Mostrar mensagens com a etiqueta Estado da Arte. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Estado da Arte. Mostrar todas as mensagens

05 janeiro, 2011

O ESTADO DA ARTE EM 2010

Ano Velho. Terminado torna-se recorrente fazer um balanço e elaborar listas do melhor que passou. Pessoalmente gosto de fazer este exercício. Em síntese, destacar o + relevante e fechar as contas. Assim, começando, e bedéfilamente falando, em 2010 publicou-se bem e variado. Continuou-se pelo caminho de mais novidades e menos reedições.
 
 A ASA fazendo justiça ao rótulo de maior editora nacional encerra o ano com 81 títulos publicados, onde nas contas da sua responsável, se incluem 33 novidades franco-belga. Muito bom foi algumas das principais séries foram publicadas em simultâneo com a edição francesa. Pessoalmente, foi um prazer ao longo do ano ter leitura tão diversificada como Animal’z, Borgia (volumes 2 e 3), Bouncer (O Fascínio das Lobas), Spirou (A Invasão dos Zorcons), Lucky Luke (contra Pinkerton), Blacksad, Escorpião ou as conclusivas partes de A Maldição dos trinta denários (de Blake e Mortimer) e da Teoria do Grão de Areia. De Corto Maltese, teve início com , uma colecção a cores que só peca pelo seu preço elevado. Da já habitual parceria da ASA com o jornal Público resultou a reedição dos 16 álbuns de Alix (em capa mole) anteriormente publicados entre nós pelas Edições 70 e a colecção completa de Gaston em 19 álbuns de capa dura. Mas sobre Alix, devo dizer que a reedição mais interessante, não foi a do Público mas antes aquela promovida pela FNAC, limitada a 300 exemplares por álbum, em capa dura com lombada a encarnado. Convenhamos que ficam bastante melhor na prateleira junto dos outros álbuns já anteriormente publicados pela ASA. Ainda no capitulo das reedições, tivemos o regresso de Tintin, agora num formato de invenção portuguesa, pouco apelativo e bastante mais reduzido que o espectável e tradicional em franco-belga. Há quem diga que é marketing eu acho que foi um disparate! Uma palavra para a linha mangá da ASA, com as novidades Astroboy e DragonBall, mas só para informar que começaram a ser publicadas por cá, até porque personagens algo infantis em livros de bolso que se lêem de trás para a frente não me convencem. Continuando ainda com editoras e publicações, falo agora de regressos. Começo pela VitaminaBD. Muito discreta ao longo do ano, desperdiçou escandalosamente o regresso de Hermann a Portugal para o Festival de BD de Beja, e acabou por publicar, no último trimestre do ano, dois álbuns deste autor. O esperado regresso de Bernard Prince no álbum Ameaça sobre o Rio, onde o virtuoso Hermann domina com mestria o desenho e as cores, enquanto o argumento de Yves ainda está longe de substituir o de Greg, e o mais recente da série Jeremiah - O Gatinho morreu onde também a qualidade do desenho se sobrepõe ao argumento. Outro regresso que se saúda, é o da Devir. Após alguns ameaças, voltou ao mercado nacional de BD, abrindo logo as hostilidades com o 5º volume da série Sin City - Valores Familiares, uma aposta sempre ganha, como aliás se confirma pelo facto do 6º volume Copos, Balas & Gajas já se encontrar à venda no momento em que escrevo estas linhas. Depois destaco o início da publicação da poderosa e viciante série The Walking Dead. Saiu o 1º volume Dias Passados e a verdade é que o meu mundo bedéfilo ficou muito mais bem preenchido depois da leitura desta invasão de mortos-vivos. Para 2011 quer-se (quero) mais desta nova Devir. Outra editora que dá igualmente pequenos passo mas seguros é a Kingpin Books. Prima pelas boas práticas. Abriu o ano com publicação da segunda parte de A Formula da Felicidade. No 21º Amadora BD apostou em Murphy Gordon e reuniu o lançamento do excelente Off-Road com a presença do autor americano. Fechou com uma edição de coleccionador de CAOS. E em ano de crise (quem diria) surgiu uma nova editora a apostar na edição de BD. Falo da Booksmile, que à boleia da estreia cinematográfica da adaptação, lançou os dois primeiros volumes Scott Pilgrim de Bryan Lee O’Malley. A série lá fora é já um culto, cá não tem como falhar!
 
Em termos de autores nacionais publicados, a grande surpresa vai para o surpreendente As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy (edição Tinta-da-China) de Filipe Melo e Juan Cavia. Um argumento de cinema adaptado para a banda desenhada (costuma ser ao contrário) transforma-se num sucesso de vendas que já vai em 3ª edição, é vencedor do prémio de “Melhor Argumento para Álbum Português” no 21º Amadora BD, surge um convite para os autores publicarem uma curta história na edição comemorativa do 25º aniversário da editora americana Dark Horse, dá origem a um segundo volume a caminho (lá para Março)… ainda subsistem dúvidas sobre a qualidade deste material? Lá por fora, autores nacionais como Filipe Andrade, Nuno Plati ou João Lemos são sinónimos de qualidade e começam a ser publicados com regularidades nos comics americanos da editora Marvel. E falar em autores é também falar da Zona. Projecto já em velocidade cruzeiro e mais três novas revistas – Zona Fantástica, Zona Gráfica e Zona Negra 2.
 
Sobre Festivais, decorreu em Junho a 6º edição do FIBDB, um festival - cujo Director Paulo Monteiro tornou-se igualmente autor de BD com a sua 1ª obra O Amor Infinito que te tenho e Outras Histórias publicada pela Polvo - que ganhou por mérito próprio lugar no calendário dos eventos obrigatórios, não só pelo leque de grande qualidade dos autores estrangeiros convidados e este ano foram, entre outros, para além do referido Hermann, os gémeos brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon, Fábio Civitelli, Rufus Dayglo e Niko Henrichon, mas também pelo ambiente muito próprio e hospitaleiro, inclusive da própria cidade de Beja, que nos faz sentir convidados em vez de visitantes. Em suma, um FIBDB não se perde! 
 
Depois em Outubro tivemos a 21ª edição do Amadora BD. Uma referência obrigatória em Portugal. O festival deste ano decorreu sob o signo do Centenário da Republica. Um associação pouco feliz na medida em que em nada beneficiou o festival. A República foi um tema insípido. As publicações patrocinadas pela Comissão do Centenário não saíram tempo do festival. A divulgação do evento foi escassa. Faltaram grandes nomes da BD para ocuparem os três fins-de-semana. E nem mesmo a elevada qualidade das mostras, e acrescento que a dedicada à “Teoria do Grão de Areia” de Schuiten e Peeters elevou o conceito de exposição para um nível bastante elevado, foi suficiente para levar público até ao Fórum da Brandoa. Ficou uma edição que serviu sem dúvidas para tirar ilações!
 
Pessoalmente e aqui no blogue, ao fim de 5 anos de existência, ultrapassei finalmente (ufa!) a marca das 100 entradas/ano, fechando com um total de 112 notas. O n.º de visitantes ultrapassou também a redonda marca dos 100.000. E até porque o meu exercício de síntese já vai longo, finalizo com o top 5 daquelas que considero terem sido as minhas melhores leituras do ano. Claro que havia outras publicações igualmente merecedoras de integrarem este top, mas a vida é feita de escolhas e a minha lista é voluntariamente e obrigatoriamente reduzida. Assim, são estes os meus preferidos de 2010: 
 

- Lucky Luke contra Pinkerton (ASA) 

- Off-Road (KINGPIN)

 - The Walking Dead, vol. 1 - Dias Passados (DEVIR)

- As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy (TINTA-DA-CHINA) 

- A Teoria do Grão de Areia – Vol. 2 (ASA)

 Ficam os votos para 2011 de boas leituras!

06 janeiro, 2010

O ESTADO DA ARTE EM 2009

Começo por concluir que não foi um ano particularmente rico em termos de edição bedéfila, mas que trouxe álbuns de muita qualidade. Ainda que persista a política de reedições, que em meu entender e com algumas excepções, pouco valor trazem, a mais-valia foi que se inverteu uma tendência do que se verificou em 2008. Tivemos mais novidades e menos reedições. E a cereja no topo do bolo foi que se fecharam algumas colecções. Sem querer ser exaustivo, passo então revista ao ano que findou!
 
É sabido que em Portugal, é a ASA, por força do seu catálogo, que marca o ritmo. Bem, se o marcou foi um ritmo lento. Em doze meses do ano, tivemos, feitas as contas… uma mão-cheia de novos álbuns estrangeiros. Não é mau mas é pouco. Por razões diferentes destaco aqui alguns. O excelente “A Teoria do Grão de Areia – Tomo 1” que marca o regresso da dupla Schuiten e Peeters ao universo arquitectónico das “Cidades Obscuras”, série que figura no panteão do melhor que a BD franco-belga tem produzido. É indiscutivelmente uma das edições do ano e inclusive, foi a vencedora do prémio na categoria do “Melhor Álbum Estrangeiro" no 20º Amadora BD. A segunda e conclusiva parte da história é aguardada para o corrente ano. O “Quatro” de Enki Bilal, que, finalmente, encerrou a Tetralogia do Monstro (nota: 1ª série fechada) E uma palavra também para o sofrível álbum comemorativo do 50º aniversário de Asterix. Não pela falta de história só confirmou que Uderzo à muito que já chegou ao fim da linha (em tempos de renovação, aguarda-se agora por melhores álbuns desta personagem), mas porque o intitulado “Livro de Ouro” foi um campeão de vendas em Portugal em 2009. Depois da primeira edição (anunciada) de 60.000 exemplares, já vi à venda uma 2ª edição. Para o álbum que é só me oferece dizer que estes lusitanos devem estar doidos!!! A parceria ASA/Público continuou e produziu a oportuna colecção “Passageiros do Vento” de Bourgeon que trouxe dois álbuns inéditos, sendo que o 2º é lançado amanha e fecha a colecção (nota: 2ª série fechada). Quanto à colecção “Clássicos do Tintin”, considero-a perfeitamente dispensável, porquanto a edição de histórias soltas “canta mas não encanta”. A edição de autores nacionais continua tímida. A aposta da ASA, foi para “BRK”, que marcou a estreia de uma nova dupla, Filipe Pina (argumento) e Filipe Andrade (desenho) e “Asteroid Fighters – O inicio” de Rui Lacas. Enquanto que no primeiro caso, estamos perante uma história com uma linha narrativa oca, onde nada evolui mas que é compensado com uma boa parte gráfica; no segundo álbum verifica-se precisamente o contrário, um argumento interessante, de rápido desenvolvimento, mas com pranchas onde o desenho por vezes raia o sofrível. Lacas já nos habitou a bem melhor. Teria assim de juntar o melhor dos dois para se obter um bom álbum de BD nacional. Como em ambos os casos, a conclusão das histórias deixa em aberto uma possível continuação, devo dizer que a fasquia da qualidade terá ser elevada para que se justifique os segundos volumes.
 
Pela mão da KingpinBooks, fica o lançamento de “Mucha” de David Soares, Osvaldo Medina e Mário Freitas, um curto registo de terror, numa interessante história de repulsa, bem suportada no desenho de Osvaldo, que merecia um melhor desenvolvimento com um outro final, mais, talvez, arrepiante.
 
Verificou-se também uma tendência para o aumento da publicação de bd’s de temáticas com o patrocínio de Câmaras Municipais, com o objectivo declarado de dar a conhecer figuras, lendas e histórias que fazem parte do nosso património cultural. Moura, Arronches, Amarante ou Tomar são alguns dos felizes exemplos.
 
Bastante discretas mas activas estiveram as editoras BDMania/VitaminaBD. A primeira que continua a explorar o universo Marvel, lançou, entre outros, uma luxuosa edição de “Marvels” de Kurt Busiek e Alex Ross, a origem do universo Marvel (re)vista pelo olhar do cidadão comum. De leitura obrigatória; a segunda, continua muito bem a dispor do seu catalogo franco-belga. Primeiro, com “Matteo” de Gibrat, continuou com a conclusão da série “O Diabo dos Sete Mares” de Hermann (nota: 3ª série fechada) e terminou o ano em beleza com o regresso do universo Incal, com os álbuns “As Armão do Metabarão” e o primeiro volume de “Final Incal”. Uma palavra também para o incansável Manuel Caldas, e o seu incondicional amor pelos clássicos da BD, que nos deu a ler “Tarzan dos Macacos” a primeira aventura desenhada desta personagem; o segundo álbum de “Lance” que prima pelo magnifico trabalho de restauração de cores; e “Krazy Kat” ou como repetindo exaustivamente a mesma situação se cria uma das mais invulgares strip comics alguma vez desenhadas.
 
Em resumo, um ano pautado mais pela qualidade do que pela quantidade e que haja mais assim!
E o que esperar para 2010?
 
 A avaliar pelas intenções já manifestadas, as perspectivas são de + boa leitura. Da parte da ASA, começa já amanha, conforme referido, com a publicação de "A Menina de Bois-Caïman - livro 2", o sétimo e último álbum da colecção “Passageiros do Vento”. Depois segue-se "Borgia 2" cuja edição já constava no plano editorial da editora para 2009. É também é quase certa a edição da “Teoria do Grão de Areia – Tomo 2” até porque os autores serão convidados do 21º Amadora BD. Teremos ainda uma nova colecção (reedição, pois claro) pela parceria ASA/Público. Para a VitaminaBD esperam-se as conclusões de “Universal War” e de “Incal Final”. A KingpinBooks já anunciou o lançamento da conclusão de “A Fórmula da Felicidade”. E depois em ano de comemoração do Centenário da Republica, é certo que não faltarão edições associadas ao tema. Portanto renovam-se os motivos de interesse. Para finalizar, deixo então registadas a minha escolha dos Melhores Álbuns editados em Portugal ao longo de 2009:
  • A Teoria do Grão de Areia – Tomo 1, de Schuiten e Peeters, ASA
  • Matteo, de Gibrat, VitaminaBD
  • Marvels, Kurt Busiek e Alex Ross, BDMania
  • Colecção “Passageiros do Vento”, de François Bourgeon, Publico/ASA
  • Krazy+Ignatz+Pupp: Uma Kolecção de Pranchas a Kores, de George Herriman, Libri Impressi
Boas Leituras!

31 dezembro, 2008

O ESTADO DA ARTE EM 2008

Como habitualmente, proponho passar aqui em revista os principais acontecimentos que marcaram o ano bedéfilo que agora termina. Em Portugal, 2008 fica como o "ano da reedição". Fica também marcado por desilusões, confirmações, surpresas e mas também pela crise. Uma crise que se fez sentir em termos de edição. Não disponho de números oficiais, mas na qualidade consumidor de BD, fiquei com a sensação que não se publicou muito e quando se publicou a aposta não passou pelo lançamento de material inédito, ou seja, uma grande percentagem da edição de 2008 foi absorvida com reedições de histórias já anteriormente publicadas. Para esta realidade, contribuiu sem dúvida, a parceria existente entre o jornal Público e a editora ASA, que teve em 2008, o seu ano mais produtivo. Três colecção lançadas - a saber “Grandes Autores de BD”, “Blueberry” e “Blake e Mortimer" - o que perfaz um total de 40 álbuns editados (seis álbuns da colecção B&M tem datas de lançamento para 2009). Este facto, pasme-se, coloca o Público – para quem estas colecções são apenas uma promoção para aumentar as vendas do jornal – como o maior editor de BD do ano em Portugal! Como não há bela sem senão, dos 40 álbuns editados, apenas UM apresentava uma história inédita. A Asa é sem dúvida a desilusão do ano! Na qualidade de maior (tendo em conta o seu catalogo) mas não necessariamente a melhor, refugiou-se na parceria de reedições com o Público e abdicou do lançamento de novidades. Os dedos de uma mão devem servir para contar tudo o que lançou durante um ano inteiro. Verdadeiramente decepcionante. Um ano para esquecer! As confirmações surgem pela VitaminaBD e pela BDMania. Continuam a respeitar os respectivos planos de edição, e se com a primeira podemos a acompanhar séries como “Jeremiah” ou “Universal War”, sem prejuízo do lançamento de outros álbuns, donde destaco, muito naturalmente, o 1º tomo de “A Casta dos Metabarões” (que agrega os três primeiros álbuns da colecção que esta editora se propõe completar), pela BDMania, a aposta tem sido segura e bastante diversificada, tanto ao nível das histórias, como de personagens, com destaque para o catálogo da Marvel. Das restantes editoras portuguesas, a Devir desapareceu e a Gradiva deixou o “Largo Winch“ pendurado, e para não "fugir à regra" apostou nas reedições, desta vez de dois clássicos da BD portuguesa: “Wanya - Escala em Orongo” e “Eternus 9 - Um Filho do Cosmos”. Para finalizar na área da edição, destaco ainda as apostas de novas editoras na edição de BD, como é o caso da Tinta da China no álbum “A Metrópole Feérica” ou da Qual Albatroz que publicou “O Menino Triste: A Essência”. Como nota muito negativa de 2008, fica o afastamento de Manuel Caldas do excelente projecto “Príncipe Valente”, que se propunha editar integramente as aventuras deste personagem em 22 volumes, com uma qualidade nunca antes vista e que se pode comprovar nos seis primeiros volumes da colecção. Uma história mal contada, mas que inevitavelmente, atendendo ao meticuloso trabalho de restauração desenvolvido por este editor, “matou” aquela que quando completa, seria talvez uma das melhores colecções alguma vez publicada em Portugal! Em termos de festivais nacionais, o 19º FIBDA revelou-se como uma das melhores surpresas. Talvez a melhor edição que visitei nos últimos anos. Tendo por base uma escolha feliz do tema do festival – Tecnologia e Ficção Cientifica – apresentou excelentes exposições, com especial destaque para as originais de “Flash Gordon” de Alex Raymond nunca antes exibidos, e pela presença de um variado conjunto de autores que primava pela qualidade, nomes como por exemplo Dave Mckean (que já tinha sido autor convidado no IV Festival de BD de Beja), Esteban Maroto, Zoran Janjetov, Fábio Civitelli entre muitos outros foram autores que passaram pelo FIBDA. Não disponho de números oficiais, mas de acordo com o site da CNBDI, o sucesso traduziu-se numa afluência de público superior a 28.000 visitantes (acréscimo de 5% quando comparado com a edição de 2007), que revela bem como o festival “FIBDA” tem vindo lentamente a evoluir e a afirmar-se. Ficaram criadas expectativas “altas” para o festival do próximo ano! Na blogosfera nacional, nada de relevante a assinalar, mantendo-se estável o número de blogues bedéfilos existentes que são objecto de actualizações regulares. Uma palavra só para o plano internacional, onde sob o signo do Morcego, assistiu-se a uma situação paradoxal: enquanto no cinema, o novo filme do Batman, “O Cavaleiro das Trevas” de Christopher Nolan, revelava uma força e uma vitalidade nunca vista anteriormente, assumindo-se como provavelmente um dos melhores filmes de super-heróis de sempre, traduzido em recordes de bilheteira, sendo mesmo o mais rentável de sempre, nos comics a editora americana DC decidiu matar a personagem, numa explosão na narrativa “R.I.P.” no n.º 681 da revista “Batman”. Irónico não? Para finalizar, até porque o texto já vai longo, deixo aqui a minha ”short-list” das edições que considero terem sido as melhores publicadas em Portugal durante o ano de 2008:
  • A Casta dos Metabarões (VitaminaBD)
  • Apache (Público/Asa)
  • Wanted (BDMania)
  • A Fábula de Bagdad (BDMania)
  • Silver Surfer: Requiem (BDMania)
Despeço-me com os votos de um Bom Ano, ou então simplesmente, até amanha!

01 janeiro, 2007

O ESTADO DA ARTE EM 2006


Em termos bedéfilos, atrevo-me a escrever que o ano de 2006 não correu nem bem nem mal, antes pelo contrário. Pode parecer confuso, mas fazendo uma análise do ano que passou, fico com a impressão que a BD em Portugal se encontra numa fase de indefinição, perante tantos sinais contraditórios.

Se por um lado o mercado bedéfilo nacional está em crise, por outro lado surgem novas editoras de BD; se por um lado a BD não se vende, por outro lado novos títulos são lançados que prometem continuação; se por um lado as vendas de BD em bancas de jornais desapareceram, por outro lado anuncia-se o regresso dos “gibis” da Mónica e Cª; se por um lado os autores portugueses andam arredados da publicação, por outro lado quando publicam realizam óptimas vendas. Em que ficamos?

O “monstro” da crise impede que o nosso mercado bedéfilo dê sinais de recuperação. O número de publicações, tanto em títulos produzidos como em tiragens, continua a cair. Se em 2005 já se tinha editado pouco, então em 2006 editou-se ainda menos. As vendas de BD em bancas acabaram, primeiro com a interrupção dos mensais da DEVIR e o depois com o cancelamento dos títulos Disney por parte da EDIMPRESA. Se já vendiam pouco, então agora não se vendem mais!

A maior editora nacional, a ASA confirmou que ocupou o lugar da falecida MERIBÉRICA, como o mais importante editor de BD franco-belga em Portugal, mas manteve um ritmo baixo de novos lançamentos, provavelmente o quanto baste para a actual realidade portuguesa. Lá publicaram Dust (finalmente!) e juntaram assim “Blueberry” a uma carteira que conta com os principais e mais populares títulos da BD franco-belga, tais como “Asterix”, “Lucky Luke”, “Alix”, “Manara”, Bouncer”, entre outros.

As Edições DEVIR quase desapareceram e pequenas editoras como a POLVO ou a WITLLOF tem uma actividade meramente residual. O BDjornal, a única publicação em Portugal dedicada à temática da BD reinventa-se, renova-se, continua e promete continuar a ser publicado para um público-alvo estimado em apenas 1.000 leitores!

Quanto aos autores portugueses, leia-se espécie em vias de extinção, procuram-se! Um ano inteiro de edição e apenas se destacam o primeiro volume do projecto “Black Box Stories” intitulado Tratado de Umbografia da dupla José Carlos Fernandes/Luís Henriques, numa edição da DEVIR; e a obra Salazar – Agora, na hora da sua morte, de João Paulo Cotrim e Miguel Rocha, com a chancela da Parceria A.M. Pereira.

Para terminar, o FIBDA, que desta vez arrastou-se até à Brandoa, continua sem despertar o interesse de leitores, autores e editores, apesar do seu director, que se assume como um promotor cultural (seja lá isso o que for!), em entrevista ao BDjornal, de Dezembro de 2006,  ficar contente com a “casa cheia” (quantos são?) e considerar que os objectivos a que se propõe, de divulgar AUTORES QUE NINGUÉM CONHECE E QUE NINGUÉM LÊ, são atingidos!!! É este o quadro negro da BD em Portugal!

Mas como nem tudo são má noticias, e talvez a contraria esta todo este pessimismo, temos novas editoras no mercado. O destaque maior para a BDMANIA, que para primeiro lançamento fez uma excelente aposta na colecção Marvel Transatlântico. O resultado pode ser avaliado no (excelente) primeiro álbum “Wolverine: Saudade”; a KINGPIN Comics também se lançou na aventura da edição, de forma modestamente mas meritória, com pequenas histórias de novos autores portugueses em pequenas tiragens, cujas continuações estão prometidas para 2007; a GRADIVA, recuperou (e bem, logo com a publicação de dois álbuns) a série “Largo Winch”, uma colecção que já se encontrava catalogada como (mais uma) inacabada, depois da BERTRAND, na década de 90, apenas ter publicado os primeiros três volumes; a DEVIR reapareceu com o Marvel Demolidor Amarelo (não conhecia e fiquei agradavelmente surpreendido) e Neil Gaiman e ainda repôs a honra dos autores portugueses com o já citado Tratado de Umbografia; O livro Salazar – Agora, na hora da sua morte, vencedor dos principais prémios do FIBDA, já vai na sua segunda edição; A LIVROS DE PAPEL continuou a missão a que se propôs, tendo editado um novo volume da colecção “Príncipe Valente”, completando desta forma o conjunto dos primeiros cinco na cronologia da obra. Nota máxima aqui! 

Se é verdade, com excepção das colecções “Lucky Luke” (ao que consta com excelentes vendas) lançadas pelo jornal Público e “Michel Vaillant” pelo semanário AutoSport, que a BD desapareceu das bancas de jornais, também não deixa de ser verdade que essa é uma tendência que já se verifica noutros países, ou seja, as vendas de BD foram transferidas para livrarias e lojas especializadas. Pessoalmente, parece-me o caminho certo a seguir, até porque convenhamos que não é agradável procurar uma BD no meio de “TV Guias” e jornais e para quem não conhece dificilmente “compra sem folhear”. A venda em livrarias, onde se facilita a leitura, pode levar à descoberta e conquista de novos leitores. Penso eu! Para contrariar esta tendência (ou talvez não) a PANINI anunciou a (re)entrada da “Turma da Mónica” no nosso país. 

À boleia do cinema, 2006 foi um ano de oportunidades perdidas. Nas telas houve a estreias  das adaptações de “A History of Violence” e de “V for Vendetta” e por cá esfumou-se uma bela oportunidade de se publicar em português estas duas excelentes bandas desenhadas. Deixo já aqui a dica, em 2007 espera-se a estreia de “Sin City 2” e….. é preciso fazer um desenho?

Em termos de leituras, deixo aqui as minhas escolhas dos ano:

Melhores publicações de 2006: 

  • “Dust” de Giraud, Edições ASA 
  • “Príncipe Valente 1941-42” de Harold Foster, Livros de Papel

Menções Honrosas:

  • “Wolverine: Saudade” de Jean-David Morvan e Phillipe Buchet, BDMania
  • “Borgia 1. Sangue para o Papa” de Jodorowsky e Manara, Edições ASA

Boas leituras!

19 janeiro, 2006

O ESTADO DA ARTE EM 2005

 
Escrevo tarde mas nunca é tarde para se fazer balanços. O tema justifica, o balanço do ano de 2005. Um ano marcado pelo marasmo que tomou conta do panorama bedéfilo português. Parece-me ter lido algures, que se publicaram mais títulos em 2005 do que em anos anteriores, mas a sensação que fica é de grande vazio!
 
Com o fecho da editora MERIBÉRICA, os principais títulos de bd franco-belga publicados em Portugal, pelo menos os meus preferidos, ficaram, aparentemente, sem editora, o que se traduziu em mais um ano sem novas aventuras de Blueberry ou XIII. A ASA, agora na condição da maior editora nacional de banda desenhada, aposta, infelizmente, em reedições ou títulos soltos. Bem, lembrava que há mais bd para além de Asterix ou Lucky Luke!
 
A DEVIR continua errante. Aposta demasiado na diversidade e os principais títulos ressentem-se tornando-se publicações irregulares. Obviamente nota negativa. O tão anunciado projecto "Evolução" desapareceu, provavelmente nas rotativas de uma gráfica, sem que deixasse perceber do que se tratava. As restantes editoras são praticamente marginais apenas com lançamentos esporádicos. Actualmente o mercado nacional está em lenta agonia!
 
A pedra no charco foi mesmo aquela que eu considero como a melhor publicação do ano: a saga do Príncipe Valente de Harold Foster numa edição da LIVROS DE PAPEL. Uma aposta arrojada, não só pelo compromisso da publicação integral da obra (cerca de 22 volumes), como pela qualidade do papel (excelente) e pelo próprio formato pouco habitual do livro (27cm x 35cm), mas uma aposta ganha! Uma autêntica lufada de ar fresco no que respeita a publicações. Uma valente colecção, sem dúvida a melhor publicação de 2005!
 
Também em termos de publicações, não posso deixar de citar e atribuir uma menção honrosa a um projecto que nasceu durante o ano intitulado BD Jornal. Conta entre os seus colaboradores, com alguns autores de blogues bedéfilos e veio preencher um vazio que existia no mercado português. Mas sobre este jornal dedicarei uma nota exclusiva nos tempos mais próximos. 
 
Destaco também José Carlos Fernandes, não só pela sua simpatia e disponibilidade, mas também pela seu enorme talento e capacidade de trabalho. Não só teve um excelente ano de 2005, que culminou com a publicação de um volume, da colecção Série Ouro do Correio da Manhã, inteiramente dedicado à sua arte, como se avizinha outro excelente ano em 2006. Aguardo com expectativa a publicação da "A Agência de Viagens Lemming"", do primeiro volume do projecto “Black Box Stories” e do sexto volume da “A Pior Banda do Mundo". Manterá o título de melhor autor português da actualidade.
 
No que respeita a eventos, o FIBDA continua em morte assistida! Apesar da ligeira melhoria relativamente a 2004, sente-se a falta de entendimento entre editoras e organização, ao que acresce a aposta em autores pouco conhecidos do grande público, a péssima localização do festival, a fraca divulgação do evento, que tudo somado se reflecte na escassa afluência do público. A continuar assim, e o projecto FIBDA fica com os dias contados. Depois, temos um Salão de Lisboa a esbanjar dinheiro e um Salão do Porto que tornou virtual!
 
Resumindo, tirando alguns episódios e iniciativas, a regra tem sido deixar o tempo correr sem que nada aconteça. Muito pouco para um mercado que se pretendia cheio de histórias aos quadradinhos!