo, composto por todos as novidades de BD editadas em Portugal, apresentou um custo total de € 6.627,52, com o preço médio de um livro de BD a fixar-se em € 17,26. Em termos de preço de capa, a edição mais barata que encontramos foi a reedição de A Loja da editora Polvo por € 8,90. No extremo oposto, como a mais cara, tivemos a edição integral de BRZRKR da editora G.Floy, com o preço de € 50,00. Assinala-se que o valor de venda mais praticado foi de € 9,99, correspondente ao preço de referência praticado pela editora Devir nas suas edições de manga.


As Editoras

Em termos de editoras (ou chancelas) de BD activas em Portugal tivemos um novo máximo, que passou as cinco dezenas, totalizando as 53. Contabilizam-se aqui todas aquelas que tenham pelo menos editado, em 2024, uma obra de banda desenhada, com ISBN atribuído. Observa-se que é um número que tem vindo a crescer paulatinamente desde 2020. 

Conforme referido inicialmente não existe informação disponível acerca dos valores de vendas e de tiragens, pelo que aqui a  “quota de mercado” das editoras será definida em função do número de novos lançamentos de cada uma face ao total do mercado.

No topo das editoras nacionais encontramos (de novo) a DEVIR. Se em 2023 já tinha alcançado excelentes números, em 2024 bateu todas as marcas. Em número de novidades, foram contabilizados 64 novos lançamentos, correspondente a 17% da oferta nacional de banda desenhada. É a principal responsável pela enorme oferta de manga que temos actualmente, o que lhe confere pelo quarto ano consecutivo o título da editora mais activa do mercado. E promete não ficar por aqui, porque para 2025 já anunciou o estender o seu catálogo ao franco-belga e a aquisição dos direitos de publicação da americana DC Comics

A segunda posição vai para a ASA. Com 54 lançamentos assume uma quota de 14%. A editora tem estado bastante dinâmica desde a sua reestruturação, e apostou na abertura do seu catálogo de BD a novos leitores, apostando em várias frentes, desde títulos de origem franco-belga, ao pisca de olho ao público adolescente com as colecções de manfras e à edição títulos dedicados a um público infantil. O resultado é um crescimento da sua oferta em 35% face ao registado no ano anterior. 

No terceiro lugar deste pódio está a LEVOIR. Registou um excelente ano com 42 lançamentos o que lhe confere uma quota de 11%. Destaca-se a sua aposta em coleções, com o lançamento da oitava série de novelas gráficas em parceria com o jornal Público e uma colecção dedicada à adaptação de clássicos da literatura portuguesa para BD, com a assinatura de autores nacionais. A aposta falhada nos títulos da DC Comics é agora compensada com um virar de página a oriente. O novo ano deve trazer novidades sobre esta matéria. 

A análise dos dados confirma a manutenção de um mercado concorrencial, com as dez principais chancelas a concentrarem em si cerca de 71% da oferta nacional, um percentual em linha com o observado no ano anterior.

De realçar que entre estas, apenas quatro se encontram exclusivamente dedicadas à edição de banda desenhada. As demais podem-se considerar com um perfil mais generalista, integradas em grupos editoriais, onde a BD é editada em conjunto com outras categorias de livros. Adicionalmente, a restante oferta encontra-se distribuída por um grande número de pequenas e médias editoras/chancelas, cujo catálogo de banda desenhada é reduzido.

Gostava de chamar aqui a atenção para o caso especial que constitui a Penguin Livros, a sucursal portuguesa do grupo internacional Penguin Random House. 

Apresenta um total de 24 chancelas editoriais, cada uma direcionada para um género em particular ou um determinado público-alvo. No entanto observa-se que oito delas (a saber, a Iguana, Distrito Manga, Booksmile, Nuvem de Letras, Cavalo de Ferro, Elsinore, Fábula e Objectiva) editaram, pelo menos, uma obra de banda desenhada em 2024. 

Na listagem acima das maiores editoras, encontramos a Distrito Manga num 7º lugar com um total de 15 lançamentos, que faz desta chancela o principal selo da Penguin na edição de BD em Portugal. Mas considerássemos o total do grupo, verificávamos que o seu somatório totaliza 42 edições de BD, um resultado que conferia à Penguin Livros um 4º lugar na classificação das maiores editoras, com uma oferta de 11%. 

 

Os eventos e festivais de BD

Os apoios públicos, em especial das câmaras municipais, têm-se revelado como pilares fundamentais na organização de eventos que promovem a 9ª arte e estimulam a criação de novos públicos. Como resultado, o panorama nacional de festivais de banda desenhada apresenta-se cada vez mais diversificado, com uma oferta geograficamente complementar que fortalece a presença da BD em vários pontos do país.

Em 2024, realizaram-se dois eventos no norte do país (a 10ª edição da Comic Con e o 2º Maia BD), um no centro (o 8º Coimbra BD), um no Alentejo (18ª edição do Festival Internacional de BD de Beja) e os restantes a sul (a 2ª edição do LouriBD na Lourinhã, a 5ª edição do IlustraBD no Barreiro e o 35º Amadora BD). Apesar de não dispor dos números oficiais de visitantes de cada evento, quer-se querer que tenham tido uma boa participação de acordo com as expectativas de cada organização, até porque os apoios mantiveram-se e começaram a ser reveladas as datas das edições de 2025.

Os Canais de Distribuição

O recente estudo da empresa da GfK para a APEL sobre Hábitos de Compra e Leitura de Livros revelou a preferência pelas lojas físicas, em particular as livrarias, como o principal ponto de venda de livros em Portugal. 

No segmento da BD, esta dependência das livrarias físicas torna-se ainda mais evidente quando se observa o quase desaparecimento da presença de banda desenhada noutros canais, nomeadamente as bancas de jornais. Este canal de distribuição restringe-se agora às coleções distribuídas em parceria com jornais. Em 2024, destacaram-se duas colaborações com o jornal Público: a oitava série de Novelas Gráficas da editora Levoir, publicada entre Julho e Novembro, e a coleção Tanguy & Laverdure da editora ASA, disponível entre Agosto e Outubro.

Observa-se, no entanto, novas estratégias de adaptação ao mercado, procurando as editoras novos meios de alcançar um público leitor de banda desenhada, e aqui destacaria uma aposta nas chamadas vendas diretas. Apesar de não se dispor de números de vendas, facilmente se percebe que canais editor-leitor apresentam a enorme vantagem económica de eliminação dos custos de intermediação. 

Assim, a aposta passa por canais próprios. Através das lojas online existentes nos sítios da internet da grande maioria das editoras, mas sobretudo pela presença destas nos principais festivais nacionais de BD. E daí observar-se cada vez mais o coincidir de novos lançamentos com a realização destes eventos, e o melhor exemplo disso é dado pelo festival Amadora BD, que se realiza na segunda quinzena de Outubro, que faz concentrar sempre neste mês o maior número de novidades do ano. 

Os Canais de Divulgação

Em Portugal, os principais canais de divulgação a um público vasto passam essencialmente por blogues e fóruns dedicados na plataforma Facebook. Em 2024, se na blogosfera nacional o número de canais divulgadores não sofreu grande variação, rondando a meia dezena de blogues dedicados, em termos de visitantes a coisa muda de figura.

Tomo aqui o exemplo do blogue NOTAS BEDÉFILASporque disponho dos números – que recebeu ao longo de 2024, mais de 250.000 visitantes (mais concretamente 253.248), uma média superior a 20.000 visitas mensais, o que constitui taxa de crescimento de 15% relativamente a 2023. E esta procura de informação verifica-se igualmente no fórum BANDA DESENHADA PORTUGAL, que passou dos poucos mais de 6.000 membros em finais de 2023 para os quase 9.400 membros em finais de 2024. Uma taxa de adesão superior a 50%. Não se pode dissociar este crescente interesse na procura de informação relacionada com o excelente momento que a BD atravessa em Portugal, e que se observa em todas suas várias vertentes.

 
ESTATÍSTICAS DO GRUPO BANDA DESENHADA PORTUGAL EM 2024


 

O Dia Nacional da BD Portuguesa

O ano de 2024 ficará marcado pela oficialização do dia 18 de outubro como o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa. A proposta apresentada pelo partido parlamentar Livre e aprovada pela Assembleia da República, não está associada a qualquer efeméride significativa relacionada com a banda desenhada, resultando sim de um processo unilateral, sem consulta ou discussão prévia com a comunidade bedéfila. Embora a iniciativa merecesse maior cuidado e envolvimento, este dia, ainda que imperfeito, passa a integrar o calendário cultural nacional.

Conclusão

A avaliar por 2024, a banda desenhada em Portugal atravessa um momento notável de vitalidade e crescimento. O nosso mercado editorial tem demonstrado resiliência e capacidade de adaptação, com uma oferta cada vez mais diversificada que atende a um público amplo e variado. Os números extraordinários deste ano, em todas as suas vertentes, revelam que a oferta tem conseguido atrair novos leitores, e fomentar um interesse renovado, impulsionando assim o aumento de chancelas editoriais e consequentemente o número de novos lançamentos. Embora não sejam conhecidos dados concretos de vendas, a aposta continuada das nossas editoras é sempre um bom indicador que o mercado está bem, é promissor e que se recomenda.

Para 2025, o cenário é de certa forma imprevisível. O volume de edições cresceu significativamente nos últimos três anos (+23%), e os números de 2024 devem marcar o limite que o nosso mercado comporta. Estabilizar talvez seja necessário ou aposta passar agora por mais qualidade e menos quantidade. Daqui a um ano nova avaliação. Até lá, que não nos faltem boas leituras! 

 

06 janeiro, 2025

Lançamento DEVIR: Frieren - volume 2

Começar bem o ano é o mote da DEVIR, que não perde tempo e é a responsável pelo primeiro lançamento de 2025. Quem mais? Depois do excelente ano que teve, a editora começa já a impor o seu ritmo de publicação, tendo preparado uma mão-cheia de novidades já para Janeiro. Hoje trago aqui a nota de lançamento do segundo volume da nova colecção FRIEREN, que chega hoje às livrarias nacionais. 

Uma obra de fantasia, onde o leitor acompanha a saga de um elfa, cuja longa longevidade a leva a reflectir sobre o significado de tempo e da memória.

FRIEREN 2
Na viagem que faz com a sua aprendiz Fren, o destino de Frieren é novamente o castelo do rei demónio, na terra onde se diz que descansam as almas dos heróis. Esta viagem segue também as pegadas da sua aventura com o grupo do herói Himmel. No caminho, conhecem Stark o aprendiz de Eisen e a história avança para uma nova fase. Uma fantasia que é tecida da “linhagem” dos heróis! 
 
Ficha técnica:
Frieren - volume 2
De Kanehito Yamada e ilustração de Tsukasa Abe 
Capa mole, formato 12,6x19 cm, p/b, 192 páginas.
ISBN: 9789895596997
PVP: € 9,99
Edição DEVIR
 

05 janeiro, 2025

As Melhores Leituras de 2024 - Autores estrangeiros

Terminadas as últimas leituras pendentes, julgo estar nas condições de poder afirmar que foi um ano, onde tivemos, mais uma vez, uma belíssima oferta. A verdade é, que considero, que tem sido assim nos últimos tempos. Temos sido uns leitores privilegiados, por termos visto por cá publicadas excelentes obras, de grandes autores, em magnificas edições. 2024 foi mais um desses anos. Estão de parabéns, portanto, os nossos editores.

Continuando com o Balanço de 2024, que iniciei com as escolhas das minhas melhores leituras de autores portugueses, prossigo agora com as escolhas das minhas melhores leituras de autores estrangeiros, em que todas elas mereceram a minha melhor avaliação.

Fica aqui o meu TOP 9 da BD estrangeira de 2024 (aleatoriamente arrumado): 


Breves notas sobre as escolhas:

Devo dizer que existiram álbuns, quer pela intensidade narrativa, quer pelo desenho, não me deixaram indiferente, da primeira à ultima página, e por causa disso tiveram desde logo entrada direta no meu TOP 9 do ano.

A ESTRADA, de Manu Larcenet, edição Ala dos Livros, foi logo o primeiro em Abril. A minha critica pode ser lida aqui. Seguido de outro álbum que me deixou rendido, O COMBATE DE HENRY FLEMING, de Steve Cuzor, também numa edição magnifica da Ala dos Livros. Também escrevi aqui.

Depois tivemos obras que são voz e memória de períodos negros da História universal. Narrativas que também não foram de leitura fácil, e que retratam dolorosas realidades. Falo de ERVA, a novela gráfica da coreana Keum Suk Gendry-Kim, numa edição da Iguana. A autora, uma das sensações do ano e convidada do Amadora BD, com uma enorme sensibilidade narrativa, apoiada no seu traço simples, a preto e branco, de linhas soltas e pouco dado a pormenores, deu voz às mulheres coreanas que foram vitimas de escravidão sexual, as chamadas “mulheres de conforto” dos soldados japoneses, durante a Segunda Guerra Mundial. Uma história brutalmente honesta, centrada no relato de uma das sobreviventes, o que confere uma autenticidade visceral à obra.

E de O ABISMO DO ESQUECIMENTO, de Pablo Roca, edição Ala dos Livros. É uma viagem ao passado recente de Espanha, onde o autor explora uma ferida aberta pela Guerra Civil Espanhola e os seus ecos no presente. Uma obra que aborda essa necessidade tão humana de querer despedir-nos de forma digna daqueles que nos são queridos, numa vontade que não só reforça a importância de preservar a memória dos que partem mas que também serve como um acto de resistência para que as lições da História nunca sejam esquecidas.

E numa altura em que a palavra Liberdade, e tudo que ela representa, é tão falada, ler uma obra que aborda a falta dela é um exercício que se recomenda. E a edição integral de JONAS FINK, de Vittorio Giardino em dois volumes, numa edição da Arte de Autor, é um belo exercício narrativo gráfico, numa obra que transcende o tempo e o espaço e que oferece uma janela para a luta de resistência humana contra a opressão.

E dos que se seguem não houve como escapar. Foram leituras prazerosas de universos que são paixão, e que tão bem foram tratados em banda desenhada. AS GUERRAS DE LUCAS, edição da Ala dos Livros, tem entrada directa nesta categoria. É um magnifico conto de bastidores. Todas aquelas histórias soltas, rumores e amores, que ouvimos falar sobre a rodagem do primeiro filme da saga Star Wars  encontram aqui o seu tempo e espaço com o devido enquadramento. Sentimos que o poder da força acompanhou George Lucas. Uma narrativa biográfica obrigatória para fans da saga.

E NA CABEÇA DE SHERLOCK HOLMES, numa edição de A Seita. Retomar ao universo de Conan Doyle, num dos álbuns mais originais do ano, seguindo o desfiar do fio do raciocínio lógico do melhor detective do mundo, num estética sumptuosa e elegante e enquadramentos desafiantes, foi puro deleite. 

A holandesa Aimeé de Jongh chegou-nos em dose dupla. É uma belíssima autora, e foi o seu trabalho original em DIAS DE AREIA, edição da Asa, que me cativou. Uma históira de resiliência humana num contexto histórico marcado pela dureza da paisagem e pelo desespero da sobrevivência, que nos transporta para o Dust Bowl, um desastre ambiental e social na década de 1930, e um dos períodos mais difíceis da história americana.

Fecho com manga. Jiro Taniguchi é dos melhores contadores de histórias em banda desenhada. Um autor com uma sensibilidade artística maravilhosa. E tem em BAIRRO DISTANTE, edição da Devir, uma bela história sobre a vida, que nos faz reflectir sobre o passado, o peso das escolhas feitas e os laços que definem a nossa existência. Mais uma narrativa profundamente humana, desenhada pelo seu traço detalhado e delicado, e uma das melhores obras que li deste autor.

 

Ficam fechadas as minhas escolhas. Amanhã encerro este Balanço de 2024, com a publicação do Estado da Arte, a análise do mercado editorial nacional de BD do último ano, com a listagem de todos os lançamentos contabilizados.

 

04 janeiro, 2025

A capa de Os Filhos de Baba Yaga!

Revela-se aqui a belíssima capa do novo álbum de Luís Louro. No ano em celebra 40 anos de carreira na banda desenhada, e que promete várias surpresas, o autor apresenta Os Filhos de Baba Yaga, uma história que nos transporta para território soviético, durante o conflito da Segunda Grande Guerra. Louro acaba de mudar de editora, e a responsabilidade da edição é agora de A Seita, com lançamento está previsto para o Coimbra BD em Abril. E a avaliar por este magnifico embrulho, só podemos esperar que o conteúdo seja mais um excelente trabalho. Está criada uma enorme expectativa para ler isto!


 

30 dezembro, 2024

As Melhores Leituras de 2024 - Autores portugueses

Os dias, por aqui, tem sido aproveitados para muitas leituras, até porque o ano fica marcado, entre outras, por um número recorde de lançamentos, incluindo de autores nacionais. A produção nacional de banda desenhada foi verdadeiramente incomum, face aos últimos anos, e correspondeu, em 2024, a cerca de 16% da oferta total (os números finais ficam para o habitual Estado da Arte, o balanço que irei aqui publicar nos próximos dias).

E perante tão farta colheita, achei que este ano se justificava a elaboração de duas listas de melhores leituras de 2024: uma referente a autores nacionais e outra de autores estrangeiros. A ideia, como sempre, não é de eleger tudo e todos, mas apenas aquelas que se destacaram pela sua qualidade narrativa e gráfica.

Assim, começo pelos nacionais, e aqui fica o meu top 5 de BD portuguesa de 2024: 

  1. Corvo VII – O Despertar dos Esquecidos (ed. Ala dos Livros)
  2. Fojo (ed. Kingpin Books / A Seita) 
  3. Lusíadas – Parte I (ed. Levoir)
  4. Sol (ed. A Seita)
  5. Atendimento Geral (ed. Escorpião Azul)
 
1. Começo pelo sétimo do Corvo. Um dos grandes injustiçados nos prémios do último Amadora BD, volta aqui a atingir o nível da excelência. Se sobre o desenho já sabemos que é absurdamente bom, ao nível do argumento a coisa atinge o pináculo da criação. Quando poderíamos pensar que após 30 anos de histórias de bairro do Corvo já não haveria muito mais para contar, Luís Louro consegue descobrir num idoso perdido o mote para a maior e a mais humana de todas as aventuras. A realidade da terceira idade, de idosos abandonados em lares é aqui aproveitada pelo nosso herói para, entre quatro paredes,  riscar a palavra triste e troca-la por uma bem disposta aventura, carregada de humor refinado (atente-se aos os deliciosos diálogos em bom português com os “esquecidos” do R.I.P.) que fica como uma das suas mais tocantes missões, naquela onde se irá revelar realmente super. E ver uma temática social que é tão cara a todos nós ser aqui abordada com sensibilidade, a que se junta uma cereja no topo do bolo que é aquele final de história, atira este DESPERTAR directamente para o topo dos melhores álbuns do Corvo. 

Avaliação: 



2. Em FOJO, Osvaldo Medina regressa ao papel de autor completo que tão bem vestiu no seu universo Kong. Assume agora a responsabilidade por uma história de tragédia. No cenário de uma aldeia esquecida nos confins da montanha, marcada pelo isolamento, que entra em sobressalto à medida que se descobre que a morte, na figura de um assassino, anda à solta. O autor recria com mestria um ambiente rural português, triste e sombrio, com as suas crenças e segredos. As personagens de Fojo que dão força à narrativa, são figuras humanas marcadas por traumas e escolhas difíceis. Visualmente, Medina entrega mais um excelente trabalho com um traço detalhado e expressivo. Os seus enquadramentos transmitem tensão psicológica, e são complementados por uma paleta de cores minimalista que reforça a atmosfera densa de uma história envolvente, bem conseguida, que nos conduz a uma leitura ávida, página após página. E depois da leitura da última página ficamos com a certeza de que Fojo é, sem dúvida, um dos melhores exemplos do potencial narrativo e artístico do Osvaldo Medina.

Avaliação:


 

3. Se a obra maior de Luiz Vaz de Camões não é de leitura fácil, não podemos esperar que que a sua literal adaptação para banda desenhada o seja. Vamos ser sinceros, não é. Mas desfrutar de OS LUSÍADAS nesta experiência visual a três mãos é absolutamente fantástico. A obra que nos chegou este ano, incluída na colecção de Clássicos Portugueses da Levoir, é um projeto tripartido entre os artistas Daniel Silvestre, Miguel Rocha e João Lemos com a coordenação de Pedro Vieira de Moura, e ainda que correndo o risco de avaliar um todo pela parte, posso dizer que ficou muito bem entregue. De início Camões, o narrador onisciente, que nos dá a visão divina e humana dos eventos, surge-nos pelo traço e cores suaves de Daniel Silvestre, uma das boas revelações do ano. Ilustrar toda a atribulada viagem de Vasco da Gama pela costa oriental da África, desde do episódio do velho do Restelo até ao encontro com o Adamastor, entremeada pelo concílio dos deuses, ousou Miguel Rocha. E aqui o desenho explode em belas composições e cores. Enche as páginas com um estilo visualmente delirante que combina com uma paleta cromática arrojada. De uma absoluta beleza. Entre Cantos ficam os feitos dos reis portugueses narrados em episódios da História de Portugal, por conta do traço elegante e fluído de João Lemos, que em boa hora regressou à bd portuguesa. Esta primeira parte reúne os Cantos I a V da epopeia camoniana, e é, sem dúvida, umas das melhores narrativas gráficas do ano, que merecia uma melhor uma edição, no mínimo em generosas medidas 235x320 franco-belga. A segunda parte da viagem está marcada para 2025. 

Avaliação:


 

4. Com SOL, o Diogo Carvalho apresenta-nos o seu trabalho de maior fôlego. Arrisca numa obra de ficção-científica, um género cada vez mais pouco frequente na banda desenhada portuguesa. Serve-se habilmente de múltiplas referências cinematográficas, e usa os códigos do Oeste Selvagem para construir aqui um western futurista, numa realidade longínqua onde cada planeta vale em função dos seus recursos naturais. A história segue Sol, uma força solitária da natureza de resiliência e determinação, que atravessa um planeta mineiro desolado e esquecido, numa jornada pela sobrevivência em busca de uma planta com propriedades medicinais únicas. A chegada de um estranho à cidade que é sempre olhado com uma ameaça à ordem instalada poderá parecer um cliché, mas é o gatilho para uma aventura recheada de acção, até porque o autor não poupa a sua personagem principal a inúmeras situações de perseguições e explosões. Uma história com várias leituras, onde o Diogo não deixa de reflectir as suas preocupações numa espécie de antevisão, como o presente, com a degradação ambiental, com a exploração intensiva de recursos naturais e a subjugação de populações a interesses superiores poderá bem vir ser um futuro. SOL é uma bela surpresa.

Avaliação:


 

5. Pelas suas anteriores obras, já poderíamos dizer Paulo J. Mendes é o digno sucessor do humor nonsense que encontrávamos nos trabalhos de José Carlos Fernandes. E neste seu novo livro, ATENDIMENTO GERAL, confirma. Mostra-nos essa continuidade com mais um dos seus retratos, onde entrelaça o nosso quotidiano com um humor satírico e um toque de critica social. Sob o pretexto da abertura de uma sucursal de um balcão de serviços de “percentuais e coeficientes” numa tradicional vila do interior rendida ao “cuntemporâneo” onde amores e desamores perdidos voltam à tona, o Sr. Lombinhos é a figura principal de rol de novos personagens, numa narrativa que segue com o autor a jogar entre o surreal e o absurdo, levando situações do dia a dia a extremos desconcertantes. Abusando dos jogos de palavras e diálogos improváveis, o autor consegue equilibrar o exagero humorístico com um olhar atento aos comportamentos sociais, resultando numa comédia que diria ser ao mesmo tempo despretensiosa e reflexiva. E apesar da história pecar um final algo excessivo, nesta obra, Paulo J. Mendes confirma o seu talento para transformar o banal em hilariante e o previsível em surpreendente, criando um universo onde o humor caustico é uma poderosa ferramenta de crítica e entretenimento. 

Avaliação:


 

 

13 dezembro, 2024

Lançamento A SEITA / KINGPIN BOOKS: Fojo

Teve o seu lançamento durante o evento Marvila Comics e já se encontra disponível nas livrarias, FOJO o mais recente trabalho de Osvaldo Medina, numa co-edição entre as editora A SEITA e a KINGPIN BOOKS. O título foi busca-lo ao nome de uma antiga armadilha de caça para animais de grande porte. Trata-se de uma obra, onde o autor, à semelhança do que já tinha acontecido nos seus dois livros do universo Kong, assume a responsabilidade pelo argumento e desenho. 

Osvaldo com o seu traço dinâmico, dá aqui vida, num registo bem conseguido, ao sobressalto e inquietude que abala o quotidiano dos habitantes de uma pequena aldeia presa nas montanhas, quando descobrem que há um assassino entre eles. 

FOJO
Um frio cortante, impiedoso. A neve abate-se, incessante, sobre uma aldeia quase isolada na montanha. Irrequietos, os lobos uivam sem descanso, adivinhando um passado sombrio que regressa para tormento dos locais, mergulhados em crendices obscuras da época, algures entre as duas Grandes Guerras. A morte anda à solta, revolve segredos e atrai todos para o fojo: os lobos, o misterioso assassino e os próprios aldeões. Quem sobreviverá no fim à ancestral armadilha? 
 
Ficha técnica:
Fojo
De Osvaldo Medina
Capa dura, 200x275, cores, 144 páginas.
ISBN: 978-989-8673-57-2
PVP: € 23,99
Co-edição A SEITA / KINGPIN BOOKS