Confesso que ainda não dei a devida atenção, e que muito provavelmente a colecção AS 5 TERRAS merece, atendendo ao positivo feedbcak que tenho visto de quem já leu os primeiros álbuns desta saga animal. A trama roda numa luta de poder entre diferentes espécies, e que é frequentemente descrita como uma espécie de "Guerra dos Tronos" em versão antropomórfica. O traço expressivo de Lereculey também ajuda. O ritmo consistente dos lançamentos, frequentemente em edições duplas, tem demonstrado o empenho da editora ASA em manter viva a chama de leitura desta aventura, e depois da edição dos volumes 3 e 4 no início deste ano, seguem-se agora os volumes 5 (capa da esquerda) e 6 (capa da direita).
15/07/2025
Mais 5 Terras nas livrarias!
10/07/2025
Lançamento A SEITA / ARTE DE AUTOR: Dom Quixote de la Mancha
08/07/2025
Lançamento DISTRITO MANGA: Sinais de Afeto – volume 3
A DISTRITO MANGA acaba de divulgar o seu calendário editorial para o segundo semestre do ano, onde anuncia, finalmente, o lançamento do primeiro volume de Ghost in Shell para Setembro e o segundo volume logo em Novembro. Pelo meio, em Outubro, está o interessante Um Homem em Declínio, a adaptação da obra de Osamu Dazai. Para já e este mês, temos o terceiro volume de SINAIS DE AFETO, uma história de um amor feito de gestos, detalhes da vida real de uma estudante universitária surda que se apaixona por um rapaz que adora viajar pelo mundo.
Leitura de Verão para adolescentes.
07/07/2025
A ASA aposta no webtoon!
04/07/2025
1º Semestre de 2025: o que dizem os números?
Em 2025 estamos acima das nuvens. A edição de banda desenhada em Portugal continua a crescer, com números que poderíamos eventualmente pensar não ser possíveis. Mas a verdade é que são, e o primeiro semestre do ano continua a confirmar o bom momento do nosso mercado editorial. Estamos no terceiro ano de crescimento consecutivo. Foram contabilizados um total de 189 lançamentos, um aumento de 8% relativamente a igual período do ano passado. A média mensal de lançamentos foi de 31,6 o que equivale dizer que por cada um dos dias do semestre foi editado um livro para o mercado. Mesmo considerando que algumas das habituais editoras estejam abaixo do seu ritmo de edição, e é verdade que existem algumas, o espaço desta nas livrarias tende logo a ser ocupado por outras. Mas vamos aos números:
- TOTAL de lançamentos no 1º semestre de 2025: 189 (incluindo variantes e reedições com novo ISBN)
- TOTAL de editoras activas durante o 1º semestre de 2005: 31 (com pelo menos um livro de BD editado)
- TOP 3 das editoras mais activas temos a DEVIR (49 lançamentos), a ASA (26 lançamentos) e a LEVOIR (13 lançamentos). A oferta conjunta destas três editoras totaliza 46% da oferta total. Uma ressalva aqui para o grupo editorial Penguin que, considerando o conjunto das chancelas, tem um total de 22 lançamentos de banda desenhada.
- Por origem, temos a BD europeia (excluindo Portugal) a ser responsável por 40% da oferta, seguida pelo o manga que assegura um total de 37%. A BD portuguesa soma 11%.
- A BD infanto-juvenil continua com uma forte oferta (17% do total) nos escaparates das livrarias nacionais, a confirmar uma tendência que já se observava no ano passado.
- O preço médio de um livro de BD situou-se nos € 17,81.
03/07/2025
A história de um dos periodos mais turbulentos do Japão!
Este é o mais recente lançamento da DEVIR. Trata-se do primeiro volume de uma tetralogia monumental que revisita os principais momentos da era SHOWA, um dos períodos mais turbulentos e transformadores do Japão moderno, com a assinatura do mestre Mizuki (1922-2015), um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, cuja obra versa sobretudo sobre as suas memórias de guerra, lenda do folclore japonês e grandes temas da história do Japão.
O autor alia aqui o rigor histórico à crónica pessoal, narrando de forma acessível e visualmente envolvente o caminho que levou o seu país ao militarismo, ao conflito com a China e à Segunda Guerra Mundial. A sua arte mistura o traço caricatural das figuras com cenários meticulosamente detalhados, quase fotográficos, e o resultado final traduz-se numa reflexão profunda sobre o Japão, contada de uma forma visualmente impactante e emocionalmente rica, por um dos mais respeitados autores de manga.
A Era Showa, que foi dos mais turbulentos e transformadores períodos da história do Japão, teve início em 1926 e durou até ao final do séc. XX. Nesta obra, Shigeru Mizuki usa a sua própria vida como pano de fundo para relatar os acontecimentos políticos e sociais da época. Através de uma perspectiva intimista e original, o autor explora como os eventos históricos afetaram a população japonesa, os efeitos devastadores da II Grande Guerra, a ocupação americana e a transformação económica e social que moldaram o Japão moderno.
Este primeiro volume abrange o periodo entre 1926 e 1939.
02/07/2025
Mais contos de Junji Ito!
01/07/2025
Os 18 anos da menina que sorria a dormir!
Para assinalar os 18 anos do conto clássico da literatura infanto-juvenil A Menina Que Sorria a Dormir, a Oficina do Livro acaba de editar a adaptação para novela gráfica desta obra com o título GLÓRIA, A MENINA QUE SORRIA A DORMIR, assinado por Isabel Zambujal e com ilustrações de João Espírito Santo.
Já disponível nas livrarias.
A MENINA QUE SORRIA A DORMIR
30/06/2025
A Arte Sublime
Tomahawk
Para muitos, pensar na história mais antiga dos Estados Unidos é pensar em “índios e cowboys” e no século XIX americano. Para outros, é recuar ao século anterior e a 4 de julho de 1776, o Dia da Independência. Mas, na verdade, a história ocidental daquela parte do mundo começa com a chegada do navio Mayflower e dos seus 102 “peregrinos” e 30 tripulantes a Cap Cod, Massachusetts, em Novembro de 1620.
É verdade que os EUA têm pouco mais de 250 anos de existência. Mas a história da região com influência europeia remonta a mais de 400 anos atrás, ao momento em que a Virginia Company de James I foi encarregada de colonizar a costa leste da América, baptizada de Virgínia. É precisamente nesta altura que se dá o famoso e muito deturpado episódio de Pocahontas.
Ligeiramente contextualizados, entremos agora no período que nos interessa, o da Guerra dos Sete Anos (1756 a 1763) no seu ano de 1758. Esta é uma guerra que se pode chamar de global pois opõe a Prússia e a Áustria no espaço germânico e a Grã-Bretaha e a França por terras da América do Norte e da Ásia, sendo Portugal aliado dos ingleses e Espanha dos franceses. No entanto, é chamada de Guerra Franco-Indígena pelos americanos e Guerra da Conquista pelos franco-canadenses.
Os britânicos valiam-se a si próprios e tinham dois milhões de pessoas no seu território. Já os franceses, não passavam de 60 000 e dependiam da ajuda dos indígenas.
É neste ambiente bélico que vamos ver desenrolar-se a história de Tomahawk, o novo livro de Patrick Prugne que a Ala dos Livros acaba de publicar numa edição muito cuidada que inclui um generoso caderno de extras contendo 22 páginas de esboços e belas aguarelas.
Vamos à história!
Junho de 1758. Vale do rio Ohio. Um enorme urso-pardo caça um salmão. Squando, membro da tribo Abenaki (grupo Algonquino) observa-o a uma distância prudente, protegido pela floresta virgem. Assim que se sente seguro, apressa-se a ir para a sua canoa e a remar para longe.
Uma nova fornada de soldados acaba de chegar ao Forte Carillon. O sargento que os recebe promete-lhes mosquitos e miséria. Entretanto, o padre Montreuil encontra Jean Malavoy a curar uma bebedeira mesmo ao lado da pocilga. Acorda-o com um balde de água e lembra-lhe que ele agora é um miliciano ao serviço do rei de França. Mas Jean diz-lhe que a sua guerra é outra e envolve um urso-pardo de tamanho fora do vulgar e ao qual falta uma garra.
Abequa fica surpresa por ver Jean. Afinal, o seu homem tinha desaparecido há três dias. Ela leva-o de imediato para o seu tepee e promete-lhe uma noite inteira de amor.
Na manhã seguinte, Squando chega ao Forte Carillon e corre para a tenda da irmã, onde prevê encontrar Jean. Diz-lhe que avistou o Urso na cascata das Três Forquilhas. Sem hesitar, o homem pega nas suas armas e salta para uma canoa. A partir daquele momento será considerado um desertor.
Mais tarde, uma patrulha do Forte Carillon calcorreia a floresta em busca de ingleses. Por breves momentos, param para descansar e regressar depois ao forte. Mas os momentos são ainda mais breves do que esperavam, pois são atacados selvaticamente, por todos os lados, por um grupo de Mohawks liderado por um major highlander e seus soldados. Dos franceses, apenas escapa um jovem soldado.
Perseguido pelos Mohawks e com um terrível destino traçado, o jovem é salvo por Jean Malavoy. Desse momento em diante, os dois vão no encalço do grande urso. Jean só pensa em vingar-se da besta que lhe matou a mãe… mas os Mohawks seguem no seu encalço.
Antes de mais, há que dizer que não é estranho a Patrick Prugne este ambiente de pré-revolução americana bem como o de pós-revolução. Com o argumentista Tiburce Oger já tinha publicado Canoë Bay e depois, a solo, dá continuidade às suas “sagas índias" com Frenchman, Pawnee e Iroquois. É antes de Pocahontas (editado em Portugal também pela Ala dos Livros) que realiza este Tomahawk, e regressa ao Novo Mundo.
A narrativa faz-nos mergulhar em duas tramas distintas. A primeira, num momento muito específico da história da América do Norte. A outra, na história de vingança de Jean Malavoy contra um urso grizzly. Mas o entrecruzamento das tramas é inevitável.
Como já foi dito acima, estamos no período da Guerra Franco-Indígena ou Iroquesa (1754-1763). Guerra esta que opõe as colónias francesas e as britânicas da América do Norte, sendo que cada lado é apoiado por distintas tribos nativas. Em Tomahawk, a tribo dos Abenaki apoia os franceses e a tribo iroquesa dos Mohawk está ao lado dos britânicos.
Os combates sangrentos desenrolam-se sobretudo ao longo das fronteiras da Nova França (actual Canadá) com as colónias da Virgínia até à Terra Nova, mas concentram-se aqui nas imediações do Forte Carillon no ano de 1758.
Em paralelo, corre a história de Jean Malavoy, miliciano francês que deserta do forte para tentar saciar a sua sede de vingança sobre um enorme urso que lhe matou a mãe muitos anos antes. É esta “pequena” história de vingança que vai fazendo avançar a narrativa para os dois desfechos finais – o resultado da luta entre homem e besta (seja ela qual for) e a convergência da trama para a batalha do Forte Carillon em 8 de Julho de 1758, a mais sangrenta da Guerra Franco-Indígena.
Contudo, o mais interessante é que da batalha em si, o leitor tem uma única imagem, de página dupla, mesmo no fim da obra.
O que interessa a Patrick Prugne é o ambiente que circunda o forte durante os dias que antecedem a batalha. As patrulhas que ambos os lados fazem naqueles territórios selvagens do Novo Mundo; as condições difíceis da vida militar; a rivalidade entre Abenakis e Mohawks; a crueldade da patrulha de escoceses das Terra Altas; a vida comum entre franceses e abenakis; a religião e até a miscigenação.
E o leitor ainda consegue aperceber-se que enquanto os franceses tentam integrar-se respeitando os nativos, os ingleses praticam mais frequentemente “a lei da bala”.
Tudo isto é tratado sem qualquer prédica e surge naturalmente por entre as aguarelas sumptuosas de Prugne.
Tal como é importante o ambiente vivido nestas terras selvagens do Novo Mundo, é igualmente importante o rancor visceral que Jean tem pelo urso e que o leva a seguir-lhe a pista e a, eventualmente, matá-lo. As motivações que movem o protagonista através da sua demanda pessoal, assim como a relação entre homem e animal, são dissecadas de igual maneira através do colonizador e da sua confrontação com os ameríndios. No fundo, é o ódio, o rancor e a ambição desmedida que marcam a génese da colonização do Novo Mundo, ainda bem longe da conquista do Oeste Selvagem por ondas sucessivas de emigrantes das mais diversas nacionalidades.
Quanto à arte, não há melhor palavra para a descrever que “sublime”.
O traço do carvão de Patrick Prugne é diluído na beleza das suas aguarelas que aplica directamente em cada página. O verde, o azul e as suas variantes dominam a paleta e transportam o leitor para os territórios selvagens e verdejantes de então. As florestas acidentadas e rochosas, os rios que correm limpos e livres, as árvores que descansam nos locais onde caiem, os cervos que pastam despreocupados e o urso, o grande grizzly solitário que domina majestático toda a paisagem que a vista alcança, estes são os verdadeiros personagens de Tomahawk.
Poderia pensar-se que Prugne, com arte tão delicada, não conseguiria ter a mesma mão nas cenas de acção ou de crueldade. Mas ele consegue magnificar de igual modo momentos doces e momentos violentos. De qualquer modo, a experiência é de tal forma imersiva que quando o sangue é derramado com violência, acaba por ser absorvido pela beleza extrema da paisagem.
A batalha do Forte Carillon não só foi a mais sangrenta das travadas na Guerra Franco-Indígena, como foi também aquela que poderá ter pronunciado a derrota inglesa pelos americanos em 1776. Entre soldados, milicianos e ameríndios, 3600 do lado francês derrotaram 15000 do lado britânico.
A narração de Patrick Prugne é, de maneira quase invisível, instrutiva e pedagógica, não deixando por isso de cativar o leitor com a história de vingança de Jean Malavoy sobre o urso assassino.
A beleza das suas aguarelas é incontestável e consegue transportar-nos com grande realismo para os territórios selvagens da Nova França de meados do século XVIII.
E quando, meu caro leitor, achamos que a história chegou ao fim, eis que surge um caderno de extras de 22 páginas que, em parte dá continuidade à história. Pois é nele que ficamos a saber do destino final de Jean Malavoy, de Abequa, de Squando e até do jovem soldado salvo por Jean. E ficamos também a saber o resultado da batalha de Forte Carillon e do que lhe aconteceu um ano depois. E, para lá da história, temos estudos de personagens e de animais, esboços de pranchas, uma boa diversidade de aguarelas e muito mais.
Tomahawk está à altura das expectativas criadas pelo autor através das suas obras anteriores. O prazer e a emoção são absolutamente alcançados pela leitura desta obra que tanto nos enche a vista como o cérebro.
É a arte sublime ao serviço dos Territórios Selvagens…
Por Francisco Lyon de Castro
28/06/2025
Lançamento DISTRITO MANGA: Ataque dos Titãs – Livro 7
Continua a luta pela sobrevivência da humanidade, que vive fechada dentro de cidades cercadas por enormes muralhas. O perigo lá fora dá pelo nome de titãs. Nas livrarias temos já o sétimo volume da saga ATAQUE DE TITÃS com a chancela da DISTRITO MANGA. No desenvolvimento da história, a missão fora das muralhas torna-se mortal quando o Corpo de Exploração encontra a poderosa e inteligente Titã Feminina…
27/06/2025
Lançamento ASA: Os Filhos do Império - volume 1
A mais recente proposta de leitura da editora ASA remete-nos para Oriente. OS FILHOS DO IMPÉRIO (no original francês, Les Enfants de l’Empire), de Yudori, é uma obra que se destaca pelo retrato histórico das tensões culturais e sociais de uma Coreia sob ocupação japonesa, nos anos 30 do século passado.
Neste primeiro volume, a autora conduz-nos por uma narrativa que mistura romance, drama e crítica social, centrada em dois jovens, Arisa Jo e Jun Seomoon, cujos destinos se cruzam num contexto de mudança e conflito, e iniciam uma relação complexa marcada pelo fascínio e o atrito.
A autora sul-coreana, Yudori, traz-nos um traço elegante, e um ritmo narrativo que lembra o melhor do universo manga. Surpreendentemente a edição apresenta-se num formato de capa dura, algo pouco comum para obras deste género no mercado nacional.
26/06/2025
Para quê o Dr. Google?
Aii! A dor também se trata com humor
Nestes tempos em que o défice de atenção parece ter invadido irremediavelmente o cérebro da maior parte da população mundial que fica com dores de cabeça se o último vídeo viral do tiktok tem mais de 30 segundos, nada melhor do que fazer uma análise relâmpago de um livro (coisa que nunca fiz). Mesmo assim, para os mais empedernidos fãs daquela rede (?) social (?) em forma de app, devo advertir que terão de multiplicar 30 segundos por si próprio várias vezes de modo a chegarem ao derradeiro ponto final.
Contrariamente ao que foi dito, há algo na internet que consegue captar a atenção até do maior deficitário dela. É o Dr. Google. “As pestanas não me param de tremer. Será que sofro de obstipação?”, pergunta a vizinha do 3.º esquerdo ao famoso Dr. virtual. Ou, a mais comum “Não consigo evacuar. Será que vou ficar cego?”
O certo é que o Dr. Google trouxe confiança à população mundial, que se acha agora à altura, e mesmo acima, da classe médica. Eu próprio, com a ajuda do meu amigo Dr. Google, já diagnostiquei vários cancros a amigos.
Ora, entre tiktoks e Dr. Google, por vezes é publicado algo fora da caixa que tendo como premissa o assunto sério da saúde, a leva ao leitor de forma humorística, mas séria. Bem sei que parece um contrassenso. Ou se é sério ou se faz humor. Não nos podemos esquecer, no entanto que o humor é uma coisa séria.
Se dúvidas houver, é lerem Aii! – A dor também se trata com humor, da autoria do Dr. Patrick Sichère e de Achdé, o vosso conhecido desenhador de Lucky Luke, que acaba de ser publicado em Portugal pela Ala dos Livros.
Vamos à história!
Pois… não há história! Há sim dois fios condutores. Um é a persistência permanente do Dr. Marcelo Hipócrates que nos leva por uma viagem ao mundo da dor. O outro é isso mesmo, a dor! Mas com humor.
Ou seja, uma espécie de fantasma daquele que é, talvez, o mais famoso médico do mundo, o grego Hipócrates, também considerado o “pai da medicina”, vai falar-nos acerca dos diversos tipos de dor: a dor de cabeça, as dores combatidas com analgésicos, a dor de dentes, a dor dos membros fantasmas, a fibromialgia, a dor de costas, a dor no ânus e a dor nos pés. E vai fazê-lo com porções iguais de seriedade e de humor.
O humor vai para além dos gags, narrando-se episódios reais que hoje ganham características anedóticas. Tal é o caso, por exemplo, de Luís XIII que, num só ano, levou 215 clisteres. Ou de Lewis Carroll, o criador de Alice no País das Maravilhas, que sofria de fortes enxaquecas com aura – aquelas que criam alucinações. Talvez por isso tenha alucinado na sua obra, criando uma lagarta falante, baralhos de cartas humanoides, uma Alice que vai dos 2 centímetros aos 12 metros de altura, e as famosas festas de não-aniversário, presididas pelo Chapeleiro Louco.
O certo é que estas viagens pela dor são nos apresentadas pelo Dr. P. Sichère e por Achdé. E se este último contribui para a seriedade do desenho (e dos gags), o Dr. Sichère é o garante da credibilidade da informação. Ou não fosse ele professor e consultor no Centro da Dor do Hospital Lariboisière em Paris e membro da IASP (International Association for the Study of Pain), entre outras.
Participando no argumento é, no entanto, o traço característico de Achdé e a sua criação de movimentos fluídos que conferem à obra um dinamismo que permite assimilar mais facilmente toda a informação científica.
A aposta dos autores é inteligente. A dor acompanha o homem desde os alvores da humanidade. E não há ninguém no mundo que não a tenha sentido uma ou outra vez (com excepção daqueles que têm insensibilidade congénita à dor). Nada melhor, para os curiosos, sofredores e apreciadores de humor, do que uma obra que tem a dor como tema.
Para tornar Aii! ainda mais interessante, os autores colocam páginas a dividirem cada capítulo nas quais são apresentadas ferramentas e técnicas antigas que pretendiam apaziguar ou mesmo eliminar a dor, como as tão desejadas trepanações.
Achdé, longe do “seu” Lucky Luke, brinda-nos aqui com uma série de cameos nos quais, para além do seu cowboy de eleição, podemos também encontrar a Harley Quinn, um legionário de Astérix, o Drácula e o Corcunda de Notre-Dame. Acrescente-se uma infindável galeria de figuras históricas ou da actualidade, como Amy Winehouse ou Jimi Hendrix.
Aii! é uma obra de vulgarização médica e histórica, na medida que coloca ao alcance de todos informação que o Dr. Google só terá dispersa. Para além disso, fá-lo num tom divertido e acessível.
Fico com a sensação que este poderá ser o primeiro de vários volumes sobre o assunto.
Por Francisco Lyon de Castro