Começo por concluir que não foi um ano particularmente rico em termos de edição bedéfila, mas que trouxe álbuns de muita qualidade. Ainda que persista a política de reedições, que em meu entender e com algumas excepções, pouco valor trazem, a mais-valia foi que se inverteu uma tendência do que se verificou em 2008. Tivemos mais novidades e menos reedições. E a cereja no topo do bolo foi que se fecharam algumas colecções. Sem querer ser exaustivo, passo então revista ao ano que findou!
É sabido que em Portugal, é a ASA, por força do seu catálogo, que marca o ritmo. Bem, se o marcou foi um ritmo lento. Em doze meses do ano, tivemos, feitas as contas… uma mão-cheia de novos álbuns estrangeiros. Não é mau mas é pouco.
Por razões diferentes destaco aqui alguns. O excelente “A Teoria do Grão de Areia – Tomo 1” que marca o regresso da dupla Schuiten e Peeters ao universo arquitectónico das “Cidades Obscuras”, série que figura no panteão do melhor que a BD franco-belga tem produzido. É indiscutivelmente uma das edições do ano e inclusive, foi a vencedora do prémio na categoria do “Melhor Álbum Estrangeiro" no 20º Amadora BD. A segunda e conclusiva parte da história é aguardada para o corrente ano. O “Quatro” de Enki Bilal, que, finalmente, encerrou a Tetralogia do Monstro (nota: 1ª série fechada)
E uma palavra também para o sofrível álbum comemorativo do 50º aniversário de Asterix. Não pela falta de história só confirmou que Uderzo à muito que já chegou ao fim da linha (em tempos de renovação, aguarda-se agora por melhores álbuns desta personagem), mas porque o intitulado “Livro de Ouro” foi um campeão de vendas em Portugal em 2009. Depois da primeira edição (anunciada) de 60.000 exemplares, já vi à venda uma 2ª edição. Para o álbum que é só me oferece dizer que estes lusitanos devem estar doidos!!!
A parceria ASA/Público continuou e produziu a oportuna colecção “Passageiros do Vento” de Bourgeon que trouxe dois álbuns inéditos, sendo que o 2º é lançado amanha e fecha a colecção (nota: 2ª série fechada).
Quanto à colecção “Clássicos do Tintin”, considero-a perfeitamente dispensável, porquanto a edição de histórias soltas “canta mas não encanta”.
A edição de autores nacionais continua tímida. A aposta da ASA, foi para “BRK”, que marcou a estreia de uma nova dupla, Filipe Pina (argumento) e Filipe Andrade (desenho) e “Asteroid Fighters – O inicio” de Rui Lacas. Enquanto que no primeiro caso, estamos perante uma história com uma linha narrativa oca, onde nada evolui mas que é compensado com uma boa parte gráfica; no segundo álbum verifica-se precisamente o contrário, um argumento interessante, de rápido desenvolvimento, mas com pranchas onde o desenho por vezes raia o sofrível. Lacas já nos habitou a bem melhor. Teria assim de juntar o melhor dos dois para se obter um bom álbum de BD nacional. Como em ambos os casos, a conclusão das histórias deixa em aberto uma possível continuação, devo dizer que a fasquia da qualidade terá ser elevada para que se justifique os segundos volumes.
Pela mão da KingpinBooks, fica o lançamento de “Mucha” de David Soares, Osvaldo Medina e Mário Freitas, um curto registo de terror, numa interessante história de repulsa, bem suportada no desenho de Osvaldo, que merecia um melhor desenvolvimento com um outro final, mais, talvez, arrepiante.
Verificou-se também uma tendência para o aumento da publicação de bd’s de temáticas com o patrocínio de Câmaras Municipais, com o objectivo declarado de dar a conhecer figuras, lendas e histórias que fazem parte do nosso património cultural. Moura, Arronches, Amarante ou Tomar são alguns dos felizes exemplos.
Bastante discretas mas activas estiveram as editoras BDMania/VitaminaBD. A primeira que continua a explorar o universo Marvel, lançou, entre outros, uma luxuosa edição de “Marvels” de Kurt Busiek e Alex Ross, a origem do universo Marvel (re)vista pelo olhar do cidadão comum. De leitura obrigatória; a segunda, continua muito bem a dispor do seu catalogo franco-belga. Primeiro, com “Matteo” de Gibrat, continuou com a conclusão da série “O Diabo dos Sete Mares” de Hermann (nota: 3ª série fechada) e terminou o ano em beleza com o regresso do universo Incal, com os álbuns “As Armão do Metabarão” e o primeiro volume de “Final Incal”.
Uma palavra também para o incansável Manuel Caldas, e o seu incondicional amor pelos clássicos da BD, que nos deu a ler “Tarzan dos Macacos” a primeira aventura desenhada desta personagem; o segundo álbum de “Lance” que prima pelo magnifico trabalho de restauração de cores; e “Krazy Kat” ou como repetindo exaustivamente a mesma situação se cria uma das mais invulgares strip comics alguma vez desenhadas.
Em resumo, um ano pautado mais pela qualidade do que pela quantidade e que haja mais assim!
E o que esperar para 2010?
A avaliar pelas intenções já manifestadas, as perspectivas são de + boa leitura. Da parte da ASA, começa já amanha, conforme referido, com a publicação de "A Menina de Bois-Caïman - livro 2", o sétimo e último álbum da colecção “Passageiros do Vento”. Depois segue-se "Borgia 2" cuja edição já constava no plano editorial da editora para 2009. É também é quase certa a edição da “Teoria do Grão de Areia – Tomo 2” até porque os autores serão convidados do 21º Amadora BD. Teremos ainda uma nova colecção (reedição, pois claro) pela parceria ASA/Público.
Para a VitaminaBD esperam-se as conclusões de “Universal War” e de “Incal Final”.
A KingpinBooks já anunciou o lançamento da conclusão de “A Fórmula da Felicidade”.
E depois em ano de comemoração do Centenário da Republica, é certo que não faltarão edições associadas ao tema. Portanto renovam-se os motivos de interesse.
Para finalizar, deixo então registadas a minha escolha dos Melhores Álbuns editados em Portugal ao longo de 2009:
- A Teoria do Grão de Areia – Tomo 1, de Schuiten e Peeters, ASA
- Matteo, de Gibrat, VitaminaBD
- Marvels, Kurt Busiek e Alex Ross, BDMania
- Colecção “Passageiros do Vento”, de François Bourgeon, Publico/ASA
- Krazy+Ignatz+Pupp: Uma Kolecção de Pranchas a Kores, de George Herriman, Libri Impressi
Boas Leituras!
5 comentários:
Fizeste um bom balanço. Partilho, como bem sabes, da tua opinião. Abraço.
Se eu ainda compra-se muita bd nacional ficava preocupado,como não compro.Não ligo por ai alem.
Ainda bem que este ano vou completar o Ultimate Iron Man Graças a Marvel.
Esse Matteo é 1 de quantos???
Amigo Refém, cá continuamos nesta luta inglória! lol
Caro Manuel, o Matteo é o primeiro álbum previsto de uma série de 4. A ideia do autor é desenvolver uma história que atravesse os principais conflitos do Séc. XX: Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial.
Tou com o Refem, concordo com quase tudo, e o "quase" não é de grande importância!
Abraço
Enviar um comentário