Esta crónica já era para ter sido escrita, peco pelo atraso, mas redimo-me pelas palavras. Soltem-nas!

Para alguém que gosta de banda desenhada, de ser bem recebido e de petiscos, pergunto que melhor cartaz de promoção pode ter uma cidade que não um magnifico festival de banda desenhada, uma excelente hospitalidade e uns óptimos caracóis?
Na planície alentejana, Beja tem isto tudo. Eu, obviamente, fui lá pelo já incontornável festival. Gozo da hospitalidade bejense e aproveito os caracóis.
O festival de Beja, abreviadamente FIBDB, que este ano celebra a sua VII edição, é actualmente para mim, e desculpe-me a Amadora, o melhor festival de banda desenhada em Portugal.
Gosto particularmente do ambiente que reina sobre o primeiro fim-de-semana do FIBDB. Por tradição marcam presença todos os artistas convidados, nacionais e estrangeiros. E é do convívio entre autores e leitores de banda desenhada que se sucede praticamente ao longo do fim-de-semana inteiro, dentro e fora do festival, que se cria uma atmosfera única. Na Casa da Cultura, abordar um autor a qualquer momento para conversar ou pedir um desenho é um acto de absoluta normalidade. É como se não existissem horas marcadas. Este ano falei com
Liam Sharp (que já anteriormente tinha marcado presença no AmadoraBD) que nos intervalos da produção de poderosos desenhos (obtive um magnifico Conan para a minha colecção de
desenhos autografados) gozou bem o nosso sol e as nossas minis. Com
Ivo Milazzo, que não é apreciador de caracóis, ao contrário da sua simpática esposa, que usou bem o seu traço rápido para produzir Tex’s e Ken Parker's a pedido (publicarei aqui brevemente um pequeno vídeo do artista em acção). Com
Loustal, que não obstante o seu desenho algo naif, não teve mãos a medir perante as solicitações. Quanto ao espanhol
Pablo Auladell, tinha curiosidade, mas confesso que nem dei por ele. Eu perdi-me nas conversas, ele parece-me que se perdeu por Beja.
Os "nossos" quatros fantásticos da Marvel marcaram igualmente presença. Eu aproveitei, ainda a disponibilidade do
Filipe Andrade, enquanto ainda tem agenda para participar nestes eventos em Portugal, para me desenhar um Dr. Destino; o
Nuno Plati, como estava carregado de pedidos, assinou-me a
Amazing Spider Man #657. Do
João Lemos e do
Ricardo Tércio fica para próxima, porque mais uma vez perdi-me nas conversas. Deixei igualmente escapar a oportunidade de ganhar um rabisco do meu amigo
Carlos Rico, do festival de Moura.
A culpa é de toda a actividade que fervilha na Casa da Cultura.
Aqui para além das exposições e das sessões de autógrafos, sucedem-se as apresentações, os lançamentos, as conversas, e funciona igualmente o mercado do livro. Gosto da palavra “mercado” porque funciona como de uma venda de rua se tratasse, com os livros e álbuns dispostos em mesas corridas, longe daquele formato informal de stand ou de loja. Torna-se um prazer vasculhar naquela oferta em busca de livros perdidos. Acreditem que os há. Encontrei os dois primeiros álbuns da colecção “O Assassino” de Jacamon e Matz, editados pela Booktree, em cuja demanda já andava há algum tempo, após descobrir esta viciante série, que é a autobiografia de assassino através das suas interrogações e angustias, na recente
colecção do jornal Público que editou os
álbuns 3 e 4. Outras das minhas aquisições foram dos volumes 2, 3 e 4 da desaparecida colecção “Mancha Negra” da editora VitaminaBD. Curiosamente umas horas antes, a caminho de Beja, em conversa, o meu amigo Rui Rolo tinha recomendado justamente desta colecção as histórias “A Grande Farsa” e “Iguana” de Trillo e Mandarfina. Depois disto a conclusão é que ou eu tenho muita sorte ou se existe está em Beja!
Ainda sobre a colecção “Mancha Negra”, já conhecia o 1º volume, o delicioso “Clara de Noite” que conta com o desenho de
Jordi Bernett, um dos meus autores preferidos, sobre o qual vou ter de aqui escrever propositadamente, de forma a ser lembrado uma próxima lista de convidados de um qualquer festival de banda desenhada em Portugal.

Mas o festival de Beja não se esgota só com o programa oficial, dado que na programação paralela a oferta é variada. Ainda não foi desta que consegui conciliar as noites de Sábado com um copo na Galeria do Desassossego seguido da madrugada de cinema de terror na Bedeteca, que inclui caldo verde, e a manha de Domingo com a visita ao centro histórico de Beja com o
Prof. Florival (ver fotografia). Tenho privilegiado esta última que é de uma riqueza cultural indescritível.
E assim passe(e)i por mais um FIBDB. Onde autores e leitores, amigos e conhecidos respiram um ambiente único, onde a simpatia e a amizade de
Paulo Monteiro faz-nos sempre querer regressar todos os anos.
O festival de Beja continua de portas abertas até ao próximo dia 12 de Junho.
Uma reportagem fotográfica do festival pode ser vista aqui.