Findo o primeiro fim de semana da AMADORA BD e já dá para fazer uma pequena crónica do que por lá aconteceu. O sábado começou com a loucura instalada para as sessões de autógrafos. Trinta e três anos depois e a (de)organização resolve instituir o sistema de fila única!!! Percebia-se logo o absurdo da medida, e o único resultado previsível foi um pleno entre leitores, autores nacionais e editores… tudo insatisfeito! Os primeiros porque guardaram durante horas a sua posição na fila para os autores estrangeiros, os segundos porque estavam sem livros para autografar e os terceiros porque ficaram sem clientes nos stands comerciais. Foram feitos diversos alertas, e a coisa podia ter ficado logo ali resolvida em dez minutos, mas a coragem da decisão não se mostrou e o “não podemos” e o “não temos autorização” dos voluntários vingou! Não posso deixar de reconhecer o esforço destes em tentar minimizar o disparate de quem decide!
Aproveito e deixo um abraço solidário para o Luís Louro, a quem pela primeira vez o vi de braços cruzados numa sessão de autógrafos, e que depois o obrigou a horas extraordinárias para recuperar os autógrafos pe(r)didos; e outro abraço para o Dário (aka Derradé) que foi chutado para uma mesa de canto e que encontrava literalmente tapada pela fila para autor americano Bob Mcleod. E todos aqueles que beberam um café quente naquela tarde fria de Sábado ao Dário o devem, porque a tomada elétrica da máquina estava mesmo ao seu lado, e sabemos bem que sem eletricidade não há café. Agora imaginem o que seria controlar todos aqueles portugueses em fúria que não conseguiram um desenho do Loisel, do Tripp, do Mcleod e ainda por cima nem um cafezinho de borla podiam beber? Respeito!
E continuando com as originalidades na tarde de Sábado, o que dizer da arte de bem carimbar que foi excepcionalmente bem executada pelo Tripp ao longo de toda a sessão? E para quem pensa que isto de colocar um carimbo é fácil, o autor com todo o seu vigor carimb… desculpem, demonstrou bem o contrário a todos aqueles que durante largas horas esperaram por um pequeno dsenho. Respeito! Quanto ao desenhador Loisel deu uma de escritor e foi para um festival de banda desenhada assinar o seu nome. Digo-vos era pôr-lhe um carimbo no passaporte e recambiá-lo para o Quebeque!
Com todas estas emoções e as horas a passar nem dei pelos lançamentos e apresentações que decorriam na outra ponta do espaço.
No Domingo, a fila na tenda começava logo na entrada. A fila para as senhas dos autógrafos! Dizem que a noite é boa conselheira e confirma-se. Sem surpresa, e não sendo o ideal, o sistema funcionou relativamente bem, pelo menos em comparação. Repetiram-se os carimbos do outro, pelo que destacaria aqui, sem dúvida, a grande disponibilidade, simpatia e DESENHOS do francês Fred Vignaux (na qualidade de autor do Thorgal) e do americano Bob Mcleod (na qualidade de autor do Homem-Aranha).
Ontem também foi dia de se conhecer, no próprio recinto do festival (o que faz todo o sentido), os vencedores dos agora Prémios de Banda Desenhada da Amadora. Já se sabe que este ano as nomeações foram anedóticas, que pouco ou nada prestigiaram o festival. Estiveram longe de reconhecer o que melhor se editou durante o ano, e assim sendo não há outra forma de o dizer, um júri incompetente que conseguiu nomear e premiar reedições, e até deixar de fora obras originais e justamente reconhecidas pelo público.
Quanto a vencedores, destaco as vitórias do interessante Estes Dias (edição POLVO) de Bernardo Majer - autor sobre o qual já convidava os leitores a descobrir o “seu mundo” no texto de apresentação que escrevi para a revista Splaft! do festival de Beja - na categoria de Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português e do visceral álbum O Relatório de Brodeck (edição ALA DOS LIVROS) de Manu Larcenet, uma das grandes edições de 2021, na categoria de Melhor Obra Estrangeira de BD Editada em Portugal.
Nas restantes categorias, tivemos naquela estranha geringonça de Melhor Edição Portuguesa de BD, a vitória da reedição do livro Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos (edição A SEITA), de Pedro Brito e João Fazenda; no prémio Revelação, O Crocodilo, ou o Extraordinário Acontecimento Irrelevante (edição da LOBOMAU) de Francisco Valle e Rui Neto; e para o prémio de Melhor Fanzine ou Publicação Independente foi atribuído a Ditirambos: Fauna, que reúne um colectivo de autores nacionais. Fica o registo!
Quanto as exposições, já tinha dito que valem muito uma visita. Não estão todas ao mesmo nível, mas estão bem conseguidas. Para quem conhece as obras é um prazer redescobrir agora em originais; para quem é o primeiro contacto acredito que haja um deslumbre. Pessoalmente, porque tudo é manifestamente uma questão de sentido critico e de gosto, destaco as dedicadas aos Mundos de Thorgal e ao Armazém Central. E gostava que tivesse sido mais desenvolvida e impactante a celebração dos 60 anos do aracnídeo.
Para o próximo fim-de-semana, não se esperam grandes surpresas, e será praticamente e quase literalmente dedicado aos Portugueses. Vale a visita!
3 comentários:
Viva Nuno. sem querer repetir as observações que fiz no ano passado não posso deixar de notar que os progressos foram muito poucos. Estive no Amadora BD essencialmente para conseguir autógrafo e desenho de Alfred, autor que muito aprecio e cuja obra sou grande admirador. Dito isto o essencial continua a (não) estar lá, ou seja espaço e instalações condignas. Quem chega é brindado com uma pobre estrutura em metal com pouca visibilidade e nenhum impacto. A sinalética é péssima (pedaços de cartão manuscritos espetados em paus!!!...) ou inexistente. As zonas de circulação demasiado estreitas e ao ar livre. Num fim de semana de temporal até a bilheteira foi transferida para a entrada do pavilhão de exposições com as inevitáveis acumulações, confusões e atropelos. E, mais uma vez, as fatídicas tendas... apertadas, sem espaços devidamente delimitados e sem um verdadeiro "artists alley". Muito, muito pobre... É confrangedor assistir todos os anos a este lamentável desfile de insuficiências - 33 anos depois o Amadora BD já deveria ter outra escala, outra projeção e local condigno, mas continua a arrastar-se nesta "feira de Carcavelos" (no pior sentido). Os amantes, apreciadores, fãs, editores, divulgadores, enfim todos os amam esta forma de arte, mereciam muito, muito melhor.
Olá António, concordo consigo relativamente à estagnação do festival. O facto do Amadora BD com 33 anos de existência ainda andar com a casa às costas é bastante revelador de uma (eventual) falta de um maior interesse por parte do município. E as instalações são sem dúvida o principal problema. Agora o financiador do evento é talvez aquele que mais o maltrata. Este novo espaço, longe de ser central e de estar bem servido de transportes, poderia eventualmente reunir condições, pelo espaço envolvente, para ser a casa do festival, mas para tal precisaria de um grande investimento em infraestruturas. As tendas, ainda que possam parecer, não são definitivamente uma solução, e os dias de chuva tão habituais nesta altura do ano, assim o demonstram. Mas já se percebeu que não existe essa vontade financeira por parte da câmara para alterar o estado das coisas. Por isso penso que a questão todos os anos se coloca assim, ou se faz o festival com o que há e mais uma grande dose de boa vontade das pessoas envolvidas ou não se faz! E para fazer acontecer, a organização apoia-se e muito nas editoras, e com esta posição, são estas as grandes beneficiadas pela realização do evento. Temos aqui claramente uma relação de simbiose! Quanto à organização do Amadora BD, tenho uma imagem positiva da nova gestão e dou-lhes o beneficio da dúvida. Agora claro que existem falhas e coisas que poderiam melhorar bastante. Mas aqui o principal problema será perceberem que ouvir poderá ser uma mais-valia.
Viva Nuno, Mais do que falta de visão, perspectivas e interesse por parte da CMA o que me perturba é falta de ambição em investir num evento que poderia pôr a cidade / concelho da Amadora no mapa dos grandes eventos internacionais ligados á 9ª Arte, com inevitáveis impactos na economia local. Sejamos francos. o concelho da Amadora é essencialmente uma área suburbana sem grandes atrativos e motivos de interesse - porque não potenciar este evento, dando-lhe dimensão e condições projectando-o no mapa de grandes feiras europeias? Porque não alargar o âmbito do evento a outras áreas do entretenimento, mantendo o core na BD, de forma a atrair outros públicos potenciais? Porque não criar uma equipa profissional encarregue de estabelecer contactos a longo prazo com autores, editoras, criar parcerias com outras entidades, angariar patrocinios e apoios junto de entidades crediveis, etc... Será assim tão complicado? Não me parece...
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